segunda-feira, 20 de outubro de 2008

PRECISAMOS CONFIAR NO GRÊMIO

Por Andreas Müller


Um dos traços mais apaixonantes do futebol é o seu farto material surrealista. Nada pode ser mais inventivo e intrigante do que 90 minutos de um bom entrevero ludopédico. E é justamente aqui, no sul do Brasil, neste muy valoroso recanto da Terra em que se acomoda o Rio Grande, que o futebol vem produzindo suas obras mais fantásticas. Veja a situação do Inter e do Grêmio, por exemplo: até junho deste ano, ninguém poderia sequer cogitar que o tricolor azenhense triunfaria no campeonato nacional com um time formado por algo equivalente a um amontoado de pedreiros e garis, acrescido, talvez, do talento de Tcheco, cujo futebol lhe justifica o apelido.

Da mesma forma, era impraticável pensar que o Inter, com todas as suas estrelas hollywoodianas, acabaria se resguardando ao papel de melhor ator coadjuvante do certame. Convenhamos: surrealismo dos bons. Nem Salvador Dalí seria capaz de tamanho arroubo criativo.

É claro que toda essa conversa tem um propósito. Trata-se de conduzir o caro leitor pela mãozinha, passo a passo até o ponto central desta crônica: o fato de que 2008 reserva um final surpreendente para os enredos do futebol gaudério. Sim, amigos, anotem aí o que este pobre escriba lhes antevê na segunda metade de outubro: seja qual for o desfecho do Campeonato Brasileiro ou da Sulamericana, será um desfecho inesperado. Veja, não estou dizendo que o Grêmio não será campeão brasileiro, muito menos que o Inter bordará uma coroa ainda mais escandalosa em sua camiseta para registrar a conquista da Sulamericana. Nada disso. O que eu afirmo é algo bem simples, que pode ser resumido num conselho: não tente confiar nas aparências neste ano de 2008.

O futebol tratará de surpreendê-lo, invariavelmente.
O Grêmio é a maior prova disso. Pois basta nossos queridos rivais tropeçarem para que no Beira Rio faísquem sorrisos de malícia e faceirice, todos antevendo a inevitável queda dos eqüinos de Assunción. O fato é que a alegria dura pouco, quase nada, em geral, termina na rodada seguinte, quando o Grêmio retoma a distância para o resto da manada e volta a bancar um Seabiscuit tresloucado. Via de regra, o tricolor só tropeça mesmo quando dele se espera uma vitória fácil e protocolar, tal como essa que deixou de conquistar no Canindé, sabe-se lá por quais razões. Surrealismo na sua manifestação mais genuína.

O nosso Inter, é claro, não foge à regra. Desde o início deste Campeonato Brasileiro, os astros colorados deixaram escapar quase todos os pontos que já estavam computados nas tabelas dinâmicas de toda a nação colorada. Vitórias, mesmo, só aconteceram naquelas partidas em que a expectativa apontava na direção oposta.

Nesses casos, o Inter surpreendeu não só no resultado, mas também na atuação coletiva. Dentro do Beira Rio, amordaçou três postulantes ao título, São Paulo, Palmeiras e Grêmio e nos apresentou tudo aquilo que esperávamos de um grupo estrelado por D’Alessandro, Nilmar, Alex, Guiñazu, Daniel Carvalho e Magrão. Impossível negar: o Inter é que deveria estar liderando o campeonato. Potencial, tem. Só não o utiliza porque, enfim, 2008 é o ano do surrealismo. Ano em que os Estados Unidos se transformaram numa economia estatal, o Brasil se fez porto-seguro para investimentos e o Fluminense chegou à final da Libertadores. Surreal.

Daí que eu afirmo: nós, colorados, devemos parar de desacreditar o Grêmio. Nosso dever cívico para com a pátria colorada é o de confiar no Grêmio, saudar o Grêmio, ter certeza de que o Grêmio “vai sair campeão” (argentinismo nojento, esse, convenhamos). Nossa fé no triunfo gremista tem de ser inabalável.

Da mesma forma, é preciso que se esvazie o Beira Rio. Devemos ser todos pessimistas quanto ao futuro do Inter. Temos de nos portar como derrotistas, uns corneteiros insuportáveis, sem crença nenhuma na possível conquista da Sulamericana, tais como se fôssemos, cada um de nós, a versão colorada do Paulo Sant’Ana.

No final, o destino acabará nos surpreendendo, acreditem.

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