terça-feira, 16 de dezembro de 2008

PRATICIDADE AMERICANA

Por Gustavo Foster

Como são diferentes esses americanos. Celebram um tal de Dia de Ação de Graças, coisa que ninguém mais celebra, como se fosse a festa mais importante do ano. Medem a temperatura por fahrenheit, a distância por milhas, a altura por pés. Param na rua, te ajudam, ligam para o táxi, procuram o endereço no Google Maps do Iphone (Iphone é banal aqui...) e acham, do jeito que for, o que tu precisa. Sem nunca terem te visto antes. Até começar a achar isso normal, leva um tempo. Assim como os jornais vendidos na rua. Uma caixinha e um cofrinho. Mas sem vendedor. Eles simplesmente confiam na honestidade. Estranhos, esses americanos...

Mas, se tem algo que impressiona, aqui, é a praticidade. A simplicidade, facilidade, inteligência. Tudo é planejado para ser o mais simples. Tudo ou é explicado ou se deduz. Olhe o mapa da cidade de Nova Iorque: em dois dias, parece que aquela é a cidade natal de qualquer criança de 12 anos mais ou menos atenta. De oeste para leste, avenidas número um, dois, três e por aí vai.. Do sul para o norte, ruas, aumentando do um ao cento e pouco. Tudo quadradinho, tudo reto, tudo organizado. Podem ser arrogantes, podem se achar os donos do mundo, podem ser ignorantes (coisa que não são), podem ser gordos, belicosos, o que seja. Mas uma qualidade não se pode tirar, a praticidade.E, se existe uma característica principal da atual – e eleita nova – direção, essa é a praticidade. Podem não fazer as escolhas certas, mas as tentativas são sempre na direção certa.

Vejam, por exemplo, esse início de temporada 2009. Passamos o ano dizendo que tínhamos um bom grupo, que havia demorado para engrenar e que precisávamos apenas de peças em locais específicos. Acabam-se os campeonatos e – diferentemente da maioria dos profissionais do futebol – a direção colorada anuncia fazer o óbvio. Como ninguém tinha pensado nisso antes? “Precisamos de laterais”, bradam torcedores, comentaristas, porteiros, cobradores, corneteiros, sócios, todos! A primeira ação do Píffero foi qual? Procurar – e praticamente anunciar – laterais: esquerdo e direito. E isso não só na questão laterais. “O Nilmar ta sozinho”, “se o Tite ganhar a Sulamericana, merece ficar”, “o time só precisa ser mantido, precisa de tempo”. Atacantes são procurados, Tite é mantido, Guinazu é mantido, a base fica. É disso que precisamos. Talvez, nada disso dê certo. Talvez, os dois laterais contratados fracassem. Talvez, Tite não seja o técnico perfeito para o Centenário. Mas eu duvido que alguém reclame hoje, realmente achando que isso não vá funcionar. A probabilidade de acertar fazendo óbvio é muito maior do que acertar inventando. Mas a maioria dos que trabalham com futebol parece não entender isso. Os nova-iorquinos entendem.

PS: Realmente foi impossível escrever o texto para a semana passada. Agradeço ao literato Balakka pelo texto substituto. É um orgulho ter uma falta suprida com tanta maestria.

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