sábado, 29 de novembro de 2008

REVOLUÇÃO

Por Raphael Castro

É bom que se preste atenção: o Inter está mudando. Tudo leva a crer que está em andamento um plano meticuloso, contínuo e resoluto de inserção do clube no cenário mundial. Ainda lembro da estupenda "Síndrome do Mampituba", uma enormidade hoje tão fora de moda quanto gritar "é campeão" para nossos colegas lá dos aflitos; não há colorado atualmente que ainda duvide da capacidade do Inter de fazer bonito numa competição fora do Brasil – preservadas, evidentemente, certas premissas inevitáveis, como planejamento e boa gestão de futebol: este, aliás, é o binômio que faz a diferença em qualquer lugar, seja no Morumbi ou no Menino Deus...

Business

Pois é, a "coisificação" da paixão clubística não deixa mais qualquer espaço para erros gerenciais e administrações amadoras; hoje em dia, a auto-estima da torcida gera dividendos e garante o caixa do clube. Os títulos viram grana, que viram contratações, que viram títulos, que viram público, que vira mais grana, que vira mais contratações, que viram mais títulos, e assim por diante. Só que para isso o planejamento deve ser nipônico, cirúrgico, intransigente; um clube que permite a feudalização do vestiário, o desleixo na preparação física ou a inapetência da comissão técnica não vai absolutamente a lugar nenhum.

Por exemplo...

Vejam o São Paulo. Já falei aqui do São Paulo, como vem falando toda a imprensa ultimamente. Não é por acaso que eles vêm chegando na ponta nos últimos três anos, em que pese a freguesia para times do Sul (já disse a amigos que para ganhar deles é fácil, basta jogar de bombacha): o clube paulista simplesmente tem a melhor diretoria do país, Juvenal Juvêncio é quase um feiticeiro. O fato é que, a despeito de seu retrospecto meridional, os comandados de Muricy simplesmente tiraram 11 (!!) pontos de diferença do vice na classificação geral, livrando agora oceânicos 5 (!!) pontos de vantagem para o segundo lugar. Ou seja, inacreditáveis 16 (!!!!!!!) pontos; tá, tá, falei mesmo para rebater preventivamente os espertinhos que viessem me amolar com aquela história de "eles não ganham mata-mata". Tá bom, eles não ganham mata-mata, eles não usam black-tie, eles não usam bidê, grande coisa...na lógica negocial de hoje, a mera visibilidade vale quase tanto quanto o próprio título.

Adiante

O que eu disse é que, havendo uma "linha mestra" da condução do (futebol no) clube, como acho que só o São Paulo no Brasil atualmente tem, a coruja fica significativamente mais pelada. Os paulistas já perceberam de velhos que a Libertadores não vale apenas pelo título, ela é fundamental para manter o time nos holofotes e para, mercantilistamente, ganhar dinheiro. Para isso, eles se organizam enfaticamente, e talvez o único time que tenha lugar tão cativo na Copa quanto eles seja só o Boca – o que, convenhamos, não é pouco. Por isso é que, como já tive a oportunidade de dizer aqui, acho que um eventual título na Sul-Americana, mais até do que a própria taça, termina sendo importante: qual é o preço do retorno, em imagem, do D’Alessandro falando maravilhas do Inter na Argentina? Qual é o valor do Olé e da ESPN dizerem que os colorados isso, os colorados aquilo? O que valem as imagens dos torcedores fazendo festa viajando pelas TVs do mundo todo...?

Pontofinalizando

Por essas e por outras, quero e muito que ganhemos essa "Sula". Ela dá traquejo, dá cancha, dá liga, dá um certo prestígio e dá retorno. E isto tudo remete exatamente ao círculo virtuoso apontado lá em cima. Enquanto nos chamam de loucos por investir milhões em um jogador, digo que fazemos isso por um motivo muito simples: porque podemos. Uma dose de arrojo competente na escolha de uma "super figura" (ou duas) pode ser absolutamente lucrativo para o clube e para a torcida. Estamos – ou podemos estar - entrando numa era de sustentabilidade inédita para o clube: bons jogadores, títulos, público e sucesso, tudo devendo ser regiamente cimentado por uma diretoria inteligente, sempre. É, não se iludam, diletos(as) leitores(as), o Inter está mudando...

Tópicas: a propósito...

Tenho ouvido falar muito de "porta da frente" nos últimos dias: serve uma aberta pelo Inter lá na década de 90? (como diria o meu modesto, humilde, realista e sincero avô, S.Assis P.Ererê, "a porta da frente é a serventia dos bobos...").

Tópicas 2: perguntinha

Estando na mesma situação, não aceitariam por acaso os nossos amigos do lado de lá uma eventual vaga presenteada pela Conmebol? Se por hipótese ficarem em quinto lugar e lhes vier uma vaga em razão da exclusão dos peruanos, dirão eles "não" a tão abjeta situação? Trata-se de um novo paradigma ético, o "homo aflitus"...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

ONDE NINGUÉM FOI

Por Thiago Marimon


Quando Guiña tomou aquele cartão bobo, logo aos cinco minutos de jogo, eu reclamei, "isso não se faz". Mas quando, vinte minutos mais tarde, ele foi expulso, eu apenas suspirei... "complicou, vão recuar". O árbitro exagerou, mas o Cholo abusou da sorte, e se deu mal. Sim, ele também erra, pois, mesmo que não pareça, ele é humano. Neste momento complicado do jogo a turma do desespero já aceitava perder por "apenas" 2x0. Eu só pedia que não esquecessem do Nilmar sozinho lá na frente.

Ainda estávamos no primeiro tempo e nosso solitário atacante já roubava bolas na defesa do Inter, chamando o jogo, buscando curar-se da depressão que o reiterado isolamento lhe causa. Ele precisa da bola, a bola precisa dele e nós precisamos de gols. Após um passe açucarado, Nilmar finalmente a encontra em seu habitat natural, o ataque. É quase uma covardia botá-lo para correr ao lado de Desábato... enquanto nosso querido ex-detento atropela Nilmar dentro da área, D’Ale cerra os punhos comemorando. É pênalti, é gol do Inter. Aliás, é duas vezes gol do Inter, e, se fosse necessário que Alex cobrasse a penalidade dez vezes, Porto Alegre ouviria dez comemorações, tamanha a frieza e categoria de nosso pop-star frente ao goleiro portenho.

Estava assim construído o placar que nos coloca a um passo de, pelo segundo ano consecutivo, ser o único clube brasileiro a conquistar um título internacional. Desta vez de forma invicta.
Tite acertou a defesa, se por escolha tática ou imposição das circunstâncias, não me importa. Embora tenha contado com a sorte de ver cair do céu um zagueiro da estirpe de Álvaro, além de, finalmente, poder contar com um goleiro discreto, a tranqüilidade de nosso sistema defensivo, é inegável mérito do criticado treinador. Esta solidez defensiva, somada a mais perfeita harmonia entre o trio Alex, Nilmar e D’Ale nos dão hoje a nítida proporção do que jogamos fora este ano.

Para sorte dos rivais, mais uma vez, o time se ajeita ao final da temporada. Deixamos a Batalha de La Plata com aquele gosto de "cabia mais", seja pela bola na trave de D’Ale, ou pelo impedimento escancaradamente mal marcado quando Nilmar pintava sozinho com o goleiro. Está acabada a seqüência do Estudiantes de 43 jogos sem derrota em seus domínios. Se um clube é feito de títulos, esse caneco cairá muito bem em nossa sala de troféus. E pensar que teve gente comemorando a desclassificação prematura.

Quarta feira será dia de festa na aldeia. Sim, o Rio Grande vai poder comemorar algo neste segundo semestre, o terceiro título do ano, o terceiro título do Inter. Seguimos flertando com a Sula, a um passo de ir onde ninguém foi.

Saudações Coloradas.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

UM TIME DO C******

Por Marcelo Benvenutti


Nos dias que antecederam a partida, Guiñazu declarou que o jogo seria uma guerra. Os jogadores colorados, depois das entrevistas na beirada do campo, esperavam o Estudiantes entrar em campo. Álvaro, tal como o gladiador de Russel Crowe, acrocado, arrancou pedaço da grama, espremeu e cheirou. Guiñazu estava certo. O Inter não estava entrando com 11 jogadores em campo. Eram 11 gladiadores numa arena vermelha de futebol e desejo. A noite senegalesca aproximava o ar de La Plata ao das arenas de homens contra bestas no mundo antigo. O que se veria dali em diante seria mais que uma partida de futebol. Seria a luta encarniçada entre peleadores de espada curta jogando as feras argentinas contra suas próprias redes.
Envenenando-as com seu próprio licor de ódio e purgando décadas de petulância castelhana.

Pois a partida começou como deveria ser. Como todos nós esperávamos que fosse. Encardida. Ranheta. Pegada. Os argentinos que tanto se gabam da garra, da raça, da luta, partiram para cima, mesmo que sem eficiência, do Internacional. A torcida do Estudiantes, que não assistia a seu time chegar a uma final continental desde 1971, apelava para mística copeira que entoa em seus delírios. Verón é um monstro querendo assombrar os brasileiros. Tudo na Argentina é sagrado. Estudiantes não perdeu os últimos 43 jogos em casa, dizem. Diziam isso do Boca. Diziam isso do São Paulo em 2006. Dizer é muito fácil. Quero ver é fazer. Aos 5 minutos de jogo, Guiñazu faz. Talvez o Cholo tenha visto alguns vídeos antigos, da década de 1970, do Internacional. Talvez tenha lido em algum recorte de jornal que lhe mostraram. Figueroa dizia que, pra mostrar força e mandar respeito, o marcador devia dar uma pancada logo nos 5 minutos iniciais. Sábias palavras, Figueroa. Mas não nos dias de hoje. Guiña mandou ver aos 5 e aos 25 minutos atropelou o fantasma Verón. A besta estava no chão. E o gladiador foi expulso de campo. Foi, como conta aquela velha piada gaudéria, daí que começou a briga.

Quando parecia que as bestas devorariam os peleadores colorados, foi que D'Alessandro, debochada, libertina, quase cariocamente, deixou uma bola quedar-se na área aos pés de Nilmar. Nilmar tocou a bola e deixou a natureza atuar. A besta platense, como tantas outras vezes ocorreria na partida, caiu no golpe. Pênalti. Indiscutível. Alex teve que mostrar, via satélite, duas vezes, como um craque cobra penalidades máximas. Tal qual Roberto, o atual presidente vascaíno, que dizem jamais ter errado um pênalti, dinamitou o goleiro argentino. Tite, um filósofo comandando guerreiros sedentos de sangue e glória, utilizou de suas artimanhas intelectuais e magnetizou a mística copeira dos pinchas com dois quadrados elétricos que simplesmente minaram o espírito de Verón e de todos os fantasmas que revoam sua careca. Lá atrás, Álvaro, a respeito de um outro desafogo mais afoito da zaga, franzia o semblante e encarava a tudo e a todos com o mesmo sorriso: Nenhum. Russel Crowe deve ter assistido à partida. Se não assistiu, deveria. Álvaro não atuou como um gladiador. Álvaro é o Gladiador. Maximus. O imperador rendeu-se. As bestas aplastaram-se na serragem. O circo calou-se. Nas arquibancadas ecoavam cânticos colorados. La Plata inteira silenciava para escutar os cantos de guerra da torcida colorada. Os guerreiros zulus saúdam o exército britânico. A batalha está vencida? Louvamos os nossos inimigos derrotados.

O segundo tempo vem como uma chuva quente na noite tépida. Nada aplaca a força do Internacional. Como se todos os jogadores gritassem aos céus. Estamos aqui. Somos todos Guiñazu. Jogaremos pela alma de nosso guerreiro abatido. Aquele que tantas batalhas lutou por nós. Quando estávamos destruídos, aniquilados, sem força ou tesão, Guiñazu não estava. O juiz enxerga um impedimento de Edinho tão inexistente quanto o que enxergou de Nilmar no primeiro tempo. Nilmar é um puma na savana caçando gazelas desnutridas. Edinho é uma leoa faminta protegendo suas crias. Os gladiadores é que são as bestas. O povo platense a tudo observa atônito. Reza para todos os orixás argentinos. Desenterram Evitas, Gardels e Guevaras. Nada e nem ninguém vai parar essa máquina de triturar tentativas de ataques do Estudiantes. Para que a festa fosse completa, faltou apenas que Magrão, o centurião da maloca, completasse para a rede o passe de Michel Platini, quer dizer, desculpem, D'Alessandro.

