quinta-feira, 30 de outubro de 2008

MENAS

Por Marcelo Benvenutti

Certas madrugadas de quintas são medonhas para um cronista escrever em cima dos fatos da noite de quarta. Tite está conquistando uma vaga para a Sul-Americana do ano que vem. Pelo emparelhamento, estaríamos enfrentando o Vitória na primeira fase com a vantagem de jogar a segunda em casa. Ta. Tirando o meu sarcasmo evidente, nos resta somente a Geni da América. A Sul-Americana. Que não é nada, não é nada, mas nos remete à disputa de outra Recopa.

Sim. A oposição do Inter conseguiu se desunir. Bom, tratando-se de oposição ao atual grupo, menos pior. Ou é gente nova que eu desconheço totalmente ou a tchurma do Zacchia, que se resguarde à política partidária. Gente chata, esse povo do decaído Império Otomano. Dizem que Fernando Carvalho teria força política para fazer valer uma vaga na Libertadores o título da Geni. Talvez, talvez. Nos resta outra alternativa, matemático Tite? Não.

Nem vou comentar o resto da tabela. Deixem a bola rolar normalmente e os ânimos colorados darão conta do resto. Internacional? O oitavo lugar é nosso e ninguém tira. Estamos no G8. O meio termo de coisa alguma. O trote pela metade. Coito interrompido. Tite mela-cueca. Chamem o Tim Maia. Píffero acendeu as luzes antes do fim e deixou a gurizada com o dito cujo na mão. Acabou o vinho e não tem Jesus pra multiplicar essa nossa água mijada. Pensemos já no novo treinador e no corte da folha de pagamento. O Beira-Rio agora tem camarotes com telas de plasma e banheiros com sabonetes e espelhos. Estamos no primeiro mundo. Sediaremos Togo x Suíça e Nova Zelândia x Bulgária em 2014. Tá, calma Marcelo. "Menas", como diria o Luis Inácio. Menas.

Fim de outubro em Porto Alegre. Começa a feira do livro. Estarão sendo vendidos os livros do Sandrin e do Emanuel. Um Gre-Nal literário na feira. Preza! E terça-feira, dia 4, 19 horas, na Palavraria Livraria e Café, na Vasco da Gama, 165, estarei lançando o livro de contos da capa abaixo. Não são crônicas e nem é sobre futebol, mas para quem ficou curioso, abaixo publico um dos contos exclusivamente aqui no Final.

Francisco

Francisco é um motorista de ônibus. Percorre o mesmo trajeto. Todos os dias. Cumprimenta quase sempre as mesmas pessoas. Almoça na mesma lanchonete e dorme sempre no mesmo horário. Sua mulher é a mesma desde sempre e seus filhos nunca deixarão de serem os mesmos. Torce pro mesmo time de futebol que faz muito não ganha nada.

Todos os dias, lê as mesmas notícias no único jornal da cidade em que nasceu e sempre morou. Fuma o mesmo cigarro que, apesar de mudar de nome, continua tendo o mesmo sabor de sempre. Terminou o colégio e o segundo grau e tenta, todos os anos, o vestibular para o mesmo curso em que nunca vai conseguir entrar. Francisco nunca mudou seus sonhos. Eles são sempre os mesmos. Um dia ele começou a estudar em um curso de línguas. Então tudo em sua vida mudou.

Agora ele sonha em inglês.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

PRIORIZA, INTER!

Por Gustavo Foster


O elenco do Inter NÃO é forte. O time pode ser, mas o elenco não é. Poucos dos 11 titulares têm substitutos (e, falando a verdade, não temos sequer titulares em algumas posições). Nilmar não pode jogar, depositamos as esperanças em Adriano. Sai Magrão, entra Taison improvisado. Se Alex, por um acaso, for convocado para a Seleção, ou sofrer uma contratura muscular, veremos nossa armação ficar por conta de quem? Andrezinho. A lateral-direita parece samba do crioulo doido: Bustos jogou 3 partidas sem a menor esperança, já que guardava a vaga de estrangeiro para Sorondo. O uruguaio se machucou, e Bustos não recebeu mais chances. De Ricardo Lopes nunca se esperou nada. Vindo do Sertãozinho, com anônimos 32 anos, de fato não mostrou a mínima intimidade com a pelota. Surgiu o nome de Ângelo, carrasco colorado na Copa do Brasil, petardista cruel: foi igual ou pior ao seu colega de posição. Se o trintão não conseguia dominar a bola, o ex-paranista se joga para o ataque como um fã em direção a Paul McCartney e não volta nem por decreto presidencial. Cria-se no lado direito colorado uma segunda versão da Avenida Beira-Rio. Resumindo: temos pouco. Não podemos usar esse pouco em algo que não seja essencial.

O time, hoje, joga duas competições. Uma internacional, outra nacional. Em uma, as chances de passar de fase são altas, o que levaria a uma esperada semifinal. Já na outra, as preces recaem em míseros quatro por cento. Ir para Libertadores é um sonho. É aquela colega lindíssima que te deu oi. As chances são míseras, mas poucos abdicam de tentar. Puxar um assunto é o mínimo. Só que a colega do Inter é casada, ama o marido e se muda pra Cuiabá, semana que vem. A realidade é dura, é triste e é recorrente, mas o Inter não tem mais chances de ir para a Libertadores.

Tudo isso pode ser entendido como uma espécie de Síndrome de Andreas. Desisto antes para possivelmente ser surpreendido positivamente depois. Levar a situação a um nível de "o que vier é lucro". Mas o cerne de tudo é que eu apresento nessa coluna a campanha "Prioriza, Inter". A Sulamericana é claramente possível, seria um título internacional, passaríamos do Boca, tem Chivas, tem River, seríamos o primeiro time brasileiro a vencer e acabaríamos o desapontador ano de 2008 da melhor maneira possível. No futuro, onde o contexto não mais importará, teremos ganhado um Gauchão, uma Sulamericana e ficado em 6º no Brasileirão – além de fatos memoráveis, inesquecíveis, como o oito-a-um, o quatro-a-um -, o que configura um belo desempenho.

Prioriza, Inter.

O Brasileirão não seria inútil. Aliás, muito pelo contrário. Poderíamos testar Ricardo, aquele que ninguém sabe nem a cara, no gol, já que essa é uma posição insegura há alguns meses. Bustos receberia mais chances (se não pisar na bola e acertar ½ cruzamento, pega a 2), os jovens Danilo e Danny jogariam, a promessa Sandro pegaria cancha. Taison, Guto e Walter afastariam a dúvida: gêmeos Barcellos nunca mais. Daniel Carvalho teria tempo de sobra para o seu SPA futebolístico. Ainda temos Rodrigo Paulista, Maycon (que, lembrem, já foi convocado), Rosinei, e, ele, o renegado: Luiz Carlos.

Mas algo deve ser prometido: ganhar do São Paulo ou do Cruzeiro não pode nem passar na cabeça dos jogadores. A derrota é tão certa quanto a ida do Homem do Gato a Capão da Canoa no verão. A desculpa pode ser o desentrosamento da equipe, o vento, a desigualdade técnica, a burrice do técnico, o roubo do juiz, o acaso, a astrologia, mas temos que perder pro São Paulo e pro Cruzeiro. Além, é claro, da promessa do presidente: teríamos que jogar a Sulamerica às ganha. Dar a vida a cada jogo, entrar na ponta dos cascos, comendo grama e utilizando todas gírias futebolísticas para raça, gana e vontade de vencer. Todos os jogadores devem virar Guiñazu, e Guiñazu deve virar uma espécie de doberman tomado pelo ecstasy.

Só vejo benefícios na priorização colorada. Se tudo desse certo, ganharíamos um título internacional, iríamos para a Recopa, treinaríamos jogadores esquecidos e, como bonus track, azedaríamos o caldo gremista.

Prioriza, Inter!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

AGORA É SUL-AMERICANA, INTER

Por Daniel Ricci Araújo

Querido leitor (e leitora, ora bolas), façamos um exercício profético. Transportemo-nos ao primeiro minuto do dia 07 de novembro do corrente ano. Esteja você alegremente lutando contra um 'asado de tira' no centro de Buenos Aires, bebemorando com mais uma cerveja a tiracolo na Lima e Silva ou vibrando em casa enquanto escuta o comentário do Wianey Carlet ("o Internacional está plenamente habilitado a ser campeão da competição", dirá o nosso insigne comentarista), repitamos mais uma vez a grande nova imaginada: o Inter despachou o Boca Juniors. Alex grudou um tiro certeiro no ângulo da goleira à esquerda das cabines da Bombonera e já era. Estamos dentro.

Dessa maneira, concedendo-nos uma margem de imaginação possível para aquilo que não podemos prever, trato agora de elencar os motivos pelos quais vejo no nosso clube um potencial vencedor da Copa Sul-Americana. Vamos a eles.

