quarta-feira, 19 de novembro de 2008

THE JON SPENCER BLUES EXPLOSION

Por Gustavo Foster


Lá nos idos dos anos 90, sem Youtube e praticamente sem mp3, um dos principais meios de ouvir música boa era a MTV. Além de Beavis and Butthead, a emissora passava clipes sensacionais, divididos em categorias de acordo com o programa. E foi num destes, à tarde, antes da aula, que eu vi um clipe com vampiros e mulheres semi-nuas que não me saiu da cabeça. O clipe era muito foda, e a música mais ainda. Lembro que eu não consegui ver os créditos finais do clipe e fiquei com a música na cabeça, sem saber artista, título ou qualquer referência da música. Anos depois, mais precisamente na semana passada, coloquei um disco do Jon Spencer Blues Explosion e, na segunda faixa, começa a tocar "She Said". Era essa a música que eu procurava há quase dez anos.

Daí e de tantos outros exemplos – Electric Six, Run DMC e Supergrass, só pra citar três – tiram-se duas conclusões: a primeira e mais óbvia é de que a MTV de 10 anos atrás não tem nem comparação com a MTV atual. A segunda é que música boa é impossível não ser percebida. Eu tinha 10 anos, nunca tinha ouvido falar de blues, Miles Davis ou Pussy Galore, mas ouvi o Jon Spencer berrando "she said" e achei afudê.

Futebol também é assim: jogador bom salta aos olhos, assim como jogador ruim. No Inter de 2008, eu consigo perceber dois exemplos fáceis da minha teoria. Nilmar e Ricardo Lopes. Os dois, inclusive, vivem situações ambivalentes, que incomodaram-me quando lidas.
Ricardo Lopes, segundo boatos, já teria firmado contrato com o Colorado para o ano do centenário. Nilmar, por sua vez, desde que nasceu é sondado por clubes europeus, africanos, asiáticos e interplanetários, sendo o destino da vez o ex-galáctico Real Madrid, que não vai mais contar com Van Nistelroy por alguns meses.

O lateral direito quase veterano é uma unanimidade, entre torcedores, colunistas, peladeiros e beberrões: joga futebol por engano. Mal sabe correr, dominar a bola é um parto, correr com a bola dominada é impensável. Marcar é impossível e cruzar na cabeça do centroavante, então, é uma vez na vida e outra na morte. Pode ser desconhecimento meu, mas eu duvido que não haja alguém melhor que o trintão destro nas nossas categorias de base. Juro, deve ter alguém melhor do que ele morando no meu condomínio. Daí, não bastasse contratar essa negação futebolística, ainda querem renovar o contrato, como quem diz "tu jogou umas duzentas vezes, ninguém gostou de ti, mas tu vai ter outra chance, tá?". Espero que o boato não se confirme, diferentemente dos boatos envolvendo Cicinho e Ilsinho, diminutivos no nome, mas aumentativos no futebol, principalmente na situação em que nos encontramos, na qual procuramos um camisa 2 em campo e vemos um gandula improvisado.

Já o caso do segundo é mais complicado. Nilmar para mim é craque. Alex é um baita jogador, Guinazu é guerreiro até os dentes, mas só Nilmar é craque. O nosso camisa 9, pra falar a verdade, nem camisa 9 é. Na minha opinião, é segundo atacante, vindo de trás, com a bola dominada, fazendo com que os zagueiros tenham vontade de correr em direção ao primeiro portão de saída do estádio, deixando o fardo para o companheiro de defesa. Chute, habilidade, drible, movimentação, visão de jogo, passe qualificado e, acima de tudo, velocidade incrível são apenas algumas das qualidades do melhor atacante jogando, hoje, no Brasil. Kléber do Palmeiras é um baita atacante, Keirrison promete ser, Kleber Pereira, Borges e Guilherme fazem muitos gols, Dagoberto tenta imitar, mas Nilmar é melhor que todos os citados.

Imagino um time com D’Alessandro, Nilmar e, talvez, um centroavante que faça gol de qualquer jeito. Seria o meu time perfeito. Magrão e Guinazu fortificando um meio-campo que, apesar de defensivo, chega a frente com 5 homens. O nosso atual camisa 9 é jogador de seleção: as lesões o atrapalharam, mas, resolvido isso, Robinho teria alguém se candidatando a sua vaga.

Por isso, faço um apelo – talvez inútil: não vendam o Nilmar. Alex é substituível, mas, sem o Nilmar, teremos que contratar dois atacantes e reformular toda a idéia ofensiva do time. (Sei que existe a possibilidade clara de ambos saírem, mas isso já um problema maior, e o investimento teria de ser maciço nesse setor). Se for para escolher apenas um jogador das dezenas do elenco, escolho Nilmar.

Mantenham os Jon Spencers no Beira-rio.

Nenhum comentário: