segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Toda a Síria ama Messi.

Por Raphael Castro


É possível que a cena tenha passado despercebida pela grande maioria, mas não, definitivamente não a este que vos fala. Rolava então aquela dorzinha de cotovelo básica por não estarmos lá em Abu Dhabi no sábado (“incrível a audácia destes castijos”, pensei eu, “jogando de branco só porque é com o Barcelona...”).

Sim, revelação

Quando já iam altas as minhas conclusões sobre o jogo – inclusive com a certeza absoluta de que só um clube neste planeta seria páreo para os catalães naquelas circunstâncias -, apareceu aquela imagem, límpida, cristalina, plena de simbolismos: vestindo uma camiseta azul-grená com o logo da UNICEF gritando em amarelo, uma senhora rechonchuda, com feições nitidamente árabes, levantou para as câmeras do mundo inteiro uma cartolina feita a mão, na qual se lia que “all Syria (coração) Messi”...

Mas what the...

Pensemos bem: o que teria levado aquela respeitável torcedora a agir daquela forma? Afora a muito improvável possibilidade de se tratar de uma ardorosa e obstinada fã do Barça, a imagem traduz à perfeição o futebol moderno e, principalmente, a sua gestão competente; é fato que a grande maioria do estádio era francamente a favor dos comandados de Pep Guardiola (e olha que eles estavam de...rosa) – para quem quiser pensar que as comemorações depois na Avenida Diagonal iam ficar desfalcadas, ema, ema ema; mas não nos enganemos, estimados(as) leitores(as): o Barcelona empatou o jogo a um minuto do final, naquele gol de pelada, não pelos milhares de ônibus que saíram de Girona e da Costa Brava, mas (i) em função do vacilo incrível da zaga platense e, mais importante, (ii) pelos milhares de Habibs que estavam ali emprestando os seus gogós também para xingar o General Franco.

Pois é

Confesso que até estava gostando do resultado: acho que seria um tremendo prêmio para Brujita Verón - fora que, enquanto o Barça perdia, a narração da partida não cansava de lembrar...do Inter.

Pois é 2

E aqui vamos finalizando, mas não sem antes deixar uma reflexão: quanto vale as tevês do mundo inteiro lembrarem que o Barça havia perdido este título três anos antes, para um time brasileiro, chamado Sport Club Internacional, que, vejam só, também vestia branco, etc., etc. e tal e coisa? Quanto ganha um clube em reconhecimento e receita pela simples divulgação passiva de ter estado lá em 2006 e ter subjugado estes mesmos astros do futebol mundial? A questão é da maior importância para nortear os objetivos do clube e da direção este ano. Sem erros, então, pois dá pra chegar lá de novo, coloradagem...

Até 2010

Então era isso. Ano que vem eu quero ver a arquibancada coalhada de burcas vermelhas - dou de lambuja também uma senhora ou um barbudão à la Bin Laden lá no meio, mostrando orgulhoso ao mundo um cartaz onde se lerá “Andrezinho, we love you...” (como diria o meu cosmopolita, poliglota, viajado e largadão avô, S.Assis P.Ererê,“vem cá, tchê, não tem aí um quibe de costela gorda...?”).

Tópicas: boas entradas

Boas festas e excelente 2010 aos colorados e também aos nossos amigos do “jogo do contente”....!!

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé)."

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Uma nova esperança.

Por Gustavo Foster


Mário Sérgio cumpriu o prometido. Veio, ficou nem quatro meses, nos deu a vaga para a Libertadores e foi pescar no interior paulista. A escolha pelo “Vesgo” havia sido acertada. Acertada também foi, a meu ver, a contratação de Jorge Fossati.

Vários elementos, direta ou indiretamente referentes ao uruguaio, me fazem comemorar a vinda do técnico ao Internacional. O primeiro fator é justamente o fato de o novo treinador colorado ser estrangeiro. Eram especuladas as vindas de Luxemburgo, Muricy, Abel, Dorival Júnior. Bons treinadores? Alguns mais do que outros, mas todos figuras já recorrentes. A chegada de um estranho no futebol brasileiro é definitivamente um acontecimento novo. E acredito que uma tentativa de inovação nunca pode ser vista como algo ruim. Píffero e Carvalho mexeram em uma realidade que, há muito, estava em marasmo. Louvável.

Fossati chegou à capital nesta última segunda. Elegante, sóbrio, de simpatia moderada, concedeu entrevista coletiva, comentando sobre a forma que gosta de formar seus times, como trata seus jogadores e os adversários na Libertadores. O que se pôde notar foi um homem que quebra paradigmas já instaurados nas entrevistas pós-jogo. Diferente de Muricy Ramalho, consegue demonstrar claramente suas convicções, mesmo que divergentes, com educação. Ao contrário de Wanderley Luxemburgo, apresenta elegância e conhecimento sem vomitar arrogância. Não força amizade com os repórteres, muito menos inimizade. Não cometerá devaneios ofensivistas, tampouco retrancas homéricas. Um homem equilibrado, portanto.

No que diz respeito diretamente a seu trabalho em campo, o uruguaio demonstrou conhecimento importante sobre o elenco colorado. Citando por diversas vezes jogadores como Índio, D’Alessandro, Kleber e até Daniel, deixou claro que acha imprescindível o contato e a intimidade com o grupo. Ao mencionar que deseja “conhecer plenamente o grupo até o final de dezembro”, apresenta um interesse que pode andar de mãos dadas à vontade do Inter de vencer novamente a Libertadores. Libertadores, esta, que Fossati ainda não conquistou.

É importante analisar, também, os bons retrospectos do treinador em seus clubes anteriores. Respaldado por alguns títulos nacionais, e pelas recentes conquistas da Sulamericana e da Recopa com a LDU, Fossati provavelmente imporá respeito no vestiário. Parece ser um profissional centrado, sério e competente.

Basta, agora, esperar que comece o trabalho de Jorge Fossati no Inter. A expectativa é grande, a mobilização parece ser grandiosa em direção à Copa Libertadores. O grupo será mantido, reforços virão, a torcida está ansiosa e cobrando, mas de forma otimista, e não há o peso da necessidade de sucesso no Centenário. As chances estão todas aí. Fossati precisa, a partir de seu primeiro turno de treinamentos, sair da expectativa e ir em direção ao resultado.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Agora é Guerra 2, a Missão.

Por Daniel Ricci Araújo


Para chegar ao bi da Libertadores em dois mil e dez, o Inter precisará de bem mais do que grandes contratações, vestiário disciplinado ou um novo treinador. Antes de reformar o time e suas circunstâncias pontuais, o clube precisa resgatar um pouco daquele espírito um tanto adormecido de dois mil e seis.

Neste ano, muitos dos pontos perdidos responsáveis por nos tirar o título de campeão brasileiro vieram por verdadeira falta de indignação com o resultado. Não que o Inter viesse sendo uma equipe de fazer pouco caso ou entregar partidas. Faltava, isso sim, algo além da mediania habitual, do senso comum, até da reles acomodação de cada dia: o Inter precisava tomar um choque e manter-se eletrocutado por uns seis meses. Como isso não ocorreu, do pouco até se fez muito e acabamos com o vice-campeonato, prova de onde esse time pode ir se almejar um título com uma santa, verdadeira e necessária fúria homicida.

Ora, admitamos: foi com a faca entre os dentes que o Inter cavocou sua vaga na Libertadores dentro de um Mineirão lotado há coisa de quinze dias atrás. Foi pensando no título possível que não tomamos conhecimento do Santo André, e fizemos quatro como poderíamos ter feito meia dúzia ou mais. Quando se depara com a necessidade vital de ganhar, de encarar um sim ou sim daqueles que definem vidas e campeonatos, o Inter vira algo como o time que a torcida quer.

E aí está o maior reforço possível para a Libertadores da América, a competição fundamental, ao nosso alcance e que pode cair na vida diária da província com o peso de uma bomba nuclear de fazer correrem em debandada os banheiros químicos que porventura tenham sobrado pelo Pampa afora. A opinião geral aponta e qualquer um sabe: perder ou vencer é do jogo, mas o Inter está na Libertadores para ser campeão. Não há um mísero conhecedor de futebol, por menos que dele saiba, capaz de negar essa nossa condição – e que faz desabar em um pânico convulsivo e mal disfarçado uma parcela importante e receosa da população gaúcha.

Então, voltando. O espírito de querer custe o que custar, se ressuscitado entre nós, será mais importante do que a mais bombástica das contratações.

Não viremos as costas aos defeitos do time, por favor: um zagueiro de velocidade, um lateral-direito e um grande atacante são necessários. Não se faz futebol sem qualidade. Mais fácil seria dar vida a dez clones de Guiñazu, mas mesmo assim, nada pode acudir mais o Colorado rumo a outro Mundial do que um espírito pronto para a luta. Em termos de gana, de vontade de vencer, em matéria de a bola representar um prato de comida, o último e derradeiro prato de comida possível, o Internacional precisa revisitar dois mil e seis. Sejamos cinematográficos: chegou a hora de um “Agora é Guerra 2, a Missão”.

A diretoria do Internacional pode e deve ter pecado em alguns aspectos, mas não se lhe pode retirar uma qualidade indiscutível: ela sabe o caminho. É preciso reinventar-se, rever-se, reavaliar-se e daí extrair as mudanças essenciais que farão do Inter um time pronto para erguer de novo a taça mais importante do continente. Mas nada disso será feito sem uma dose grande de espírito, ou por outras palavras: o Inter precisa de novo apaixonar-se pela Libertadores. O sangue quente e obsessivo de três anos atrás precisa voltar a correr pelas nossas veias famintas de mais e mais glória continental.

O cenário está armado, e o Inter é um de seus grandes protagonistas. Se nos dermos conta de encarnar essa necessidade vital que é a de querer mais do que qualquer um possa querer, tenho fé - o bicampeonato da América há de estar logo ali à frente.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

E que tudo mais vá para o inferno!

Por Marcelo Benvenutti

Imagino que o Mário Sérgio, novo mais rico do Beira-Rio, 500 pacotes no bolso, deve colocar o Andrezinho na função do Andrezinho. Maldosamente, nem tanto, eu que tanto defendi D'Alessandro aqui neste espaço, tenho que admitir que ele deveria substituir o Guiñazu pelo Maicon mesmo, que seja, e deixar o portenho no banco. D'Alessandro é um sujeito que qualquer um que prestar atenção notará que ele tem o potencial de saber o que fazer com a bola. Só que não faz. Por que não faz? Não sei. Perguntem pra ele e aguardem uma resposta. Pesquisando descobrimos que foi assim em todos os times que passou. Por isso não se firmou em nenhum. Por isso não foi épico, apesar de ter atuações memoráveis, em nenhuma equipe que passou. D'Alessandro, com o perdão das comparações para os mais puristas, vai ser lembrado na história colorada como hoje lembramos Caíco.

Caíco era o 10 do povo. Da coréia. Da massa abstrata abismada embasbacada. Caíco era festa. Drible. Gols memoráveis. Caíco humilhava os adversários. Caíco era uma nesga de luz na sombra da Idade Média colorada. Caíco foi o herói de 1992. D'Alessandro, de 2008. Um trouxe uma Copa do Brasil auxiliado pelos gols do Gérson, goleador nato, precocemente morto. D'Alessandro deu show na Sul-Americana. Humilhou. Labobeou todos pela América. Mas ambos perderam-se em atuações medíocres. Perdidas. Atuações beirando a manemolência do futebol carioca mais arcaico e misantropo. D'Alessandro dribla, é cercado, dribla de novo, erra o passe, olha pro juiz, levanta os braços e troteia a la Fabiano Cachaça, mas sem a explosão que fez do último um gênio da raça.

Por essas e outras que Andrezinho deve ser o titular. Deve ser o titular mas deve ficar no banco de olhos vendados até o começo da partida. Mário Sérgio deve tirar suas vendas, e apropriadamente dois tampões de ouvido, só na hora dele entrar em campo. Deve dizer no pé de seus ouvidos que já passam dos 20 do segundo tempo. Andrezinho é o nosso Seabiscuit. Mário Sérgio, frequentador assíduo dos cavalinhos, deve conhecer bem o tipo. Só assim Andrezinho entrará em campo atropelando, dando passes certeiros, fazendo cruzamentos precisos e cobrando faltas que fariam o master Marcelinho Carioca babar do outro lado da quadra, quer dizer, do campo. Andrezinho tem o poder mítico dos sofridos. Dos reservas no canto do banco. Andrezinho é tão rodrigueano que nem parece ter sido criado na Gávea. O coxa-colada mais amado e ignorado do Brasil.

O Santo André lutará certamente. Mesmo que não valha bater a bola nas placas de publicidade como no Showbol, mas lutará. Não pensem que será fácil. Não para este Inter. Para este Inter forjado em um mina de diamante e que gerou um belo saco de carvão pro churrasco depois da pelada de quarta-feira. Mas, com vontade e um pouco de reza, quem sabe para Santo André, o padroeiro dos pescadores, e consigamos pescar nosso sonho. Que Alecsandro, o grilo falante, pare de falar como um Pinóquio e faça gols. Que Sandro, futuro craque da Premier League, se despeça com honrarias. Que Lauro faça o óbvio. A zaga não se estresse à toa. E que deixem alguém cobrindo as subidas do Kleber porque talvez ele seja o nosso camisa 10. Imaginem só se Alex continuasse na lateral?