Abatidos, os jogadores do Estudiantes deixam o estádio aparvalhados. Os torcedores argentinos, músculos retesados de horror, se dirigem para casa com medo de sonhar com o que presenciaram. A guerra não está ganha, sabemos bem. Guiñazu também sabe. Mas com a certeza de pertencer a um grupo de peleadores, o Cholo não pensa duas vezes ao responder aos repórteres o que achou do poder de combatividade de seus companheiros de batalha: "os caras são do caralho".

Sim, Guiña. Parafraseando o velho e louco Júpiter Maçã, o Inter é um time do caralho.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

NOME NÃO JOGA BOLA

Por Gustavo Foster


Desde o início do ano, são saudadas as muitas – e ótimas, diga-se de passagem – contratações da Era Píffero. Dentre os nomes comumente citados estão Nilmar, Magrão, Sorondo, Bolívar, D’Alessandro, Daniel Carvalho. Jogadores renomados, todos trazidos do exterior, do glamour do futebol europeu para os buracos do Gauchão. A maioria satisfez a esperança que tínhamos. Nilmar provou que é craque, Magrão se adonou da posição que ocupa, Sorondo só não é titular absoluto porque não pode jogar, Bolívar passou por momentos ruins, mas se firmou na lateral, D’Alessandro é o nosso 10 que usa a 15 e... Daniel Carvalho.

O canhoto saiu do Beira-Rio novo, como muitos. Era ídolo, numa época em que jogadores bons se destacavam – e muito – em comparação à medíocre companhia que tinham em campo. O camisa 7 dava esperanças aos colorados que pouco comemoravam naquela época. Dribles, faltas preciosas, velocidade, passes primorosos. Frente à falta de títulos e vitórias, acontecimentos como Daniel Carvalho eram dignos de comemoração. O tempo passou, o jovem atacante seguiu o caminho da Europa e, depois de alguns anos, voltou ovacionado a Porto Alegre. Só que quem se diferenciava pela qualidade, hoje é notado pela falta dela. A diferença dele para o resto do time, mesmo que reserva, é gritante. O Daniel Carvalho de hoje não acerta UM passe, UMA jogada, UM drible. Impressiona. Negativamente.

A idéia para o texto vem de algum tempo, mas o auge foi o jogo contra o Fluminense. A falta de vontade, de interesse, de participação, era evidente. Era só alguém puxar um contra-ataque que o nosso segundo atacante se direcionava ao lado contrário do ataque, como quem foge da bola. No início, nos primeiros jogos, ele ainda tentava alguma jogada de efeito, algum passe de calcanhar, algum balãozinho humilhante. Depois de alguns fracassos, a solução foi se esconder do jogo. Quem não tenta, não erra.

E hoje a situação, que já era revoltante, tornou-se inadmissível. O ex "dos dribles Carvalho" foi à imprensa, um dia antes da final da Sulamericana e noticiou: "não jogo mais no Inter!", como quem se sente ofendido diante da incompreensão ante sua genialidade. O que tinha que ser dito, hoje, é o seguinte: Daniel Carvalho, tu vieste pra cá como ídolo, tu tinhas toda a oportunidade de se consagrar, o time tava fechadinho. Todo mundo te queria no ataque, com o Nilmar. Era só tu te esmerar, perder uns quilinhos, te puxar um pouquinho nos treinos. Não precisava ser o craque do campeonato, tu já tinhas crédito com a torcida. Mas, jogando com vontade, fazendo alguns golzinhos, dando alguns passezinhos, tu ficaria meio ano aqui e sairia como ídolo que era. Mas não, em seis meses, aquela que era tida como uma das "grandes contratações coloradas" decepcionou e, mais do que isso, desrespeitou a grandeza do Internacional. Por isso eu digo: se depender de mim, no Inter ele não joga mais.

Falta de oportunidade? Absurdo falar isso.

No mesmo elenco, temos um exemplo que mostra o quão esfarrapada é essa alegação: Andrezinho. Veio como jogador de grupo, nunca se esperou que ele fosse o camisa 10. Aliás, saiu mal-falado do Flamengo e chegou aqui sob desconfiança. Pela semelhança física, lembraram do Pinga. O carioca ficou na dele. Treinou, nunca falou nada na imprensa que não fosse apoio, elogio ou demonstração de felicidade. Jogava 15 minutos, no meio dos reservas, e não reclamava.
Pode não ser um craque, mas não dá pra dizer, hoje, que o Andrezinho não é um jogador importante para o Inter. Na minha opinião, é, junto com o Taison, o "reserva imediato". Aquela espécie de 12º jogador. Faz bem a função do Magrão, não compromete como substituto do Guiñazu e quebra o galho na armação, caso D’Alessandro ou Alex não possam jogar. È importante, sem dúvidas. E foi um jogador que recebeu mais oportunidades que o Daniel Carvalho para mostrar qualidade? Não. Aliás, o primeiro chegou com muito mais nome, mais prestígio, mais festejo.

Só que nome não faz gol, não dá passe e não ganha jogo. Pra pegar a camiseta, fardar, entrar em campo e se dizer titular, tem que mostrar, todo dia, que é digno de estar ali. Daniel Carvalho tinha tudo para ser, mas achou que o "tinha tudo" faria isso pra ele. Não fez, e hoje, se for embora, garanto que triste ninguém vai ficar.

No dia 05 de novembro deste ano, escrevi aqui no Final Sports uma coluna entitulada "Perdedores e Vencedores". No texto, eu fiz uma referência ao técnico Tite que pode ser interpretada de uma maneira ofensiva, o que não era a minha intenção. Algumas pessoas se sentiram ofendidas e eu peço desculpas, porque jamais tive a intenção de agredir ou tratar da vida pessoal de ninguém.

Espero que a situação fique resolvida, já que, a meu ver, tudo foi um grande mal ententido – talvez por má interpretação de quem lê, talvez por culpa minha, seja utilizando ironia de forma inapropriada, seja não deixando clara a intenção das palavras escritas.
E hoje o Tite vai queimar minha língua mais uma vez e vai trazer uma vitória da Argentina.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

OS DALLEGRAVES DAS NOSSAS VIDAS

Por Daniel Ricci Araújo

Nunca se vira um minuto de silêncio como aquele.
A noite estava como que clara e legível, apesar da escuridão a contrastar com a luminosidade artificial dos refletores. O Beira-Rio lotado anunciava o início de Inter x Chivas, pela semifinal de volta da Copa Sul-Americana. A luz advinda das torres que nascem acima da superior fazia com que, de lá de cima, pudéssemos quase ver as fisionomias, os braços, as mãos e os pulsos de todos os colorados presentes ao estádio. Postos os vinte e dois jogadores estaticamente em campo como se formassem as peças em um tabuleiro de xadrez, o juiz anunciou o minuto de silêncio. E, então, o estádio falou.

É verdade, e repita-se a verdade: nunca se vira – e tampouco se verá – minuto de homenagem como aquele. A despeito do silêncio obsequioso trazido pelo comum das referências fúnebres, Arthur Dallegrave, setenta e oito anos de uma vida colorada até as entranhas, recebeu um incontido e indevassável aplauso generalizado. Dispensada a dramaticidade do momento, o velho descendente de italianos obteve, após seu passamento, uma homenagem a seu estilo, alegre e até vibrante. Palmas, palmas, palmas. Pelo barulho como que orgulhoso e entusiasmado da multidão, o reconhecimento àquela trajetória que se despedia foi de um poder emotivo o qual a rigidez do maior silêncio possível só poderia invejar. Palmas, palmas, palmas. Bravo, Dallegrave!

Mas, afinal de contas, o que aplaudimos e reconhecemos naquela noite com um quê até de entusiasmo na voz? Reverenciamos somente a memória do grande dirigente perdido? De maneira alguma. Houve ali, naquele momento, e até de maneira inconsciente, o reconhecimento de uma geração a outra. As carmelitas que estudam o Evangelho conhecem a máxima sagrada e onipresente: "uma geração chega, e a outra passará". E os colorados, antes de se despedirem de um personagem, agradeceram a uma era. Eis a realidade profunda: nas olheiras e nos cabelos brancos de Arthur Dallegrave o Inter perdeu não só o homem. A velhice autoriza uma meditação infinita, uma autoridade inquestionável e todos nós, ao aplaudirmos aquele homem secular, reverenciamos o mistério da geração desaparecida. O Inter registrou ali, nos aplausos da massa, o agradecimento necessário e o passamento de uma época.

O antigo dirigente teve a sorte de ver o Inter dono do mundo, mas acrescentemos ainda à despedida o caráter lírico e dramático das ausências: quantos Dallegraves por aí perderam de ver essa glória? Quantos donos de tijolos hoje sepultos dentro do Gigante, quantos homens e mulheres que torceram nos Eucaliptos ou no campo da Rua Arlindo, quantos jovens da época dos bondes e fãs de Villalba e Carlitos não descansaram antes de Iarley e Adriano Gabiru? Ao meu avô faltou algo como uns poucos anos; a Dallegrave, sobrou tempo. Assim é a vida, e assim é também um pouco da morte. Uma geração chega e a outra passará. Os Dallegraves das nossas vidas foram todos recompensados. E a aclamação da última quarta-feira, de certo modo, também se destinou a eles.

As palmas foram estrepitosas, e não paravam: quem esteve no estádio lembra. Em dado instante, foi como se todos nós quiséssemos sim ou sim homenagear o falecido com o melhor de nossa expressão, numa torrente de orgulho tão aguda quanto rápida, porque silêncio só demonstraria talvez tristeza, conformidade – ou melhor, não daria ao episódio o tom de reconhecimento que as palmas sugerem. Barulho, barulho, barulho. Uma geração passou e a outra não a esquecerá. O belo momento iniciara despretensioso mas terminava emotivo à enésima potência. Não se tratava só de uma homenagem. Era a vida do Inter em pleno diálogo de gerações, estrepitando no seio da massa. Os mortos realmente governam os vivos, e está bom que seja assim.

Cada um de nós, naquele instante e talvez de maneira inconsciente aplaudiu a geração mais antiga, a construtora não só de um estádio mas, em suma, a edificadora da pedra fundamental do Internacional. Pela mão do agradecimento ao velho Arthur, um homem de olheiras fundas, fala mansa e cabelos brancos como a neve, uma geração reverenciou a outra, celebrou a outra, perenizou a outra. E para tanto orgulho e emoção, melhores porta-vozes são sempre a alegria e o assovio. Os Dallegraves já idos da nossa vida estiveram todos presentes no bonito momento.
Palmas, palmas, palmas. Melhor escolha não poderia haver. Uma geração vai passando e a outra fica, e que belo é ver todos estes nossos antecessores indo embora assim, sob uma torrente de aplausos. Hoje sentimos a falta dos que não viram as camisas brancas na manhã de Yokohama.

Amanhã, faltaremos nós nas conquistas dos nossos netos. E é por esse bonito equilíbrio da vida que o Inter, ao fim e ao cabo, continuará para sempre em sua senda eterna de vitórias. Palmas, palmas, palmas. Bravo, Dallegrave!

Os mortos realmente governam os vivos. E está bom, muito bom, que seja assim.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

ENSAIO SOBRE A CHIRIPA

Por Andreas Müller

Cá estamos, agora, atirados nas arquibancadas quase vazias do Beira Rio, alheios ao que se passa dentro de campo. Devo admitir que não estava muito empolgado com a idéia de caminhar até aqui só para ver o time B do Internacional enfrentar o time C do Fluminense – todos os times do Fluminense, você sabe, são times C. Mas a Carol, minha esposa, estava um tanto entediada, queria porque queria sair de casa, caminhar um pouco, fazer algo diferente e aí, basicamente, decretou que viéssemos até aqui para contemplar a noite cobrindo as marquises do Gigante. “OK, então vamos”, arrematei. Então fomos.

