domingo, 2 de novembro de 2008

AUTO-ENGANO OU AUTO-ENGANO?

Por Raphael Castro


Comecemos abusando, caros(as) leitores(as): revejam o último jogo no Beira-Rio; quadro a quadro, lance a lance; revejam a entrada do time e o domínio campal que se estabeleceu ao longo da partida; praguejem pelos gols perdidos e pelo simulacro de interesse no jogo; olhem o gol de um (contestado) lateral-direito e o tento trapalhonamente anotado pelo adversário (sim, nos descontos!). Não há como negar: este jogo, sem tirar nem pôr, é a cara da gestão do futebol colorado nos últimos dois anos...

É, 2006...

O Mundial parece ter funcionado com um efeito meio alucinógeno nas mentes que dirigem o Inter: várias delas dão a impressão de (ainda) estarem no céu com Lúcia e seus diamantes, vivendo permanentemente o gozo e a “good trip” do delírio de 2006, a Goethe parecendo uma aorta de tão vermelha, e Fernandão puxando o coro suarento e irresistível da Popular, provavelmente na primeira vez em que o Beira-Rio ficou lotado para não ver jogo nenhum; mas o que parece faltar aos nossos “Syd Barretts da bola” é senso da realidade e uma certa autocrítica: o biênio 07/08 (infelizmente, com ênfase nos “zeros”) é simplesmente pra esquecer...


Mistakes

Chega a ser quase freudianamente doloroso concluir que tudo isso poderia ter sido evitado. Claro, vai ter quem me chame de oportunista, padre de missa rezada e outros mimos, digamos, impublicáveis. Ok, mas seria assim tão difícil se (fazer) impor perante certas posturas? Não fui eu, por exemplo, que fez questão de tornar pública a “liberdade” de que foi acometida a nossa direção depois da primeira saída de Abel, o Tirano (“agora, eu vou poder trabalhar...”- pois é, e eu que falava de Freud ali em cima...); não fui eu que fiz questão de ir à imprensa admitir que “não entrei ligado” no jogo tal ou qual; não fui eu que expôs as vísceras no jornal sobre as divergências reinantes às vésperas da contratação do Adenor; e por aí vai...

Continua

O fato é que a seqüência de erros e desmandos é constrangedora, e, a meu ver, a maior evidência disso é o fato de que temos a falar pelo Inter uma pessoa que nem mesmo é efetivamente da diretoria: Fernando I e Único se manifesta como porta-voz no futebol vermelho, mostrando ao mundo o primeiro (e, ao que sei, único) caso de “parlamentarismo de vestiário” (com direito a “primeiro ministro” e “rainha da Inglaterra”) - e, o que é pior, isto se revelou absolutamente necessário e salutar este ano. Foi por absoluta escassez de testosterona na gestão de futebol colorada que a Libertadores do ano passado foi trágica e que 2008 foi risível; deixou-se que Abel feudalizasse o vestiário e a conseqüência foi uma diabólica metonímia: profissionais do clube passaram a se julgar mais importantes que a própria instituição, com a conivência da nossa diretoria, à base da soberba balofa que tomou conta dos discursos nos últimos dois anos.

Pontofinalizando

A verdade é que, ótima do ponto de vista administrativo, a atual administração é uma tragédia no futebolístico. E nem me venham com o sofisma do “um ou outro”, bom balanço não é sucedâneo de taças no armário (sim, eureka, eles podem coexistir, sim). Dubai, que não foi nem é nada além de vento, ressuscitou a auto-suficiência murrinha do ano anterior, e novamente caímos na esparrela de nos acharmos os tais. Agora é isso aí: que se agüente essa vergonha de estarmos sujeitos a comentários e ironias imbecis sobre a possibilidade de “entregarmos os jogos” contra os adversários dos aflitos, ou mesmo dependermos da Copa do Brasil para chegarmos à Libertadores (como diria o meu perspicaz, sagaz, inteligente e antropólogo avô, S.Assis P.Ererê, “pior do que estar na m... é justamente ter se colocado ali...”).

Então chega

Mas é claro que aprendemos, eles, nós, todos, certo? Ano que vem, o do Centenário, aquele em que achávamos que as coisas viriam por decreto divino, vai ter que servir para coisas outras que não a disputa de uma Libertadores que era perfeitamente possível, alcançável, atingível. Mas não dá nada: haveremos de continuar celebrando certo e com folga aquele sentimento que tanto nos caracteriza e define, o “orgulho de ser coloradamente...”

Tópicas : sabe quem perguntou de ti?

Amigo Adenor, tá aqui o teu cheque. Obrigado e mande notícias, hein...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

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