Enfim, encerrando a temporada, com humildade na medida certa e jogadores concentrados em vencer de qualquer jeito e por qualquer placar, alcançaremos o objetivo que nos restou em 2009. Garantir um lugar direto na fase de grupos da Libertadores de 2010. Sem volta olímpica. Sem choro. Simplesmente uma vitória no fim de tarde modorrento de dezembro em Porto Alegre. E, como diria Roberto Carlos, não aquele da ajeitada no meião: E que tudo mais vá para o inferno!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O Grêmio não vai entregar.

Por Andreas Muller


Souza cometeu o desatino de ir aos microfones com insinuações de que o Grêmio entregará a vitória ao Flamengo na rodada derradeira deste Brasileirão. Tcheco foi mais sutil: declarou-se feliz por não ter esse “problema” nas mãos, mas fez questão de lembrar um suposto corpo-mole institucional protagonizado pelo Inter em um confronto com o São Paulo no ano passado. E assim têm sido os gremistas desde o apito final do último domingo. De vossa majestade Duda Kroeff ao mais plebeu de todos os geraldinos, todos fazem questão de impregnar o ar com este cheiro de dúvida e de enigma, como se todos estivessem conspirando algo por trás das cortinas do reino da dupla Gre-Nal.

Tudo isso é muito cômico, para dizer o mínimo. O Grêmio passou o campeonato inteiro sendo açoitado por todos os adversários que encontrou fora do Olímpico – inclusive os muito fracos. Mesmo assim, aí estão os gremistas, agora, agindo como se a esquadra tricolor fosse plenamente capaz de segurar o Flamengo dentro de um Maracanã em chamas. No delirante imaginário tricolor, vencer ou perder diante da irresistível força rubro-negra é uma simples questão de... escolha! Para surpresa de todos, o Grêmio deixou de ser aquele bichinho inofensivo fora de casa.
Agora, na última rodada, o Grêmio se tornou uma máquina, um verdadeiro moedor de carne que até pode derrotar o Flamengo e só não o fará porque – vamos rir juntos – não quer.

Ora, sejamos realistas: o Grêmio não vai entregar. O Grêmio vai simplesmente perder. Porque é ruim. Porque exala ruindade pelos poros e por cada furinho do dry-fit das camisetas da Puma. O Grêmio vai perder porque, jogando fora do Olímpico, é limitado nos discursos e até nas suas maiores pretensões. A polêmica em torno de entregar ou não entregar é apenas uma grande jogada de marketing: é a primeira vez desde o início de 2009 que se dá importância ao Grêmio fora do Rio Grande do Sul.

Conformem-se, amigos: o Grêmio será atropelado pelo Flamengo da mesma forma que seria atropelado por qualquer outro time neste Campeonato Brasileiro. E isso não tem nada a ver com a falta de ambições do Tricolor no certame. O Grêmio poderia estar disputando o título ou a fuga do rebaixamento e o adversário poderia ser a seleção de reservas do Asilo Padre Cacique. Mesmo assim, o Grêmio esmoreceria fora do Olímpico e entregaria os três pontos. É algo que está além da vontade da torcida, de dirigentes ou jogadores. É algo que está incrustado na camiseta tricolor e não pode mais ser negado: o Grêmio, hoje, é apenas um ilustre coadjuvante no futebol brasileiro. E sente-se muito bem nesse papel.

Quanto ao Inter: não cabe à diretoria colorada reclamar da derrota inevitável do Grêmio. O Inter deveria apenas se resignar com a vaga na Libertadores e resguardar-se ao mais profundo e digno silêncio. Mais uma vez, perdemos esse título para nós mesmos. Resta torcer para que a diretoria aprenda com os próprios erros – que vêm se repetindo desde 2007, cronicamente – e saiba planejar todo o ano de 2010 sem cair de novo na tentação do desmanche milionário. Do contrário, em breve seremos nós que estaremos na infeliz posição de se “auto-secar” na busca de algumas migalhas de alegria.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Culpem o Gum!

Por Thiago Marimon


A data é treze de junho de 2009, sexta rodada do Brasileirinhas 09. Um Inter recheado de reservas, em meio à decisão do título da Copa do Brasil, recebe o Vitória. O placar não sai do zero. Ingênuos, não sabíamos. Mas naquela tarde fria de domingo, o Colorado, que dias após perderia a decisão da Copa para o MSI, também deixava escapar os DOIS PONTOS que nos separam do campeonato nacional.

Uma luta árdua esta de não sagrar-se Campeão, é bem verdade. Face à inaptidão para a glória de nossos adversários, tivemos que nos esforçar deveras para não trazer para Porto Alegre este caneco que ninguém queria. Mas o colorado persistiu e, quase quarenta e cinco dias depois de empatar em casa contra o rubro-negro baiano, novamente no Gigante da Beira Rio, este mesmo Inter, agora completo, após terminar o primeiro tempo vencendo por 2 x 0, permitiu que o São Paulo de Hernanes e Jorge Wagner chegasse ao empate. Assim como permitiria dias depois que o Santos, na Vila Belmiro, igualasse o placar, apesar da noite inspirada de Alecsandro. Deixando pares de pontos pelo caminho.

Nesta luta inglória nem as entidades ficaram incólumes. São Pedro, este herege, tem também sua parcela de culpa. Justo ele que, enquanto setembro se aproximava do fim, fez Porto Alegre emular um Arroio Dilúvio gigante, impedindo, juntamente com os interesses televisivos globais, que Inter e Flamengo jogassem algo parecido com futebol naquela tarde chuvosa de domingo, onde o placar também não saiu do zero. E nem poderia.

Já era outubro, o campeonato se aproximava do fim, mas o rol de culpados não parava de crescer. A bola da vez o Atlético-PR que, lutando para sair do Z4, veio ao Rio Grande e nos tomou mais DOIS IMPORTANTES PONTOS, em dia de muita transpiração e pouca inspiração para o pebolim.

E assim chegamos na cereja do bolo (Pelaipe:2008). Já passa da metade do mês de outubro e o Inter vai ao Rio de Janeiro enfrentar um desacreditado Fluminense, então candidato de onze em cada dez torcedores ao descenso à divisão azul no final da temporada. Tudo segue conforme o combinado. Os vermelhos dominam e vencem até os quarenta e um minutos da etapa final. Momento no qual Diguinho arma a jogada, Sorondo espana o taco e GUM, aquele mesmo que outrora fora escorraçado da Padre Cacique por completa inaptidão para o ludopédio, marca o gol de empate. O gol que desacreditou a torcida e nos tomou os DOIS PONTOS que, com a chegada do natal, tanta falta fazem.

Depois disso, ainda deixamos mais alguns pelo caminho. Como em Barueri, quando naquela tarde de pataquadas de Lauro e falta de pontaria de Andrezinho, ficamos no um a um. Mas àquela altura tudo não passava de encenação, o crime já estava feito e atendia pela onomatopéica alcunha de Gum!. A esperada quarta estrela não viria mais para Porto Alegre. O Inter deixava, abdicava deste caneco que por tantas rodadas buscou um time para chamar de seu. Naquele momento estava cumprida a missão de não encerrar o ano como Campeão Nacional.

E aí está a última rodada deste interminável certame que não me deixa mentir sozinho.

Agora as notícias dizem que estamos na mão do nosso maior rival. Que tudo depende do tricolor, alguns chegam ao ponto de falar em dignidade do Grêmio. Que dignidade, cara pálida?! Por que falar em dignidade quando tratamos de um time que passa o ano inteiro amarelando fora de casa, que com a vitória de hoje recebeu o título de maior time caseiro da história dos pontos corridos? Que tem parcela de sua torcida torcendo contra há algumas rodadas, que canta “Meeeengo!” na saída do jogo e tem Souza bradando aos microfones que entregará o jogo no Rio de Janeiro. Que dignidade, meus caros?!

Reclamem do GUM, culpem a direção que, mais preocupada com os cofres do que com a tabela, vendeu o time com o bonde andando e bancou a permanência de Tite por infindáveis rodadas. Reclamemos de D’alessandro, que jogou com vontade apenas dez por cento do campeonato, de Alecsandro, que ainda acha que é Nilmar. Reclamemos do juiz, de Fernando Carvalho, do Corinthians, do Papa, mas não do Grêmio. Pois este não ganharia do Flamengo, que vem de uma sequência de vitórias contra Palmeiras, São Paulo e Atlético MG, no Maracanã lotado, no jogo do título, nem se quisesse ou precisasse, nem se tivesse três goleiros. Nem parindo um elefante!

A glória de nos tirar o caneco não é do Grêmio.

Nem esta glória é do Grêmio.

Saudações Coloradas...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Telemarketing.

Por Marcelo Benvenutti


- Alô?- Bom dia. O senhor Internacional, por favor?

- Quem é?

- É o Sport Club Internacional?

- Sim. É ele mesmo. Quem é?

- Bom dia, senhor Internacional. Estamos apresentando um produto para o senhor. É o Campeonato Brasileiro. É um modelo novo. Pontos corridos.

- Campeonato Brasileiro? Não preciso. Já tenho três.

- O senhor já tem três?

- Sim, senhora. Temos três. 1975. 76 e 79. Tu deve ser muito nova. Não lembra.

- Pois bem. Só que este campeonato que estamos oferecendo agora para o senhor é um novo modelo. Como já falei, é por pontos corridos. Um turno de ida e outro de volta. A equipe que mais pontuar ao final dos turnos é considerada campeã.

- Campeã? Assim, sem jogo extra? Sem mata-mata? Sem pênaltis?

- Não. O senhor tem que ver que este produto é inigualável no mercado. O Argentino, por exemplo, se por acaso o senhor estivesse interessado, custa a metade. Mas não é a mesma coisa. A verba da TV é menor. Os craques vão para a Europa ...

- Mas aqui também vão.

- Bom, o senhor tem que ver que para adquirir o nosso produto uma das condições é manter os craques. O senhor tem craques?

- Tenho. O D'Alessandro ...

- D'Alessandro. D'Alessandro, D'Ale ... não consta no nosso catálogo. O senhor tem certeza que é craque?- Comprei como se fosse um.

- Bom, o senhor é que sabe. Para adquirir nosso produto um craque que seja é necessário.

Oferecemos ao Palmeiras, ao Atlético Mineiro, São Paulo e Flamengo. O Flamengo tem craque. Nos fez uma proposta irrecusável. O Palmeiras não retornou as chamadas. E o Atlético desistiu na última hora.

- E o São Paulo?

- Não tem craque, mas também não está no Serasa como o Flamengo.

- Nós também não estamos.

- Não consta do seu cadastro.

- Eu sei. Bom, se é para ter craque, garanto que o D'Alessandro é craque. O Giuliano também. E ainda tem o Sandro.

- O senhor tem que convir que nenhum destes consta de nosso catálogo. Mas vamos confiar na sua palavra. Então, podemos contar com o senhor para adquirir o nosso produto?

- Quem nos indicou?

- O Sobrenatural de Almeida. da parte do senhor Nelson Rodrigues.

- O Nelson? Rodrigues? Torcedor do Fluminense?

- Esse mesmo. Tem nos consultado muito ultimamente. Mas por outro produto. De segunda, diga-se de passagem.

- Hmmm. Sempre foi um bom freguês. Vamos pensar no assunto.

- O senhor não pense muito. O produto está acabando e novas ofertas só serão aceitas em agosto do ano que vem.

- Agosto, é? Não é um bom mês para fechar negócios. Pode me ligar na segunda? Na segunda nós não trabalhamos.

- Pode ser domingo? Por volta das cinco da tarde?

- Cinco da tarde? Vou estar ocupado. Mas ligue assim mesmo. Talvez até lá eu tenha decidido.

- O senhor é que sabe. O produto é bom e damos garantia.

- Garantia? Por quanto tempo?

- Praticamente uma eternidade.

- Eternidade, é? Bom. Nós somos eternos. Ligue domingo.

- Obrigado pela atenção, informamos que esta ligação foi gravada e quaisquer dúvidas o senhor pode nos direcionar depois pelo nosso site www.impossível.com.br. Até mais!

- Até!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Inter sendo o Inter.

Por Daniel Ricci Araújo

Meus amigos, que maravilha!

Muitas vezes, os jogadores e dirigentes subestimam a experiência do torcedor no futebol. “O torcedor é passional”, bradam alguns. “Injusto”, falam outros. “A arquibancada só vê o lado ruim da coisa”, ainda completam certos arautos. Vamos e venhamos: que sacrilégio. Mesmo com seus defeitos endêmicos, com sua visão de apaixonado delirante, o torcedor é o rei do espetáculo. Mais do que ver, ele dramatiza o jogo e sente-o como uma fratura exposta, ainda mais quando está à frente de uma partida decisiva como a do último domingo, no Mineirão.

