terça-feira, 28 de outubro de 2008

AGORA É SUL-AMERICANA, INTER

Por Daniel Ricci Araújo

Querido leitor (e leitora, ora bolas), façamos um exercício profético. Transportemo-nos ao primeiro minuto do dia 07 de novembro do corrente ano. Esteja você alegremente lutando contra um 'asado de tira' no centro de Buenos Aires, bebemorando com mais uma cerveja a tiracolo na Lima e Silva ou vibrando em casa enquanto escuta o comentário do Wianey Carlet ("o Internacional está plenamente habilitado a ser campeão da competição", dirá o nosso insigne comentarista), repitamos mais uma vez a grande nova imaginada: o Inter despachou o Boca Juniors. Alex grudou um tiro certeiro no ângulo da goleira à esquerda das cabines da Bombonera e já era. Estamos dentro.

Dessa maneira, concedendo-nos uma margem de imaginação possível para aquilo que não podemos prever, trato agora de elencar os motivos pelos quais vejo no nosso clube um potencial vencedor da Copa Sul-Americana. Vamos a eles.

Porque temos um bom time – sim, criticar o Inter atualmente pode até ser uma obrigação em determinados momentos, mas a realidade para mim é que muitas vezes duvidar por duvidar do Colorado tem valido como uma opinião tão justa quanto fácil, como se fizesse as vezes de um atestado de inteligência e de humildade carimbados na testa do crítico. A menor língua a levantar-se para defender as virtudes do time corre o imenso risco de ser catalogada sumariamente como a voz da arrogância e da soberba. Nem tanto. O Inter tem bom time e, com todos os problemas enfrentados, mesmo assim está em sétimo lugar da liga nacional mais competitiva do mundo. Somos irregulares, vamos do cume ao chão de semana em semana? Exagero, mas vá lá: e se a irregularidade mostrar sua cara boa a partir de agora? Querem desespero real? Torçam para o Vasco.

Porque temos jogadores diferenciados – D'Alessandro, Guiñazu e Nilmar são um trio de pouca equivalência no futebol brasileiro e sul-americano. O time pode estar frouxo, jogando mal e se repetindo nos erros de sempre, mas desses três tudo podemos esperar. Nilmar - o melhor atacante em atividade no futebol brasileiro - estaria ainda mais intratável caso tivesse um centroavante a seu lado. D'Alessandro para mim vem correspondendo cada vez mais na articulação do time e Guiñazu... Bom, quanto a Guiñazu só corremos o risco dele ter de voltar a seu planeta natal antes do fim do torneio.

Porque temos Alex – sim, esse microtópico é quase uma expiação individual. Antigamente, o futebol de Alex não me convencia. Agora, um pouquinho mais perto do gol (não que ele deva ser atacante, Tite, isso não), chegando para chutar com muita freqüência e desferindo patadas capazes de perpetrar assassinatos em série pelos gramados do mundo, Alex está transformado num jogador-referente do time. O futebol tem desses caprichos pragmáticos e soluções sumárias: se o cruzamento não sai e a bola chega torta, afunda Alex! O Boca provou dessa realidade na última quarta-feira, e Dunga já a reconhece. Nosso meia-atacante atualmente faz por merecer um lugar na Granja Comary.

Porque não há um bicho papão – com o Boca fora do nosso caminho (afunda, Alex!), o Inter converte-se no melhor time da competição junto com o Estudiantes de Véron, possível rival na finalíssima. O River é penúltimo colocado do Campeonato Argentino, Botafogo e Palmeiras estão quase fora e o Chivas, virtual inimigo na hipotética semifinal, é sexto lugar do torneio mexicano (e se achamos o Inter um time inconfiável também por ser sétimo lugar do Brasileirão não podemos, por lógica, achar que o Chivas é um timaço). Com o time de Riquelme talvez sonhando em ser campeão local (possibilidade que aumentou domingo e pode tornar-se ainda maior após a rodada do 'Apertura' deste meio de semana), o Inter será talvez, sim senhores, o time a ser batido na Sul-Americana.

Porque decidimos em casa – é verdade, o sr. Nicolas Leoz e sua trupe já decidiram. Não acredita? Vá até o site da Conmebol na parte da Sul-Americana e, na guia "partidos", clique no "cuadro de desarrollo del torneo". O diagrama mostrará como o pré-sorteio já definiu que o vencedor da nossa chave (afunda, Alex!) será o mandante das partidas decisivas tanto na semifinal como na final. É segurar dois empatezinhos com gol (ou uma vitória magrinha, como não?) e depois fazer a festa no Gigante quase explodindo de tão cheio. Cheiro de taça no ar, meus amigos... E está de bom, muito bom, ótimo tamanho. Afunda, Alex!

Ei, você aí, atracado num naco de carne portenha, abraçado numa latinha de Polar no meio da Lima e Silva ou quase dormindo no sofá com o radinho de pilha ligado. O jogo acabou, viu? Valeu a torcida, apesar do sufoco. Passamos do Boca! Agora, sejamos otimistas. Algo está sorrindo para nós. No mínimo por educação, convém sorrirmos de volta.

Agora é Sul-Americana, Inter. Chega chegando que eu acho que dá samba.

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