Geralmente, ficamos próximos do Portão 6, bem na frente do Bar 4, ali onde enxertaram recentemente uns banheiros de shopping-center, limpos e reluzentes. Ali onde combinei de encontrar o Marcelo Benvenutti no jogo contra o Chivas. Tenho que aprender a ser mais responsável. Talvez eu até escreva uma crônica institulada "Foi mal, Marcelo". Será que pegaria bem? De qualquer forma, hoje vamos variar, eu e a Carol. Vamos mais pra lá, pra depois da charanga da Camisa 12, perto da Popular, lugar em que os irmãos dela – cinco, no total – batem ponto. Sentamos quase no limite da muvuca, num ponto em que dá para ficar sentado e, ao mesmo tempo, sentir a vibração da Guarda. Imediatamente, passamos a nos preocupar com um assunto da mais alta importância: onde estaria o vendedor de picolés?

Estranho, mas o fato é que eu gosto de ver o Beira Rio assim, quase vazio. É como se fosse o pátio da minha casa. O jogo está em andamento, o placar é desfavorável, mas quem se importa? Me vê um Chicabon. Tem umas crianças brincando aqui em volta. Vieram trazidas pelos pais. Pulam, brincam, enrolam-se nas barras e de vez em quando se unem à cantoria da Popular, balançando os braços no ar, visivelmente emocionadas por estarem tão próximas de um espetáculo que costumam assistir de longe. É comovente. Eu e Carol até ficamos observando uma menina de olhos azuis que canta com devoção ao nosso lado. Queremos ter filhos até 2010, então é fácil imaginar que será uma criança parecida com esta, exceto pelos olhos azuis. Até tenho o impulso de censurá-la ao ouvi-la cantando, como se fosse adulta: “Não somos como los putos da Série B”. Sei lá, talvez eu esteja sendo retrógrado demais. Mas a agressividade da estrofe não combina com uma menina tão pequena. Muito menos com uma menina de olhos azuis.

E o Grêmio, hein? Prefiro não dizer nada. Sou azarado demais. Só vou ousar falar alguma coisa quando eles realmente estiverem fora do páreo. Mas, por diversão, acompanho a Popular na letra improvisada: “Paraguaio! Cavalo paraguaio!”. É divertido, embora perigoso. Vai que caia o avião do São Paulo e o Grêmio faça seis gols de chiripa – sempre de chiripa – no Ipatinga e no Atlético-MG... Por sinal, tenho uma nova teoria: tudo que o Grêmio conquistou na história foi de chiripa. Tudo. Talvez eu até escreva uma crônica intitulada "Ensaio Sobre a Chiripa". Penso nisso enquanto a menina de olhos azuis pergunta, ao meu lado: “Pai, o que é um cavalo paraguaio?”. Ah, como eu gostaria de poder explicar isso a ela! Quando meu primeiro filho nascer e me perguntar a respeito, eu terei uma resposta pronta para dar a ele. Aliás, terei respostas prontas para quase tudo. “Pai, o que é gol de chiripa?”. Responderei sorrindo.

Terminou o jogo, eu já mastiguei todo o palito do meu Chicabon e atirei o pau no Grêmio até cansar. Vamos indo, meu amor? Pit-stop no Praia de Belas pra jantar um Big Mac. O meu é sem cebola, por favor. E quarta-feira é dia de decisão. É a grande chance de conquistarmos um título condizente com o investimento feito nesse time aí. Mas, sabe, é tão boa essa sensação de voltar a ter perspectivas, de voltar a sonhar com títulos! É tão bom esse sentimento de que as coisas estão finalmente voltando ao seu lugar! É tudo tão bom, tudo tão saboroso que eu até me considero feliz, agora, por estar fora do Brasileiro. Irônico, não é? Mas vai dizer: como é bom ignorar tabelas, número de vitórias e saldo de gols. Como é bom pensar somente no jogo de ida e no jogo de volta! Ah, como é bom ser colorado! A propósito: me passa o ketchup, amor?

E aí a bola entra.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

FORMATURA

Por Marcelo Benvenutti


Hoje eu estava decidido. Deixei o Lorenzo para ficar na vó. Fica na vó, Lorenzo. Papai vai no jogo. Torce pelo pai na televisão. Deixei. Como moro no Menino Deus, fui a pé até o Beira. Primeira parada. Treiler do cachorro quente. Uma lata para apreciar a noite fria de novembro. Vento refrescando a mente. Cerveja gelada. Sempre chego em cima da hora e acabo indo na superior para não enfrentara fila da inferior. Mas hoje, não. Eu tenho tudo planejado. Vou chegar aos poucos, aproveitando a lei líquida do lado de fora do estádio, e entrar na arquibancada no clima.

Naquele clima. Afinal, aqui na Final (gostaram da repetição de sons?) os colorados quase nunca se encontram no estádio. Hoje já planejei. O Andreas disse que assiste ao jogo do lado do Bar 4. Esse é o meu bar. Bar da sorte. Desde sempre. Torcerei pelo Inter de lá.Normalmente eu acabo indo na perto da famosa "torcida da chaminé". Dizem que a torcida tem líder. Pouco me importa. Não respeito líderes. Assisto ao jogo de lá porque encontro meus amigos Cocó, Toscani, Sassá e outros. Gente boa. Colorada. Mas sempre acontece de ser uma alternativa ao Bar 4. Como é uma alternativa encontrar a Létis e suas amigas na social. Não gosto da social. Gosto do furdunço. Gosto do Bar 4. Que agora tem banheiro de shopping center. Um fenômeno, como diria Guiñazu.

Antes de encarar qualquer coisa, entro num dos bares do outro lado da Padre Cacique, faltam 30 minutos para começar o jogo, encaro uma extra, aquela que é boa, vocês sabem. Uma extra antes do jogo é certeza de ficar legal. Extra sempre cai bem. A partida? Não estou tão preocupado assim. Times mexicanos nasceram para serem goleados pelo Inter. É o que falo para um colorado na fila do Celeiros de Ases enquanto pago um tíquete para saborear um latão. Pronto. Estou pronto. A fila da inferior chega nas bilheterias da entrada sul do Beira. Bem capaz que vou encarar essas. Bebo o latão até faltarem 10 para as 10. Entro pela social. Entrar pela social e pedir passagem para a inferior é barbada. O contrário é quase impossível. Mas eu combinei com o Andreas. O cara não vai falhar. Acho eu. Hoje vamos golear. Tenho certeza. Quando atravessava a rua, eu escutei uma voz conhecida. Era a Polaca. Ultimamente quando chego perto do Beira e escuto a voz da Polaca, é batata! Ou chocolate! Como queiram.

Golearemos o adversário. Se a Polaca sabe, não sei. Mas deveria saber. É gente boa. Me lembra a Lancheria do Parque. E me recorda que estou bêbado. Afinal, um litro e meio em 45 minutos pesam na mente. Ficarei bêbado até o começo do segundo tempo. O colorado bêbado da fila do Celeiros também sabe disso.Pois eu atravesso a Popular pulando enquanto o Inter entra em campo. O Andreas esta lá. No Bar 4. Quem conhece o tamanho da Popular sabe o que enfrentei para chegar da social até o Bar 4. Mil duzentos e cinqüenta empurrões e quatrocentas e trinta e quatro baforadas de maconha na cara depois, cheguei no Bar 4. Olhei daqui. Olhei dali Nada de Andreas. Bom, vai ver o cara ta no meio do rolo. Encontro no intervalo. O jogo começa. O Inter faz um gol de pênalti. Eu vi que quem caiu foi o D'Ale. Quem cobrou? Não compreendo.

Compreendo que o D'Ale fez o segundo. Alex? Não, Alex tá na SeleDunga. Quando penso em mijar, um litro e meio apertam a bexiga, acham o que? Mais um gol do Inter. Cheguei agora em casa. Não vi quem fez. Interessa? Não sei. Sei que quase chorei quando a torcida aplaudiu o minuto e silêncio. Merecido.Três a zero. Intervalo. Quase fui embora. Em casa tem latas na geladeira. Aqui só tem cuspe sem álcool. Essas alturas do texto e vocês devem estar achando, o cara só fala em cerveja. Não. No estádio estão todos inebriados de felicidade. Ligo para o Andreas. A bebida emburrece. Deveria ter feito isso antes. O cara tá na superior. O pai veio assistir o jogo junto. O pai? Bah, isso é preza! Eu respeito. Se o cara sumiu do ponto por causa do pai, eu respeito. Seu ainda tivesse pai, faria o mesmo. Mas não. Aproveitei da companhia do meu velho enquanto deu. Hoje ele assiste e torce pelo Inter de outro lugar. Mas agora não é hora de recordações tristes. Fechamos 4x0. Estou feliz.

Na saída, caminhando, escuto uma voz. A Polaca! Esse boné é demais! Exclama ela. Eu uso um boné da Umbro. Sim, eu tenho um boné de quando o Inter era patrocinado pela Umbro. Nos cumprimentamos. Será mais uma goleada? Será que o Andreas deve assistir aos jogos da superior? Será que devo lavar minha velha camiseta da Adidas sem patrocínio? Quem será o próximo adversário? Argentinos? Nós ganhamos dos argentinos esse ano. Duas vezes. Numa precisamos só de uma partida para fazer quatro gols. Na outra, de duas. Estudiantes? Não sei. Mas se continuarmos jogando como hoje, o Filósofo pode ter certeza, não vão ser estudantes que derrotarão nossos formandos. Para a formatura, resta apenas mais um passo. O da faixa no peito.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

THE JON SPENCER BLUES EXPLOSION

Por Gustavo Foster


Lá nos idos dos anos 90, sem Youtube e praticamente sem mp3, um dos principais meios de ouvir música boa era a MTV. Além de Beavis and Butthead, a emissora passava clipes sensacionais, divididos em categorias de acordo com o programa. E foi num destes, à tarde, antes da aula, que eu vi um clipe com vampiros e mulheres semi-nuas que não me saiu da cabeça. O clipe era muito foda, e a música mais ainda. Lembro que eu não consegui ver os créditos finais do clipe e fiquei com a música na cabeça, sem saber artista, título ou qualquer referência da música. Anos depois, mais precisamente na semana passada, coloquei um disco do Jon Spencer Blues Explosion e, na segunda faixa, começa a tocar "She Said". Era essa a música que eu procurava há quase dez anos.

Daí e de tantos outros exemplos – Electric Six, Run DMC e Supergrass, só pra citar três – tiram-se duas conclusões: a primeira e mais óbvia é de que a MTV de 10 anos atrás não tem nem comparação com a MTV atual. A segunda é que música boa é impossível não ser percebida. Eu tinha 10 anos, nunca tinha ouvido falar de blues, Miles Davis ou Pussy Galore, mas ouvi o Jon Spencer berrando "she said" e achei afudê.

Futebol também é assim: jogador bom salta aos olhos, assim como jogador ruim. No Inter de 2008, eu consigo perceber dois exemplos fáceis da minha teoria. Nilmar e Ricardo Lopes. Os dois, inclusive, vivem situações ambivalentes, que incomodaram-me quando lidas.
Ricardo Lopes, segundo boatos, já teria firmado contrato com o Colorado para o ano do centenário. Nilmar, por sua vez, desde que nasceu é sondado por clubes europeus, africanos, asiáticos e interplanetários, sendo o destino da vez o ex-galáctico Real Madrid, que não vai mais contar com Van Nistelroy por alguns meses.

O lateral direito quase veterano é uma unanimidade, entre torcedores, colunistas, peladeiros e beberrões: joga futebol por engano. Mal sabe correr, dominar a bola é um parto, correr com a bola dominada é impensável. Marcar é impossível e cruzar na cabeça do centroavante, então, é uma vez na vida e outra na morte. Pode ser desconhecimento meu, mas eu duvido que não haja alguém melhor que o trintão destro nas nossas categorias de base. Juro, deve ter alguém melhor do que ele morando no meu condomínio. Daí, não bastasse contratar essa negação futebolística, ainda querem renovar o contrato, como quem diz "tu jogou umas duzentas vezes, ninguém gostou de ti, mas tu vai ter outra chance, tá?". Espero que o boato não se confirme, diferentemente dos boatos envolvendo Cicinho e Ilsinho, diminutivos no nome, mas aumentativos no futebol, principalmente na situação em que nos encontramos, na qual procuramos um camisa 2 em campo e vemos um gandula improvisado.

