sábado, 4 de outubro de 2008

AFINAL, JÁ VEM TARDE?

Por Raphael Castro


Já apagadas as chamas do Gre-Nal (avisei que temia pelos açodadinhos; é divertido ter sempre razão), o momento se apresenta interessantíssimo para pensar em coisas infelizmente menos agradáveis: por que, afinal, estamos na atual situação? Como explicar que o moedor de "aflitos" em que se transformou o gramado do Gigante no domingo passado está rugindo apenas tardiamente este ano? Por que as coisas não vinham acontecendo apesar das contratações, da estrutura e dos salários em dia?


Cara chato
Sim, devem estar os(as) caros(as) leitores(as) pensando, sou um chato rematado. "Como é que ele vem falar nisso depois de 12 pontos em quatro jogos?". A razão, simplíssima, para a crise existencial ali de cima é que, apesar de aparentemente aprumado, o time ainda precisa provar mais. Reparemos que a quase obrigatória saranda imposta aos nossos colegas listrados teve o condão de apenas nos aproximar do tão sonhado G-4 (isto objetivamente, porque "torcedoramente" a flauta tocou, sim, em alto, bom e doce som). A verdade é que a excelente vitória da semana passada, em termos práticos, serviu mais de argumento contra o FEBEPEÁ (este sim, "imortal"), do que propriamente nos ajudar – ok, claro que ajudou, mas um campeonato de pontos corridos é um processo contínuo (um "work in progress", no vernáculo shakespeariano...).


Ainda...
Agora tem essa coisa com o Cholo, nosso Wolverine (incrível: imagino o gringo tomando uma saraivada de balas dum-dum e levantando sorrindo, com seu moicano cuidadosamente aparado e as feridas cicatrizando imediatamente – aliás, ele não ficou ainda mais assustador com o moicano?). É fato que fazia muito tempo que eu não via alguém com tamanho comprometimento no Beira-Rio, mas também não me parece lá muito justo (com ele mesmo e com o resto do time) que se diga que sem o argentino o Inter já era, perda irreparável, coisetal e etcétera; Guinãzu é meu ídolo desde sempre, personificando pra mim ao mesmo tempo o orgulho que todo jogador deveria sentir de atuar pelo Inter, e o temor de nós que deveriam ter os adversários. Mas quero crer que haverá vida sem Guina e que conseguiremos, sim, passar relativamente incólumes pelos próximos confrontos. Afinal, como dizia o (ex)ministro, andar com fé eu vou...


Responsa
As respostas para as perguntas do início do texto, então, a meu ver, nos conduzem diretamente à República do Abel, que se instalou no clube pós-2006. Após uma até compreensível acomodação depois de dobrar o Barcelona, o Beira-Rio parece ter se tornado um viveiro de "gatos gordos", refestelados e empapuçados com os próprios feitos ("treinar? Ah, não..."; "o quê, Vacaria? Mas e Yokohama...?;" e por aí ia...). O preparo físico estava uma vergonha e o time tinha consistência de ameba, o que me cheirava a muita liberalidade e nenhuma responsabilidade. O fato é que 2007 é um lapso de memória para os meus pobres neurônios e 2008 vinha relativamente bem até a mui mal-explicada derrota para o Sport na Copa do Brasil, avançando em direção ao providencial esporro de D. Fernando I e Único – podem ver, o buraco negro do nosso futebol durou exatamente de uma a outro (pode até parecer heresia, mas para mim tem um dedo gordinho e carioca em tudo isso). Logo, se estivéssemos na colocação que nos cabe num campeonato como esse e com um elenco como esse, provavelmente não iríamos estar chorando tanto pelo nosso Último dos Moicanos (ok, só o balde cabível e devido; mas também não ia chegar ao ponto de o time se dividir em A.C. – antes de Cholo... - e D.C...).


Chega
Então, precisamos, necessitamos, demandamos, desejamos continuar na trajetória ascendente de agora. Com ou sem o Guina, temos que manter a boa maré, pois não é aceitável concluir que um clube do tamanho do Inter possa depender tanto de individualidades (mesmo que seja uma "individualidade coletiva" como no caso de Pablo Horacio Guiñazu). Tive a oportunidade de dizer que a Copa do Brasil seria a minha obsessão desse ano; ela é, sabe-se bem, passado, morta, enterrada, sepultada: quero a Libertadores de qualquer jeito o ano que vem, e, se não deu com uma, vai ter que dar com outro (o G-4). Para isso, o Gre-Nal pode ou não ter sido fundamental, só dependerá de nós mesmos (como diria o meu sábio, ornitológico, contemplativo e meteorológico avô, S.Assis P.Ererê, "às vezes um Gre-Nal só não faz verão...").


Tópicas: só pra garantir
Alô, alô, direção, só por via das dúvidas, levem o Guina pra concentrar (quanto menos que seja para ele continuar de exemplo pros outros – bem, deu certo da última vez...).


Tópicas 2: casquinha
Atenção: o FEBEPEÁ, esta praga, não se dará por vencido, mesmo depois da chula que bailaram domingo os aflitos no Gigante; o FEBEPEÁ, estejamos alertas, se regenera feito lagartixas e planárias...


Fui (e não a pé).

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