sábado, 8 de novembro de 2008

SIM, NÓS PODEMOS

Por Raphael Castro

Aproveito para surrupiar o slogan (ou grito de guerra, sei lá) da campanha de Obama, o presidente sangue-bom, para ilustrar algo que me ocorreu após a vitória sobre os nossos amigos “Orais”. Não, caros(as) leitores(as), não mudei o meu conceito sobre a Sul‑Americana: ao menos por ora, continuo achando o torneio meio sem charme, como uma garota bonitinha, mas brega, ou aquele picolé de coco que a gente só pede se não tiver mesmo o de chocolate; só que menos até pelo título em si do que pela oportunidade que ele representa, vencer esta Copa pode se revelar assaz interessante. Vejamos...

What?

Explico: o grande fator a emoldurar as conclusões deste que vos fala é a auto‑estima. Pois é, interessantíssima, a tal da auto-estima: se a colocarmos como uma linha a ligar dois extremos, teríamos, no pólo mais alto, exatamente o Boca; no lado inferior estaria um Botafogo da vida. É abissal a diferença entre times que têm a confiança dos “Orais” e outros que já entram meio curvadinhos até para tirar par ou ímpar. Logo que o Olé publicou aquela asneira de alta octanagem sobre os vistos, quem reparou na indignação da torcida e dos jogadores platinos? Não importava que a classificação ainda estivesse em aberto, mesmo com a (considerável) vantagem colorada: os argentinos tinham absoluta convicção de que os dois gols no Beira‑Rio simplesmente não representavam patavina alguma (ok, eles são argentinos, e a auto-estima deles pode de fato ter notas “amilongadas”, fruto de certas castelhanices): eles tinham total confiança na reversão do cenário, pois entram sempre pra vencer, anabolizados pela loucura que vem das arquibancadas verticais da Bombonera (esta, aliás, uma personagem à parte, não poucas vezes responsabilizada pelas mordidas dadas pelos boquenses nos adversários e pelos seus olhos vidrados para o outro time, como que a dizer “eu vou te matar...”).

En “Brassil”

O único clube que eu conheço no Brasil que tem uma auto-estima parecida com a do Boca é o São Paulo. Vejam bem, não confundir auto-estima com raça: os tricolores paulistas são bem mais “blasés” do que os torcedores portenhos, não me parecendo ter um milésimo do caráter sangüíneo tão característico dos argentinos: acho que acompanhar seu time às vezes lhes parece algo enfadonho, causando um certo fastio, quase um tédio. Dificilmente eu vejo um sãopaulino perder a calma discutindo futebol; eles acham que podem vencer um jogo ou campeonato a qualquer momento, pois, tudo o mais constante, entram sabendo que as vitórias são apenas questão de tempo, como se o jogo fosse uma exigência protocolar e o triunfo um decreto divino. Não sei onde vi uma frase - que eu acho sensacionalmente genial – atribuída ao Rogério Ceni, que teria dito mais ou menos o seguinte: “olha, não imagino o São Paulo jogando Copa do Brasil...”; o arqueiro tricolor não diz isso porque é arrogante, mas porque efetivamente sabe e pensa isso. É esse o espírito, diletos(as) leitores(as), ou seja, “não PENSAR que é, mas SABER que é...” (lembram do Morpheus, no Matrix? Pois é...).

Agora, nós

E o que isso tem a ver conosco ou mesmo com o jogo contra o Boca? Ora, tudo: em 2006, o Inter aprendeu em definitivo que não tinha porque sentar na pontinha do sofá ou ficar pedindo licença toda hora; sei disso porque, mesmo não morando na aldeia, me chegavam aos ouvidos as inacreditáveis capituladas que alguns colorados davam quando vinha um aflito mais alegrinho lhes encher a paciência. Culpa da década perdida. O cenário vinha se modificando (ou mesmo se invertendo) nos últimos anos, até o biênio “noventista” de 07-08; só que tudo isso passou. É hora de olhar pra frente e planejar, cobrar, executar e disputar. Temos toda a chance de corrigir os erros clamorosos dos últimos dois anos e de reencontrar aquela trilha fantástica que nos abençoou com o Mundial...

E a “Sula” com isso?

E é exatamente aí que entra a tal da “Sula” (rapaz, que apelidinho infeliz...): sob esse aspecto, não me importa muito que ela não seja a Libertadores (como a Copa do Brasil também não é Brasileirão, espertinhos); não importa nem mesmo o título pelo título – e digo isso sabendo que nada está ganho para o Inter ainda: a Sul‑Americana é muito mais importante pelo que pode fazer à auto-estima do nosso amado Colorado, do que pelo volume que ocuparia na estante de troféus do Beira-Rio. Querem ver? Como não relacionar esse aumento da confiança à casual empurradinha de bola do Magrão com a cabeça ao fazer o seu gol? Como não se orgulhar de ver que o Inter ganhou do Boca em Buenos Aires ao ver a expressão compenetrada e séria de Riquelme ao buscar a bola no gol de Lauro? Como não gostar das expressões desesperadas da torcida deles à medida que os gols do Inter iam saindo? Como não se divertir com o D’Alessandro enchendo o saco do Mouche? (reparem a impagável foto no site do Olé, em que o argentino parece estar fazendo ao jogador do Boca um sinal de “nhenhenhém” com a mão). E a caneta do Alex no Figueroa? E os colorados gritando olé em plena Bombonera? Pois é...

Agora chega

Por isso é que digo um time precisa de disputa, de vitória, de situações extremas, para pegar orgulho. E nessa semana o tempo todo foi dada uma dimensão ao Boca que parecia colocá-lo no nível de uma horda olímpica e invencível, que se aproveita de seu estádio para devorar timinhos incautos (bem, vimos isso no ano passado). A vitória do Inter serviu justamente para isso: não foi façanha nenhuma, foi apenas um jogo entre iguais; ou melhor, uma partida em que o Inter se ombreou com um clube gigantesco, e, sendo também gigantesco, o suplantou. Tão simples quanto isso. E aí está exatamente o substrato de que se alimenta um grande time. Está faltando alguém que se livre de uma vez por todas dessa tal “mística” da Bombonera e assuma, ao lado do Boca (quiçá acima), o lugar de maior clube da América. A porta está aberta, queridos(as) leitores(as), e as citadas atitudes de Magrão e D’Alessandro me permitem sonhar que os dias de sub-brasileirismo para com os xeneizes estão realmente contados: “let the game begin” (como diria o meu realista, prático, pragmático e visionário avô, S.Assis P.Ererê, “tem que ficá mais cheio que guaiaca de prefeito...”).

Tópicas: exportação

Assistimos essa semana a mais um capítulo da incrível identificação entre aflitos e gaviões, um passo importantíssimo rumo à já sensível corintianização azulada...

Tópicas 2: alerta

Não custa nada lembrar: não se ganhou nada nessa Sul-Americana ainda. Atenção, muita atenção, pois...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

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