Já o caso do segundo é mais complicado. Nilmar para mim é craque. Alex é um baita jogador, Guinazu é guerreiro até os dentes, mas só Nilmar é craque. O nosso camisa 9, pra falar a verdade, nem camisa 9 é. Na minha opinião, é segundo atacante, vindo de trás, com a bola dominada, fazendo com que os zagueiros tenham vontade de correr em direção ao primeiro portão de saída do estádio, deixando o fardo para o companheiro de defesa. Chute, habilidade, drible, movimentação, visão de jogo, passe qualificado e, acima de tudo, velocidade incrível são apenas algumas das qualidades do melhor atacante jogando, hoje, no Brasil. Kléber do Palmeiras é um baita atacante, Keirrison promete ser, Kleber Pereira, Borges e Guilherme fazem muitos gols, Dagoberto tenta imitar, mas Nilmar é melhor que todos os citados.

Imagino um time com D’Alessandro, Nilmar e, talvez, um centroavante que faça gol de qualquer jeito. Seria o meu time perfeito. Magrão e Guinazu fortificando um meio-campo que, apesar de defensivo, chega a frente com 5 homens. O nosso atual camisa 9 é jogador de seleção: as lesões o atrapalharam, mas, resolvido isso, Robinho teria alguém se candidatando a sua vaga.

Por isso, faço um apelo – talvez inútil: não vendam o Nilmar. Alex é substituível, mas, sem o Nilmar, teremos que contratar dois atacantes e reformular toda a idéia ofensiva do time. (Sei que existe a possibilidade clara de ambos saírem, mas isso já um problema maior, e o investimento teria de ser maciço nesse setor). Se for para escolher apenas um jogador das dezenas do elenco, escolho Nilmar.

Mantenham os Jon Spencers no Beira-rio.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A CULPA É NOSSA TAMBÉM

Por Daniel Ricci Araújo

Interessantes as repercussões advindas da decisão do nosso Tribunal de Justiça que absolveu os supostos autores do incêndio no famoso "Gre-Nal dos banheiros químicos" de 2006. A maioria das pessoas fala em impunidade e falta de confiança na justiça. Há desgostos para todos os tipos: as instituições públicas não prestam, as decisões judiciais são risíveis, as autoridades cometem escândalos. Raivas e ódios acentuam-se. A sentença final é clara e cega como a ponta da faca nas mãos de uma criança. A culpa é do Tribunal. E é claro – ele pode mesmo ter errado.

Não estou aqui para defender nem acusar ninguém, e muito menos a minha circunstância de ser filho de magistrado (o que não passa de um laço de parentesco, mas para alguns é motivo de tacanhices e pequenices mil) influi em meus pensamentos. À indignação da massa, presenteada com uma decisão supostamente "impossível" e injusta, quero somar a minha: gostaria muito de ver aqueles filhinhos-de-papai-indignadinhos-com-nosso-sucesso-internacional lavando banheiros públicos por alguns anos. Mas as coisas não funcionam assim.

É justo responsabilizar quatro ou cinco indivíduos porque um grupo indeterminado de pessoas vibrou com a fumaça de um banheiro químico em chamas simplesmente porque estavam no calor do jogo? Alguém quer mesmo essa "justiça" de sensações? Quem é o primeiro, então, disposto a censurar o torcedor da social que pejorativamente chama Andrezinho de "negrão" quando ele erra um passe? Afinal de contas, sejamos francos: à torcida colorada naquele dia o maior sentimento trazido foi o de despeito, o de raiva ao ver uma trupe de gremistas saudando bem alto a molecagem protagonizada por uma meia-dúzia de rapazes de bom berço.

Não sei se havia nos autos do processo provas ou não o suficientes para que alguém fosse considerado culpado. No entanto, foi o desrespeito institucional que nos indignou, nos calou fundo, nos deu vontade de, na emoção do momento, disparar mini-ogivas nucleares em direção àquela parte do estádio. Mas, afinal de contas, cantos de torcida são um crime, por mais de mal gosto que sejam? Não, não são.

Não sei se a decisão judicial foi acertada (e aqui dou uma modesta contribuição à consciência geral: desconfiem muito, desconfiem totalmente do advogado que, sem ver o processo ou inteirar-se bem de um caso, recita ao seu cliente ou à sua platéia a tese que ela mais quer ouvir). E até digo mais: afinal de contas, não havia fotos em alta definição e imagens de TV mostrando os infratores no exato momento no qual cometiam o delito? Também tenho essa dúvida, como todos vocês, e gostaria de saber detalhadamente como os julgadores chegaram à conclusão de que não foi possível identificar os autores da bagunça. Mesmo assim, vejo um tremendo oportunismo em nomear a decisão do tribunal como um convite indiscutível à impunidade.

A esfera privada gosta muito de debitar seus erros na conta pública, e insinuar que o Tribunal de Justiça acaba de dar um salvo conduto para essas atitudes é, no mínimo, fazer tábula rasa da nossa responsabilidade. É, isso mesmo: nossa responsabilidade, minha e sua.

Afinal de contas, ponhamos o dedo na ferida: bravíssimos com a sentença judicial de agora, e esbravejando contra um alvo fácil aos olhos das pessoas - um Tribunal de "autoridades" - por que todos os cronistas não se insurgem com a mesma indignação contra a diretoria do Grêmio, que tem uma longa biografia de leniência e permissividade para com os distúrbios provocados por alguns integrantes (só alguns, claro) da sua "banda mais louca"? Claro, o mesmo vale para as nossas torcidas quando uma de nossas organizadas fizer coisas semelhantes. E nós? Nós, torcedores comuns, que nos chamamos de "macacos" e "gaymistas" e que damos aos nossos comportamentos muitas vezes inadequados a desculpa do hábito, estamos ajudando? Estamos desarmando os ânimos ou os deixando perigosamente em banho-maria?

Ora, o jornalismo investigativo, onde está? Por que nenhum Caco Barcellos futebolístico teve a coragem de mostrar contundentemente, para todos verem, o que acontece de verdade no seio dos "hinchas" pseudomodernos que só querem confusão? E as torcidas? Quais as atitudes concretas tomadas contra esses marginais de meia-tigela infiltrados em seu meio?

Mas não é só isso. Falemos também do outro braço do poder público. Afinal de contas, não foi de um instante para outro que os banheiros foram levados para dentro da arquibancada e queimados. Onde estava a Brigada Militar durante aqueles preciosos minutos? E aí depois, quando um grupo de pessoas é absolvido numa decisão judicial por motivos que podem ser os mais variáveis, a culpa é só da Justiça? A realidade: essa indignação popular com o caso autorizou que algumas vozes levantassem o volume para defender a "opinião pública". Mas a multidão é uma bengala fácil tanto quanto uma afoita conselheira. Foi ela quem pediu Barrabás e condenou Jesus, lembram?

A lei deve ser respeitada por todos, e o fato de o Judiciário ter o dever de fazê-la cumprir não o torna mais importante nessa função do que nós, a sociedade civil. Não temos o direito de omitir-nos e nem delegar à Justiça um papel majoritariamente nosso, o de conhecer o limite no qual termina nossa liberdade e começa a do outro. Dizer que pagamos nossos impostos é fácil, mas nós sim temos é que de dar a primeira palavra quando se fala em "ordem e progresso". Será que fazemos isso? Podemos avançar o sinal vermelho, sonegar ICMS, declarar ardilosamente nosso Imposto de Renda e jogar lixo no chão à vontade: sempre haverá um mensalão ou uma sentença comprada para nos aliviar as culpas. E quando uma decisão judicial, errada ou não, toma as nossas dores e nos dá o poder de nos eximirmos de nossas responsabilidades como um todo, voilá: aí está a indignação que alivia.

Todos estão livres para, ao fim e ao cabo, perder a confiança na Justiça. Se você acha que os principais culpados dos próximos incidentes em estádios de futebol serão os Desembargadores que absolveram alguns torcedores malucos, tudo bem, é seu direito. Talvez você até esteja certo, e eles errados. Mas mesmo assim as coisas seriam mais fáceis se todos nós fôssemos um pouco mais cidadãos.

Pelo menos os Desembargadores teriam menos processos para julgar.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

PRA COLORADOS DE ESPÍRITO

Por Andreas MülleR


Se o Inter é uma religião, é provável que Emanuel Neves tenha forjado um dos mais belos evangelhos da Bíblia alvi-rubra. Pois assim é o seu “A Noite das Asas Vermelhas”: um livro mítico, quase profético, que carrega o leitor pelo espírito a um mundo além deste – um mundo onde o Beira Rio é nada mais do que o reino do Alfa e do Ômega, do início e do fim de todas as coisas: do Sport Club Internacional.

Verdade seja dita: o livro que acaba de chegar às bancas pela Editora BesouroBox não é feito para qualquer leitor. Quem o folheia precisa ter capacidade de se entregar ao coração; precisa se deixar levar por cada palavra, levitar junto com o autor e enxergar o lado divino daquilo que, à primeira vista, parece meramente mundano. Sob o olhar de Emanuel, o Gigante lotado tem vida e voz própria – uma voz que é mais assustadora e bela do que a soma das 50 mil vozes que emanam de suas arquibancadas. Sob o olhar de Emanuel, o Internacional é a força que move todas as coisas, o céu e a terra, a água e o fogo, os homens, as plantas e os animais.

O ponto alto é a crônica que dá título à obra. “A Noite das Asas Vermelhas” não é apenas uma ode ao Internacional; é parte da história da conquista da América em 2006. Publicado inicialmente na internet, em uma comunidade do Orkut, o texto descreve à perfeição um sentimento que, até hoje, poucos colorados conseguem compreender. Ao falar da grande decisão na noite de 16 de agosto de 2006, Emanuel sequer menciona escalações, táticas, expulsões e público ou renda. Tudo isso é irrelevante ante a história, os heróis e as almas que estendem suas asas sobre o Beira Rio na noite em que o Internacional finalmente conquista o título que sempre foi seu.

“A Noite das Asas Vermelhas” é uma leitura obrigatória para todos os colorados de espírito. Seus textos devem ser lidos e relidos, copiados e guardados para diferentes ocasiões. Eu mesmo tomei a liberdade de copiar o texto abaixo e publicá-lo aqui. Para quem, como eu, costuma ir caminhando ao Beira Rio nas noites de quarta-feira, sentindo a vibração do estádio se aproximar lentamente pelas ruas, a pequena crônica abaixo é uma genuína poesia do cotidiano.

Ecos

Ouça os ecos do Gigante. Há milhões de gritos nessa noite. Eles voam e reverberam no céu, criando os relâmpagos, iluminando os caminhos. Siga os ecos do Gigante. Deixe que eles te enlevem, que te carreguem de súbito, golpeando-te a alma, arrematando-lhe o espírito. Jamais resista ao chamado. Apenas consinta, sinta os ecos do Gigante. Entenda o que eles te dizem em cada pulsar, em cada onda vermelha que se segue, filha mais forte da primeira, num tropel que te busca e te envolve e te vibra e te arranca da apatia, irrompendo-te as veias, rasgando e rasgando em batidas de bumbo e coração.

Una-te aos ecos do Gigante. Vista-te com sua roupa ruidosa, encarnada e santa. Torna-te eco vivo do Gigante e reflita suas treze letras pelo infinito, uma a uma, mundo em mundo, área em área, tímpano em tímpano, sempre e sempre. Repercuta-te até não mais ouvir-te, até não mais te diferenciar, até, enfim, saber-te tão-somente um dos milhões de gritos dessa noite, tremulando entre as nuvens, trovejando no horizonte.

Para que outro, então, ouça os ecos do Gigante.

sábado, 15 de novembro de 2008

CAPSLOCKISMOS

Por Raphael Castro


Não era bem a minha intenção falar disso hoje, mas o tema terminou se justificando pelas enormidades ditas e lidas ao longo desta semana. Claro, falo da possibilidade de o Inter chegar à Libertadores/09 via Copa Sul-Americana. Primeira premissa básica: NÃO, não acredito nem um pouco que essa tal de vaga vá acontecer. Ok, calma lá: não é que eu não a queira, ou que eu não a valorize; mas a grande verdade é que ela é dolorosamente improvável. E sendo, sua MERA POSSIBILIDADE não justificaria nem um MÍSERO toque de teclado ou perdigoto em microfone para ser comentada em pormenor. Adiante então...