Porque temos um bom time – sim, criticar o Inter atualmente pode até ser uma obrigação em determinados momentos, mas a realidade para mim é que muitas vezes duvidar por duvidar do Colorado tem valido como uma opinião tão justa quanto fácil, como se fizesse as vezes de um atestado de inteligência e de humildade carimbados na testa do crítico. A menor língua a levantar-se para defender as virtudes do time corre o imenso risco de ser catalogada sumariamente como a voz da arrogância e da soberba. Nem tanto. O Inter tem bom time e, com todos os problemas enfrentados, mesmo assim está em sétimo lugar da liga nacional mais competitiva do mundo. Somos irregulares, vamos do cume ao chão de semana em semana? Exagero, mas vá lá: e se a irregularidade mostrar sua cara boa a partir de agora? Querem desespero real? Torçam para o Vasco.

Porque temos jogadores diferenciados – D'Alessandro, Guiñazu e Nilmar são um trio de pouca equivalência no futebol brasileiro e sul-americano. O time pode estar frouxo, jogando mal e se repetindo nos erros de sempre, mas desses três tudo podemos esperar. Nilmar - o melhor atacante em atividade no futebol brasileiro - estaria ainda mais intratável caso tivesse um centroavante a seu lado. D'Alessandro para mim vem correspondendo cada vez mais na articulação do time e Guiñazu... Bom, quanto a Guiñazu só corremos o risco dele ter de voltar a seu planeta natal antes do fim do torneio.

Porque temos Alex – sim, esse microtópico é quase uma expiação individual. Antigamente, o futebol de Alex não me convencia. Agora, um pouquinho mais perto do gol (não que ele deva ser atacante, Tite, isso não), chegando para chutar com muita freqüência e desferindo patadas capazes de perpetrar assassinatos em série pelos gramados do mundo, Alex está transformado num jogador-referente do time. O futebol tem desses caprichos pragmáticos e soluções sumárias: se o cruzamento não sai e a bola chega torta, afunda Alex! O Boca provou dessa realidade na última quarta-feira, e Dunga já a reconhece. Nosso meia-atacante atualmente faz por merecer um lugar na Granja Comary.

Porque não há um bicho papão – com o Boca fora do nosso caminho (afunda, Alex!), o Inter converte-se no melhor time da competição junto com o Estudiantes de Véron, possível rival na finalíssima. O River é penúltimo colocado do Campeonato Argentino, Botafogo e Palmeiras estão quase fora e o Chivas, virtual inimigo na hipotética semifinal, é sexto lugar do torneio mexicano (e se achamos o Inter um time inconfiável também por ser sétimo lugar do Brasileirão não podemos, por lógica, achar que o Chivas é um timaço). Com o time de Riquelme talvez sonhando em ser campeão local (possibilidade que aumentou domingo e pode tornar-se ainda maior após a rodada do 'Apertura' deste meio de semana), o Inter será talvez, sim senhores, o time a ser batido na Sul-Americana.

Porque decidimos em casa – é verdade, o sr. Nicolas Leoz e sua trupe já decidiram. Não acredita? Vá até o site da Conmebol na parte da Sul-Americana e, na guia "partidos", clique no "cuadro de desarrollo del torneo". O diagrama mostrará como o pré-sorteio já definiu que o vencedor da nossa chave (afunda, Alex!) será o mandante das partidas decisivas tanto na semifinal como na final. É segurar dois empatezinhos com gol (ou uma vitória magrinha, como não?) e depois fazer a festa no Gigante quase explodindo de tão cheio. Cheiro de taça no ar, meus amigos... E está de bom, muito bom, ótimo tamanho. Afunda, Alex!

Ei, você aí, atracado num naco de carne portenha, abraçado numa latinha de Polar no meio da Lima e Silva ou quase dormindo no sofá com o radinho de pilha ligado. O jogo acabou, viu? Valeu a torcida, apesar do sufoco. Passamos do Boca! Agora, sejamos otimistas. Algo está sorrindo para nós. No mínimo por educação, convém sorrirmos de volta.

Agora é Sul-Americana, Inter. Chega chegando que eu acho que dá samba.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

SOMOS TODOS MEIO MARAFÕES

Por Raphael Castro

É evidente que fiquei satisfeito com o resultado contra os nossos amigos “Orais” no meio da semana: ao que tudo indica, é a nossa grande (única?) chance de título no final deste ano da graça de 2008. Claro, o jogo de volta vai ser a refrega do ano, embutindo então o risco de, na hipótese de um insucesso, voltarmos ao molusco statu quo ante deste Brasileirão, que de fato não nos reserva muito mais além de enormes prejuízos com a compra de velas e de mertiolate (sim, porque pagar promessa dessas de ir até não-sei-aonde na base da genuflexão também é um investimento – dolorido sim, mas um investimento...).

Sula vs. “Proto-Robertão”

O diabo é que fatalmente chegará a hora de decidir entre uma ou outro. E, nesse outro, mesmo que remota, ainda está a chance de revisitarmos nosso gracioso e gingante (de ginga, com “n” mesmo) continente. Pessoalmente, estou entre aqueles que se vira para a tal da “Sula” apenas na hipótese de nada muito mais interessante ter a fazer. Sim, eu sei, sou mesmo um calhorda futebolístico: é uma coisa lá meio canalha ficar olhando a “Perseguida” (a Libertadores, não o que vocês pensaram) até o último minuto, enquanto, do outro lado, se fica festejando uma eventual classificação numa competição que tem o mesmo apelo de uma sobremesa de pupunha (ou seja, pode até ser gostosa, mas certamente não será a minha primeira opção).

Bola dividida

Pois é, e nisso tudo sou River desde criancinha. A esta altura do apocalipse ter que ir até o México disputar semi-final de uma competição que dá uma certa “projeção” pode se revelar terrível para aqueles que sebastianamente ainda esperam por carimbos mais refinados em seus passaportes. O ideal seria então que os galináceos vencessem os filhos de Montezuma (assim poderíamos até já deixar o Malbec pronto em algum bom restaurante em Puerto Madero). Tudo aqui perto, poderíamos ainda, quem sabe, dar as últimas lufadas em direção à Libertadores...

Imagine all the people...

Imaginem então o seguinte cenário: conseguirmos epicamente uma classificação para a principal competição continental do futebol sul-americano, e também trazer o caneco naquela um tantinho menos principal. Talvez seja mesmo o tal “jogo de ganha-ganha”, pois, em qualquer hipótese, ficaria garantido o sorriso; na minha lógica um tanto marafona, eu poderia me vangloriar em qualquer caso, mesmo que tivesse que erigir às alturas a taça da “Sula” (“pois é, dá direito a disputar a Recopa” e tal...) – parece até que já houve aquele desdém típico dos aflitos quando perdem, à menção da Sulamericana; já do nosso lado, ela passou a ser a nossa razão de existir. É, somos todos uns adoráveis marafões mesmo...

Lavoisier

Não consigo mesmo me decidir sobre o que fazer. O que fazer? O que priorizar? O fato é que será só pelanca a partir de agora. Qualquer vacilo, em qualquer das duas competições, nos deixará...bem, nos deixará prostitutos da vida! Pensando bem, sou vermelho, sou Inter, sou campeão do mundo: priorizar o quê? Pra quê? Vamos pras duas, ora! (como diria o meu químico, científico, letrado e destemido avô, S.Assis P.Ererê, “nada se ganha, tudo se conquista...”). Vamo’, vamo’, Inter...!

Tópicas: alerta

Consta que teria sido dito pela diretoria aflita que “não vamos mais jogar bonito”. Ah, tá...pô, que pena – mas ainda bem que avisaram, né...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

terça-feira, 21 de outubro de 2008

D'ALE, ROGER E OUTROS 'QUETAIS'

Por Daniel Ricci Araújo


Quando Roger jogava-se no chão cavando faltas capazes de fazer corar a Velhinha de Taubaté, pouco se ouvia. Vá lá: um cochicho aqui, outro acolá. "Mas ele se joga um pouquinho demais, né não"?. "Ele é um jogador habilidoso", diziam os co-irmãos, defendendo o indefensável. Eu até imaginava o inverso. Com aquelas meias arriadas, um corpo esguio parecendo um Sandovalzinho loiro e o cabelinho estilo "penteado pela mãe", o próprio Roger defendendo o nosso time.

Faltaria voz para tanto geraldino dizer, provavelmente em espanhol, que o Inter é um time com a cara do Roger. Eu consigo visualizar a cena. Mas ele estava no Grêmio, e essa diferença é tudo.
"Ele é um jogador habilidoso e sofre muitas faltas", diziam os arautos do "copeirismo" pampeano.

O namorado da Deborah. A Deborah, falando mais chiado do que o Sergio Noronha, desfilando na passarela com uma manta da Geral, mais marqueteira e menos portenha impossível (aqui, um adendo: eu li na época que a Geral estava "trazendo as mantas das torcidas para o futebol brasileiro"; conclusão: os outros "copiam", a Geral "traz para o futebol brasileiro", como se fosse uma importadora de chuteiras ou algo que o valha). Tá bem.

Articulador por articulador, comparemos. Mas e D'Alessandro? D'Alessandro é, dos pés à cabeça, um típico, um estridente e inegável jogador argentino. E com essa autoridade gentílica a precedê-lo até quando entra na padaria da esquina, D'Alessandro encontra no verbo dos cronistas a apreciação quase seca que em Roger vinha enfeitada quase sempre, ou era ainda mais docemente adornada como o confete cristalino que se lança num sonho de mu-mu. Roger caía, D'Alessandro catimba. Roger passava milimetricamente, D'Alessandro lança. Roger era um maestro, D'Alessandro é um bom jogador. Roger reclamava do juiz: era um experiente do grupo. D'Alessandro reclama do juiz: é um portenho manhoso. Sou eu que estou vendo fantasmas ou é mais ou menos por aí?