Fato: durante uma parte do campeonato, o Inter vinha jogando miseravelmente sem ser o Inter. Perdemos certas partidas por adotar a postura de um time medroso, manhoso, acabrunhado, mais cheio de pudores do que um colegial ardendo de puberdade ao encarar a vizinha pela fresta da janela. Era terrível: o Inter vinha num medo convulsivo de ser feliz. Mesmo quando ganhava ou empatava, tinha ares de uma acomodação interminável. Até que um dia, do nada, no momento mais necessário do campeonato, a letargia some, ou melhor: a letargia vai plantar batatas na esquina.

Chega o momento de ir ao Mineirão lotado para praticamente decidir uma vaga à Libertadores. Durante a semana a torcida expunha o medo de que o time se retraísse, se desgovernasse e periclitasse morrendo à míngua na grama alta das alterosas mineiras. O próprio Mário Sérgio falava em jogar na defesa. Mas então se inicia o primeiro tempo, e o blefe monumental está maravilhosamente configurado: o Inter vai à frente, toca a bola no campo do Atlético, comporta-se claramente como o time dono das ações, que joga e faz jogar. Qualquer leigo, ao assistir aquele primeiros lances esparsos, diria sem hesitar: o time de vermelho é o melhor. Até que enfim, habemus equipe: o Inter estava sendo o Inter de novo.

Conduzido por Guiñazu, Sandro, D’Alessandro e Giuliano (que quarteto!, que quarteto!), o Colorado vence o jogo, dita ritmo e dá cátedra. Temos uma equipe claramente superior em campo: não há torcedor colorado que, agora, não enxergue isso e aplauda o time. Naquele momento, o torcedor indignado com a covardia de outros momentos está seguro: o Colorado repetia contra o Galo uma atuação muito parecida a da derrota injusta contra o São Paulo – e por falar nisso, já naquele tremendo azar no Morumbi o time fora mais aplaudido do que em muitas outras vitórias duvidosas.

O Atlético-MG está empurrado por uma massa fanática e interminável, e pressiona: o Inter mantém-se seguro e continua com a bola. Não há a menor dúvida de que, nas arquibancadas lotadas do Mineirão, todos sentem a enrascada na qual se metera o time da casa. Grande Inter! Inter de força, de tradição, Inter de calar grandes estádios em jogos decisivos e de grandes consagrações, como a de anteontem! Joguem fora as pranchetas: o futebol da arquibancada é um jogo empírico e emocional. E esse é o time o qual a torcida quer ver e ter de volta.

Os analistas talvez dirão o seguinte: Mário Sérgio teve uma recaída e mexeu errado ao tirar D’Alessandro, e com isso condenou o time a muitas dificuldades no segundo tempo. Estão certos, penso eu. Mas na dificuldade do jogo ainda mais sobressaltada, aí o Inter pode ensaiar uma ponta da consistência defensiva que se espera dos projetos de grandes equipes. Abaixo o mais do mesmo, a retranca feia, insossa e manca praticada por mais de metade do campeonato como medíocre filosofia de vida!

Atrapalhado pelo equívoco do comandante, o Inter teve então a brecha para tornar-se heróico. Há bicos e bicos na bola - a torcida, que sente o jogo, sabe disso. E depois de terminado o sufoco, nunca se vira um acidental ferrolho ao Deus-dará ser tão saudado numa segunda feira adentro como estratégia perfeita e acabada. Vencedor da partida improvável e terminal, o Inter fora de novo o Inter. Meus caros, eis a verdade: o torcedor conhece o jogo e aplaude o que viu.

É isso é tudo o que ele precisa saber.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

No creo en las brujas, pero...

Por Marcelo Benvenutti


O Internacional de 2009, do segundo semestre, um dos times mais brochantes dos últimos anos que passou pelo Beira-Rio, não pela qualidade intrínseca de seu grupo, mas pela falta de aplicação dentro do campo como deveria ter a de um clube como o Inter, corre o seríssimo risco de, acreditem, ainda terminar o ano em alta com a torcida.

Não que eu acredite que terminar o ano com a vaga (valeu aí, Rospide) seja um grande objetivo. Ainda mais se a vaga for a da repescagem da Libertadores, mas, mesmo assim, é bem menos pior que aguardar o sorteio da CBF pra ver se viajaremos à Rondonópolis, Ji-Paraná ou Campina Grande. E o campeonato de 2009 está tão absurdamente descontrolado que se a pedra cair no Papa-Léguas é capaz de o Coiote comer frango com polenta na janta.

O sempre vivo São Paulo se mantém, mesmo que não jogando lá essas coisas, na ponta. O Flamengo, que vem atropelando com a simplicidade do Andrade e a genialidade de Adriano e Petkovic, tem "sustança" pra atropelar também os tricolores paulistanos. O Palmeiras do Muricy deu uma ré e atropelou ele mesmo, os amigos, a família e o doguinho do vizinho. O Galo do Roth vem cambaleando mais que galo de rinha detonado de esteróides, levando lambada e bicada de tudo quanto é lado. O Cruzeiro segue tropicando nos jogos mais improváveis e orbitando às margens do G4. Restam o Inter e o Avaí.

O Avaí? Sim, o Avaí. Três compromissos relativamente mais fáceis e o Avaí chega a 62 pontos. Parece improvável, mas não impossível. O Avaí ainda está vivo para terminar o campeonato no G4. Os outros abaixo ou jogam pela camiseta ou pela mala branca. Grêmio e Goiás ainda podem cometer alguns crimes. Daí pra baixo só o "imortal" Fluminense é que pode incomodar os outros jogando futebol além do óbvio daquele que esperam pelo décimo quarto salário de jogador desesperado.

E ... o Internacional. O Internacional! O que poderemos esperar do nosso Internacional? Tudo! E nada! Poderemos esperar ganhar as 3 e beliscar as primeiras posições? Poderemos ser campeões numa inusitada combinação estapafúrdia de resultados paralelos? Poderemos virar cabeça de chave no sorteio da Libertadores? Poderemos, enfim, vislumbrar alguns jogadores, figurões ou promessas, mostrando para que vieram e suando, sangrando e lacrimejando de dores para que o Inter vença? Sim! Poderemos!

Assim como poderemos não jogar nada, entregarmos partidas contra equipes rebaixadas, fazer fiasco, enterrar promessas, sepultar nomes e sobrenomes de beladonas do grupo e escutar as mais notáveis desculpas esfarrapadas da história que depois serão publicadas em um compêndio autografado pelo Píffero e o Fernando Carvalho depois de sustentarmos um glorioso sexto lugar ao final de tudo. Sim! Também é provável que isso aconteça. Ou, como diriam os gênios Cleber Machado e Caetano Veloso, não.

Sem nada a acrescentar, digo que minha mente racional me ensina que podemos nos classificar para a Libertadores e gremistamente comemorar com volta olímpica dia 6 de dezembro esta gloriosa conquista ou terminarmos em um inodoro quinto lugar. Minha mente ilógica de torcedor me diz que tudo pode acontecer, inclusive jogarmos bem e a torcida voltar a lotar o estádio e aplaudir os jogadores ao final dos 90 minutos, reavivando nossas esperanças abortadas para 2010.

No creo en las brujas, pero...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Que não falte coragem no Mineirão.

Por Daniel Ricci Araújo


O maior problema do Inter para o próximo domingo, nessa autêntica final de campeonato que nos aguarda no Mineirão, é que um empate pode acabar sendo bom resultado. Sim, meus caros, quem diria: uma crespa igualdade no placar pode manter o Inter na zona da Libertadores antes de dois jogos com times já rebaixados. Basta o Cruzeiro não vencer o Atlético-PR em Curitiba. Esse, talvez, seja o nosso maior empecilho.

É simples. A busca do empate é o maior convite à mediocridade do futebol atual. Aí está o meu receio.

Convenhamos: Mário Sérgio já demonstrou que é muito mais afeito a retrancar o time em vez de fazê-lo buscar o resultado. Contra o Santos, foi o Inter sofrer o gol de Neymar e pimba: o homem tascou Glaydson no time pouco tempo depois. Em outras partidas a mesma postura cautelosa em excesso nos prejudicou, e contra o Fluminense, no Maracanã, o Inter só começou a jogar algo parecido com futebol após a entrada de Marquinhos. Pena que havia um Gum pelo caminho. Ou melhor, dois.

Agora, no Mineirão, o Inter precisará ser o time que se espera ele seja desde janeiro. Está na hora de botar a artilharia em campo. Chegou o momento de D’Alessandro, Kleber, Índio, Bolívar e Sandro – todos ou badalados, ou históricos no clube – mostrarem que estamos no momento de separar as crianças dos homens. É decisão. Vale muito, vale vaga na Libertadores, e com o poderio atual deste imenso clube, nós somos sempre time que se entra na Libertadores é para ganhá-la ou beliscar a taça, e ponto final. A coisa é séria, jogadores. Chegou a hora de decidir. No próximo domingo, faca entre os dentes é pouco.

No entanto, palavras ao vento não vão mudar muita coisa. O Inter tem de ir a campo com uma formação racional e que ataque, e não pouco. Qualquer chance de sucesso, na minha opinião, passa necessariamente pela presença de dois meias e dois atacantes. Nada de Alecsandros isolados (até porque mesmo acompanhado a coisa já é complicada...), nada de “aproximações” virtuais dos “volantes-meias”, nada de apostar nas subidas de laterais constantes porque, até agora, o Inter de 2009 não conseguiu isso com regularidade. O colorado tem de ir para a frente com a bola, e ir para valer. Temos time para ganhar, e temos que jogar para ganhar!

Sejamos claros e didáticos: D’Alessandro, Giuliano, Marquinhos e Alecsandro precisam sair jogando, e Edu deve ser guardado para o segundo tempo se for necessária uma jogada extra de velocidade. Não quero ver o Inter precisar marcar gols sem atacantes em campo. Aliás, sobre Marquinhos, uma coisa é evidente: o titular agora é ele, e Taison é seu reserva. Ponto. Será inadmissível se Mário Sérgio optar pelo segundo em detrimento do primeiro. Até acho que não o fará, porque seria algo perto do inexplicável.

Qualquer torcida de qualquer clube de futebol sabe o que ocorre em noventa e cinco por cento das oportunidades nas quais seu time entra em campo para empatar. Posso admitir uma derrota no Mineirão lotado, para o bom time do Atlético? Claro que posso. Mas não terei compaixão na análise se perdermos de maneira covarde, com trinta volantes em campo e dando bicos para o alto, esperando o jogo acabar. Está na hora de querer mais, bem mais do que o adversário, queira ele o quanto quiser.

O Inter tem que se fazer forte em Belo Horizonte. Forte, cascudo e pronto para tudo. Precisa estar atento atrás, óbvio, mas também tem de sair para o jogo para que os mineiros tenham medo e não se joguem com tudo para a frente. Sim, o filósofo estava certo: a melhor defesa é o ataque. Acomodar-se atrás perante oitenta mil atleticanos será algo como esperar um empate convencional que só por milagre virá. O Inter tem que se defender austeramente, quase de bombachas, e atacar veloz, montado em esporas, cortando o vento. Com a bola, para a frente! O resto é consequência.

O Inter está diante da sua final particular. Por isso, que não falte coragem no Mineirão.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Onde surge o amanhã...?

Por Raphael Castro


A esta altura do apocalipse, os(as) caros(as) leitores já devem ter se dado conta de que há pelo menos dois clubes que estão literalmente implorando para não ficar com o caneco de 2009: o Palmeiras e o...Inter. Melhor seria dizer que ambos parecem ter verdadeiro horror ao título, a julgar pelo que têm feito nas últimas rodadas. De fato, o morde-assopra colorado poderia até dar nome a filme pornô (já pensaram? “G4: entra-e-sai...”).

Necas

Bem, a despeito das boas administrações e de uma já identificável “forma de pensar o futebol”, a verdade é que não temos muito o que mostrar ao mundo desde o paraíso de Yokohama. Não sei quanto aos(às) que lêem, mas o que me ficou daquela época foi a cara inchadona e vermelha do Abel desembarcando no Salgado Filho: o futebol empachado que o Inter praticou em 2007 foi o retrato fiel da expressão do nosso treinador ao descer do avião. Resultado: “agora sim, vou poder trabalhar” – seguramente, uma das frases mais infelizes já proferidas por um dirigente do Internacional -, e um técnico aprendiz de feiticeiro, que, talvez influenciado pelo próprio nome, nos deixou com um futebol meio “galináceo”...

Necas – parte II

Mas, mostrando toda a convicção dos nossos timoneiros, Abelão, o Terrível, foi chamado de volta, ainda que (1) tenha jogado pela janela uma Libertadores a golpes de goleada em Buenos Aires e de Michel em campo, e que (2) tenha regressado apenas para nos deixar (novamente) pendurados no pincel em Recife, na Copa do Brasil, ensurdecido pela melodia ruidosa (e mal explicada) dos petrodólares. Começava ali a “Era Adenor”...

