sábado, 29 de novembro de 2008

REVOLUÇÃO

Por Raphael Castro

É bom que se preste atenção: o Inter está mudando. Tudo leva a crer que está em andamento um plano meticuloso, contínuo e resoluto de inserção do clube no cenário mundial. Ainda lembro da estupenda "Síndrome do Mampituba", uma enormidade hoje tão fora de moda quanto gritar "é campeão" para nossos colegas lá dos aflitos; não há colorado atualmente que ainda duvide da capacidade do Inter de fazer bonito numa competição fora do Brasil – preservadas, evidentemente, certas premissas inevitáveis, como planejamento e boa gestão de futebol: este, aliás, é o binômio que faz a diferença em qualquer lugar, seja no Morumbi ou no Menino Deus...

Business

Pois é, a "coisificação" da paixão clubística não deixa mais qualquer espaço para erros gerenciais e administrações amadoras; hoje em dia, a auto-estima da torcida gera dividendos e garante o caixa do clube. Os títulos viram grana, que viram contratações, que viram títulos, que viram público, que vira mais grana, que vira mais contratações, que viram mais títulos, e assim por diante. Só que para isso o planejamento deve ser nipônico, cirúrgico, intransigente; um clube que permite a feudalização do vestiário, o desleixo na preparação física ou a inapetência da comissão técnica não vai absolutamente a lugar nenhum.

Por exemplo...

Vejam o São Paulo. Já falei aqui do São Paulo, como vem falando toda a imprensa ultimamente. Não é por acaso que eles vêm chegando na ponta nos últimos três anos, em que pese a freguesia para times do Sul (já disse a amigos que para ganhar deles é fácil, basta jogar de bombacha): o clube paulista simplesmente tem a melhor diretoria do país, Juvenal Juvêncio é quase um feiticeiro. O fato é que, a despeito de seu retrospecto meridional, os comandados de Muricy simplesmente tiraram 11 (!!) pontos de diferença do vice na classificação geral, livrando agora oceânicos 5 (!!) pontos de vantagem para o segundo lugar. Ou seja, inacreditáveis 16 (!!!!!!!) pontos; tá, tá, falei mesmo para rebater preventivamente os espertinhos que viessem me amolar com aquela história de "eles não ganham mata-mata". Tá bom, eles não ganham mata-mata, eles não usam black-tie, eles não usam bidê, grande coisa...na lógica negocial de hoje, a mera visibilidade vale quase tanto quanto o próprio título.

Adiante

O que eu disse é que, havendo uma "linha mestra" da condução do (futebol no) clube, como acho que só o São Paulo no Brasil atualmente tem, a coruja fica significativamente mais pelada. Os paulistas já perceberam de velhos que a Libertadores não vale apenas pelo título, ela é fundamental para manter o time nos holofotes e para, mercantilistamente, ganhar dinheiro. Para isso, eles se organizam enfaticamente, e talvez o único time que tenha lugar tão cativo na Copa quanto eles seja só o Boca – o que, convenhamos, não é pouco. Por isso é que, como já tive a oportunidade de dizer aqui, acho que um eventual título na Sul-Americana, mais até do que a própria taça, termina sendo importante: qual é o preço do retorno, em imagem, do D’Alessandro falando maravilhas do Inter na Argentina? Qual é o valor do Olé e da ESPN dizerem que os colorados isso, os colorados aquilo? O que valem as imagens dos torcedores fazendo festa viajando pelas TVs do mundo todo...?

Pontofinalizando

Por essas e por outras, quero e muito que ganhemos essa "Sula". Ela dá traquejo, dá cancha, dá liga, dá um certo prestígio e dá retorno. E isto tudo remete exatamente ao círculo virtuoso apontado lá em cima. Enquanto nos chamam de loucos por investir milhões em um jogador, digo que fazemos isso por um motivo muito simples: porque podemos. Uma dose de arrojo competente na escolha de uma "super figura" (ou duas) pode ser absolutamente lucrativo para o clube e para a torcida. Estamos – ou podemos estar - entrando numa era de sustentabilidade inédita para o clube: bons jogadores, títulos, público e sucesso, tudo devendo ser regiamente cimentado por uma diretoria inteligente, sempre. É, não se iludam, diletos(as) leitores(as), o Inter está mudando...

Tópicas: a propósito...

Tenho ouvido falar muito de "porta da frente" nos últimos dias: serve uma aberta pelo Inter lá na década de 90? (como diria o meu modesto, humilde, realista e sincero avô, S.Assis P.Ererê, "a porta da frente é a serventia dos bobos...").

Tópicas 2: perguntinha

Estando na mesma situação, não aceitariam por acaso os nossos amigos do lado de lá uma eventual vaga presenteada pela Conmebol? Se por hipótese ficarem em quinto lugar e lhes vier uma vaga em razão da exclusão dos peruanos, dirão eles "não" a tão abjeta situação? Trata-se de um novo paradigma ético, o "homo aflitus"...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

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