O argentino está entregue às especulações mais do que o Dow Jones do mercado financeiro. Para provar isso, surge uma notícia terrível: nos treinos fechados da semana passada, D'Alessandro e Alex não passavam a bola um para o outro. Estarrecedor. As bolsas despencam mundo afora por causa do dólar, da eleição dos EUA, das hipotecas não-pagas da classe média americana? Não. O mundo econômico pede licença e vai aos pés no banheiro porque, supostamente, Alex e D'Alessandro não compartilham a pelota mutuamente quando no escurinho dos treinos secretos. Aí está uma daquelas coisas que, pelo simples fato de terem sido ditas, estão mais gravadas no imaginário do povo do que a Tábua dos Dez Mandamentos.

Alex e D'Alessandro podem oferecer conjuntamente churrascos notáveis, podem passar uma tarde a compartilhar a beira das piscinas do Parque Gigante com a família, podem tomar assento juntos no Conselho de Segurança da ONU, mas mesmo assim já estarão, para alguns, como inimigos carnais e consumados aos olhos da massa. No Grêmio, não. No Grêmio, o presidente está numa chapa, o vice de futebol na outra e é só no dia da eleição que se registra, aqui e acolá, algum "clima frio" entre os contendores. Antes, mesmo que fosse já na véspera da contenda, disputando furiosamente o futuro do clube, poderiam os dois jogarem-se nos braços um do outro, tal era a impressão que se tinha pela cobertura da crônica. Mas no Inter, os dois canhotos do time estão quase se matando no anonimato do vestiário. Tá bem.

"O mundo está contra nós", dirão os radicais da causa. Não, por favor. Mas que de vez em quando a gente sente uma dorzinha lá no fígado com algumas coisas, ah, isso sente. E o pior: a crítica especializada ainda não disse o essencial, o inevitável, o óbvio sobre D'Alessandro. E sobre Roger.
O nosso marrento joga dez vezes mais do que o deles jogava!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

PRECISAMOS CONFIAR NO GRÊMIO

Por Andreas Müller


Um dos traços mais apaixonantes do futebol é o seu farto material surrealista. Nada pode ser mais inventivo e intrigante do que 90 minutos de um bom entrevero ludopédico. E é justamente aqui, no sul do Brasil, neste muy valoroso recanto da Terra em que se acomoda o Rio Grande, que o futebol vem produzindo suas obras mais fantásticas. Veja a situação do Inter e do Grêmio, por exemplo: até junho deste ano, ninguém poderia sequer cogitar que o tricolor azenhense triunfaria no campeonato nacional com um time formado por algo equivalente a um amontoado de pedreiros e garis, acrescido, talvez, do talento de Tcheco, cujo futebol lhe justifica o apelido.

Da mesma forma, era impraticável pensar que o Inter, com todas as suas estrelas hollywoodianas, acabaria se resguardando ao papel de melhor ator coadjuvante do certame. Convenhamos: surrealismo dos bons. Nem Salvador Dalí seria capaz de tamanho arroubo criativo.

É claro que toda essa conversa tem um propósito. Trata-se de conduzir o caro leitor pela mãozinha, passo a passo até o ponto central desta crônica: o fato de que 2008 reserva um final surpreendente para os enredos do futebol gaudério. Sim, amigos, anotem aí o que este pobre escriba lhes antevê na segunda metade de outubro: seja qual for o desfecho do Campeonato Brasileiro ou da Sulamericana, será um desfecho inesperado. Veja, não estou dizendo que o Grêmio não será campeão brasileiro, muito menos que o Inter bordará uma coroa ainda mais escandalosa em sua camiseta para registrar a conquista da Sulamericana. Nada disso. O que eu afirmo é algo bem simples, que pode ser resumido num conselho: não tente confiar nas aparências neste ano de 2008.

O futebol tratará de surpreendê-lo, invariavelmente.
O Grêmio é a maior prova disso. Pois basta nossos queridos rivais tropeçarem para que no Beira Rio faísquem sorrisos de malícia e faceirice, todos antevendo a inevitável queda dos eqüinos de Assunción. O fato é que a alegria dura pouco, quase nada, em geral, termina na rodada seguinte, quando o Grêmio retoma a distância para o resto da manada e volta a bancar um Seabiscuit tresloucado. Via de regra, o tricolor só tropeça mesmo quando dele se espera uma vitória fácil e protocolar, tal como essa que deixou de conquistar no Canindé, sabe-se lá por quais razões. Surrealismo na sua manifestação mais genuína.

O nosso Inter, é claro, não foge à regra. Desde o início deste Campeonato Brasileiro, os astros colorados deixaram escapar quase todos os pontos que já estavam computados nas tabelas dinâmicas de toda a nação colorada. Vitórias, mesmo, só aconteceram naquelas partidas em que a expectativa apontava na direção oposta.

Nesses casos, o Inter surpreendeu não só no resultado, mas também na atuação coletiva. Dentro do Beira Rio, amordaçou três postulantes ao título, São Paulo, Palmeiras e Grêmio e nos apresentou tudo aquilo que esperávamos de um grupo estrelado por D’Alessandro, Nilmar, Alex, Guiñazu, Daniel Carvalho e Magrão. Impossível negar: o Inter é que deveria estar liderando o campeonato. Potencial, tem. Só não o utiliza porque, enfim, 2008 é o ano do surrealismo. Ano em que os Estados Unidos se transformaram numa economia estatal, o Brasil se fez porto-seguro para investimentos e o Fluminense chegou à final da Libertadores. Surreal.

Daí que eu afirmo: nós, colorados, devemos parar de desacreditar o Grêmio. Nosso dever cívico para com a pátria colorada é o de confiar no Grêmio, saudar o Grêmio, ter certeza de que o Grêmio “vai sair campeão” (argentinismo nojento, esse, convenhamos). Nossa fé no triunfo gremista tem de ser inabalável.

Da mesma forma, é preciso que se esvazie o Beira Rio. Devemos ser todos pessimistas quanto ao futuro do Inter. Temos de nos portar como derrotistas, uns corneteiros insuportáveis, sem crença nenhuma na possível conquista da Sulamericana, tais como se fôssemos, cada um de nós, a versão colorada do Paulo Sant’Ana.

No final, o destino acabará nos surpreendendo, acreditem.

sábado, 18 de outubro de 2008

MINHA DOR É SÓ MINHA

Por Raphael Castro


"Um dia, vieram e simplesmente anularam 11 jogos no campeonato nacional sem prova irrefutável das irregularidades alegadas. Como eu não disputava a Primeira Divisão, não me incomodei. No dia seguinte, derrubaram escandalosamente na área um jogador colorado, sem dar o pênalti, e ele até foi expulso por ‘simulação’. Como eu não disputava a Série A, não me incomodei. No terceiro dia, ameaçaram não apenas rebaixar o Inter como também tirá-lo da Libertadores se um torcedor não abdicasse de seu direito legítimo de ir contra uma decisão arbitrária e nula de um juiz que não poderia (por lei) atuar no STJD. Como eu estava na Segundona, não me incomodei. No quarto dia, vieram e quiseram me tirar da liderança do Brasileirão. Mas aí já não havia mais ninguém para reclamar por mim..."

Idade das trevas

O texto parodiado acima na verdade não é de Brecht, e sim do teólogo Martin Niemöller. Pois é, eu bem que tentei. Mas não deu, não consegui resistir. Dois mil e cinco foi o meu Holocausto pessoal, a minha Hiroshima, a eterna maior velhacaria da história do futebol deste País. Exumarem Darth Zveiter et caterva agora, seja porque razão fosse, já seria em si mesmo lamentável e indigesto. Mas lembrar aquela fedentina toda para catapultar uma indignação meio bocó (afinal, NADA disso afetaria necessariamente o resultado do campeonato, ao contrário do que ocorreu no passado) é simplesmente incompreensível...

Agora chega

Alto lá: não quero com isso dizer que toda essa arbitrariedade espetaculosa não seja reprovável. É claro que é, e todos têm o direito sagrado de espernear contra o que lhes contraria. Mas daí a usar o nosso exemplo para lembrar que “isto já aconteceu antes”, que “eles têm raiva de clubes gaúchos” e nhenhenhéns similares já é demais. Não, não aconteceu “de novo”, não, jamais, nunca, não mesminho. Juro, sou solidário a quem quer que se veja desfavorecido em razão de uma injustiça. Mas essa “revolta” com sotaque de FEBEPEÁ agora é simplesmente risível. Ofereço as minhas linhas àqueles agravados pelo arbítrio, mas por favor, não venham me dizer que é que nem 2005. Porque não é. Mas não é mesmo...

