terça-feira, 4 de novembro de 2008

TIGRE E ESTUDIANTES

Por Daniel Ricci Araújo

Tigre e Estudiantes. Dois times argentinos, um reconhecidamente grande, tricampeão da Libertadores. O outro, um clube tão pequeno quanto surpreendente protagonista do futebol argentino de um ano e meio para cá. Nenhum deles têm, nem de perto, a folha salarial do Inter. Nenhum tem mais torcida, jogadores diferenciados e mais currículo recente do que o Inter. Mas ambos têm em comum algo importante, ainda mais em se tratando da semana chave para as nossas pretensões em 2009.

Ambos ganharam do Boca na Bombonera nos últimos dois meses. E jogando contra os titulares.
Ora, vamos acrescer a esta informação relevante o meu detalhe lírico, como diria Nelson Rodigues: sonhei que Taison fazia um gol maradoniano na Bombonera. E era uma coisa fantástica, o tal do gol. Taison apanhava a bola no meio-campo e ia. E ia. E ia. E driblava Vargas, e Battaglia, e Cáceres. E fintava o goleiro, e mais Eva Perón, Carlos Gardel, Jorge Luiz Borges, Fito Paez e o General San Martín, e com metade da população argentina já escandalosamente jogada nos tufos do gramado (aliás, metade mais um, dizem os próprios xeneizes, orgulhosos), Taison estufava as redes da Bombonera com um toque desdenhoso e clássico, brasileiramente desprezando com um dar de ombros de menino levado todo o famoso espírito portenho do estádio do Boca Juniors. Para uma noite de sono, simplesmente um delírio sensacional. Mas, e por que não?

Sério, realmente tive esse sonho. Lembram da arrancada do garoto lá no Chile, contra a Universidad Catolica? Se ele faz aquele gol, é a jogada do ano, convenhamos. E digo mais: o meu sonho tinha contornos de realidade muito claros, era daqueles que a gente quase podia apalpar e ver e ouvir, tamanha a sensação de realidade. Já pensaram? Um golaço do Taison – justo ele – na Bombonera? Seria fantástico.

Claro que não se pode acreditar em tudo, mas o Inter vai passar do Boca. Vai, ponto final. Não se iludam com a derrota para o SPFC: não há jogador algum que, antevendo um jogo da importância como o de quinta e jogando uma partida sem maiores conseqüências, continue dando carrinhos e pataços na bola com o mesmo ritmo e empolgação. O Inter de anteontem cumpriu tabela, e nem tinha de fazer mais do que isso, sob pena de desgastar-se sem razão. Não fizemos nada de errado. Reclamações, reclamações, reclamações: lembrem-se de 1996, certo? E time que quer ser campeão não pode empatar em casa com o Figueirense e perder para a Portuguesa. Sorry.

Mas como eu ia dizendo, a Bombonera, apesar de não inexpugnável, tem sido o cemitério dos times brasileiros. E reconheçamos: o Fluminense eliminou o Boca da Libertadores porque jogou no campo do Racing. Se a partida tivesse ocorrido ali na Boca, nas redondezas do fétido e terrivelmente jogado às traças Rio Riachuelo, a coisa teria sido diferente. A verdade é que aquele estádio realmente assusta, mas tudo é uma questão de hábito. Os dois times argentinos já por mim citados provam isso.

Tigre e Estudiantes estão, claro, muito mais habituados a enfrentar o titã argentino em seus domínios, mas todos conhecem o velho ditado: a ocasião faz o ladrão. O Inter pega um Boca pela metade, talvez com Riquelme em campo mas ainda mais voltado ao campeonato local - a jóia da princesa que, se conquistada pouco a pouco, fará o time argentino chegar mais perto do River Plate na única coisa na qual este ainda está na sua frente: títulos nacionais.

Pois saibam o seguinte: foi no próprio Apertura, com o Boca bufando pelas ventas, que os dois personagens dessa crônica venceram como visitantes. Nada de amistosos. A Bombonera assusta, e há os que nervosamente não se dizem por ela petrificados mas, mesmo assim, tomam lá uma espanada homérica, de vergar cabeças e colunas por aí.

No entanto, já passou da hora de o futebol brasileiro dar uma resposta a tanta auto-intimidação psicológica. Quem melhor que o último Campeão do Mundo brasileiro para perpetrar tal coisa? E não é tão difícil assim, ora bolas.
Basta fazer como Tigre e Estudiantes.

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