(Triste) Epílogo

O resto está demasiadamente fresco na memória para necessitar um relato mais detalhado aqui: nas únicas vezes em que quiseram realmente demonstrar “atitude”, os homens do futebol colorado erraram ao manter o Sr. Bacchi (claramente desgastado) no cargo após a final da CB de 2009, e também ao ceder a seus dilemas existenciais com o Corinthians. Ao que tudo indica, após os mui esquecíveis anos de 2007 e 2008, FC perdeu um pouco a embocadura (o caso do vídeo contra os paulistas é emblemático): assim mesmo, não é razoável supor que ninguém tenha conseguido botar o Inter pra jogar sério em três longos anos – ou seja, alguém (além dos jogadores, é claro) não deve estar performando como deveria (apenas a título de curiosidade, vi lances da preleção antes da finalíssima da Sulamericana no DVD do “Nada Vai nos Separar” e, para dizer o mínimo, acho que aquilo dignifica ainda mais a conquista do Inter – como conseguiram, meu Deus...?).

Fim de verdade

Os mais ligados(as) já devem então ter se dado conta de que o nome da coluna hoje foi inspirado no hino do Inter: depois de tudo o que vimos após 2006, e mesmo com o primeiro semestre de 2009 – que, sim, enganou inclusive a mim -, a dúvida parece ser mesmo onde surgirá o amanhã, aquele “radioso de luz, varonil”. Parece mesmo que para esse nosso futebolzinho míope que vimos presenciando hoje, nada mais apropriado que um técnico a que chamam de...“vesgo” (como dizia o meu realista, infortunado, desiludido e tristonho avô, S.Assis P.Ererê, “não dá pra fazer churrasco se a vaca foi pro brejo...”).

Tópicas: curiosidade

Em tempo: como não sou dirigente e posso, sim, ter as minhas questões freudianas com o “Timão” (argh!), não sei se chegou ao Sul um número recente da revista “Poder”, da jornalista Joyce Pascowitch - em perfil com o presidente daquele clube, surge a declaração do próprio na capa: “somos uma nação de 30 milhões de torcedores. Podemos eleger um Presidente da República...”. Pois é, pra bom entendedor...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O que realmente mudou?

Por Daniel Ricci Araújo


A matemática afirma: os resultados de Mário Sérgio são piores que os de Tite. Claro, a comparação é injusta, mas injusto também foi debitar tanto da nossa decepção na conta do ex-treinador.

Tite até tinha que sair pela questão do vestiário, mas não era e nem nunca foi o grande problema do Inter. Os mesmos jogadores que estavam desmotivados em campo com Tite, parece que também estão com MS. D'Ale é o maior exemplo disso: sua atuação de domingo foi somente um terrível "mais do mesmo". Quase todos os mesmos jogadores que rendiam pouco com Tite, rendem pouco com MS. A mesma oscilação de rendimento que tínhamos com Tite, temos com o MS. Tite, ainda por cima, não teve o Giuliano no fim de seu "mandato", e MS vai ter. Fora isso, somando aqui e diminuindo acolá, não há diferenças significativas entre um ou outro, na minha opinião.

Mas a despeito disso, temos de parar com o treinadorismo. O que está acontecendo perante nossos olhos não é o reflexo de uma questão Tite x MS, pastor x malandro. Pelo contrário. É mais abrangente e conclusivo do que isso. Pra mim, a torcida descontou um pouco em Tite o fato de que o grupo não é isso tudo que ela pensa.

Falemos primeiramente dos defensores, que até são bons, mas superestimados. Com MS, houve claras falhas individuais nos gols do Atlético-PR, Fluminense, no gol do SPFC e no de anteontem, do Botafogo. De novo, a questão não é Tite ou MS, a questão é os nossos jogadores de defesa. Eles são tudo isso? Índio e Eller eram fantásticos... em 2006. Eles até podem dar boa resposta ainda, não há nada que impeça, mas estamos quase em 2010, e o tempo passa. O Inter do último domingo marcou mal de novo, desorganizado, e a deficiência do lado direito persiste, seja com Tite ou MS, porque só há um lateral-direito, Daniel, que modéstia à parte não honra o nome de craque que tem. O grupo continua com carências que atrapalham toda a mecânica de jogo. Isso não é culpa de treinador nenhum. Não era do antigo, nem é do atual.

Mas ainda não terminamos. Sorondo é um jogador bom pelo alto. Por baixo, digamos que é modesto. Fabiano Eller está bem, mas falhou domingo, e feio, para um atleta da classe dele. Índio é o que mais oscila e Bolívar, bom, Bolívar é um caso diferente. Uma usina de fazer faltas. Tem momentos de Gamarra e momentos irreconhecíveis, e fora o fato de que faz no mínimo um penal a cada dois jogos, marcado ou não. Impressionante como puxa e dá carrinhos malucos, o Bolívar.

Fora isso, nossos meias são muito bons, talvez aqui sim possamos dizer termos o melhor grupo do Brasil. Mas o auto-elogio deveria parar por aí. Mesmo comparado ao Palmeiras, que talvez tenha o grupo mais modesto entre os disputantes ao título (onde até poderíamos estar, é verdade, com o time que temos), o elenco do Inter mostra suas inconsistências. Diego Souza, hoje, decide num lance, coisa que o Inter deixou de ter sem Nilmar e faz uma grande diferença, decisiva. O ataque do Palmeiras, com Obina e Vágner Love, não é nenhuma maravilha, mas sem sombra de dúvida melhor que o nosso atual. Taison e Alecsandro estão compondo uma das piores duplas de ataque do Brasileirão. Isso para mim está mais claro que o céu de brigadeiro desse calor insuportável que vem da rua. Outro exemplo evidente: comparar nossa dupla de ataque com a atual do Galo chega a ser covardia, quem diria!

Eu não digo que discutir as tais das mazelas causadas por Tite seja perda de tempo. Perda de tempo é essa tremenda e absurda importância que se dá a treinador, como se quase tudo tivesse a ingerência deles, positiva ou não. Acho que precisamos reconhecer que nosso elenco nos possibilitaria vencer o campeonato SE tivesse mais vontade, SE o vestiário fosse menos frouxo, SE não fosse necessária quase um alinhamento de astros pro D'Ale ser o D'Ale que se espera e SE alguns desses caras, quem sabe, fossem menos pra noite. E também se nosso centroavante não fosse o insuportavelmente firuleiro e auto-suficiente Alecsandro.

E é por muitos desses fatores - os quais vão bem além do treinador reinante - que estamos com essa folha de quase 4 milhões por mês e se apertando pra chegar, quem sabe, na PRÉ Libertadores.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Minha vó já dizia.

Por Marcelo Benvenutti


Minha vó que não conheci, e minha mãe me passou muitas de suas crendices e máximas, dizia que "quando mais o sujeito se abaixa, mais o cu aparece". Sempre recordo dessa afirmação quando em situações de confronto me deparo, ou deparo as pessoas que convivo ou gosto, com decisões rápidas e rasteiras. Nesses momentos é que vemos onde termina o orgulho vaidoso e começam as definições de caráter.

O Inter ontem teve uma definição de caráter. Ao contrário do que eu e muitos imaginavam, o Internacional entrou em campo avançando o meio de campo, impondo seus zagueiros e forçando o São Paulo a apelar para o chutão. O time colorado amarrou o tricolor paulista, como canta um sãopaulino de última hora aqui no prédio ao lado, e não deixou iniciativa nenhuma para o time do dono da padaria. Num único lance, numa bobeira na marcação, como são definidos muitos jogos, levamos o gol que o cardíaco chorão não deixou escapar.

No segundo tempo voltamos ainda com o gol deles na cabeça. Paulada em nossas esperanças. A gremistinha dona do cachorro barulhento do outro prédio ao lado vibrando em gozos histéricos. Goza, safadinha. Goza! É o que te resta! Mário Sérgio falha somente ao demorar em tirar o risonho Taison. Do que ri tanto o Taison? Da nossa cara, deve ser. Alecsandro perde um gol que até a avó do xarope do Paulo Brito faria. Mas o Alecsandro não pode deixar de ser Alecsandro. Quinze gols no campeonato. Quase goleador. Mas não é o Nilmar, Píffero. Não amarra as chuteiras do mascote do Nilmar. Tudo bem, nosso estádio está na Copa 2014. Os Eucaliptos valem o que ninguém quer pagar. O Lula abriu crédito no BNDES, Píffero. E pra quem souber analisar balancetes, podem conferir no seguinte endereço:

http://www.internacional.com.br/extra/BALANCETE_ANALITICO_JANEIRO_A_AGOSTO_2009_150909.pdf


Com um pouco de paciência e o básico da matemática poderão concluir, como eu concluí, que 100 mil sócios não mantêm a atual estrutura do Inter e que somos dependentes da venda de mais de um Nilmar por ano. É louvável a abertura da direção colorada ao abrir suas contas aos sócios e ao público em geral. Mas, infelizmente, a constatação é cruel. Vendemos Nilmar para bancar o resto do clube. E jogamos fora o Campeonato Brasileiro de 2009.

Simplesmente um ataque com Alecsandro e Taison não tem condições de vencer nada. O Alecsandro porque, apesar de ser o goleador colorado na temporada, lhe falta o básico: qualidade. E Taison porque, infelizmente pra mim e grande parte dos colorados que admiravam sua entrega e vontade até meses atrás, não dá mais para aguentar. Nem Mário Sérgio suportou. E tirou Taison. Jogou o Inter pra cima. Não se pode dizer que faltou valentia ao treinador e ao grupo. Mas perdemos no detalhe.

E o detalhe, o detalhe, como diriam os ululantes da obviedade, o detalhe é tudo. O detalhe que faltou e ainda falta no ano de 2009 é a vontade de não ter medo de ser feliz. O Inter, a instituição Inter, dentro das perspectivas criadas pela administração colorada dentro das quatro linhas, fora não tenho o que contestar a não ser a falácia da auto-suficiência com 100 mil sócios, tem medo de ser feliz. O Inter entrava em campo resmungando. O Inter entrava em campo com DVDs embaixo do braço. Com denúncias. O Inter era a Escrava Isaura do futebol brasileiro. Coitado do Inter.

Ontem, 28 de outubro de 2009, o Inter perdeu. Mas perdeu sem medo de ser feliz. Com os erros que poderiam acontecer, não desistiu. Brigou. Lutou. Não deu. Mas não teve medo. E, admito, prefiro um time que enfrente as adversidades de peito aberto. Que apanhe mas não tenha medo de ser autêntico. Prefiro um time, como dizia minha vó lá no primeiro parágrafo, que não se abaixe. Este é o Inter que todos queremos em 2010.

De preferência, obviamente, vencendo.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

É a última coisa que eu peço.

Por Gustavo Foster

Não quero mais nada. Não quero título, não quero vaga, não quero contratações, não quero Luxemburgo, Leo Moura ou Martin Palermo. Nada disso. Porque a única coisa que eu queria, Vitório Píffero, era que a mentalidade dos indivíduos que comandam e gerem a instituição Internacional – você, principalmente, o Giovanni Luigi e todos que os rodeiam – fosse condizente com a grandeza daquele que um dia foi o Clube do Povo. Hoje, é o clube de alguns, que ficam sentados numa “cadeira do papai” e se importam com centenas de outros assuntos antes de se importarem com o futebol.

Então não vou pedir, porque eu sei que não vai acontecer. Depois de alguns anos de sua gerência – sobre a qual todos nós duvidamos, e estávamos certos – , já é mais fácil do que passar pela zaga colorada perceber que, enquanto tivermos sentados no trono reis com cabeças voltadas para questões não compatíveis com o futebol (aquele que é jogado dentro de um campo de futebol, com uma bola, com onze jogadores de cada lado), nós, torcedores (lembra?), seremos meros palhaços, abobalhados, imbecis. Afinal, nós não ganhamos nada esse ano (Suruga, ok), mas, quem se interessa?, se o superávit do ano vai fechar em 40 milhões de reais. Nilmar? Não me lembro, é ator da Globo? Procura no Google, Píffero.

Às vezes, eu tento superar a ânsia de vômito e penso em como ficaram os nobres dirigentes “colorados” quando do gol do Gum. O último, no caso. Será que se importam, nem que seja numa recaída coloradística, quando esquecem o real âmbito do negócio que se tornou um clube de futebol? Lembram, será, que os mesmos cem mil sócios (ano que vem serão dez mil, mas quem se importa? O presidente vai ser outro) que – hahaha, riamos – garantem a venda de só “um” jogador por ano (em 2009, foi o Nilmaralexedinhomagrão) são também, vejam só, COLORADOS? Daqueles que gostam de ver gol. Daqueles que adoram ver seu time levantar uma taça. Daqueles que vão a todos os jogos, ou que assistem da TV, ou que ficam na varanda com o radinho. E que gostam de ver o Inter ganhando. Será que eles se importam com o torcedor?

Eu acho que pouco, muito pouco. Um campeonato que daria felicidade a milhões de torcedores pelo mundo inteiro pesa muito pouco, quando do outro lado da balança é posto um saco de dinheiro pela ida imediata do camisa 9. Vai o camisa 9 e que se dane o campeonato, os jogadores, a torcida, tudo. São trocentos milhões de euros. Quanto um campeonato brasileiro vai dar de retorno? Não há como saber. E é arriscado. E é só daqui a três meses. Melhor vender, logo. Vai que quebra a perna! Já quebrou da outra vez, lembra?