The end

Portanto, como diz o título, minha dor é só minha, e não aceito dividi-la com ninguém que não esteja pronto a ir para a arquibancada do Beira-Rio se esgoelar pelo Inter; é minha, não dou, não empresto, não alugo e não permito que se apropriem dela para justificarem a própria “aflição”, quando justamente se riram do que aconteceu ao sabor apenas de suas conveniências (como asseverava meu justo, equânime, realista e verdadeiro avô, S.Assis P.Ererê, “cada um por si e Deus por nós...”).

Tópicas: suspensol

Pois é, nada que um efeitozinho suspensivo não resolva, certo? Mas, no nosso caso, quem sofreu “efeito suspensivo” foi a própria justiça...

Tópicas 2: mas paraí um pouquinho...

“Ah, fez-se justiça”, “valeu a pressão” – mas teriam sido então os intrépidos protestos dos aflitos a conseguir a suspensão da pena, ou o fato de terem sido julgados junto com jogadores do...Botafogo?

Tópicas 3: ãhn, meritíssimo...?

Só pra não esquecer: primeiro, também disseram que havia irregularidades na Série B daquele ano, o que se tornou conhecido exatamente pela mesma fonte que gerou a anulação dos jogos na Primeira Divisão. Resultado? Nenhum. Em segundo lugar, tem gente demais agora falando sem rodeios de 2005, mas que à época devia estar com “crise de veemência”: se é verdade então que “indignação ajuda”, fico absolutamente tranqüilo em cobrar essa gente pela sua bananice naquela ocasião...

Tópicas 4: perguntinha

Bem, se o pleno do STJD seqüestrar novamente os jogadores antes do fim do campeonato, custando assim o título, qual será a cor dos narizes...?

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

SEMPRE!

Por Thiago Marimon


Confesso que vi as últimas gotas de meu otimismo em relação a este Brasileirão esvaindo-se na medida em que entregávamos aquele jogo em Curitiba. A derrota pôs fim a QUASE toda minha esperança por uma vaga no G4. Desculpem, mas é complicado mantê-la quando se vê o clube com a segunda maior folha de pagamento do futebol nacional amargando apenas e tão-somente a décima colocação. O Brasileirão hoje para mim vive apenas na ponta da caneta, na matemática. É possível, mas muito improvável... porém, enquanto ela, a matemática, permitir, seguiremos buscando. Sempre! Porém, nem tudo está perdido.

Confesso, amigos, eu desprezei a SULA. Não por ter caído nessas armadilhas de competição menor e afins. Vencer esta competição, batendo Boca, River, Chivas, não é para qualquer equipe brasileira. Tanto não é, que até agora nenhuma equipe tupiniquim ergueu esta Taça. Meu desprezo temporário se deu em função de encarar as duas primeiras fases da Sul-americana, como quem vai à Patos/PB jogar contra o Nacional, ou a Chapecó/SC liquidar o Chapecoense.

Senão vejamos, bater a equipe reserva do co-irmão foi simples, mas, pasmem, chegou a suscitar dúvidas sobre a nossa concreta e firmada paternidade, dúvidas essas que foram dirimidas, liquidadas, trucidadas, tal qual um exame de DNA realizado no Ratinho, em apenas 45 minutos no último baile, digo, clássico. O Universidad Católica, perdoem-me, “nón ecxiste”. Mesmo com time misto e o desfile em campo de Daniel Carvalho, classificamos.

Pois bem, agora quem vem é o temido, e outrora idolatrado em terras gaudérias, Boca Juniors. O bicho papão da América Latina. Logo, desprezo definitivamente não é a palavra mais adequada para este momento. Um confronto de gigantes, que mesmo não navegando em águas tranqüilas em seus respectivos campeonatos nacionais, não deixam de ser grandes.

Inegavelmente temos time, futebol, torcida e camisa para bater este respeitável adversário. Resta-nos, entretanto, jogar com raça, seriedade e humildade. Cada jogador que envergar o manto sagrado na próxima quarta feira, frente a um Gigante lotado, deverá, no mínimo, comer grama. Guiñazu estará à beira do campo, de olho em vocês, atletas colorados. Como diria o lendário Silvio Luis, “é chegada a hora de mostrar quem tem mais garrafa vazia para vender”.
Pequeno pensamento pequeno.

Perdão, não sou hipócrita, tenho que admitir, é sempre bom ver o co-irmão chorando. É um pensamento pequeno, sim, eu sei... mas quer saber?! Eu posso conviver bem com ele. Porém, uma coisa me deixou deveras chateado. Condenar os atletas azuis por atos de agressão covarde, como no caso de Léo, eu entendo, mas, condená-los por aflorar sua lascívia em campo é inconcebível. Réver e Morales não mereciam esta punição, estavam apenas, “cada um no seu quadrado”, seguindo seus desejos mais íntimos, seus instintos mais primitivos. E isto Tribunal nenhum pode condenar, seja em campo, ou dentro de um ônibus qualquer. E antes que eu esqueça, não comparem com 2005. O que aconteceu esta semana não chega nem perto.

(u) Tópica:

Ao ver o time jogar com a vontade que apresentou no último confronto, contra o Goiás, onde se esmerou para levar o gol de empate, fica complicado qualquer projeção otimista. Time nós temos, de sobra. Vontade, às vezes. E por isso, espero sinceramente que este binômio, time + vontade, esteja presente amanhã à tarde no Gigante. Pois, enquanto a matemática permitir, seguiremos buscando... Sempre!

Saudações Coloradas.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

LIBERA GERAL!

Por Marcelo Benvenutti


Os números não mentem. Sim. Eles não mentem. As mentiras surgem da interpretação que damos a eles. Tem gente que acredita em numerologia, por exemplo. Do nada, poderia mudar o meu para Marcello, com um "l" a mais, porque algum guru neo-psicodélico assim me disse. Não mudarei. Até porque não acredito em numerologia. E nomes com dois "l" me lembram de ex-presidentes nefastos.

Os números, e não vou ficar aqui enumerando-os, mostram que o Inter do Brasileirão de 2008 perde pontos para os piores colocados e ganha pontos em cima dos grandes clubes. Que nossa defesa não é das piores, mas nosso resultado ofensivo, incrivelmente abaixo do poderio, deixa muito a desejar. E, por último, para não me alongar demais, nossa pontuação fora do Beira-Rio é vergonhosa.

Claro que não estou contando nenhuma novidade para quem acompanha o Colorado todos os dias. É a cruel verdade dos números. Mas, e sim, devemos perder um pouco de nosso tempo interpretando-os. Tirando fora as primeiras cinco rodadas em que nossos jogadores foram treinados pelo Sheik Abel e depois, interinamente, pelo olheiro Guto, o time de Tite, sim, já podemos chamar de o time de Tite, num primeiro momento sofreu por conseqüência da disfunção administrativa colorada. Modernos como somos, adotamos o calendário europeu, ou argentino como querem alguns, antes que a CBF ganhe a briga com a Globo e adote o mesmo. De nada nos serviu estrear reforços fora de forma ou desentrosados e fomos patinando vagarosamente até que tudo estivesse solucionado.

Mas, analisando porque perdemos basicamente pontos fora de casa para adversários fracos e não temos um bom ataque, não podemos deixar a interpretação de lado. Tite, como um bom treinador, não considero Tite péssimo, formado nas peleias dos Gauchões, tanto como treinador quanto jogador, não perdeu o cacoete do recuo exagerado. Menospreza o poder de seu próprio time. Um time é também o reflexo do perfil do treinador. E Tite tem o perfil anal-retentivo, pra deixar a maioria freudiana do Rio Grande em polvorosa. Nas entrevistas, Tite deixa transparecer quase sempre a mesma desculpa, tanto nas vitórias quanto nas derrotas. Nas vitórias, deixamos de fazer mais. Nas derrotas ou nos empates azedos, a mesma ladainha.


Mas, Tite, agora que tens um grupo fechado, agora que estabeleceste o teu time, agora que terás quase todos os titulares até o fim do campeonato sempre em campo, sem mais essas paralisações de Seleção, lesões ou expulsões, agora, Tite, libera! Libera o time para jogar. Deixa eles livres para fazerem dois quando tiverem feito um. Para fazerem quatro quando tiverem feito dois. Tite, deixa eles fazerem oito quando tiverem feito quatro no primeiro tempo. Deixa de ser retentivo, Tite. Libera geral, e que venha a borrasca! Libera, que eu acredito que poderemos vencer oito jogos em nove. Libera o Abel que existe dentro de ti e seja feliz.
Ou então compra um Prozac e vai pra casa.

Nos contentaremos se tiver cerveja no Bar 4.

Mas, libera, Tite, vai.
Libera!

Ps.: Para quem mora em Curitiba ou perto, estarei hoje à noite lançando o livro da imagem abaixo.

No bar Beto Batata do Alto da XV, a partir das 20h00. A partir da próxima semana, à venda também por e-mail.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

GRANDE CONTRA OS GRANDES

Por Gustavo Foster


Os números inspiram-se em Euclides da Cunha e mostram, impiedosamente, a realidade que todos vêem mas nem muitos percebem: o Inter tem aproveitamento de 38% contra os times que hoje estariam rebaixados no Brasileirão 2008. Diferente do escritor, os números apenas mostram o problema. Não analisam, não procuram respostas e não acham causas. Apenas o fato, três derrotas, um empate e infímas duas vitórias contra o G4 que se encontra ABAJO.