Reação

Mas eis que a pressa venceu as sinapses de novo, caros(as) leitores(as): pelo jeito, faltou oxigenação nos neurônios das cabecinhas mais pedestres durante os últimos dias. À SIMPLES MENÇÃO da possibilidade ora tratada, viu-se de tudo: arrazoados comoventes contra "viradas de mesa"; esculhambadinhas irônicas da competição; alegações de insegurança nas regras de torneios sul-americanos (suspiro...); lembranças da dificuldade de motivar o elenco colorado, caso a Libertadores não se concretize de fato (ai, ai, ai...). Enfim, um verdadeiro "puchero" de cretinices diversas, ao gosto do pobre leitor/espectador/internauta.

Reação 2

Vejam que a Sul-Americana NÃO DÁ, NÃO DEU e NÃO DARÁ vaga para a Libertadores POR SI SÓ; então vamos desenhar para os mais lerdinhos: SE – e somente SE – ganharmos a Sul-Americana, o máximo que PODERIA ocorrer é "herdarmos" uma vaga na Libertadores, cujo preenchimento terá que ser feito EXCEPCIONALMENTE, em função do contexto atual de clubes peruanos. É meridianamente óbvio então que, NESTA SITUAÇÃO (e SÓ nela), terá que haver alguma decisão "emergencial" da Conmebol para o preenchimento dos eventuais (eu disse EVENTUAIS) lugares vagos na Libertadores/09.

Nesse sentido, pergunta-se: por acaso então a entrada do Independiente ou do Peñarol seria mais "legítima" (ou menos "virada de mesa", como preferem os pobrezinhos) do que entrar o futuro campeão da Sul-Americana? Se uma das vagas ficar então com o atual 13.º (!!) colocado do Brasileirão (o Santos), isto seria mais "correto" do que ela ir, por exemplo, para o Inter ou para o Estudiantes? Nesta condição, portanto (e SÓ nesta), QUALQUER UM conseguir o lugar vago é tão justo quanto seria com QUALQUER OUTRO, pois quem decidirá o critério é a Conmebol e ponto. E, aos espertalhões de plantão, digo isso MESMO QUE o contemplado ao final não seja o Inter...

Reação 3

Logo, por tudo e em tudo, o que temos que fazer é ganhar logo essa bendita Copa "Grammy Latino", e deu – o que vier, se vier, é absoluto lucro. Nem me preocupei em ir atrás dessa de Libertadores, de vagas, de peruanos, quero mais é uma tacinha no armário pra não dizerem depois que 2008 foi uma perda de tempo total para nós.

Chegamos

Então, aos sofistas diletantes que andaram confundindo jornal/internet com penico, faço um convite para que levantem as mãos do chão antes de falar. Por experiência própria, garanto-lhes que é confortável, podem tentar sem medo. Caso contrário, prefiro deixá-los com a imensa solidão de que devem padecer seus intermitentes e episódicos raciocínios (como dizia o meu antropólogo, psicólogo, sociólogo e filólogo avô, S.Assis P.Ererê, "o pior ciúme é o ciúme mortal de ser ridículo...").

Tópicas: olha a seriedade...

Pelamordedeus, não me vacilem, deixem essa história de Libertadores pra lá, e ganhem essa Sul-Americana aí, pô...!!

Tópicas 2: sorry...

Gostaria de pedir aos(às) fiéis leitores(as) as minhas sinceras desculpas pelo excesso de Caps Lock nesta coluna. Mas o recurso, que sei deselegante, infelizmente, NESTAS CIRCUNSTÂNCIAS, se tornou também inevitável...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

CADA VEZ MAIS, INTERNACIONAL

Por Thiago Marimon


O assunto da semana, a badalada vaga na Libertadores de 2009, vem gerando polêmica, esperança e dor de cotovelo em doses cavalares, desde que foi anunciada uma possível vaga "extra" na competição. Porém, em alguns momentos parece que esquecemos que a vaga, seja ela por alteração no regulamento da competição que ainda não iniciou (que fique claro!), seja ela em virtude das rusgas egocêntricas entre a Confederação Peruana de Futebol e a Dona Fifa, só será dada, SE for dada, ao CAMPEÃO da Sulamericana. E nós, como é sabido, AINDA não ganhamos nada.

Claro que pés no chão e seriedade nesta reta final da competição são imprescindíveis. E, seguindo esta mesma linha de raciocínio, poderia aqui repetir os mantras futebolísticos dominantes (e na maioria das vezes fundamentados em casos concretos), e afirmar que, embora tenhamos dado um grande passo rumo às finais, não existe jogo jogado e demais blá, blá, blás... no entanto, como bom torcedor que sou, logo, possuidor de todos os distúrbios da bi-polaridade inerentes à classe e, mesmo que este ano, por diversas vezes, nossa equipe não tenha me inspirado a mínima confiança o que resultou em diversos impropérios dirigidos à Tite, Píffero, Alex e companhia, eu acho, ou melhor, eu tenho a mais absoluta certeza de que a cabrita está assada, a vaga na final é nossa.

Digo isso, pois, em virtude do resultado construído na última quarta. O meu otimismo, aliado ao meu parco conhecimento futebolístico, não me permite acreditar que, frente a um Gigante lotado, o mediano time do Chivas tirará esta vantagem de dois gols. O jogo de volta é apenas para cumprir a agenda. Não que isto tire o charme desta partida, afinal, é o Inter disputando, pelo 5º ano consecutivo, uma fase avançada de alguma competição jogada além das fronteiras tupiniquins.

E, em assim sendo, com ou sem vaga, eu quero, como nunca quis, este título. Vale o pioneirismo brasileiro nesta competição, vale taça no armário, dinheiro, prestígio e a disputa da Recopa. E vale, principalmente, o título de legítimo e incontestável CAMPEÃO DE TUDO... este é o nosso clube, cada vez mais, Internacional.

Saudações Coloradas

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

MEA CULPA

Por Marcelo Benvenutti


Olha, tem gente que assiste aos jogos do Inter e enxerga outro time. Assisto os jogos e leio os comentários do pessoal da terrinha e o pessoal de fora do Rio Grande. Pois aqui, ontem, elogios comedidos. O Inter não foi bem. Poderia ter perdido. Jogou pro gasto.

Em contrapartida, escuto e leio os comentários dos paulistas, cariocas e menos votados. Todos literalmente babam vendo o Colorado atuar. Time de raça. Jogadores concentrados. Como o Inter não está disputando o título do Brasileirão? E por aí vai.

Mas quem é o verdadeiro Inter? O que perde de quatro pro Vasco rebaixado da Gama ou o que patrola Palmeiras, São Paulo, Boca Jrs. e outros times de menor expressão? Afinal, ficamos quase três anos vendo o time de Abel jogar, que na Libertadores de 2006 era ainda também o time do Muricy, no Mundial era o do Abel, leia-se Fernando Carvalho, e em 2007 virou o time das estrelas intocáveis tal qual estátuas de ídolos intransponíveis. Quando finalmente foi desmantelado o time estrelado de 2006, surgiu uma coisa, aquilo, que era o time do primeiro turno do Brasileirão.

Isso teve que ser remontado pelo filósofo. Tudo bem que eu e grande parte da torcida colorada não engolimos o Tite, nem o discurso dele, nem certos temores defensivistas exagerados que muitas vezes acometem ele. Mas, querem saber? Quantas vezes aqui desmantelamos de cabo a rabo o Alex? Quantas vezes o Beira-Rio em peso vaiou Alex apenas por ele tocar na bola? Eu mesmo estava lá criticando e pedindo para tirarem aquele lateral que não marcava ninguém. Mas e aí? Aí que o lateral que não marcava se revelou um excelente meia-esquerda. Inclusive tornando-se o reserva imediato do considerado atualmente maior meio-campo do mundo, o cara-limpa-propaganda-fajuta-de-barbeador Kaká.

Logo, depois de um tempo, enfim, acredito que temos que admitir, mesmo que contrariados – eu estou –, que esse time do Inter que está passando de fase na Sul-Americana e encantando os cronistas de fora dessa província bairrista e pedante é SIM o time do filósofo. Se vai ganhar algo? Não sei. Tem tudo para ser o primeiro clube brasileiro a ganhar esta competição. O Inter tem tudo para ser o único brasileiro a possuir todos os títulos possíveis atualmente em disputa. E isso não é pouca coisa.

Enquanto alguns especulam o treinador colorado para o centenário, infelizmente, para minhas preconceituosas convicções de não gostar da covardia do Tite em muitos momentos, admito: Se vencermos a Sul-Americana, Tite ficará. E ficará por méritos, diga-se. Se será bom ou ruim para o futuro da massa colorada, não posso afirmar nada. Mas será justo depois de tudo o que ele enfrentou. E não sou um sujeito de gosta de injustiças. Dou meu braço a torcer. Se vencermos, ele merecerá.

Ps.: Para os paranóicos de plantão somos obrigados a avisar que viradas de mesa acontecem quando a mesa já está posta. Virada acontece quando anulam jogos de uma competição em andamento ou quando resolvem que subirão 12 times em vez de dois de uma série para outra em certas competições nacionais. Fora as especulações de sempre, colorados, deixem o populacho geral delirando por conta própria. Esse pessoal enxerga chifre em cabeça de cavalo e não enxerga na própria.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

SOBRE TEQUILA, SOMBREROS E ACAPULCO

Por Gustavo Foster

O México é, provavelmente, um belo país para se passar um período de férias: praias históricas, mulheres estonteantes, variedades impressionantes de bebidas, temperos clássicos e filmes absolutos. Chaves, novelas, sombreros e Cafe Tacvba fazem parte de um país simpático, adorado pelos anti-EUA e fãs de RBD. Mas não é um país que deva ser consagrado pelo futebol.

Jorge Campos, Rafa Marquéz e Balboa fazem menos parte de um time de craques consagrados e mais de um grupo de jogadores idolatrados pela alternatividade e peculiaridade. Seleções e times mexicanos são os Botafogos do mundo: tiram pontos de alguns, empatam fora de casa, revelam algum jogador mediano, caem às vezes, sobem outras, mas nunca formam times campeões, times que sejam BONS. América do México? Não se classificaria para a Libertadores no Campeonato Brasileiro, e é o melhor time do país norte-americano.

E, na semi-final, o Inter se depara com um time mexicano. O coadjuvante Chivas Guadalajara, conterrâneo de Pumas e Pachuca, dois clubes que conheceram de perto o futebol brasileiro, o futebol colorado. Pode ser preconceito, ingenuidade, salto alto ou confiança demasiada, mas, depois de passar de Grêmio, Boca e Universidad Catolica (não que o futebol chileno seja algo considerável), é inadmissível ser desclassificado pelo mexicano Chivas. O time de Tite deve se impor, estabelecer uma posição de time maior, mesmo na casa do adversário, e partir para cima do ex-Guadalajara.

O futebol, de um tempo para cá, tornou-se respeitoso, austero, quase solene. Deve-se sempre "jogar para vencer", mas "respeitando o adversário, é lógico". Quem chega desavisado, pensa que não existem times melhores que outros, times com mais história, times que – em um mundo onde a lógica prevalece (diferente do mundo futebolístico) – têm que vencer outros. E o Inter é mais que o Chivas. Assim como o Inter é mais que o Ipatinga, que o Sport e que o Náutico. E esse é o meu maior medo: perdemos para estes times, por não impormos nosso futebol, por não nos postarmos como maiores, por termos medo de quem não amedronta.

O site do time mexicano avisa: "Inter será más dificil que Paranaense", e eu completo, se tudo correr normalmente. O Chivas, apesar de tudo, não chegou na semi-final por acaso. Tem-se pensado muito no futuro colorado, eleições presidencias, Píffero, Bier – "tive-tive-detetive / mas o teu é despachante" -, Alex fica?, Nilmar sai?, técnico para o centenário, o novo diretor de futebol. Mas deve-se frisar: não é hora de pensar no futuro. Faltam quatro jogos. Quatro jogos e comemoraremos de novo um título de projeção internacional. Quatro jogos e ganharemos um campeonato em cima de times brasileiros, argentinos e – por que não? – mexicanos. E, convenhamos, é muito mais legal ganhar do Estudiantes de La Plata do que do Atlético Mineiro.