Dirão: “é o dinheiro que roda o mundo”. É verdade. Não sou trouxa. E outra: um time não se sustenta por amor. Mas futebol não é só negócio. Tem mais coisa envolvida, tem sentimento, tem história, tem honra. Por isso que, para dirigir um clube de futebol e ter sucesso, é necessário ser hábil. É preciso ter uma precisão quase médica no manuseio dos valores emocionais e financeiros. A diretoria atual, me desculpem, falha grosseiramente nesse quesito.

Acabaremos o Centenário assim. Um Gauchão, uma Copa caça-níquel, alguns vexames e fim de papo. A gente já tá conformado. E, quem não tá, recomendo abrir os olhos: já era. Mas isso eu já disse. Não quero mais nada. Que nem Tim Maia, não quero chá, não quero café, não quero Coca-Cola. Nem chocolate. Só quero que ganhem o Grenal.

É a última coisa que peço a essa direção. Depois podem pegar as malas e ir para onde quiserem. Mas ganhem esse Grenal. Só.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Procura-se um campeão.

Por Thiago Marimon

Lá se foram trinta rodadas do campeonato mais imprevisível da era dos pontos corridos e, até o momento, só o que sabemos é que ninguém quer ser campeão. Dos cinco primeiros classificados, qualquer um pode a qualquer momento dar uma arrancada, erguer este caneco e levar para casa esta taça que ninguém quer. Poder pode, mas não merece.

O Palmeiras de Muricy, Diego Souza e Vagner Love vem perdendo força na reta final, queimando a gordura que acumulou no início do segundo turno e dando cada vez mais pinta que um time com Marcão, Cleiton Xavier e Obina não pode levar o caneco para a casa. O São Paulo, como já se notou desde o início do ano, não é mais o mesmo. Um time comum, com alguns bons jogadores, nada mais que isso. Não tem naipe de campeão. Atlético Mineiro tem o Roth, e, como sabemos, é contra as leis da natureza o time do Juarez triunfar. Sobra o Flamengo e nós, colorados.

O rubro negro carioca é, dentre os primeiros colocados, o único que tem apresentando um futebol ascendente, com Petkovic, do alto de seus 615 anos, jogando o fino da bola. Além do sérvio, o Flamengo ainda conta com os melhores laterais/alas do futebol nacional há três temporadas, um meio campo coeso e o Imperador da Noite, Adriano, na frente. Os cariocas teriam a receita perfeita para passar o fim de ano loucos de faceiros. Teriam, não fossem cariocas. Como já dizia Cabañas, o sábio e implacável gordinho, nunca confie num time carioca. Logo, entre os ainda postulantes ao título, sobra apenas o time de vermelho da Padre Cacique. Mas esse, afirmo, também não leva. Tampouco merece.

E não leva por uma conjunção de erros que poderia ser elencada de A a Z... mas fiquemos apenas no mais evidente:

Vendemos o campeonato no meio do ano. Quando os euros do Villareal seduziram a direção colorada, e Nilmar rumou para a Espanha, onde hoje amarga um banco. Junto com o vice goleador da seleção nas eliminatórias, vendemos o título. Passamos nos trocos o nosso diferencial. O cara que, mesmo no trivial isolamento no campo ofensivo, tornava o Inter um time com aquele algo a mais de campeão. Lá se foi o cara capaz de resolver jogos encrespados, seja parindo um golzinho chorado contra um Barueri da vida ou dando ares de pintura a um Pacaembu boquiaberto, garantindo aqueles pontos que, entra ano e sai ano, fazem tanta falta quando o natal se aproxima.

Soma-se a isso a manutenção de um técnico sem convicções, esquema de jogo e, principalmente culhões, durante mais de 80% do campeonato, mantido pela alienação, teimosia e empáfia de uma direção que vive hoje de louros do passado. Acrescente a esta receita uma generosa porção de total e completa falta de tesão da equipe, um bocado de desacerto defensivo, a falta de jogadas pelos flancos, a repetição de esquemas manjados e a reiterada escalação de jogadores com respostas insatisfatórias. Por fim, tempere com a crença do melhor elenco do Brasil e voilà. Sabemos por que hoje, na trigésima rodada, ainda procuramos um campeão.

Aqueles bons de coração dirão que, rodada a rodada, a diferença tem diminuído, que as equipes da ponta patinam, e que, de ponto em ponto, estamos chegando. Homens de fé, estes. Eu não, sou cético. Virgens, Papai Noel, Inter de 2009 e o Rubinho Barrichello não mais me convencem. Um time campeão não perde de três para o Náutico, mas também não sofre dois gols do GUM.

Que a vaga na Libertadores do ano que vem, hoje já ameaçada, seja o consolo deste time que tinha tudo para chegar lá, mas não quis.

Saudações Coloradas...

PS: Os jornalistas Felipe Prestes e Luís Eduardo Gomes, junto com a editora Nova Pauta, vão lançar em dezembro uma revista especial sobre os 30 anos do título invicto do Internacional no Campeonato Brasileiro de 1979.

Mais que compilar fatos já conhecidos, esta história está sendo recontada. Jogadores como Batista, Falcão, Benitez, Mauro Galvão e Chico Espina já foram entrevistados, além de adversários como Roberto Dinamite e Mococa, e do jornalista Divino Fonseca.

Os resultados deste trabalho já podem ser conferidos em áudio, vídeo e texto no blog:
http://invicto79.blogspot.com

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Mais do mesmo.

Por Daniel Ricci Araújo


Quando Tite saiu do Inter, a maioria da torcida deu-se por satisfeita. O pastor de fala mansa e discurso ensaboado era o problema, ou o maior de todos eles, dizia convicta a maioria da torcida. Aí, entra Mário Sérgio, um personagem polêmico, sem papas na língua e que poderia, quem sabe, fornecer a reviravolta anímica que tanto o time precisaria. Ilusão: com três jogos sob a batuta do novo comandante, vamos e venhamos, o que mudou de efetivo no futebol do Internacional?

A resposta é uma só: nada. Absolutamente nada.

Nossa última partida, contra o Fluminense, foi um quadro de dor. Jogando contra uma equipe fraquíssima, e com a derrota do mediano líder Palmeiras a tiracolo, em nenhum momento do jogo o Inter teve brios, gana, alma e desprendimento típicos de quem está jogando a possibilidade de ouro – e talvez a última – de entrar para valer na briga pelo campeonato. Não que o time tenha sido indolente, porque não foi, mas convenhamos: a raça ia no máximo até a esquina. Somos uma equipe que joga quase por jogar. Se der, deu, se não der, não deu. A única exceção foi e é Guiñazu, e reconheçamos: com onze argentinos iguais teríamos um esquadrão à prova de quaisquer Real Madris e Milans.

Praticamente todos os jogadores do Inter passam a impressão não de que sejam displicentes ou coisa que o valha, mas que não deixam tudo em campo. Quando vejo Sandro errar passes fáceis, acho que falta algo. Quando Alecsandro, livre na área, tenta um toque por cima do goleiro em vez de bater rasteiro e com força, falta algo. Quando D’Alessandro e Andrezinho não conseguem desafogar o time porque não estão por perto da jogada, falta algo. E o que é que falta, afinal de contas? Falta motivação. O Inter é um time que joga à meia máquina.

Podemos falar do esquema tático, dos treinadores, das individualidades, mas nada nos daria uma resposta conclusiva. O grupo é, sim, superestimado, mas bom o suficiente para brigar pelo título. Os treinadores se sucedem e não conseguem extrair nada de diferente deste grupo. E a tática... Bem, a tática é um caso a parte. O Inter, em 2009, já jogou em diversos esquemas, do 3-5-2 ao 4-4-2, e a verdade é que fora o Gauchão, praticamente não houve futebol convincente.

Chegamos à final da Copa do Brasil, passamos 99% do Brasileirão na zona da Libertadores, temos jogadores reconhecidos e – espero – muito dinheiro em caixa. Mesmo assim, a torcida do Inter está desanimada com o time porque falta algo. Um “algo” que não se pode comprar nem fazer surgir com duas linhas de quatro, losangos, triângulos ou quadrados de esquema tático. Um algo o qual todas as equipes campeãs têm, algo que não se fabrica e nem brota com mais “trabalho” ou “foco”, para citar duas palavras da moda no futebolês. O Inter, mais do que nunca, precisa querer mais. Na vida e no futebol, é preciso ver a bola como um prato de comida. Só assim os homens e as equipes podem ser bem sucedidos.

Talvez o discurso ufanista e o oba-oba inconsciente (ou nem tanto) da própria torcida tenham contaminado a opinião do Inter sobre si mesmo. Toda glória é efêmera, diz o ditado, e é possível, bem possível, que todos nós, time e torcida, tenhamos acreditado sermos melhores do que realmente somos. Mas mesmo assim, ainda há tempo de reverter esse quadro. O título está difícil, e a vaga na Libertadores periga concretamente pela aproximação perigosa do bom time do Flamengo. Temos um clássico pela frente, situação que sempre pode arrumar a casa e dar aquela sacudida no ânimo que o time tanto precisa.

Mais do que nunca, o Inter vai precisar querer mais.

Muito mais.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Teimosinha.

Por Marcelo Benvenutti

Na falta de jogo melhor para assistir, perder meu tempo com Brasil versus Venezuela é que eu não iria, me acomodei para assistir a Uruguai contra Argentina. Maradona retrancou o time com 670 zagueiros, embolou o meio com jogadinhas laterais do Verón e na hora do pega pra capar, lascou um homem da frente e tascou em campo o zagueiro que fez o gol da glória do lado de lá do Rio Uruguai. Lógica? Nenhuma.

Futebol em boa parte das partidas não existe lógica. É natural aceitar essa afirmação. Desde que a afirmação não se torne regra e se aceite que a ilógica ou o intangível decida campeonatos. O Brasileiro desse ano é um exemplo. O Palmeiras toma três ao natural do Náutico, da turma de baixo da tabela, e muitos dirão: Que doideira! Mas é lógico que um grupo que mantém Marcão como titular por tanto tempo não merece a credibilidade que os campeões merecem. Diz a lógica do futebol que em campeonatos longos de pontos corridos, a melhor equipe, a mais regular, aquela que manteve uma base constante, um padrão de jogo e todas essas expressões que estamos cansados de escutar os comentaristas jogarem ao vento, tornar-se-á campeã.

Será?

O Palmeiras mandou seu primeiro treinador procurar manicures em litoral paulista abaixo, o Inter mandou o seu cuidar das ovelhas no deserto e o São Paulo pegou o dono do armazém pra entrar no lugar do Muttley, o tarado das medalhas. O Atlético Mineiro continua investindo no sonho de consumo da direção colorada: Celso Roth. Qualquer equipe próxima ainda tem chances de comemorar vaga como os argentinos no Centenário ontem de noite. Quem gosta de vaga é guardador de carros, obviamente. Quem entra em um campeonato, não interessa qual, entra pra vencer.

O Internacional que, pasmem, ainda tem chances de "sair campeão", como me ensinam alguns estudiosos da nova ortografia de Porto Alegre, já jogou no 4-4-2, 3-5-2, 3-6-1 e no melhor dos esquemas adotados durante a temporada; o famoso 7-0-3, que se baseava em colocar 4 defensores atulhados com 3 volantes na frentes a darem chutões para que um armador e dois velocistas fizessem "a sua parte". Inevitavelmente o esquema se transformava em 7-0-2-0-1. Os "zeros" são as vastidões lunares que existiam entre um e outro setor. São Nilmar resolvia tudo.

Dentro do seu planejamento, a diretoria vendeu o 115º jogador da temporada, sem contar o craque búlgaro e o filho do príncipe que vieram como reforço, e ficamos à mercê de Tite e suas convicções. Um Maradona passou voando agora, sei, devo estar delirando, e me disse no ouvido que estas convicções também podem ser as da direção, leia-se Fernando "Fábio Koff" Carvalho. Como as convicções, as mesmas que trouxeram Joel Santana alguns anos atrás, são maleáveis, imagino que Mário Sérgio deva fazer parte do rol de "perfis" que existem nos laptops dos assessores do departamento de futebol.

Nada contra convicções, eu não sou e nem quero ser treinador. Outro dia, inclusive, li algumas declarações do Menotti, campeão treinando a Argentina em 1978, e entre elas se destacava a seguinte:

“La táctica es programática. Por lo tanto, todo lo que sea programático en el mundo de la acción, donde aparece lo inesperado, no tiene mucho sentido. Vos elaborás una táctica para tu día, pero te aparece algo imprevisto y a la mierda la táctica.”

Não digo que devemos adotar à risca tal mandamento, mas que não deixa de ser verdadeiro dentro da falta de lógica que domina nosso futebol atual, particularmente o campeonato brasileiro e, especificamente o Internacional, isto lá não deixa.

O que me leva, dentro dessa falta de lógica no raciocínio em sequência desta coluna, a pensar que não devemos perder nosso tempo esquentando a cabeça se o Mário Sérgio vai esquematizar o time no 3-5-2 ou vai jogar a escalação de acordo com o páreo do Cristal. Eu, por mim, jogava as camisetas pra cima e quem pegasse primeiro, vestia. Garanto pra vocês que nem assim o Taison entrava.