E a situação é recorrente. Nos últimos tempos, o time colorado porta-se, seguidamente, amedrontado (ou "desmotivado") contra times sabidamente fracos, que em situações ditas normais ofereceriam perigo mínimo. Quantos São Caetanos, Juventudes, Vitórias, Paranás, Ipatingas e Figueirenses já arrancaram valiosas quantias da pontuação colorada? Pontos que são lembrados nas contas finais, quando alguém cita – após longos minutos apenas escutando teorias vazias – a seguinte frase: "Pois é. Se a gente tivesse vencido a Ponte Preta, estaríamos na Libertadores".

Atualmente, pode parecer absurdo, mas garanto que se aplica à grande parte da torcida eu sinto mais tranqüilidade quando o Inter vai ao Morumbi jogar contra o São Paulo do que quando vai ao litoral paulista, jogar contra o horroroso Santos. Uma crise de benevolência aflige os corações dos profissionais vermelhos e a doação de pontos se dá enlouquecidamente. Jogadores aclamados como craques desaparecem, jogadores tidos como ruins são terríveis, os goleiros falham, a zaga fura, o meio não cria, o ataque erra, o técnico emburrece.

Uma explicação fácil seria o menosprezo. O Inter não leva os adversários mais fracos a sério e acaba indo mal contra eles. Aquela história da lebre e da tartaruga. Mas eu não acredito nisso. Não acho que seja esse o motivo. Não sei o que acontece, mas a culpa não é de uma provável soberba. Principalmente agora, que a humildade foi IMPOSTA, após dois anos ridículos.
Mas o meu medo tem sentido. Na próxima rodada jogaremos contra o Atlético Paranaense, candidato forte para o DESCENÇO no atual torneio. Tem tudo para ser um jogo fácil, E É ESSE O PROBLEMA. Volta D’Alessandro, volta Alex e volta o medo de perder mais três pontos que, em tese, seriam uma BARBADA.

Eu espero que, sábado, o time honre o nome, a camiseta e a história colorada, se portando como time grande que é, contra um time candidato ao rebaixamento. Esses três pontos já não mudam em nada, pois iremos pra Sulamericana e perder ou ganhar não vai mudar isso, mas o importante é a postura. O Internacional atual precisa ter postura de Internacional: grande contra todos.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

OS SUMIDOS DO INTER

Por Daniel Ricci Araújo

Se uma coisa chama-me a atenção sobre o aproveitamento de alguns jogadores do Inter é o fato de que os relegados, muitas vezes, não sofrem única e exclusivamente de perda de espaço. Não se imagine que no Inter sempre ocorre o declínio gradual e episódico dos jogadores, como se fosse a lenta e premeditada agonia de um bebum da Cidade Baixa. Não, pelo contrário. Iguais a uma estrela cadente no céu, subitamente os 'sumidos' do Inter passam da luminosidade para o invisível a olho nu. Desaparecem. Escafedem-se. Tal qual uma mosca zunindo à noite no quarto escuro, é como se incomodassem sem estar em lugar nenhum.

Vejamos alguns casos.

O primeiro, por questão de importância técnica, é o matador Walter. Walter foi o grande, o radiante destaque do Inter na Copa São Paulo. Sem tirar nem pôr, no calor senegalês de janeiro assistíamos pela televisão, em Walter, à ascensão ao mundo do novo Claudiomiro. E era empolgante. Terminado o campeonato, imaginava-se no mínimo dos mínimos o banco de reservas imediato para o rapaz. Mas pasmem: com total espanto chegamos a outubro tendo visto-o jogar uma partida só, contra o Santos, e de ponteiro! E se não bastasse isso, agora cai sob sua cabeça a acusação de ser "gato", nesse caso um gato de enciclopédia, de conto machadiano, situação prontamente repelida pelo presidente Fernando Carvalho.

"Walter está à disposição", asseverou o eterno presidente com uma daquelas suas frases decoradas de uma certeza transatlântica. Mas, ora, "à disposição", nesse caso, significa o mesmo do que dizer "Walter não joga e nem jogará". Porque a verdade mediúnica, a verdade amazônica e alarmante é a de que o garoto não joga, e não figura no banco, e não está no vestiário, nem na concentração, nem nas máquinas de ginástica do academia do estádio e muito menos passeando pelas largas rampas do Gigante. O torcedor mortal e comum não o vê a não ser em jogos obscuros nas terças-feiras à tarde, e olhe lá. Ao fim e ao cabo está mais fácil encontrá-lo na rua comendo um pastel e tomando uma Coca-Cola do que no campo. Walter simplesmente sumiu.

Mas esse não é o único caso.

Vejam Luiz Carlos, trazido do Ceará quando ainda era artilheiro da Série B, aquela de tão saudosa memória para alguns clubes do país. Luiz Carlos tem aproximadamente dois metros de altura, três de largura e uma envergadura que faria Michael Phelps parecer o Pequeno Polegar da revista infantil. É um centroavante desses oceânicos, dantescos, um desses camisas noves que em vez de jogar futebol sabem somente fazer gols (e aqui um adendo: noves fora as exceções geniais, que as há, não se confie no centroavante puramente técnico nem mais nem menos do que na freira tardia e convertida: o centroavante, via de regra, precisa nascer com um mínimo de trombador dentro de si, e a freira precisa vir ao mundo mais casta do que a Virgem Original. Assim como o centroavante habilidosíssimo, a freira convertida aos trinta anos é um alarmante perigo institucional). Mas, como eu dizia, Luiz Carlos é um nove de ensaio acadêmico, de capa de livro. E desaparecido.


E mesmo portando essa ostensiva e gigantesca condição de centroavância, por onde anda Luiz Carlos? Ninguém sabe, ninguém viu. Teria voltado para o nordeste? É possível. Em compensação, Adriano, o longínquo e interminável Adriano entra num jogo sim, no outro também, e no próximo com certeza. Ninguém tem quaisquer dúvidas sobre como proceder para encontrá-lo. Ele está sempre radiante e desvairadamente no banco, entrando em vários jogos – quando não os começa, e jogando sempre o mesmo futebol. Luiz Carlos, ao contrário. Talvez por ser um poste grudado dentro da área, desses que decidem vidas e campeonatos, está como que proibido de ter chances. Caso a bola batesse-lhe na canela e entrasse, isso já seria um formidável e estupendo gol de centroavante, mas a realidade é que o nosso matador abortado da segunda divisão e sua canela estão igualmente desaparecidos e flutuando por aí, quem sabe à procura de uma meta e uma bola para estufar nas redes.


Poderíamos falar de Bustos, da Seleção Colombiana para sabe-se lá onde, para o nada com coisa alguma, e isso não diríamos sem antes acusar a quixotesca presença de Ricardo Lopes, mais assíduo no time do que Rei Momo no Carnaval. Poderíamos perquirir quanto a Álvaro, o lesionado, ou Sorondo, o infeliz – dois lamentáveis desaparecimentos, se bem que por outras razões. O Inter tem alguns sumiços explicáveis. Outros, nem tanto.


Enquanto isso, de ausência em ausência, o ano vai esvaindo-se e, ao que tudo indica, dificilmente com Libertadores no centenário. Chegou a hora de focar todas as baterias na Sul-Americana.

Todos, sem exceções.


Presentes e sumidos.

sábado, 11 de outubro de 2008

A VOZ DO INTER

Por Daniel Ricci Araújo


A multidão ainda não está desperta. Faz um silêncio medieval.

Cúmplices do vazio do estádio, as faixas balançam solitárias ao sabor do vento. Ao som de cada lufada é como se elas falassem calmamente e devagar - cada uma nos oferece sua mensagem particular e imutável, linhas da história do Inter balançando pelo ar. Há bandeiras, frases diversas, dizeres os mais discrepantes entre si. O silêncio inevitável abriga as grandes verdades. “Se tu lutas, tu conquistas”. Já aqui está o povo e sua luta. Alguns dizeres encaram-nos com a calma de um velho ancião, balançando o olhar à brisa do Guaíba como se dissessem estar ali há mil anos. O Gigante oferece a perspectiva do horizonte, do infinito, mas antes do concreto estão esses mandamentos da Popular. Bela e contemplativa, desenhada em um gigante mostruário, a impassividade de Figueroa parece capaz de afrontar o céu. Bodinho, Larry, Mahicon Librelato: a calma das estampas vivas é mais forte do que tudo. A simbologia de mil gerações envolve o tecido farto do portão 7. Mas a multidão ainda não está desperta. Há um mistério a celebrar. O estádio, envolvido por esse magnetismo que o faz fascinante e único, faz suas essas coisas como se fossem elas filhas do seu próprio ventre. O estádio e sua lenda, unha e carne medidos e pesados desde o primeiro dos minutos do mundo. A vista do Beira-Rio despovoado de corpos mas repleto desse sopro de alma definitiva é uma ante-sala óbvia para concluir o mais óbvio ainda: não há transcendentalidade possível sem ausência. No seu silêncio quase inóspito, o estádio não dissimula. A vaga do Guaíba e o Gigante criaram todo o nosso mundo, e o fizeram num silêncio profano. O vento do Beira-Rio fala, atesta a verdade bíblica. Ele está lá há mil anos.