Não canto vitória antes da hora, mas admito: estou confiante no Inter. Torço para que nosso técnico tenha mais uma noite como aquela da Bombonera e ponha o time pra frente, mesmo sem o craque D’Alessandro. A linha de quatro atrás deu certo, merece ter seqüência (segura o grito, Bolívar). O meio-campo é um quarteto desforme com a entrada do precário Andrezinho, mas acho que dá conta. E no ataque depositam-se todas as esperanças: Nilmar e Alex são gênios.
Se passarmos, pegamos o Argentinos Juniors, time do Maradona, ou o Estudiantes de La Plata, do mestre Verón. Mas calma, faltam dois jogos. Antes tem o Chivas, antes tem o futebol mexicano.

Torço muito pelo nosso ataque, torço para que cheguemos à final, torço para que disfunções estomacais, problemas gastrointestinais e diarréias em geral não acometam mais nosso elenco e torço para que o professor de Radiojornalismo 1 libere os alunos mais cedo.

Hoje é dia de vitória no México!

Chaves pode ser melhor que Malhação, mas o Internacional é melhor que o Chivas Guadalajara, me desculpem os muito respeitosos.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A VERDADEIRA FELICIDADE

Por Andreas Müller


São 5h40min da manhã e sol está começando a despertar sobre o pampa uruguaio. A estrada aqui é um deserto em linha reta, ladeada apenas pelos imensos trigais que o vento acaricia vez em quando, preguiçoso. Dentro do ônibus, a maioria dos colorados dorme profundamente – as cabeças pendentes sobre os ombros, as pernas mal encolhidas sobre bancos e bandeiras. Rumamos todos para La Bombonera, a Meca decadente do futebol sulamericano, confiantes de que desta vez o Inter resistirá ao bumbar opressivo de La 12 e honrará as coroas espalhafatosas de seu brasão com uma atuação digna ante o Boca.

Chega a ser insensato: deixar a família e as pendências do trabalho em Porto Alegre e agüentar 20 horas de estrada apenas para ver o Inter jogar contra o Boca Jrs – justamente o Boca, contumaz carrasco colorado na Copa Sulamericana. Se ainda fosse o São Paulo FC, cliente fiel em mata-matas, vá lá. Mas não: é o Boca, um dos poucos times que nunca se apequenam diante do Inter. Nada impede que estas pessoas desembarquem na Bombonera apenas para testemunhar um novo fracasso do Inter, uma edição 2008 do “apagão” colorado. Se a escrita for mantida, aliás, é provável que amanhã este ônibus tenha de carregar de volta para o Brasil um bando de colorados tristes – ansiosos por chegar em casa, tomar um banho e esquecer a tremenda indiada em que foram se meter.

Mas seguimos adiante, com a esperança de que tudo será diferente desta vez. Não há ninguém nervoso ou aflito com o jogo de logo mais. Quase todos dormem o sono dos justos, tranqüilos, certos de que o Inter de 2008 já não é mais aquele de 2004 e 2005. Os poucos que já acordaram conversam baixo entre si, como uma família num café da manhã. Alguém no banco de trás comenta sobre as atrações de Puerto Madero e os planos de voltar a Buenos Aires no final do ano, com mais calma, talvez se o dólar baixar. Uma moça na primeira fila se mantém fixa na estrada, absorta, admirando os trigais como quem toma um vinho diante da lareira. E há aqueles dois que agora matam o tempo resgatando memórias perdidas sobre o Inter, tão obscuras que já soam engraçadas – lembra quando o Inter ficou devendo dinheiro àquele macumbeiro que jogava balinhas em torno do gramado?

Lentamente, os risos fazem acordar todos os passageiros.
Chegamos à aduana e os fiscais de imigração não fazem muita questão de disfarçar os pedidos de “regalo”. Na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, a coisa havia sido bastante tranqüila: oito dólares e um litrão de Fruki bastaram para deixar a senhora gorda da alfândega toda faceira. Mas aqui, em Paysandu, na divisa entre o Uruguai e a Argentina, a situação é mais complicada. O chefe da fiscalização ergue os braços e esfrega os dedos no gesto universal de quem pede dinheiro. Preço inicial: 60 dólares e uma camiseta do Inter. É pagar ou esperar – sem o “incentivo”, a liberação pode demorar até cinco horas. Dentro do ônibus, todos se entreolham, desconfiados. Ninguém quer abrir mão de sua camiseta mais amada. O impasse prossegue até que um garoto oferece a sua InterSports, um misto de camiseta de surfista com símbolos estilizados do Inter. O guarda ergue a camiseta no ar, examina-a dos dois lados e então sorri: o ônibus pode retomar a caminho. Alívio e ziriguidum para comemorar.

Ainda faltam entre quatro e cinco horas para que a Grande Buenos Aires comece a ocupar as laterais da estrada. Mesmo assim, à medida que o ônibus avança, vamos sendo tomados por uma estranha sensação de alegria e bem-estar. Aqui, com outros 50 colorados de todas as idades e profissões, é como se cada um de nós fosse parte de uma única e inabalável família. Há este senhor de 63 anos que até agora não falou com ninguém, há a mulher que deixou o marido e o filho em casa e se meteu sozinha na excursão e há o garoto – um entre tantos – que cedeu a camiseta ao ganancioso fiscal da fronteira. Mas todos se sentem em casa, seguros e completos, como se fossem velhos amigos. Todos compartilham da mesma devoção pelo Colorado. Todos são capazes de enfrentar dias de estrada, com todos os seus desconfortos, buracos e burocracias, apenas para ver o Inter jogar por míseros 90 minutos.

Parece loucura, mas o fato é que, aqui, dentro do ônibus que corta a paisagem bucólica ao sul do Prata, a vida parece adquirir um sentido mais digno do que pagar as contas no final do mês. Somos todos colorados, isso nos basta. Logo mais, estaremos em Buenos Aires e a verdade é que, pensando bem, o resultado do jogo na Bombonera nem tem tanta importância assim. O que realmente nos faz felizes já está aqui conosco, dentro do ônibus, as cabeças pendentes sobre os ombros, as pernas mal encolhidas sobre bancos e bandeiras.

* Escrito na estrada, na madrugada de quarta para quinta-feira, véspera da partida entre Boca Jrs. e Internacional pelas quartas-de-finais da Copa Sulamericana.

sábado, 8 de novembro de 2008

SIM, NÓS PODEMOS

Por Raphael Castro

Aproveito para surrupiar o slogan (ou grito de guerra, sei lá) da campanha de Obama, o presidente sangue-bom, para ilustrar algo que me ocorreu após a vitória sobre os nossos amigos “Orais”. Não, caros(as) leitores(as), não mudei o meu conceito sobre a Sul‑Americana: ao menos por ora, continuo achando o torneio meio sem charme, como uma garota bonitinha, mas brega, ou aquele picolé de coco que a gente só pede se não tiver mesmo o de chocolate; só que menos até pelo título em si do que pela oportunidade que ele representa, vencer esta Copa pode se revelar assaz interessante. Vejamos...

What?

Explico: o grande fator a emoldurar as conclusões deste que vos fala é a auto‑estima. Pois é, interessantíssima, a tal da auto-estima: se a colocarmos como uma linha a ligar dois extremos, teríamos, no pólo mais alto, exatamente o Boca; no lado inferior estaria um Botafogo da vida. É abissal a diferença entre times que têm a confiança dos “Orais” e outros que já entram meio curvadinhos até para tirar par ou ímpar. Logo que o Olé publicou aquela asneira de alta octanagem sobre os vistos, quem reparou na indignação da torcida e dos jogadores platinos? Não importava que a classificação ainda estivesse em aberto, mesmo com a (considerável) vantagem colorada: os argentinos tinham absoluta convicção de que os dois gols no Beira‑Rio simplesmente não representavam patavina alguma (ok, eles são argentinos, e a auto-estima deles pode de fato ter notas “amilongadas”, fruto de certas castelhanices): eles tinham total confiança na reversão do cenário, pois entram sempre pra vencer, anabolizados pela loucura que vem das arquibancadas verticais da Bombonera (esta, aliás, uma personagem à parte, não poucas vezes responsabilizada pelas mordidas dadas pelos boquenses nos adversários e pelos seus olhos vidrados para o outro time, como que a dizer “eu vou te matar...”).

En “Brassil”

O único clube que eu conheço no Brasil que tem uma auto-estima parecida com a do Boca é o São Paulo. Vejam bem, não confundir auto-estima com raça: os tricolores paulistas são bem mais “blasés” do que os torcedores portenhos, não me parecendo ter um milésimo do caráter sangüíneo tão característico dos argentinos: acho que acompanhar seu time às vezes lhes parece algo enfadonho, causando um certo fastio, quase um tédio. Dificilmente eu vejo um sãopaulino perder a calma discutindo futebol; eles acham que podem vencer um jogo ou campeonato a qualquer momento, pois, tudo o mais constante, entram sabendo que as vitórias são apenas questão de tempo, como se o jogo fosse uma exigência protocolar e o triunfo um decreto divino. Não sei onde vi uma frase - que eu acho sensacionalmente genial – atribuída ao Rogério Ceni, que teria dito mais ou menos o seguinte: “olha, não imagino o São Paulo jogando Copa do Brasil...”; o arqueiro tricolor não diz isso porque é arrogante, mas porque efetivamente sabe e pensa isso. É esse o espírito, diletos(as) leitores(as), ou seja, “não PENSAR que é, mas SABER que é...” (lembram do Morpheus, no Matrix? Pois é...).

Agora, nós

E o que isso tem a ver conosco ou mesmo com o jogo contra o Boca? Ora, tudo: em 2006, o Inter aprendeu em definitivo que não tinha porque sentar na pontinha do sofá ou ficar pedindo licença toda hora; sei disso porque, mesmo não morando na aldeia, me chegavam aos ouvidos as inacreditáveis capituladas que alguns colorados davam quando vinha um aflito mais alegrinho lhes encher a paciência. Culpa da década perdida. O cenário vinha se modificando (ou mesmo se invertendo) nos últimos anos, até o biênio “noventista” de 07-08; só que tudo isso passou. É hora de olhar pra frente e planejar, cobrar, executar e disputar. Temos toda a chance de corrigir os erros clamorosos dos últimos dois anos e de reencontrar aquela trilha fantástica que nos abençoou com o Mundial...

E a “Sula” com isso?

E é exatamente aí que entra a tal da “Sula” (rapaz, que apelidinho infeliz...): sob esse aspecto, não me importa muito que ela não seja a Libertadores (como a Copa do Brasil também não é Brasileirão, espertinhos); não importa nem mesmo o título pelo título – e digo isso sabendo que nada está ganho para o Inter ainda: a Sul‑Americana é muito mais importante pelo que pode fazer à auto-estima do nosso amado Colorado, do que pelo volume que ocuparia na estante de troféus do Beira-Rio. Querem ver? Como não relacionar esse aumento da confiança à casual empurradinha de bola do Magrão com a cabeça ao fazer o seu gol? Como não se orgulhar de ver que o Inter ganhou do Boca em Buenos Aires ao ver a expressão compenetrada e séria de Riquelme ao buscar a bola no gol de Lauro? Como não gostar das expressões desesperadas da torcida deles à medida que os gols do Inter iam saindo? Como não se divertir com o D’Alessandro enchendo o saco do Mouche? (reparem a impagável foto no site do Olé, em que o argentino parece estar fazendo ao jogador do Boca um sinal de “nhenhenhém” com a mão). E a caneta do Alex no Figueroa? E os colorados gritando olé em plena Bombonera? Pois é...