Resumindo, é mais fácil apostar no escuro.

Na Teimosinha.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Mário Sérgio é o Pai do Rock.

Por Marcelo Benvenutti

Mário Sérgio, também conhecido como Vesgo, não é o treinador dos sonhos de ninguém. Assim como não era o jogador dos sonhos de nenhum treinador na sua época dentro das quatro linhas. Era e não era. Mário Sérgio era craque. O apelido vesgo vem de uma de suas principais jogadas: cabeça levantada, marcador à frente, Mário jogava a bola para um lado enquanto olhava para o outro. O marcador invariavelmente caía no embuste, mesmo que já soubesse de antemão que ele iria fazer isso. Infalível.

Mário perambulou pelo mundo, jogou em muitos estados diferentes, outros países, não ganhou muito títulos, é verdade, não tantos quanto o futebol que mostrava dentro de campo. Louco, enfrentou problemas com doping, indisciplina e brigas generalizadas com companheiros dentro e fora do campo. Claramente, é um sujeito polêmico, daqueles que tanto pode anunciar o descobrimento da roda quanto colocar o Titanic de novo no oceano. Quando Raul Seixas cantou que o diabo era o pai do rock, ele deveria ter conhecido Mário Sérgio. Pode-se esperar de tudo. Até mesmo, nada.

Escrevo antes do jogo deste sábado. Se anuncia Bolaños na lateral para substituir o suspenso Kleber. Não se sabe se ele manterá Andrezinho fazendo dupla com o D'Alessandro ou vai colocar Taison ao lado de Alecsandro. Não se sabe como está o astral do ex-filhote do vento, que nos últimos tempos anda mais para sobrinho da brisa. Se o Taison jogar metade do que acha que joga, já vai ser ótimo. Basta ter vontade. A mesma vontade que teve o renascido D'Alessandro. Mário Sérgio entende D'Alessandro. Mário Sérgio guardaria D'Alessandro no bolso da frente da camisa. O portenho, marrento, ótimo jogador, driblador, boa visão de passe à média distância, incisivo, muitas vezes lento na retomada de jogo para os corneteiros das sociais, antipático às perguntas repetitivas e insossas dos repórteres, é a menina dos olhos do time de Mário. É compreensível. Aceitável. Particularmente, pra mim, é o óbvio. Tão óbvio que só o nosso ex-treinador que, bato na madeira três vezes, não ouso repetir o nome aqui, não entendia ou, teimosamente, não queria entender.

Jogasse no Flamengo ou no Corinthians e o gringo já teria sido elevado à condição de semideus brasileiro. Aqui nessa plagas, não passa de um "preguiçoso" que não joga de acordo com "estilo gaúcho" de se jogar futebol. Deveríamos avisar os velhinhos britânicos da International Board. Existe outra modalidade de futebol a ser regulamentada: o futebol gaúcho. Não duvido que qualquer dia desses um deputado estadual faça um projeto de lei estabelecendo as regras de como um time gaúcho deve jogar. É proibido atacar. Centroavante tem que voltar até a intermediária da defesa para marcar. Armador é coisa de carioca. Menos de três volantes é futebol de paulista. Jogar pra frente é coisa de time nordestino estabanado e quando o jogo estiver 2x0 o time que está na frente deve retirar um avante e colocar mais um zagueiro. Qualquer coisa diferente e o sujeito deveria ser exilado em Torres, que é um pedaço de Santa Catarina que nós roubamos.

Resumindo, não interessa qual o esquema, desde que o time jogue, como deve ser no futebol, tanto do Uzbequistão quanto da Alemanha, pra frente. Roubou a bola do adversário? Pra frente. Sobrou uma bola na entrada da área? Pra frente. É simples. É tão óbvio que chega a constrangedor pensar o contrário. Chega a ser patético alguém declarar que "entregamos a posse de bola para o adversário" ou " vamos esperar o momento certo para atacar". Chega a ser tão escancarado que não me interessa se o Mário Sérgio usa papel higiênico dos dois lados, se o D'Alessandro cospe no microfone ou se o Alecsandro toda vez que vai elogiar um jogador chama ele de "inteligente" (os outros então são burros?). Interessa é que devemos vencer. E nada mais natural que para vencer programe-se o time para jogar futebol, simplesmente jogar futebol, e atacar. É o que nos resta para mantermos vivas as esperanças. Atacar. Sempre atacar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Um acerto, enfim.

Por Gustavo Foster


A direção mais errou do que acertou no Centenário, acho isso indiscutível. Levando em consideração as expectativas criadas (justamente), o Inter pouquíssimo fez em 2009. E, convenhamos, a torcida sabia que Tite era um técnico aquém do que precisávamos.

As substituições “seis por meia dúzia”, o aglutinado de volantes à frente da zaga, o conseqüente abismo zaga-ataque, a nulidade das jogadas laterais, etc, etc, etc. Não vou citar a eterna procura pelo ponto de equilíbrio e as entrevistas hipnotizantemente pedantes. Não encontramos o merecimento e o equilíbrio, chegamos a outubro, e Tite não é mais o técnico do Inter.

E, faltando menos de três meses para o fim do ano, a direção acerta. A vinda de Mário Sérgio é a melhor solução para o problema (criado, enfim, pela própria direção). No momento, o que precisamos é muito mais motivação do que padrão de jogo. São onze jogos que podem nos levar a uma Libertadores no ano que vem (nem falo em conquista do campeonato, apesar de não desprezar as chances). É público que Mário Sérgio não faz parte do projeto colorado para o ano que vem. Ele mesmo admite isso, e afirma não ter pretensões maiores como treinador. O que acaba sendo um ponto positivo. O “Vesgo” não tem nada a perder.

Por parte de torcida e imprensa, não há muita expectativa. Por parte do próprio treinador, não há ego ou preocupações futuras.

E Mário Sérgio é boleiro. D’Alessandro é boleiro. Os dois jogaram bola no meio da rua, com latinha de Coca-Cola. A imprensa gosta de dizer que jogadores assim “têm personalidade”. Personalidade todo mundo tem. Eles sabem como que a vida funciona e não baixam a cabeça pra qualquer um. Por aí está a resposta para o mau rendimento do argentino sob os comandos de Tite.

Andrés D’Alessandro passará a jogar - se não tudo que pode - muito mais do que vinha jogando. Tenho certeza.

Para o restante do campeonato, motivação é o que nos resta. Ninguém conseguiria implantar um esquema em uma dezena de jogos. Não há tempo para treinamentos, conversas, absorção de idéias. A partir de agora, precisamos vencer. Apenas vencer. Não há mais a necessidade de merecimento, espetáculo, desempenho, chocolate. Ganhando os jogos restantes, poderemos, enfim, almejar algo para este fim de Centenário. A começar pelo Náutico.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Um acerto, enfim.

Por Gustavo Foster


A direção mais errou do que acertou no Centenário, acho isso indiscutível. Levando em consideração as expectativas criadas (justamente), o Inter pouquíssimo fez em 2009. E, convenhamos, a torcida sabia que Tite era um técnico aquém do que precisávamos.

As substituições “seis por meia dúzia”, o aglutinado de volantes à frente da zaga, o conseqüente abismo zaga-ataque, a nulidade das jogadas laterais, etc, etc, etc. Não vou citar a eterna procura pelo ponto de equilíbrio e as entrevistas hipnotizantemente pedantes. Não encontramos o merecimento e o equilíbrio, chegamos a outubro, e Tite não é mais o técnico do Inter.

E, faltando menos de três meses para o fim do ano, a direção acerta. A vinda de Mário Sérgio é a melhor solução para o problema (criado, enfim, pela própria direção). No momento, o que precisamos é muito mais motivação do que padrão de jogo. São onze jogos que podem nos levar a uma Libertadores no ano que vem (nem falo em conquista do campeonato, apesar de não desprezar as chances). É público que Mário Sérgio não faz parte do projeto colorado para o ano que vem. Ele mesmo admite isso, e afirma não ter pretensões maiores como treinador. O que acaba sendo um ponto positivo. O “Vesgo” não tem nada a perder.

Por parte de torcida e imprensa, não há muita expectativa. Por parte do próprio treinador, não há ego ou preocupações futuras.

E Mário Sérgio é boleiro. D’Alessandro é boleiro. Os dois jogaram bola no meio da rua, com latinha de Coca-Cola. A imprensa gosta de dizer que jogadores assim “têm personalidade”. Personalidade todo mundo tem. Eles sabem como que a vida funciona e não baixam a cabeça pra qualquer um. Por aí está a resposta para o mau rendimento do argentino sob os comandos de Tite.

Andrés D’Alessandro passará a jogar - se não tudo que pode - muito mais do que vinha jogando. Tenho certeza.

Para o restante do campeonato, motivação é o que nos resta. Ninguém conseguiria implantar um esquema em uma dezena de jogos. Não há tempo para treinamentos, conversas, absorção de idéias. A partir de agora, precisamos vencer. Apenas vencer. Não há mais a necessidade de merecimento, espetáculo, desempenho, chocolate. Ganhando os jogos restantes, poderemos, enfim, almejar algo para este fim de Centenário. A começar pelo Náutico.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Inexplicável?

Por Daniel Ricci Araújo

É o terceiro ano consecutivo no qual o Inter degringola no meio do campeonato.

É o terceiro ano consecutivo em que a imprensa do Rio e de São Paulo trata o Inter como a maior decepção do Brasileirão.

Domingo, foi a enésima vez em que o nosso treinador escalou a equipe para não perder sem qualquer reação por parte da diretoria para que o técnico do Inter comporte-se de fato e de direito como treinador do Internacional, e não do Ituano.

As decepções sucedem-se. Fernando Carvalho sempre se saiu com a máxima de que o Inter tinha a obrigação de ser competitivo. Pois bem, se há uma coisa que o time de Tite não tem é competitividade. Parece um time amorfo, resignado, com pena de si mesmo e esperando dezembro chegar. Muitos dizem que o time é a cara do treinador. Eu completaria a sentença: o Inter hoje é a cara do enfastio da sua direção: sem discurso, sem ação, sem mudança na hora certa. Vendendo jogadores a rodo e dizendo que as derrotas que se acumulam são “inexplicáveis”. Ora, pois.

Como pode ser inexplicável que o ataque do Inter produza tão pouco se a inevitável venda de Nilmar deu-se sem reposição até agora? Como pode ser inexplicável que Bolívar jogue tão pouco na lateral-direita se até o asfalto da Padre Cacique sabe: Bolívar é zagueiro, e somente zagueiro, e enquanto mais o treinador insisto em escalá-lo na posição errada mais a diretoria assiste de braços cruzados?

Vamos e venhamos: de inexplicável, a situação atual do Inter tem muito pouco. Desde o início do ano passado, o Inter não tem um camisa dois no elenco sob a desculpa de que não existem jogadores assim no mercado, mesmo que os outros clubes do Brasil, bem ou mal, tenham o seu. Desde o início de 2009, Andrezinho é festejado como a grande alternativa de custo-benefício a D’Alessandro. Pois bem: domingo, contra o Coritiba, Andrezinho jogou menos que nada e o argentino - que está relegado ao ostracismo muito mais pela birra de alguns do que pela média do futebol de seu substituto - entrou aos trinta e sete minutos do segundo tempo. É inexplicável que o Inter dependa de Andrezinho sempre e ele não dê a resposta esperada? Não, também não é.

E Taison e Alecsandro? Há seis meses, Taison pratica um futebol nota três. Não sai do time e quase sempre, quando perde a bola, começa a rir caído no chão, o que invariavelmente nos leva à conclusão de que Taison ri muito durante o jogo. Sem arranque, sem velocidade, sem drible ou iniciativa pessoal, deveria estar recuperando-se na reserva há muito tempo. Inexplicável é que continue prestigiadíssimo, assim como seu colega de ataque, o firuleiro Alecsandro com seu inesgotável – e insuportável – repertório de toques de calcanhar e balõezinhos fora da área. Hoje, sem dúvida nenhuma, a dupla de ataque do Grêmio está jogando dez vezes mais do que a nossa - e faço essa comparação porque é a mais próxima de todas, só por isso. Se é melhor, não sei, mas que está muito mais eficiente, é certeza absoluta.

Mas e as alternativas atuais do grupo? É justo jogar nas costas de Marquinhos o peso desta responsabilidade? E Edu, recém chegado e adaptando-se após dez anos de Europa, é certeza absoluta de qualidade na reposição? Maycon e Glaydson, Danilo Silva e Bolaños vão resolver o quê? Será o grupo tão forte assim? Não, claro que não é. Inexplicável também é que a torcida debite sempre e quase tudo na conta de Tite para não admitir que o elenco, a sua menininha dos olhos de sempre, não é essa maravilha toda.

Não é inexplicável que o Inter esteja há seis jogos sem vencer. Mas inexplicáveis, de fato, são muitas outras coisas mais.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

É preciso ser tricolor.