Mas a multidão ainda dorme.

Lentamente, o povo ocupa seu espaço. O ritual diuturno e já repetido desde o primeiro sol da nossa existência toma sempre a mesma forma, como se ocorresse pela primeira vez. De novo, por eras e eras, quanta gente veio ver! O povo celebrando o povo. As longas rampas, o caminhar das pessoas, o sol batendo no concreto, os grandes refletores a esticarem-se num sem fim rumo ao céu: que Deus abençoe essa sensação de pertencimento tão escancarada e repetitiva. Antes de Nabucodonosor, de Roma, antes da Mona Lisa e de Hamlet, o concreto do Beira-Rio já estava lá, em algum lugar ou ponto daquele espaço, como se estivesse esperando, aguardando, matutando às vésperas do inevitável encontro com toda a sua gente. O alarido e o movimento da massa são uniformes e quase messiânicos, e embaladas por essa procissão as juntas do Beira-Rio mais uma vez acusam: tudo estava pronto antes do mundo começar a girar.


E então o povo começa a fazer-se ouvir.

Há agora a multidão. E a multidão, em sua existência coletiva, parece que desnatura e desqualifica a entidade silenciosa que antes habitava o estádio com sua escandalosa autoridade. A turba é algo de individual e de menor por causa disso, por conta dessa sua vontade feroz de desfazer com o grito essa autoridade própria do silêncio. Ela reage e se destempera, e resigna-se, e urra, e tem um sentido único porque tem opinião, como se fosse alguém. O estádio, no domínio da massa, está desfalcado de uma espirituosidade imprescindível e anônima. Mas aí, desse silêncio afrontado, a alma impetuosa surge outra vez.


De trás da meta, mil e uma vozes juntas formam a música inevitável e dissonante. A identificação do povo a cantar nada mais é do que um tabefe na cara da trivialidade da multidão. A massa de trás do gol trombeteia sua melodia milenar. No canto, na voz agora única como uma rocha, aí está de novo a entidade, que declama estes seus versos desde o primeiros dos dias. Pelas bordas do estádio, o recital ecoa suave e alto como se fosse a melodia de uma catedral. “Figueroa”. “Cubanos”. “Portão 7. Popular”. O pano e o canto. Ao sabor do vento e sob a benção das faixas eternas, de trás do gol surge o Inter. O evangelho do Inter. Agora e mais uma vez, a voz do Inter fala. Ela está lá há mil anos. O juiz apita e o jogo inicia.


A massa agora está desperta, e o vento de sempre sopra mais uma vez.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

TARDE DEMAIS.

Por Thiago Marimon


- Anota aí e me cobra depois: hoje é três de setembro. Em um mês, tudo estará diferente. Em termos de desempenho e resultados.


Há exatos 37 dias, o eterno presidente, The King, o Carvalho, proferiu estas palavras, como forma de tentar colocar ordem na casa, frente à crise que se avizinhava e à falta de comando instaurada no vestiário. Tal declaração, somada à confiança conquistada junto ao torcedor colorado, em razão dos anos de sucesso frente ao clube, levaram-me a escrever uma coluna com este tema naquela oportunidade. Pois bem, o tempo passou... é chegada a hora da cobrança.
Obviamente que não foram resolvidos todos os problemas do clube neste curto período. Nem se esperava isso. Estamos em outubro e não apresentamos a solidez e o equilíbrio esperados. Ainda insistimos em atletas que não vêm apresentando um desempenho no mínimo satisfatório, em detrimento de outros que, reiteradamente, sequer são relacionados.


Entretanto, um balanço superficial do desempenho do time neste período aponta um aproveitamento de 80% no Campeonato Brasileiro, com quatro vitórias e apenas uma derrota, além de uma classificação na Copa Sul-americana, jogando com a equipe reserva e o regulamento embaixo do braço. Este momento, enquanto ainda curam as feridas abertas pela atuação vexatória do último sábado, certamente não é o mais adequado para enaltecer dirigentes, uma vez que eles, sua falta de planejamento e convicções são os maiores culpados pelo fraco desempenho este ano.


Porém, os resultados obtidos desde que Fernando Carvalho assumiu definitivamente o comando do vestiário são inegavelmente satisfatórios. A tal ponto que a improvável repetição deste desempenho resultaria em uma colocação no alto da tabela ao final do campeonato, tendo em vista que as projeções matemáticas apontam ser necessário vencermos quatro em cada cinco partidas, das dez restantes, para chegarmos à Libertadores no ano do Centenário. E é exatamente este o aproveitamento que o time vem apresentando.


Logo, ao passo que não se deve, nem se pode, retirar a parcela de responsabilidade de F.C. pela inconstância deste ano, seja por omissão ou conivência com os recorrentes equívocos, nada mais justo que lhe conceder os merecidos créditos.


Conceder-lhe os créditos e lamentar, afinal, ao que tudo indica, ele voltou tarde demais.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O ANTI-CLICHÊ

Por Marcelo Benvenutti


Quem gosta de cinema e de literatura deve saber muito bem que os clichês colam nos roteiristas e escritores mais que imãs de tele-pizza na porta da geladeira. É quase impossível driblá-los em certa altura da trama. Depois de muitas leituras e correções, o autor vai se espantar ao notar quantos clichês escaparam incólumes à sanha da tesoura do criador.


Um dos clichês mais universais do cinema norte-americano, que no fim de tudo acaba sendo da própria história do cinema, é a do herói solitário. A ponto de a notória revista francesa Cahiers Du Cinema, bíblia da NouvelleVague, classificar o western como o próprio cinema norte-americano e, por conseqüência, mundial. Um dos filmes mais emblemáticos deste genêro é "O Homem que Matou o Facínora".


John Wayne, o que matou, tem sua vida perturbada quando um advogado, interpretado por James Stewart, chega a uma cidade do Velho Oeste. A cidade é atacada seguidamente por um bandido chamado Liberty Valance, vivido por Lee Marvin, sem que nada se altere. Até que o advogado resolve combater a força bruta das armas rápidas com a constituição na mão.

Obviamente se dá mal. Ou não. Pois no desenrolar da história "mata" o facínora que o desafiara para um duelo ao velho estilo "nós dois sozinhos na rua central". O que se passa é o enterro pobre e deprimente do personagem estrelado por John Wayne, o homem que matou o bandido, fazendo com que até o personagem de James Stewart acreditasse nisso. Para logo depois cair no esquecimento. O próprio filme encerra-se na frase: Publique-se a lenda.


Muitos outros exemplos, centenas, eu poderia dar aqui de filmes que seguem o padrão do homem solitário que resolve os problemas dos outros e morre esquecido. O último deles se encerra com o mais recente filme do Batman. Solitário, o cavaleiro das trevas combate aqueles que tentam destruir os valores comuns da sociedade e em troca recebe o esquecimento ou o desprezo.


Pois no Internacional existe um homem que é a exceção à regra do clichê. Ele combate o mal, o adversário, onde os outros não combatem. Ele não espera recompensas extras pelo que faz. Quando todos desistem, tal qual Gary Cooper em Matar ou Morrer, ele não desiste. Mesmo que todos parassem, ele jogaria, ou pelo menos tentaria, jogar pelos outros dez. Nada o faz desistir.


Não sabemos, e nem queremos saber, se uma fratura exposta o faria perder o norte. Talvez não fizesse. Não preciso dizer aqui quem é este homem. Até as fundações do Beira-Rio tremem ao retumbar de seu nome cantado pelo povo colorado. Ecoam nomes do passado. Heróis esquecidos de outras eras. Heróis que se redimem. Enfim o mundo se rende ao herói solitário. O anti-clichê.
Que os outros jogadores colorados sigam o exemplo do herói. Que perpetuem o fim dos clichês. Que todos, de uma vez por todas, apreendam um antigo ditado mais que clichê: A verdadeira luta não é a união de muitos por objetivos individuais. É a união das individualidades em prol de um objetivo comum.


Publique-se o fato.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

E O GALLO ESTAVA CERTO...

Por Gustavo Foster


Nos idos do negro 2007, Píffero comandou um início de revolução (ou "renovação"). A era dos campeões do mundo já tinha acabado, e o grupo precisava de novos ares. E a mudança deveria começar pelo comando do grupo, que deixaria de ser do desmotivado Abelão e passaria às mãos do promissor Alexandre Gallo, apadrinhado do IMPOSSIBLE DREAM Vanderlei Luxemburgo. Gallo chegou com novas idéias, pensamentos ESQUERDISTAS em relação ao então trio de comando do vestiário, composto por FernanDeus, Iarley e Clemer. O último foi o primeiro. Ao velho arqueiro foi imposto o banco.


O novo titular seria Renan, que já não mais era uma promessa e passava a tornar-se unanimidade entre torcida e imprensa. Só que Clemer não aceitou muito bem ficar ao lado de Pinga e Christian (ainda mais quando os dois entravam em jogo e ele continuava, inerte) e passou a reclamar da reserva. Argumentava-se que ele era campeão mundial, que era experiente, seguro, líder dentro de campo. Paralelamente às reclamações do quase-quarentão, o Inter começou a ir mal nos campeonatos, Gallo começou a ser questionado, e a corda rompeu-se. Do lado mais fraco, como sempre. O técnico era o lado mais fraco e Clemer, contando principalmente com o apoio dos outros dois líderes, voltou à condição de titular quando Abel retornou de suas férias prolongadas.


