terça-feira, 2 de dezembro de 2008

MEU CARO RENATO GAÚCHO

Por Daniel Ricci Araújo

Meu caro Renato Gaúcho,
veja bem: meu intuito é de paz. Sabendo de sua midiática fama de briguento-fiasquento-marrento-mor, não seria minha intenção provocá-lo sorrateiramente no melhor estilo "sai-daí-seu-gaúcho-frustrado-que-queria-ser-carioca" (ops, escapuliu). Não, de maneira alguma, meu caro Renato Gaúcho: o momento é de decisão em todas as instâncias, quarta e domingo, e decisões requerem seriedade e diálogo. Meu apelo ao senhor é meramente pragmático (estou chamando-o protocolarmente de "senhor", seu... ops, quase escapuliu de novo) e baseado em fatos comprovados.

Então, vamos lá. Caro Renato Gaúcho, aqui vai a verdade absoluta: na quarta e no domingo próximos, o senhor precisa de novo torcer contra o Inter. Precisa. De qualquer jeito, como a planta precisa d'água, o Inter precisa do seu mau agouro. E explico o porquê, claro.
Ora, o mundo conhece sua declaração no fim de 2006, referindo o fato de que torceria para o Barcelona na notável decisão do único e inigualável Mundial FIFA. E óbvio, tão óbvio quanto dois mais dois são quatro, o resultado final da sua torcida (e a dos outros secadores da província) todos sabemos. Assim, queremos manter intacta a mística, a cabala, a ressonância da sua trompeta, que no mais simbolizará outra vez a torcida de todos os seus contra nós. Seque muito, seque em quantidades industriais, seque cavalarmente o Inter nesta quarta-feira, Renato.

Seque como em dezembro de 2006, eu suplico. A histórica vitória em La Plata, com um a menos, é pouco perto do estrago que o senhor poderia fazer ao mudar de idéia e torcer por nós, disfarçado talvez por alguma falsa e premeditada ânsia de ver o "futebol brasileiro" vencer. Nada disso, senhor Renato, nada de "futebol brasileiro". Quarta, quero vê-lo dizendo "sou Estudiantes desde criancinha". Temos um acordo? Bom, muito bom, meu caro Renato.

Mas vamos e venhamos. Não é só por causa da sua secação espontânea e mal acabada de 2006 que eu lhe peço este favor. Não. Note, note bem, com a necessária humildade (o significado da palavra "humildade" está no dicionário, meu caro Renato, caso o senhor não se lembre) – todas as suas incursões no mundo do futebol neste ano da graça de 2008 acabaram em tragédia. Sim, ó tragicômico Renato Gaúcho: o senhor está atualmente vestido como uma espécie de Genghis Khan futebolístico às avessas – por onde passa, não sobra nem a grama, e sendo assim eu naturalmente não o quero a meu lado.

Qualquer treinador, após proporcionar um Maracanazo clubístico como o patrocinado pelo seu Fluminense contra a LDU, certamente entraria em recesso moral e espiritual por, no mínimo, duas reencarnações. Mas o senhor, não. Ah, não! Após o seu trabalho, o Tricolor carioca precisou de dois técnicos para restabelecer-se, mas mesmo assim, com a fibra própria dos audazes e o ego mais espalhafatoso do que os óculos de sol que usa nas entrevistas, as suas loucas aventuras no Brasileirão (nomeemos assim) continuaram animadas e emocionantes, mas agora pilotando o leme do malfadado Vasco da Gama. Resultado? Um quase-rebaixamento às portas.

Impressionante, ó grande satírico Renato Gaúcho. Em menos de doze meses, o senhor construiu um currículo abissal, apocalíptico e empolgante, apto a derrubar de inveja qualquer ex-treinador do Íbis solto por aí.

Mas vejamos agora o ponto nodal, o "ground zero" de tudo. De quem o senhor mais precisará no próximo domingo para evitar o referido descenso cruzmaltino? Do seu Flamengo de outras eras? Talvez. Do Fluminense, do título improvável com gol de barriga em 95? Do Botafogo? Do Cruzeiro? Não. O senhor, desgraçadamente, injustamente, lamentavelmente estará nas mãos do Sport Club Internacional, aquele pelo qual o senhor disse na televisão, em 2006, que torceria contra para fazer média – legitimamente, confesso – com os seus.

E sendo assim, se quando o senhor torce contra o Inter temos vencido rotunda e gloriosamente, o que posso dizer? Simples: se mudar agora, o seu rebaixamento já está decretado. O senhor precisará preservar sua vontade de sempre: quarta, ponha a camisa do Estudiantes; domingo, por mais paradoxal que seja, vista a do Figueirense. Só assim há esperança para o Vasco. E não tente nos enganar, senhor Renato... Torça por duas derrotas coloradas, sim ou sim! Faça como estamos dizendo, ou as conseqüências serão terríveis! Terríveis!

E para isso, o senhor está já obrigado a vestir desde a quarta de manhã o traje do Estudiantes, o qual estou mandando-lhe junto com esta carta. Insisto, use-o sem rodeios. E repito: não tente nos enganar, certo, meu caro Renato? Ou as conseqüências (o senhor e os seus já sabem, nunca é demais repetir) serão terríveis. Terríveis!

Vestiu, né? Viu só? Até que o senhor não fica tão mal assim de vermelho e branco! Mas nem pense em se acostumar, certo? Nada de virar casada nessa idade! Queremos o senhor sempre torcendo contra. Dessa vez é até para o seu próprio bem, seu Renato! Viu como somos bonzinhos?

É que o senhor talvez nem suspeite, mas o seu mau olhado nos dá uma sorte danada!

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