quinta-feira, 20 de novembro de 2008

FORMATURA

Por Marcelo Benvenutti


Hoje eu estava decidido. Deixei o Lorenzo para ficar na vó. Fica na vó, Lorenzo. Papai vai no jogo. Torce pelo pai na televisão. Deixei. Como moro no Menino Deus, fui a pé até o Beira. Primeira parada. Treiler do cachorro quente. Uma lata para apreciar a noite fria de novembro. Vento refrescando a mente. Cerveja gelada. Sempre chego em cima da hora e acabo indo na superior para não enfrentara fila da inferior. Mas hoje, não. Eu tenho tudo planejado. Vou chegar aos poucos, aproveitando a lei líquida do lado de fora do estádio, e entrar na arquibancada no clima.

Naquele clima. Afinal, aqui na Final (gostaram da repetição de sons?) os colorados quase nunca se encontram no estádio. Hoje já planejei. O Andreas disse que assiste ao jogo do lado do Bar 4. Esse é o meu bar. Bar da sorte. Desde sempre. Torcerei pelo Inter de lá.Normalmente eu acabo indo na perto da famosa "torcida da chaminé". Dizem que a torcida tem líder. Pouco me importa. Não respeito líderes. Assisto ao jogo de lá porque encontro meus amigos Cocó, Toscani, Sassá e outros. Gente boa. Colorada. Mas sempre acontece de ser uma alternativa ao Bar 4. Como é uma alternativa encontrar a Létis e suas amigas na social. Não gosto da social. Gosto do furdunço. Gosto do Bar 4. Que agora tem banheiro de shopping center. Um fenômeno, como diria Guiñazu.

Antes de encarar qualquer coisa, entro num dos bares do outro lado da Padre Cacique, faltam 30 minutos para começar o jogo, encaro uma extra, aquela que é boa, vocês sabem. Uma extra antes do jogo é certeza de ficar legal. Extra sempre cai bem. A partida? Não estou tão preocupado assim. Times mexicanos nasceram para serem goleados pelo Inter. É o que falo para um colorado na fila do Celeiros de Ases enquanto pago um tíquete para saborear um latão. Pronto. Estou pronto. A fila da inferior chega nas bilheterias da entrada sul do Beira. Bem capaz que vou encarar essas. Bebo o latão até faltarem 10 para as 10. Entro pela social. Entrar pela social e pedir passagem para a inferior é barbada. O contrário é quase impossível. Mas eu combinei com o Andreas. O cara não vai falhar. Acho eu. Hoje vamos golear. Tenho certeza. Quando atravessava a rua, eu escutei uma voz conhecida. Era a Polaca. Ultimamente quando chego perto do Beira e escuto a voz da Polaca, é batata! Ou chocolate! Como queiram.

Golearemos o adversário. Se a Polaca sabe, não sei. Mas deveria saber. É gente boa. Me lembra a Lancheria do Parque. E me recorda que estou bêbado. Afinal, um litro e meio em 45 minutos pesam na mente. Ficarei bêbado até o começo do segundo tempo. O colorado bêbado da fila do Celeiros também sabe disso.Pois eu atravesso a Popular pulando enquanto o Inter entra em campo. O Andreas esta lá. No Bar 4. Quem conhece o tamanho da Popular sabe o que enfrentei para chegar da social até o Bar 4. Mil duzentos e cinqüenta empurrões e quatrocentas e trinta e quatro baforadas de maconha na cara depois, cheguei no Bar 4. Olhei daqui. Olhei dali Nada de Andreas. Bom, vai ver o cara ta no meio do rolo. Encontro no intervalo. O jogo começa. O Inter faz um gol de pênalti. Eu vi que quem caiu foi o D'Ale. Quem cobrou? Não compreendo.

Compreendo que o D'Ale fez o segundo. Alex? Não, Alex tá na SeleDunga. Quando penso em mijar, um litro e meio apertam a bexiga, acham o que? Mais um gol do Inter. Cheguei agora em casa. Não vi quem fez. Interessa? Não sei. Sei que quase chorei quando a torcida aplaudiu o minuto e silêncio. Merecido.Três a zero. Intervalo. Quase fui embora. Em casa tem latas na geladeira. Aqui só tem cuspe sem álcool. Essas alturas do texto e vocês devem estar achando, o cara só fala em cerveja. Não. No estádio estão todos inebriados de felicidade. Ligo para o Andreas. A bebida emburrece. Deveria ter feito isso antes. O cara tá na superior. O pai veio assistir o jogo junto. O pai? Bah, isso é preza! Eu respeito. Se o cara sumiu do ponto por causa do pai, eu respeito. Seu ainda tivesse pai, faria o mesmo. Mas não. Aproveitei da companhia do meu velho enquanto deu. Hoje ele assiste e torce pelo Inter de outro lugar. Mas agora não é hora de recordações tristes. Fechamos 4x0. Estou feliz.

Na saída, caminhando, escuto uma voz. A Polaca! Esse boné é demais! Exclama ela. Eu uso um boné da Umbro. Sim, eu tenho um boné de quando o Inter era patrocinado pela Umbro. Nos cumprimentamos. Será mais uma goleada? Será que o Andreas deve assistir aos jogos da superior? Será que devo lavar minha velha camiseta da Adidas sem patrocínio? Quem será o próximo adversário? Argentinos? Nós ganhamos dos argentinos esse ano. Duas vezes. Numa precisamos só de uma partida para fazer quatro gols. Na outra, de duas. Estudiantes? Não sei. Mas se continuarmos jogando como hoje, o Filósofo pode ter certeza, não vão ser estudantes que derrotarão nossos formandos. Para a formatura, resta apenas mais um passo. O da faixa no peito.

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