Passam-se alguns meses e chegamos a outubro de 2008. Agora com o caxiense Adenor, Clemer continua sendo titular. Feliz da vida, o maranhense almeja chegar aos 40 anos como titular do centenário colorado. Só que começam as pataquadas: falha num jogo da Copa do Brasil contra o Sport, o que é pago através da vaga perdida; furada HOMÉRICA contra o Vasco, onde a idade mostrou face; saídas RECORRENTES do gol de forma esdrúxula e a gota d’água, uma defesa em dois tempos, onde a falta de segurança aliou-se ao azar e deu à luz a imagem mais bizarra da rodada. Se a paciência já era pouca, acabou. E hoje, às 16h do dia sete de outubro, Tite anunciou: "Quem estava certo era o Gallo!"


Clemer deveria ter ido para a reserva quando estava por cima. Quis ficar (e deixaram), a natureza fez o seu papel (é impossível um jogador de 39 anos ascender; a decadência é óbvia) e um ídolo, que, apesar de falhas, sempre foi um bom goleiro, com títulos imensos, vai se aposentar deixando uma imagem manchada para posteridade.


Saber parar na hora certa é uma arte.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

ANTI-HERÓIS

Por Raphael Castro


O mundo, deve-se reconhecer, não é feito apenas de heróis. Esses heróis perfeitinhos, impolutos, barbeados, "com cara de baby johnson", insuportável e politicamente corretos. A idéia, admita-se, é bem divertida: por exemplo, e se de repente o Batman acordasse e dissesse "pô, hoje eu não tô com saco..."?; e se o Super-Homem (epa, ainda tem hífen aqui...?), em vez de se degladiar com um maníaco-depressivo careca, simplesmente se dedicasse a uma super...bem, a uma super "vocês-sabem-o-quê" com a sua amada Lois Lane. Portanto, é mais fácil crer que tem por aí gente muito mais "humana" (mas capaz de grandes feitos) do que o contrário...


Prossegue


Outra vertente do chamado "anti-herói" (de novo, ainda tem hífen aqui...?) é aquele sujeito meio canalha, mas que consegue nos cativar, pela capacidade de certos desprendimentos em determinados momentos (com o perdão da rima pobre), sem abrir mão da própria natureza. Um bom exemplo seriam aqueles heróis de filmes "capa-espada" (me ocorrem agora Han Solo e Jack Sparrow - para os mais saudosos, iríamos de Bogart e seu Rick Blaine, no filme Casablanca...).


Taxonomia


E, finalmente, como último degrau nessa tipologia dos anti-heróis, teríamos aqueles que, absolutamente desajeitados e engraçados, conseguem os tais "grandes feitos" lá do primeiro parágrafo. Aqui a lista é farta: teríamos de Chaplin a Woody Allen, de Buster Keaton a Harold Lloyd, em direção a Indiana Jones e Mr. Bean, passando até mesmo de Kleber Bam-Bam a Diego Alemão (ok, sacrilégio, eu sei, mas era importante pra passar o ponto...).


Mas e...?


Por que a longa introdução acima? Simples, porque termos em nossas fileiras verdadeiros anti-heróis - inclusive o maior deles no nosso gol: Clemer é capaz de defesas notáveis e batatadas memoráveis. Não tenho nada pessoal contra o arqueiro colorado (pois é, o mais vitorioso de todos, blábláblá e tal...), mas, e é preciso que se diga, algumas das maiores derretidas que o Inter deu nos últimos anos podem (devem?) ser debitadas na conta do goleiro. O triunvirato que compartilhava com Iarley e Fernandão de certa forma parece lhe ter subido à cabeça como saquê – sem trocadilho - em dia quente. Quando criticado (e, sim, é muito chato ser criticado), consta a suposta emissão de frases compreendendo pretensos deveres de lhe "fazerem uma estátua" ou de lhe "darem o Beira-Rio de presente", como dívidas de gratidão eterna. Este, portanto, quando acompanhado das salvadas incríveis que ele já nos deu, seria o lado "cadelão" do goleiro, então alçado à condição de um "Capitão Rodrigo", um "Macunaíma" da bola, beirando uma cafajestagem meio adorável, aos moldes de um "Leonardo Pataca" futebolístico - enfim, o quase-canalha pelo qual todos torcíamos e que todos adorávamos odiar...


Proporcional


Só que a lista de bizarrices do moço avança um pouco mais, proporcionalmente às grandes defesas do que costuma ocorrer com seus colegas de profissão. Clemer já está eternizado e entronizado em nossas memórias pelas defesas à queima-roupa com Alex Dias e do petardo de Deco. Aliás, a rigor, o arqueiro já vive – e viverá muito ainda - dessas duas defesas há muito tempo: seus erros parecem ser o preço cobrado pelos deuses do futebol em retribuição à sua incrível sorte, formada de contusões, hepatites e outras mazelas – lembro que sempre que o goleiro perdeu a titularidade, algo (meio misterioso) acontecia para lhe restabelecer seu lugar "de direito". Portanto, a meu humilde ver, o seu tipo é exatamente aquele que, aos trancos e barrancos, fez muita gente feliz – os outros, inclusive - e chegou a lugares jamais sonhados por muitos (e bons) de seus colegas, fazendo também o povo vermelho sonhar e vibrar. Um viva, pois, ao nosso anti-herói: salve, Clemer Batatada, o nosso Didi Mocó da bola, o nosso Rafinha Verdureiro...


Pra não esquecer


A lista de anti-heróis não terminaria no goleiro, claro, embora ele nos pareça ser o seu mais ilustre e óbvio exemplo. Nós os temos ainda na casamata e na direção do clube, mas isso é assunto pra outro dia (como diria o meu avô, S.Assis P.Ererê, "quem mateia com pressa dá bom dia pro vaso...").


Tópicas: constatação

Vi, impotente e entristecido, a nossa Libertadores 2009 escorrer desgraçadamente entre os dedos da mão de Clemer e do pé de Índio; violência esta quase tão grande quanto sofrer um gol dos aflitos...


Tópicas 2: segunda constatação

Queriam tanto a Sul-Americana que agora é só o que irão disputar. Espero, sinceramente, que tenha valido a pena...


Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.


Fui (e não a pé).

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

OS AMANTES

Por Andreas Müller


Madrugada de segunda-feira. Não há ninguém por perto. Tudo que resta aqui, na Praça da Matriz, são os escombros das eleições municipais. Santinhos, bandeiras e adesivos jazem por toda a parte, colados ao chão, esfarelados pela umidade. E ainda há este silêncio tristonho no ar...
No paço central, as estátuas de bronze gesticulam para o nada, com mãos dramáticas das quais ainda pingam restos de chuva. Ninguém ousa caminhar por aqui numa hora dessas. Ninguém, a não ser eu e ele, meu mais fiel amigo, que neste momento se detém num poste e fareja-lhe cada entalhe, buscando o que parece ser um lugar altamente estratégico para urinar.

Há tempos que gosto de passear com meu cachorro pelas madrugadas da Praça da Matriz. Agrada-me esta sensação de abandono, este silêncio de festa acabada que contrasta com a barulheira diuturna dos carros e dos vendedores de pipoca. Segurança nunca foi um problema por aqui. As únicas ameaças são os mendigos, muitos deles tão velhos e trôpegos que mal conseguem balbuciar um palavrão. Além do mais, há sempre um policial rondando o Palácio Piratini, imagino que poderei chamá-lo no dia em que algo perigoso cruzar o meu caminho. Então seguimos despreocupados, eu e o cachorro em nosso passeio madrigal, matando o tempo ou deixando que ele nos mate um pouco mais, tudo depende do ponto de vista.

Desta vez, porém, não estamos sozinhos.
De longe, na escuridão, avistamos a silhueta de um casal. Ele e Ela, vamos chamá-los assim, estão de pé, escorados em um banco próximo da Assembléia Legislativa. São amantes. Não são namorados, nem noivos, nem marido e mulher. São amantes, vítimas de um desses amores clandestinos e docemente proibidos. Nunca os vi na vida. Mas sei que são amantes porque se portam como amantes; porque não têm tempo a perder; porque se amam no desconforto improvisado de uma praça em plena madrugada; e porque se abraçam assim, com fervor e urgência, como se quisessem adiar uma despedida dolorosa e inevitável. Ela deita a cabeça no peito dele e fica se balançando ao som de uma balada imaginária. Ele a engancha com força, chega a levantá-la um pouco do chão, depois espalha os dedos por debaixo dos cabelos dela. Estão ambos submersos no momento. Típico de amantes. Tocante.

O cachorro percebe a presença deles e começa a latir. Ela dá um pulo, assustada, e Ele ergue o pescoço para ver o que está acontecendo. Levanto a mão como quem pede desculpas e puxo a guia de volta, ralhando com o cachorro numa tentativa de deixá-los em paz. Mas agora é tarde, o clima se desfez. Ele fala algumas coisas, confere o relógio. Ela responde chorosa, reclama de algo. Beijam-se com devoção duas, três vezes, Ele segurando o rosto dela. Separam-se. Ele caminha em direção ao Teatro São Pedro, passos rápidos e decididos. Passa ao meu lado, tira um celular do bolso e faz uma ligação. Entra no táxi falando: “Amor? Sou eu. Tive de fazer ronda dupla hoje, mas já estou indo...”. Veste farda da Brigada Militar.