Por Marcelo Benvenutti


O Internacional palavreia aos quatro cantos seus feitos de marketing. No jargão do povo da Publicidade, Relações Públicas, Administração, etc. o Internacional é um case. Sim. Um clube falido, as portas abertas do cofre onde nem as aranhas faziam teias pois não tinham moscas ou algo para roer. Um grande clube abandonado por sucessivas e fracassadas direções que tratavam a torcida como lixo biodegradável, sem reciclagem, direto no esgoto.

Sim, o Inter que era o Atlético Mineiro de dez anos atrás não existe mais. Temos que dizer, sim, que muito foi feito nestas oito temporadas de gestão Fernando Carvalho & Cia. Não podemos negar. Certa vez, numa entrevista, o líder máximo declarava como sofria ao ver o Inter perder campeonato atrás de campeonato, envergonhado, jogado nas últimas colocações da tabela, virando parceria do Botafogo e do Náutico. Queria, antes de tudo, que o Inter lutasse para vencer. Tenho que admitir que muitas das equipes sofríveis daqueles anos difíceis eram realmente formadas por jogadores de qualidade técnica duvidosa, para não ofender os mais sensíveis. Muitas vezes eram jogadores de segunda linha, do terceiro escalão do futebol nacional, quando aparecia um Caíco era um girassol numa floresta ervas daninhas. Era a estrela. Mas, garanto, nenhum colorado era menos colorado porque sofria, torcia, vaiava ou lotava o estádio depois de, improváveis três vitórias seguidas. O colorado era, antes de tudo, parafraseando Euclides da Cunha, um forte. E nada o derrubava.

Foi desse torcedor, que sofreu, que sobreviveu, que atravessou por quarenta anos o deserto até a terra prometida que nasceu o grupo que hoje domina o Inter. Foi do desejo desse torcedor que o Inter renasceu para as vitórias, para as primeiras posições da tabela, para o respeito dos adversários e pelo temor dos inimigos. Antes de tudo, foi do torcedor, sempre ele, que nasceu a Libertadores, o Mundial e o Centenário festejado como nunca outra torcida do Brasil festejou, nas ruas, com as bandeiras largas, extensas, cobrindo as ruas de Porto Alegre e de todos os lugares onde existisse um colorado. Onde existe um colorado, existe esse desejo. O de resistir. Foi resistindo aos tempos amargos que ele ficou forte.

Então tudo, depois de consumado, se transformou em um caso de marketing. Um reflexo da administração moderna, da auto-ajuda, do Lair Ribeiro, do Evandro Motta e, se duvidar, até do Bispo Macedo. Afinal, o que seria o mundo sem o Marketing? O livro mais famoso do mundo é puro marketing. "Afasta de mim este cálice"? Marketing. "Nunca tantos deveram tanto a tão poucos"? Marketing. "Eu tive um um sonho"? Óbvio que é marketing. Tudo é marketing. Tem cara que ganha dinheiro só dizendo pros outros como eles devem fazer para ganhar dinheiro. Outros ganham só para responder o óbvio e ainda são aplaudidos para tanto. Tudo se resolve numa boa campanha, em alguns releases repetidos por jornalistas preguiçosos e a fama está feita. Deite-se e deleite-se. É assim, não é?

O Internacional dos anos 2000 é assim. Ganhou títulos importantes. Ganhou respeito e babação de ovo generalizada. É admirável que gastem páginas de editoriais e se veiculem campanhas institucionais a rodo por rádio, tevê e internet. A torcida compra. A torcida consome. Paga. Mas quando o produto não corresponde, óbvio que o consumi ... quer dizer, torcedor, reclama. Tem direitos adquiridos como qualquer consumidor. Não vai devolver o produto pois o que ele consome vem de dentro. É paixão. É irracional. Assim como muitos outros produtos que nos empurram goela abaixo. No caso do futebol o intangível torna-se tangível quando os onze adentram o gramado e o sujeitinho de preto (ou outras cores extravagantes) trila o apito e dá início ao combate. Ali a paixão torna-se concreta. Ali não existe marketing. O que é, é. Não adianta contratar publicitário, motivador ou advogado de defesa. Ninguém pode nos dizer que o rei não está nu. Está nu e com o rabo sujo.

O futebol apresentado pelo Inter, que é o que realmente interessa, e as vitórias são consequências disso, nos últimos tempos é sofrível. Pior, é vergonhoso. Não que sejamos um Real Madrid. Não. Ninguém no Brasil é um Real Madrid. Mas também não somos a Campinense. Estamos em quarto lugar no Brasileirão por inércia. Nas quatro primeiras rodadas, quando jogaram os reservas, marcamos 12 pontos. Nas outras, 32 pontos em 22 jogos. Aproveitamento de 50%. Bem longe do discurso de 66%. O futebol dentro de campo, o dos discursos, organizado, participativo, incisivo, com equilíbrio e quantos mais eufemismos eles criem, é feio, desorganizado e jogado ao imponderável das individualidades. Domingo, abaixo de chuva, doze mil náufragos foram tentar torcer pelo Inter. Alguns, acredito que muitos, vaiaram. Fernando Carvalho mais uma vez declarou que aqueles que quiserem vaiar, que fiquem em casa. Faixas criticando a atual situação foram venezuelamente recolhidas pelas forças de segurança. A atual direção parece começar a sofrer a maldição de Darth Vader. “O medo é o caminho para o lado negro. O medo leva à raiva, a raiva ao ódio e o ódio leva ao sofrimento!” Claro que a culpa é da torcida! Injusta e esfomeada. Querem vaiar? Que comam brioches!

Mas o estertor da coluna de hoje, que poderia ser o resumo de todo o resto, brilha no dourado da camiseta comemorativa. Deixo minha contribuição ao departamento de marketing colorado. Garanto que com esta frase garantiremos mais algumas semanas para que Tite procure o "ponto de equilíbrio" junto a um professor de Geometria Espacial que a direção contratou.

"NÃO BASTA SOMENTE PERDER. É PRECISO SER TRICOLOR."

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Não quero Sulamericana.

Por Gustavo Foster

Larguem a Sulamericana. Ponham os reservas do time B.

Ou melhor, poupem os reservas do time B, para que eles possam jogar caso algum volante se machuque ou seja vendido. Para que, depois, não tenhamos que usar o Maycon no time titular. Sendo assim, inventem um Inter C e coloquem-no em campo contra a Universidad de Chile. E contra os próximos times, caso passemos de fase. (E passaremos, todos hão de convir).

Mas não seria muito interessante ter na sala de troféus mais um vindo do exterior? A princípio, sim. Olhando para o passado recente, a resposta fica menos fácil. Uma interpretação pode dar conta do desgaste dos jogadores, da divisão de atenção, das viagens estafantes e do calendário apertado. Meus argumentos não se baseiam muito nesse tipo de reclamação, apesar de consistente. Jogar duas competições por óbvio cansa mais e apresenta mais de um alvo, o que dificulta o foco. Desde o conhecimento popular, tira-se que “é melhor fazer um bem feito do que dois pela metade”. E a probabilidade indica isso.

Meu medo recai menos nisso e mais no discurso ensaiado dos dirigentes. Desde o começo do ano, impulsionados pela empolgação do Centenário, palavras de confiança são gritadas de cima do morro. Fiéis – cem mil deles – respondem positivamente. Todos, em uníssono (diretoria, imprensa e torcida), acreditavam que, cem anos após ser fundado, o Internacional tinha chance de vencer os grandes campeonatos que disputaria.

Não havia singular. Quantos campeonatos vamos disputar? Xis? Ganharemos xis mais um. Tudo é o mínimo. Só que não é bem assim.

Esquecemos de combinar com o Palmeiras, com o Corinthians, com o São Paulo, com o Goiás, com o Tit... Com o Grêmio, com o Atlético Mineiro. Se o time do Inter era bom, os outros não eram desprezíves. E o Inter ganhou Gauchão, Copa Suruga, a Copa do Brasil era só questão de tempo. Perdemos.

“Ah, mas somos o único time brasileiro a ganhar um título internacional no ano”, falaram. Sim, eles se referiam a Copa Suruga: “E ainda temos o Brasileirão, no qual entramos como favoritos!”

De fato, continuamos favoritos, faltando menos de 12 rodadas. Estamos a alguns pontos do primeiro colocado, perto inclusive de sair do G4. Mas somos, ainda sim, um dos principais candidatos. Mas aí surge a Copa Sulamericana. No momento em que não vencemos há alguns jogos, caímos duas posições, o Palmeiras se isola na liderança, surge a Competição Tapa-Buraco da vez.

E já aviso de antemão, dirigentes: eu não quero a Sulamericana. Se vier, legal. Mas não faço a menor questão. O que eu quero mesmo é o título que importa, o do Campeonato Brasileiro.

Aliás, só pra vocês não falarem que ninguém avisou: todos já sabem das desculpas. Cansaço, muitas competições ao mesmo tempo, venda de jogadores, erros da arbitragem. Vão entrar pelo direito e sair pelo ouvido esquerdo.

Temos o campeonato nas mãos (mesmo que já tenhamos estado mais perto), nenhum time da ponta parece ter força para chegar ao final com vantagem considerável.

Nós queremos o Brasileirão. E Sulamericana não é Brasileirão.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Levanta, colorado!

Por Andreas Müller


Ergue a cabeça e respira fundo: chegou a tua vez de ser o elo forte do Internacional.

Chega de lamentações. Elas não têm mais nenhuma serventia. Chega de críticas. O momento de fazê-las já passou. É preciso assumir uma nova postura. A postura da mobilização. Da superação. O Internacional está há pouco mais de dez rodadas de um título difícil, mas alcançável. Ainda temos chances – é preciso aproveitá-las.

O time tem problemas? Sim, tem. E não é só o time. A comissão técnica tem claras limitações. A direção, então, cometeu neste ano os mesmos erros que cometera em 2007 e 2008, especialmente na condução da janela de agosto. Tudo isso é verdade inquestionável.

Mas agora já foi, meu amigo! Já passou! Azar!

Não adianta mais tirar a casca das feridas. É preciso erguer a cabeça e ir à luta com o que temos. Com o que restou. E tu, torcedor colorado, tens um papel fundamental nessa batalha: tu precisas ajudar o Inter a reunir forças na reta final deste Brasileirão.

Guarda tuas críticas, por hora. Se perdermos o título, tu terás todo o tempo do mundo para fazê-las. Deixa o pessimismo em casa. Ninguém jamais conquistou nada pensando no pior. Levanta, colorado! Levanta! Ergue a cabeça, bota a tua camiseta vermelha e vai pro estádio! Grita, cruza os dedos, reza e chora de emoção: faz a tua parte!

Chegou a tua hora de ser forte, colorado. A tua hora de carregar o Inter nas costas. Mantém a fé. Acredita no imponderável. Torce pelo impossível. Dá uma chance ao Inter, colorado! Dá uma chance para o teu sonho. Faz tua parte para voltarmos ao posto que sempre foi nosso: o de campeão brasileiro.

Levanta, colorado! Levanta contigo o teu pai, os teus irmãos e os teus amigos. Levanta contigo uma nação colorada. É hora de tu começares a reação que marcará para sempre a centenária história do Sport Club Internacional. Só assim conseguiremos chegar lá. Só assim! Ergue a cabeça e respeira fundo: é a tua hora de ser o responsável pela glória maior do teu clube. Só tua e de mais ninguém.

Domingo, às 16h, no Beira Rio: a TUA reação começa lá.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Vamos confiar no imponderável.

Por Daniel Ricci Araújo


Convenhamos: sábado, quando Tite substitui o apático D’Alessandro para colocar o menino Vagner Líbano no time, pouco nos restava a não ser levantar-nos da poltrona e ir procurar outra coisa para fazer. Nada contra o jovem atleta, que um dia pode tornar-se um jogadoraço, mas esse é o tipo de medida a qual, na hora da maior gravidade do jogo, o treinador do time grande não pode tomar.

Assim, no sábado à noite restava-nos somente beber e assimilar a fria certeza de que o treinador do Inter, na hora de reverter o terrível resultado negativo, na hora de lançar à frente um possante candidato ao título havia feito de um jovem e desconhecido a primeira opção para começar desfazer o escore adverso. É preciso marcar gols, lançar-se ao ataque? Calma. Só depois a promessa Marquinhos, só depois Edu. Primeiro, Vagner Líbano.

Mas aí vem o domingo e, no meio do desânimo, acontece o imponderável. Ou melhor, o mesmo se repete.

Em primeiro lugar, vamos e venhamos: mês passado, ninguém em sã consciência imaginaria que o Inter iria até o outro lado do mundo para jogar a Copa Suruga e voltaria dela ainda na zona da Libertadores. A crítica especializada bramia: ”sexto! Nono! Cinco pontos atrás, no mínimo! Cinco pontos!!”. Ah, meus caros, a crônica especializada babava – e se estrebuchava lamuriosa como a vaca a ser servida no churrasco de domingo.

Dos mais comuns aos menos esperados, resultados favoráveis empilhavam-se como contêineres no porto de Santos para manter o Inter no grupo dos quatro primeiros, e dali não saíamos. Era algo notável, o que ocorria. Tamanha coincidência de escores chegava a ser empolgante, e depois de percorrer o globo inteiro na ida e na volta, o Inter retornava ao solo pátrio ainda dentro da faixa da Libertadores. O imponderável atacava. Observem: atualmente, não há time que perca três, quatro jogos e não despenque na tabela como um meteoro desgovernado. O Inter, não. O Inter foi ao extremo oriente, voltou e, mesmo sem pontuar, sua situação quase não mudara. É um grande discreto, esse imponderável.