Agora chega

Por isso é que digo um time precisa de disputa, de vitória, de situações extremas, para pegar orgulho. E nessa semana o tempo todo foi dada uma dimensão ao Boca que parecia colocá-lo no nível de uma horda olímpica e invencível, que se aproveita de seu estádio para devorar timinhos incautos (bem, vimos isso no ano passado). A vitória do Inter serviu justamente para isso: não foi façanha nenhuma, foi apenas um jogo entre iguais; ou melhor, uma partida em que o Inter se ombreou com um clube gigantesco, e, sendo também gigantesco, o suplantou. Tão simples quanto isso. E aí está exatamente o substrato de que se alimenta um grande time. Está faltando alguém que se livre de uma vez por todas dessa tal “mística” da Bombonera e assuma, ao lado do Boca (quiçá acima), o lugar de maior clube da América. A porta está aberta, queridos(as) leitores(as), e as citadas atitudes de Magrão e D’Alessandro me permitem sonhar que os dias de sub-brasileirismo para com os xeneizes estão realmente contados: “let the game begin” (como diria o meu realista, prático, pragmático e visionário avô, S.Assis P.Ererê, “tem que ficá mais cheio que guaiaca de prefeito...”).

Tópicas: exportação

Assistimos essa semana a mais um capítulo da incrível identificação entre aflitos e gaviões, um passo importantíssimo rumo à já sensível corintianização azulada...

Tópicas 2: alerta

Não custa nada lembrar: não se ganhou nada nessa Sul-Americana ainda. Atenção, muita atenção, pois...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

8-4-2

Por Thiago Marimon


Ainda ecoavam nas altas arquibancadas do Estádio Alberto J. Armando os gritos de "olé" quando Óscar Ruiz assoprou. O cronômetro apontava o término do tempo regulamentar, noventa minutos, fim de jogo, assim, direto, rápido, a seco. Pois, momentos após Alex dar um "vai lá na venda" em Figueroa, que ficara estatelado no verde gramado portenho, o árbitro percebeu que não precisava de mais nada... 2x1 Inter. Doce vitória, a Bombonera é Colorada e a vaga é nossa.

O Boca jogou com os reservas?! Riquelme, Viatri e Dátolo entraram no 2º tempo?! Azar o deles!
Muito bom jogo, excelente vitória. Foi um 1º tempo nervoso, com os times buscando o ponto-fraco do adversário, o Boca abusando de bolas levantadas na área colorada, tentando por ar e por terra furar a parede de quatro zagueiros protegidos por três volantes, montada por Tite. Os Xeneizes eram, desde já, muito mais vontade do que futebol. Enquanto isso, o Inter buscava um contra ataque bem encaixado... porém, todas as nossas jogadas ofensivas passavam pelos pés de D’alessandro, era tudo com ele, pois Alex estava completamente sumido em campo.

O problema é que nosso gringo, na maioria das vezes, estava mais preocupado em mostrar truques novos a seus antigos desafetos, do que em realmente produzir algo de agudo para abastecer os homens de frente, acabando desta forma com toda a velocidade de nosso contra ataque, e fazendo com que prendêssemos pouco a bola no campo ofensivo. O final do primeiro tempo se aproximava, e, a esta altura do jogo, Lauro já e um dos nomes da noite. Porém, antes do intervalo, o susto. Jogada na área colorada, bate rebate, um argentino no chão pedindo pênalti, "pero que si, pero que no", o juiz não marca e dá por encerrada a primeira etapa. Saímos de campo aliviados, levando para o vestiário um resultado que já nos classificava. Cientes que não teríamos o que temer, respeitar já seria o bastante. O último que chamou este mesmo adversário de "Caxias com grife", carrega cinco nas costas até hoje.

Magrão é oposto de Alex. É o "maloqueiro", paulista das quebradas, distante dos microfones. Discreto fora de campo, raça e força dentro dele. Alex, por sua vez, é o porta-voz do grupo, um dos jogadores mais incensados, "selecionável", enfim, o grilo falante colorado. Mas o pop-star ainda não havia entrado em campo. Naquele momento, onde nada justificava toda aquela badalação em cima do bom-moço, o maloqueiro achou que deveria se apresentar. Com cinco minutos do segundo tempo, Magrão lança Nilmar e corre pra área, onde recebe a bola e empurra para gol, a pelota ainda bate no poste, antes de entrar, manhosa, calando quase todo o estádio. Ali, só o que se ouvia era White Stripes, livremente adaptado pela Massa Colorada presente.

Magrão é O Cara do jogo.

O Boca, nesse momento, já contava com Viatri em campo. Não há mais pênaltis, não há mais volta, a vaga é nossa. Mas, para isso, precisávamos jogar com inteligência. Não o fizemos! Obviamente, com o gol, o Boca veio para cima, mas só atacou tanto porque não dávamos o mínimo trabalho para o arqueiro bostero. Enquanto Riquelme e Dátolo entram em campo, nos postamos demasiadamente recuados. A nossa parca vantagem dura poucos minutos, pois, instantes mais tarde do gol de Magrão, Edinho faz o favor de derrubar Dátolo, que acabara de entrar, na área, em um lance duvidoso, Óscar Ruiz marca o pênalti... Riquelme bate bem, Lauro vai bem na bola, mas não chega. Com o jogo empatado, o Inter simplesmente espana a bola.

Enquanto o Boca pressiona, martela, insiste. Esta foi a vez de Lauro brilhar. A última vez que vi meu Inter apagar na Bombonera, nos faltou goleiro. Ontem não. Lauro foi muito bem, quando lhe faltou precisão, sobrou sorte, velha e eventual companheira da profissão. Fazendo seu melhor jogo desde que assumiu a meta colorada, foi dono de defesas importantes, que ajudaram a segurar o resultado nos dez minutos de apagão que sucederam o gol de empate.

Pressão, pressão e pressão, o Inter não consegue dar cadência no jogo, a bola novamente não fica no nosso campo de ataque, e, neste momento, deprimido frente à solidão que lhe é imposta, Nilmar já está no meio de campo procurando jogo. Contudo, o tempo vai passando, o jogo vai ficando mais pegado, mais violento, e o Inter finalmente sai do estado de inércia. O inter acorda... o juiz nos nega um pênalti legítimo em Nilmar, mas, quando ainda reclamamos e proferimos impropérios a cinco gerações da família Ruiz, o moço da seleção, aquele que até o momento estava total e completamente apagado na partida, Alex "te cuida Kaká" Seleção, resolve dar o ar da graça. Após uma linda triangulação com D’ale, ele invade a área, e deixa sua marca. Uma jogada trabalhada, um golaço que marca a classificação colorada, que sela uma vitória de raça, dedicação e vontade. Uma vitória com um viés político, frente a esse momento de sufrágio que enfrentaremos em breve, sabendo-se ainda, posteriormente, que houve uma intervenção direta dos "homens do futebol" na escalação do time. Quem escalou Bolívar, foi Fernando Carvalho.

E, enquanto Lauro segue fechando o gol, o resto do time joga pelo regulamento. Com menos de quinze minutos para o final do jogo, a torcida castelhana começa a deixar o estádio, D’Ale fala sutilezas aos seus compatriotas, e nós, brasileiros, neste momento, usamos e abusamos da velha catimba argentina. Neste momento, 2x1 para nós, o jogo terminou, só falta acabar. Os minutos finais foram só de festa, a voz da Massa Vermelha regia o jogo, entoando o grito de olé na bombonera. Dessa forma, mesmo não nos auto-intitulado como o "único time copero e peleador" seguimos vencendo... bocas, meias bocas e filiais, seja por 8, por 4 ou por 2.

Chegamos a mais uma semifinal de competição internacional e, para alegria dos leitores, digo-lhes: "são grandes as chances de o Rio Grande comemorar um titulo neste segundo semestre", o final de ano pode não ser tão amargo como se avizinhava. É o Internacional rumo ao México, agora, é a vez do Chivas, que venham as cabritas. Os vistos de entrada já estavam prontos, não é mesmo?!

Saudações Coloradas.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

CADA UM NO SEU QUADRADO

Por Marcelo Benvenutti


A Bombonera tem este nome devido ao formato de bombom do estádio. Diz a história que ela é tão alta e quase quadrada por conta de disputas políticas em cima de leis de construção. Vai saber. Pra mim a bombonera é quadrada.

Dizem que o Tite é quadrado. Eu imagino que ele leu o Sun Tzu. Bem melhor que o Parreira na campanha da Globo falando que estava lendo O Mundo de Sofia. Apesar de o ponto de equilíbrio ficar bem melhor num círculo. Mas se o Tite, que é quadrado, conseguir se equilibrar no cargo de treinador do Inter em 2009, eu até acredito que um círculo tenha cantos. Ou um ponto de equilíbrio tenha Tites.

Muito se fala nos quadrados. O futebol moderno, dizem. Os times se posicionando com dois quadrados e uma dupla de avantes. Os laterais chegam e fecham um quadrado. Dois quadrados atacam. Todos se recolhem. Dois quadrados defendem. Não seriam oito atacam e oito defendem? Algo assim. Dois zagueiros. Dois laterais. Dois volantes. Dois meias. Dois atacantes. Na tela parece tudo simples e óbvio. Claro que só funciona com muito treino e com os jogadores certos.

O Internacional não tem laterais. Quer dizer, tem. Mas alguma razão deve ter para tanta gente passar por aquelas laterais coloradas. Daqui uns dias o Tite treina o Clemer na lateral. E tem jornalista que pegava no pé do Abel porque ele inventava. Imagina só. Uns quadrados, esses caras. Os cronistas que gostam de quadrados. Talvez gostem de um cubinho quadrado, tipo gelo de uísque em comercial de TV. Apesar de os cubos serem quadrados. Quadrados tridimensionais. Hologramas. O Tite treina um time de hologramas. Tá na moda. A CNN que o diga.

O Tite imagina que os laterais chegam para lançar bolas para o centroavante que nós imaginamos estar na área. Os laterais não chegam. Os meias chutam de fora da área. O Nilmar vem buscar pra não virar enfeite. Já vi esse filme. A volta dos que não foram. Estrelando: Ricardo Lopes. Atores coadjuvantes: Ângelo, Bustos, Bolívar, Gustavo Nery e qualquer um que o Tite inventar que sabe jogar por lá. Contratem um holograma. Falem com a CNN. Ou com o Obama.

Mas se os quadrados do Tite não funcionarem na Bombonera, não importa. Podemos até perder por dois gols de diferença se fizermos um gol ou mais. Dizem que nos treinos secretos pintaram enormes quadrados no campo. Oito jogadores, fora o goleiro, em cada quadrado por vez. O Tite chama os quadrados de "referenciais de diferenciação". Os jogadores chamam, sem o Tite saber, de "as quatro linhas". Mas não contem pro Tite. Sabe como é, né? Cada um no seu quadrado.

Apesar da bola, por incrível que pareça, continuar insistindo em ser redonda.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

TIGRE E ESTUDIANTES

Por Daniel Ricci Araújo

Tigre e Estudiantes. Dois times argentinos, um reconhecidamente grande, tricampeão da Libertadores. O outro, um clube tão pequeno quanto surpreendente protagonista do futebol argentino de um ano e meio para cá. Nenhum deles têm, nem de perto, a folha salarial do Inter. Nenhum tem mais torcida, jogadores diferenciados e mais currículo recente do que o Inter. Mas ambos têm em comum algo importante, ainda mais em se tratando da semana chave para as nossas pretensões em 2009.

Ambos ganharam do Boca na Bombonera nos últimos dois meses. E jogando contra os titulares.
Ora, vamos acrescer a esta informação relevante o meu detalhe lírico, como diria Nelson Rodigues: sonhei que Taison fazia um gol maradoniano na Bombonera. E era uma coisa fantástica, o tal do gol. Taison apanhava a bola no meio-campo e ia. E ia. E ia. E driblava Vargas, e Battaglia, e Cáceres. E fintava o goleiro, e mais Eva Perón, Carlos Gardel, Jorge Luiz Borges, Fito Paez e o General San Martín, e com metade da população argentina já escandalosamente jogada nos tufos do gramado (aliás, metade mais um, dizem os próprios xeneizes, orgulhosos), Taison estufava as redes da Bombonera com um toque desdenhoso e clássico, brasileiramente desprezando com um dar de ombros de menino levado todo o famoso espírito portenho do estádio do Boca Juniors. Para uma noite de sono, simplesmente um delírio sensacional. Mas, e por que não?