Lá em cima, Ela continua parada, contemplando o amante que se vai dentro do táxi. Aos poucos, começa a se arrastar em direção à Av. Duque de Caxias. Caminha devagar, observando os santinhos jogados no chão, absorvida pelo amor clandestino que ilumina seus domingos, mas que sempre acaba lhe escapando das mãos. Consigo vê-la na esquina, caminhando cabisbaixa sob as luzes amarelentas do Palácio Piratini. Veste uma camiseta do Grêmio.

sábado, 4 de outubro de 2008

AFINAL, JÁ VEM TARDE?

Por Raphael Castro


Já apagadas as chamas do Gre-Nal (avisei que temia pelos açodadinhos; é divertido ter sempre razão), o momento se apresenta interessantíssimo para pensar em coisas infelizmente menos agradáveis: por que, afinal, estamos na atual situação? Como explicar que o moedor de "aflitos" em que se transformou o gramado do Gigante no domingo passado está rugindo apenas tardiamente este ano? Por que as coisas não vinham acontecendo apesar das contratações, da estrutura e dos salários em dia?


Cara chato
Sim, devem estar os(as) caros(as) leitores(as) pensando, sou um chato rematado. "Como é que ele vem falar nisso depois de 12 pontos em quatro jogos?". A razão, simplíssima, para a crise existencial ali de cima é que, apesar de aparentemente aprumado, o time ainda precisa provar mais. Reparemos que a quase obrigatória saranda imposta aos nossos colegas listrados teve o condão de apenas nos aproximar do tão sonhado G-4 (isto objetivamente, porque "torcedoramente" a flauta tocou, sim, em alto, bom e doce som). A verdade é que a excelente vitória da semana passada, em termos práticos, serviu mais de argumento contra o FEBEPEÁ (este sim, "imortal"), do que propriamente nos ajudar – ok, claro que ajudou, mas um campeonato de pontos corridos é um processo contínuo (um "work in progress", no vernáculo shakespeariano...).


Ainda...
Agora tem essa coisa com o Cholo, nosso Wolverine (incrível: imagino o gringo tomando uma saraivada de balas dum-dum e levantando sorrindo, com seu moicano cuidadosamente aparado e as feridas cicatrizando imediatamente – aliás, ele não ficou ainda mais assustador com o moicano?). É fato que fazia muito tempo que eu não via alguém com tamanho comprometimento no Beira-Rio, mas também não me parece lá muito justo (com ele mesmo e com o resto do time) que se diga que sem o argentino o Inter já era, perda irreparável, coisetal e etcétera; Guinãzu é meu ídolo desde sempre, personificando pra mim ao mesmo tempo o orgulho que todo jogador deveria sentir de atuar pelo Inter, e o temor de nós que deveriam ter os adversários. Mas quero crer que haverá vida sem Guina e que conseguiremos, sim, passar relativamente incólumes pelos próximos confrontos. Afinal, como dizia o (ex)ministro, andar com fé eu vou...


Responsa
As respostas para as perguntas do início do texto, então, a meu ver, nos conduzem diretamente à República do Abel, que se instalou no clube pós-2006. Após uma até compreensível acomodação depois de dobrar o Barcelona, o Beira-Rio parece ter se tornado um viveiro de "gatos gordos", refestelados e empapuçados com os próprios feitos ("treinar? Ah, não..."; "o quê, Vacaria? Mas e Yokohama...?;" e por aí ia...). O preparo físico estava uma vergonha e o time tinha consistência de ameba, o que me cheirava a muita liberalidade e nenhuma responsabilidade. O fato é que 2007 é um lapso de memória para os meus pobres neurônios e 2008 vinha relativamente bem até a mui mal-explicada derrota para o Sport na Copa do Brasil, avançando em direção ao providencial esporro de D. Fernando I e Único – podem ver, o buraco negro do nosso futebol durou exatamente de uma a outro (pode até parecer heresia, mas para mim tem um dedo gordinho e carioca em tudo isso). Logo, se estivéssemos na colocação que nos cabe num campeonato como esse e com um elenco como esse, provavelmente não iríamos estar chorando tanto pelo nosso Último dos Moicanos (ok, só o balde cabível e devido; mas também não ia chegar ao ponto de o time se dividir em A.C. – antes de Cholo... - e D.C...).


Chega
Então, precisamos, necessitamos, demandamos, desejamos continuar na trajetória ascendente de agora. Com ou sem o Guina, temos que manter a boa maré, pois não é aceitável concluir que um clube do tamanho do Inter possa depender tanto de individualidades (mesmo que seja uma "individualidade coletiva" como no caso de Pablo Horacio Guiñazu). Tive a oportunidade de dizer que a Copa do Brasil seria a minha obsessão desse ano; ela é, sabe-se bem, passado, morta, enterrada, sepultada: quero a Libertadores de qualquer jeito o ano que vem, e, se não deu com uma, vai ter que dar com outro (o G-4). Para isso, o Gre-Nal pode ou não ter sido fundamental, só dependerá de nós mesmos (como diria o meu sábio, ornitológico, contemplativo e meteorológico avô, S.Assis P.Ererê, "às vezes um Gre-Nal só não faz verão...").


Tópicas: só pra garantir
Alô, alô, direção, só por via das dúvidas, levem o Guina pra concentrar (quanto menos que seja para ele continuar de exemplo pros outros – bem, deu certo da última vez...).


Tópicas 2: casquinha
Atenção: o FEBEPEÁ, esta praga, não se dará por vencido, mesmo depois da chula que bailaram domingo os aflitos no Gigante; o FEBEPEÁ, estejamos alertas, se regenera feito lagartixas e planárias...


Fui (e não a pé).

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

TEEM!

Por Marcelo Benvenutti0

Pela rádio. acompanhei o jogo de ontem pela Sul-Americana. Infelizmente não foi possível matar o trabalho e me dirigir ao Beira-Rio. Nas arquibancadas, a torcida bocejava aguardando o apito final. Para que a classificação não se desse de forma totalmente insossa, o Católica decidiu fazer o Clemer trabalhar no final do jogo.

Tite filosofou longos cinco minutos após a lesão de Guiñazu para promover uma substituição, tamanha era a mesmice inodora da partida. Quatro empates certeiros. As quartas-de-final nos reservam um acerto histórico. Não fosse o intruso do Chivas e a ruindade doAtlético-nos-rebaixem-por-favor-Paranaense e a Sul-Americana se transformaria num torneio Brasil-Argentina.No Brasileirão, teremos pela frente dois combatentes que, historicamente, pelo menos nos últimos anos, nos complicam. Coritiba e Goiás. Sem a desenvoltura do Cholo, veremos quais as soluções que Tite nos apresentará.

Se D'Alessandro não for convidado a passear com a Seleção Argentina nas Eliminatórias, o natural dentro do padrão do Tite é entrar Taison no lugar do Guiña. Como acredito que seqüência faz diferença, não creio que será diferente.Vocês devem estar notando que hoje estou assim. Com preguiça em criar frasesde efeito. Desprovido de metáforas. Os adjetivos que tão bem alimentam os cronistas do mundo inteiro aqui escasseiam. Talvez porque D'Alessandro tenha me desnutrido de referências no domingo à noite. Foi uma daquelas atuações que fazem o sujeito sair do estádio olhando para o céu. Para o nada. Perdido entre devaneios e delírios. Como num daqueles filmes em que saímos do cinema e demoramos horas para sair de dentro da história.

Não resta nada a ser dito. Somente contemplado com um sorriso bobo estampado na cara.Outros momentos inundam a memória mais que água de poça em All Star velho. Encharcam a mente de prazer. Em minutos inspiradíssimos de Fair Play, os jogadores colorados decidiram auxiliar o ex-líder poupando seus jogadores de correrem atrás da bola. Resolveram jogar e correr sozinhos. Foi de uma amabilidade indecifrável. Peço que alguém da direção envie um requerimento para a FIFA. Faz-se necessário premiar os atletas colorados. Jamais se viu por essas bandas tamanha consideração para com a saúde de um rival.Entediado.

Cansado pelo calor fora de época. Extenuado pela ansiedade que se avizinha nas próximas semanas. 42 pontos. Matemática. O cotovelo do Pablo. O Adriano pedindo para beijarem seu cotovelo. Luiz Carlos dormitando sem ser chamado no banco. A insônia de Tite. Os reservas do Boca Juniors. Os novos bosteros que se multiplicarão pelo Rio Grande. Os garçons dos bares sem gorjetas gordas. Os taxistas sem ninguém para colocar as fofocas em dia. Onze longas rodadas. Nosso caminho daqui em diante será árduo e duro. Fair Play, nem pensar. Tal como naquele antigo comercial de refrigerante, não é possível provocar a sede de vitórias até não aguentar mais.

Um Brasileirão, infelizmente, não é feito só de grenais.