Mas voltemos, como eu dizia, ao domingo. Então, para completar o justo pessimismo instalado na véspera, não havia colorado que não pressentisse um massacre do São Paulo no pobre Santo André. O jogo era tão escandalosamente propício ao tricolor paulista que o adversário mudara o local da surra já anunciada para Ribeirão Preto, e não se lhe importava jogar, na prática, como visitante em um campo repleto de são-paulinos. O Santo André queria mesmo era encher os bolsos com a renda, e de fato os deve ter repleto. De brinde, empatou o jogo e levou um ponto na tabela.

O resultado de igualdade surpreendeu a todos, e pior: no segundo tempo, o São Paulo parece que jogava com as pernas amarradas umas nas outras. Por muito pouco não perde. E aí eu lhes pergunto: como não acreditar no título quando o São Paulo, ora, o temido São Paulo não consegue ganhar do Santo André para tornar-se líder e nunca mais sair da ponta, nunca mais, nem que o mundo acabasse, como novamente repetia e bocejava toda a massa pensante da crônica especializada? Como não resistir à tentação de seguir acreditando se temos algo como a milésima pior campanha do returno e, mesmo assim, continuamos somente um ponto atrás do líder, que na quarta-feira encara uma pedreira das piores no Mineirão?

Por isso, meus caros, eu digo: o futebol do time está ruim, mas a mística vai a pleno vapor. Vamos confiar no imponderável.

Na próxima vez que Tite sacar D’Alessandro para pôr um Vagner Líbano, talvez só ele possa de novo nos salvar.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Que não me façam torcer pelo Mano...

Por Thiago Marimon


Seria mais um ano de remake. Mais um 2006, 2007, 2008... como queiram. Mais um ano de um bom time Colorado deixando escorrer por entre os dedos o caneco do Brasileirinhas, assistindo a um time despontar na tabela. Seria, talvez, não fosse a fragilidade dos atuais ponteiros da tabela. Palmeiras, São Paulo e Inter não animam. Fosse algum deles mais atinado, já teria aberto dois meses de vantagem na ponta e estaria disputando a 26ª rodada com os juvenis. Mas não, os principais favoritos ao caneco patinam, derrapam, ao ponto de, após golear o lanterna, qualquer time mais ou menos já enche a boca para falar em título, liderança e quetais. Bem feito, culpa do triunvirato inconstante da ponta da tabela.

O Inter vai pra Salvador e dá o título do Gauchão pro Vitória. São Paulo sem força pra bater o velho conhecido e louco para cair Santo André, jogando praticamente em casa. E o Palmeiras, que ainda não jogou, eu duvido que bata o Cruzeiro em Minas no jogo que a Globo mudou para quarta. Quem gosta disso são os mortos vivos da parte debaixo. Enquanto os da frente trupicam, eles vêm chegando. No embalo que vai, se bobear, terminamos o ano torcendo pelo MSI do Mano ficar entre os quatro e nos dar uma beira na Libertadores de 2010. Inadmissível. É tão bom ver o MSI perder.

Zagueiros lamentam gols de bola parada, Fernando Carvalho fala que a projeção de pontos necessários para erguer o caneco vai cair, Piffero brada aos alto-falantes que altos e baixos são normais, e nesta toada vamos jogando pontos pelo ralo. Quarta feira já tem Sulamiranda novamente, mais um jogo valendo bananas contra um velho ilustre desconhecido. Quando esta competição finalmente esquentar, a partir das semifinais, eu quero estar tão animado com o título do nacional para poder me dar ao luxo de entrar com os reservas.

Mas para isso precisamos acertar alguns, se não todos, os ponteiros. Já desisti de ver o Pastor cair. Para isso acontecer, só com um grande desastre na Padre Cacique. Mas minha vontade de ver o Pastor fora não é tão grande a ponto de desejar isso. Só quero um time que faça o simples. D’alessandro e Andrezinho juntos vem dando errado desde nossa primeira derrota no ano, lá nos confins, contra o poderoso Rondon United, pela primeira rodada da Copa do Brasil. Quando parece que a equipe encaixou no famigerado 3-5-2, Adenor muda tudo. Perde uma peça para a maldita seleção da CBF e resolve mudar todo esquema que até então vinha dando certo. Trava o futebol de Kleber na ponta esquerda, embola o meio campo e finge acreditar que Alecsandro pode ser Nilmar.

A torcida não entende, a diretoria também não, a imprensa muito menos. A solução não poderia estar mais na moda. Percebendo a desconfiança geral em cima de seu trabalho, Tite, o Adenor, lança um DVD para esclarecer a todos, inclusive, pasmem, aos adversários, a forma com que o SEU time joga. Para ser um completo palhaço, só falta voar.

Alex, aquele traste, que faz falta, vai embora. Nilmar, e por último Magrão também pegam seu rumo. Enquanto isso, não temos um lateral direito no time. Danilo Silva é esforçado, nada mais que isso. Corre bem, tenta apoiar, sem a bola é um Garrincha, com ela é um, um... Danilo Silva. A zaga vira, mexe, muda, e segue furando. Lá se vão nove derrotas, onde o normal é o campeão ter quatro, cinco, em todo o campeonato.

E o mais é incrível é que, apesar de tudo isso, não está difícil de levar este caneco. Na pior, mas bem pior mesmo, das hipóteses, classificar para a Libertadores, mas, para isso, por favor, não me façam torcer pelo time do Mano...

Saudações Coloradas...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Naipe de metais.

Por Marcelo Benvenutti

Eu entendo tanto de jogar futebol quanto tocar um instrumento musical. Se tivesse fôlego e paciência teria sido um pouco mais que esforçado zagueiro que se perderia em um campo de interior qualquer. Se tivesse paciência tentaria aprender a tocar bateria como se deve e pelo menos poderia me divertir sem destruir os ouvidos alheios fazendo isso. Tanto em uma atividade quanto na outra não seria mais que mediano. Mas nada me impede de divagar tanto sobre música quanto sobre futebol.

Numa equipe de futebol os volantes e os zagueiros funcionam como a bateria. Os zagueiros fazem a parede por trás para que os volantes estabeleçam o ritmo. O ritmo é importante, óbvio, e quando o baterista atrasa ou adianta a música até mesmo os ouvidos menos sensíveis notam a diferença. Se atravessarem a música, o erro é escancarado, todos gritam. O baterista não é de nada. O volante saiu na hora errada. O zagueiro estava atrasado. Adiantado. Deu o lado. Marcou a bola e esqueceu o avante adversário. Todos sentem o ritmo. Todos dançam. Mas se o baterista, o zagueiro ou os volantes errarem, a falha é evidente e grotesca.

O goleiro e os atacantes, tanto um quanto os outros, trabalham como vocalistas, ensimesmados com suas entonações próprias, trejeitos e loucuras. Atacante e goleiro são o começo e o fim. Não existe meio termo. São heróis ou bandidos. O resto da banda pode dar um instrumental de fundo maravilhoso, mas se o vocalista sair com uma vozinha esganiçada, fora de ritmo, desafinada, todos irão notar. Ao contrário, se o vocalista conquista o público, nem mesmo as desafinadas são notadas. Ele é o herói. o que faz o gol decisivo aos 45 do segundo tempo depois de ficar a partida inteira sem tocar na bola ou defende a bola indefensável que salva o time mesmo depois de levar dois perus.

O guitarrista, assim como o armador, ou o meia de ligação, que pode ser o guitarra-base, esse nem tão notado, mas muitas vezes essencial, são os que floreiam o meio campo. Os que conduzem o ritmo, dão a deixa para as entradas do vocal e quando sobra uma brecha inserem seus solos que podem ser intermináveis e brochantes como também épicos e virtuosos. Uma equipe pode muito bem atuar sem um guitarrista solo de grandes virtudes. Pode se contentar apenas coma base pesada e determinada para dar sustentação à música. É o de menos. O erro do guitarrista só é explícito quando ele sola. Se ele não se arrisca, não erra. Por isso muitas vezes é mais fácil admirar aquele que só toca pros lados.

Pensei sobre quem seria o baixista e notadamente o baixista é aquele sujeito esquisito que fica perto do baterista e nem aparece. Aliás, a maioria das pessoas nem nota que ele toca. Ou nem nota que existe o som contrabaixo. Mas existe. O jogador que faz a ligação, seja ele lateral, meio campo ou atacante. Ele não erra. Parece fácil o que ele faz. Só parece. Assim como parece ser fácil ser o Paul McCartney. Só parece. Talvez seja a função fácil mais difícil de todas. A mais inglória e menos glamourosa. E o baixista se perde nas funções emparedado entre os agudos da guitarra e o peso das baquetas nos ouvidos alheios.

Claro que estamos falando de uma formação clássica de um conjunto musical de rock. Mas quando a formação torna-se extra-classe, quando ela necessita de algo a mais. Quando ela precisa de uma evidente alteração em suas bases e aceleração nos batimentos cardíacos e dançantes de seus ouvintes, ela necessita de um naipe de metais. Trompete, sax e trombone. Aquela quebrada certa no momento certo que faz o povo se levantar. Que abre as defesas mais fechadas. Introduza um naipe na maioria das bandas, as que tocam algo que preste, obviamente, e escutarão o salto de qualidade em seus ouvidos. Ao vivo, então, torna-se covardia. O público, embasbacado, muitas vezes até paralisa, vidrado, com o som que dança em volta dos cabelos, da cabeça, das pernas. Um naipe de metais, me arrisco, é capaz de salvar uma música ruim. Basta que seja bem executado.

O Internacional se descobriu nos últimos jogos exatamente porque abriu a caixa de instrumentos e liberou o naipe. O naipe estava fechado, guardado na lateral-esquerda, sem chances de entrar em qualquer brecha das músicas, até que o compositor vislumbrou que ali, naquela brecha, cabia um som. Naquela brecha, também conhecida como lateral do campo, linha de fundo ou infiltração pelas pontas, cabia um naipe de metais. O naipe libera os outros setores e faz a música engrenar. O compositor, ou maestro, que seja aquele que concebeu a música, também conhecido como o treinador, tem o crédito de ter melhorado o desempenho do show e agradado a platéia. Portanto, não é lógico que depois de lançado o single ele nos prive de escutar o álbum completo. Tite, libera o Kleber!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Quem não sabe por que ganha, não sabe por que perde.

Por Gustavo Foster


O jogo já estava nos seus últimos 15, 20 minutos. O Inter perdia por 3x2, após sair ganhando, tomar a virada e empatar novamente. A torcida equilibrava-se em um mútuo de apoio incondiocional e irritação profunda. Tite observa atônito à beira do campo seu time perder a chance de chegar à liderança. Havia ainda uma substituição, a cartada final, o último suspiro de esparança naquele entrave de noventa minutos. Nossa última chance. Glaydson. Tite olha para o grupo de jogadores e chama o volante Glaydson.

O Inter da retomada jogava num esquema que parecia funcionar. E Tite parece não ter percebido isso. Ao substituir o selecionável Giuliano por Magrão, mantendo dois volantes à frente de Sandro, liberando Danilo e ilhando D’Alessandro em meio a uma horda de volantes, nosso treinador modificou tudo que vinha dando certo. Ou ele não entendeu o que vinha dando certo ou não quis ganhar.

As peças mais importantes no time, hoje, são os alas, mesmo que eles sejam falsos alas. Kleber pela esquerda e Giuliano fazem o time jogar. Contra o Cruzeiro, jogamos sem metade dessa dupla. Sem jogadas pela direita, foi mais fácil anular o lado esquerdo. E D’Alessandro zanzava no samba do crioulo doido, tentando encontrar alguém para jogar com ele.

A solução? Bolaños é o jogador que mais se assemelha à função exercida por Giuliano. Pode atuar no flanco, fazendo a ligação entre os volantes e o ataque, sem sobrecarregar o camisa 10, seja ele quem for. Magrão até pode fazer isso, mas precariamente. Andrezinho é um meio campista central. Não tem velocidade para jogar pelo lado.

No último jogo, Tite poderia ter usado da criatividade. D’Alessandro tem a característica de cair para as laterais. Sua la boba, rente à linha de fundo, já rendeu centenas de gols de cabeça. O um-dois com Alecsandro, caindo para a quina da área, é mortal. Sendo assim, por que não passar D’Alessandro para o lado do campo, com Kleber do outro lado, e tirar Sandro para a entrada de Andrezinho, no meio, como camisa 10? Seria ousado? Seria. Provavelmente Tite ouviria críticas, havia a chance de dar errado. Era uma aposta.

E Tite tem medo de apostar. Prefere um empate maçante do que uma vitória perigosa.

Mas, óquei, estamos na reta final do Campeonato. Críticas agora são pouco úteis. Temos que ganhar, de qualquer forma. Nem que seja com um treinador que destroi um esquema vencedor como quem chuta um castelo de areia e muda de opinião após dois gritos de “Marquinhos, Marquinhos".