Sério, realmente tive esse sonho. Lembram da arrancada do garoto lá no Chile, contra a Universidad Catolica? Se ele faz aquele gol, é a jogada do ano, convenhamos. E digo mais: o meu sonho tinha contornos de realidade muito claros, era daqueles que a gente quase podia apalpar e ver e ouvir, tamanha a sensação de realidade. Já pensaram? Um golaço do Taison – justo ele – na Bombonera? Seria fantástico.

Claro que não se pode acreditar em tudo, mas o Inter vai passar do Boca. Vai, ponto final. Não se iludam com a derrota para o SPFC: não há jogador algum que, antevendo um jogo da importância como o de quinta e jogando uma partida sem maiores conseqüências, continue dando carrinhos e pataços na bola com o mesmo ritmo e empolgação. O Inter de anteontem cumpriu tabela, e nem tinha de fazer mais do que isso, sob pena de desgastar-se sem razão. Não fizemos nada de errado. Reclamações, reclamações, reclamações: lembrem-se de 1996, certo? E time que quer ser campeão não pode empatar em casa com o Figueirense e perder para a Portuguesa. Sorry.

Mas como eu ia dizendo, a Bombonera, apesar de não inexpugnável, tem sido o cemitério dos times brasileiros. E reconheçamos: o Fluminense eliminou o Boca da Libertadores porque jogou no campo do Racing. Se a partida tivesse ocorrido ali na Boca, nas redondezas do fétido e terrivelmente jogado às traças Rio Riachuelo, a coisa teria sido diferente. A verdade é que aquele estádio realmente assusta, mas tudo é uma questão de hábito. Os dois times argentinos já por mim citados provam isso.

Tigre e Estudiantes estão, claro, muito mais habituados a enfrentar o titã argentino em seus domínios, mas todos conhecem o velho ditado: a ocasião faz o ladrão. O Inter pega um Boca pela metade, talvez com Riquelme em campo mas ainda mais voltado ao campeonato local - a jóia da princesa que, se conquistada pouco a pouco, fará o time argentino chegar mais perto do River Plate na única coisa na qual este ainda está na sua frente: títulos nacionais.

Pois saibam o seguinte: foi no próprio Apertura, com o Boca bufando pelas ventas, que os dois personagens dessa crônica venceram como visitantes. Nada de amistosos. A Bombonera assusta, e há os que nervosamente não se dizem por ela petrificados mas, mesmo assim, tomam lá uma espanada homérica, de vergar cabeças e colunas por aí.

No entanto, já passou da hora de o futebol brasileiro dar uma resposta a tanta auto-intimidação psicológica. Quem melhor que o último Campeão do Mundo brasileiro para perpetrar tal coisa? E não é tão difícil assim, ora bolas.
Basta fazer como Tigre e Estudiantes.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

QUEM VENCERÁ AS ELEIÇÕES NO INTER

Por Andreas Müller

Não sou profeta, vidente e tampouco economista – ainda que as três profissões se pareçam em muitos aspectos. Mas posso afirmar com total segurança: eu sei o que se passa no imaginário coletivo da torcida colorada. Conheço nossos anseios, desejos e medos. Sei a diferença entre o que nos faz esfregar as mãos em incontida faceirice e o que nos faz olhar de soslaio, temendo o pior. Sou capaz de prever a reação da nossa torcida a cada jogada dentro de campo. Aqui mesmo, no Final Sports, eu consigo antever o que os nossos leitores vão dizer ao término de cada uma das minhas crônicas, inclusive as mais polêmicas. E daí que hoje vou utilizar essa capacidade para analisar os pontos cruciais da eleição que se avizinha no Internacional. Muitos dirão que estou falando o óbvio. Mas acredito que, às vezes, enxergar o óbvio é a única coisa que nossos queridos dirigentes não fazem...

* A torcida colorada quer Fernando Carvalho, apóia Fernando Carvalho e confia plenamente em Fernando Carvalho. Mas rejeita Vitório Piffero, amaldiçoa Vitório Piffero e quer vê-lo longe do Beira Rio de uma vez por todas. A chapa de Situação deveria pensar nisso ao escolher seus nomes para o biênio do Centenário...

* Uma chapa encabeçada por Vitório Piffero é tudo que os grupos da Oposição podem almejar. Depois de passar dois anos desperdiçando orçamentos superavitários em times que brilham somente no papel, Piffero conta, hoje, com a rejeição de uma parcela significativa dos sócios colorados – que não são poucos.

* O apoio de Fernando Carvalho deverá assegurar o triunfo de Piffero, é claro. Mas a Situação perderá cadeiras no Conselho Deliberativo, inevitavelmente.

* A torcida colorada deu ampla maioria à Situação na última eleição. Acabou aprendendo na marra que uma Oposição enfraquecida é prejudicial para o andamento do clube. Ou seja: já existia uma tendência natural de a Oposição ganhar força na eleição do Centenário. Com a série de fiascos do Inter dentro de campo, essa tendência se acentuará ainda mais...

* Se quiser manter a hegemonia, a Situação deverá lançar uma chapa sem Vitório Piffero – ou alocá-lo em uma função de menor visibilidade, como a vice-presidência de Patrimônio. Nomes como o de Pedro Affatato e Giovani Luigi venceriam fácil.

* Apesar dos fracos resultados obtidos no comando do futebol, Luigi ainda é visto como um gestor de grande potencial para funções técnicas. Muitos colorados votariam nele para, digamos, vice-presidente de Administração – função que hoje é exercida (brilhantemente, cabe ressaltar) por Décio Hartmann.

* Se quiserem ter alguma chance, os grupos da Oposição deverão se unir e lançar um candidato que não tenha ligação nenhuma com os ex-presidentes Zachia e Asmuz. Ambos são ícones do ostracismo do clube nos anos 90. Qualquer candidato que tenha ligação com eles, mesmo que remota ou imaginária, fracassará miseravelmente nestas eleições.

* Todo esse cenário pode mudar caso o Inter conquiste a Copa Sulamericana. Nesse caso, a Situação ganhará de goleada – com ou sem Piffero. Um fracasso do Grêmio no Brasileirão também contará a favor da Situação.

* Para o torcedor colorado, é inconcebível que o Grêmio venha a conquistar o tricampeonato brasileiro com um time e um orçamento tão mais modestos do que os do Inter...

* Acredito que o Internacional pode ganhar a Copa Sulamericana. Especialmente se o presidente Vitório Piffero adotar um esquema especial de mobilização... Nunca é tarde para se mostrar serviço.

* A torcida colorada está sedenta por esse título. Conquistá-lo é a única maneira de Piffero se reeleger por méritos próprios – e não apenas por causa do apoio político de Fernando Carvalho.

* Esta análise pretende ser tão isenta e honesta quanto possível. Você, caro leitor, é quem decide se ela tem credibilidade ou não. Para ajudá-lo nessa escolha, destaco abaixo alguns dos meus princípios de torcedor. Estes princípios podem ter distorcido a análise, apesar dos meus esforços pela isenção:

a) Na minha opinião, o futebol deve ser o início, o meio e o fim de qualquer grupo que assuma a gestão do Internacional. O resto vem a reboque;

b) O Internacional precisa se modernizar de uma vez por todas, com uma gestão profissional e meritocrática e dirigentes remunerados de acordo com as metas que atingem;

c) O Internacional precisa criar uma cultura própria de futebol; um estilo de jogo ao qual os jogadores de todas as procedências se adaptem – tal como ocorre no Boca Jrs. Hoje, infelizmente são os jogadores que definem o estilo de jogo do Inter.

d) Acredito que Vitório Piffero não está alinhado com esses princípios.

Vejo vocês em Buenos Aires.

domingo, 2 de novembro de 2008

AUTO-ENGANO OU AUTO-ENGANO?

Por Raphael Castro


Comecemos abusando, caros(as) leitores(as): revejam o último jogo no Beira-Rio; quadro a quadro, lance a lance; revejam a entrada do time e o domínio campal que se estabeleceu ao longo da partida; praguejem pelos gols perdidos e pelo simulacro de interesse no jogo; olhem o gol de um (contestado) lateral-direito e o tento trapalhonamente anotado pelo adversário (sim, nos descontos!). Não há como negar: este jogo, sem tirar nem pôr, é a cara da gestão do futebol colorado nos últimos dois anos...

É, 2006...

O Mundial parece ter funcionado com um efeito meio alucinógeno nas mentes que dirigem o Inter: várias delas dão a impressão de (ainda) estarem no céu com Lúcia e seus diamantes, vivendo permanentemente o gozo e a “good trip” do delírio de 2006, a Goethe parecendo uma aorta de tão vermelha, e Fernandão puxando o coro suarento e irresistível da Popular, provavelmente na primeira vez em que o Beira-Rio ficou lotado para não ver jogo nenhum; mas o que parece faltar aos nossos “Syd Barretts da bola” é senso da realidade e uma certa autocrítica: o biênio 07/08 (infelizmente, com ênfase nos “zeros”) é simplesmente pra esquecer...


Mistakes

Chega a ser quase freudianamente doloroso concluir que tudo isso poderia ter sido evitado. Claro, vai ter quem me chame de oportunista, padre de missa rezada e outros mimos, digamos, impublicáveis. Ok, mas seria assim tão difícil se (fazer) impor perante certas posturas? Não fui eu, por exemplo, que fez questão de tornar pública a “liberdade” de que foi acometida a nossa direção depois da primeira saída de Abel, o Tirano (“agora, eu vou poder trabalhar...”- pois é, e eu que falava de Freud ali em cima...); não fui eu que fiz questão de ir à imprensa admitir que “não entrei ligado” no jogo tal ou qual; não fui eu que expôs as vísceras no jornal sobre as divergências reinantes às vésperas da contratação do Adenor; e por aí vai...

Continua

O fato é que a seqüência de erros e desmandos é constrangedora, e, a meu ver, a maior evidência disso é o fato de que temos a falar pelo Inter uma pessoa que nem mesmo é efetivamente da diretoria: Fernando I e Único se manifesta como porta-voz no futebol vermelho, mostrando ao mundo o primeiro (e, ao que sei, único) caso de “parlamentarismo de vestiário” (com direito a “primeiro ministro” e “rainha da Inglaterra”) - e, o que é pior, isto se revelou absolutamente necessário e salutar este ano. Foi por absoluta escassez de testosterona na gestão de futebol colorada que a Libertadores do ano passado foi trágica e que 2008 foi risível; deixou-se que Abel feudalizasse o vestiário e a conseqüência foi uma diabólica metonímia: profissionais do clube passaram a se julgar mais importantes que a própria instituição, com a conivência da nossa diretoria, à base da soberba balofa que tomou conta dos discursos nos últimos dois anos.

Pontofinalizando

A verdade é que, ótima do ponto de vista administrativo, a atual administração é uma tragédia no futebolístico. E nem me venham com o sofisma do “um ou outro”, bom balanço não é sucedâneo de taças no armário (sim, eureka, eles podem coexistir, sim). Dubai, que não foi nem é nada além de vento, ressuscitou a auto-suficiência murrinha do ano anterior, e novamente caímos na esparrela de nos acharmos os tais. Agora é isso aí: que se agüente essa vergonha de estarmos sujeitos a comentários e ironias imbecis sobre a possibilidade de “entregarmos os jogos” contra os adversários dos aflitos, ou mesmo dependermos da Copa do Brasil para chegarmos à Libertadores (como diria o meu perspicaz, sagaz, inteligente e antropólogo avô, S.Assis P.Ererê, “pior do que estar na m... é justamente ter se colocado ali...”).

Então chega

Mas é claro que aprendemos, eles, nós, todos, certo? Ano que vem, o do Centenário, aquele em que achávamos que as coisas viriam por decreto divino, vai ter que servir para coisas outras que não a disputa de uma Libertadores que era perfeitamente possível, alcançável, atingível. Mas não dá nada: haveremos de continuar celebrando certo e com folga aquele sentimento que tanto nos caracteriza e define, o “orgulho de ser coloradamente...”

Tópicas : sabe quem perguntou de ti?

Amigo Adenor, tá aqui o teu cheque. Obrigado e mande notícias, hein...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).