quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

QUANDO OS FEIOS TÊM VEZ.

Por Marcelo Benvenutti

Dizem que o homem ideal para as mulheres é o feio. O feio, ao contrário do cara bonito, convencido e arrogante, sempre trata bem as mulheres. O feio puxa a cadeira. Ele traz flores no primeiro encontro. Paga a conta. Abre a porta do carro. O feio faz de tudo para que a mulher esqueça o básico: ele é feio.

Quando chega na hora do vamos ver, enquanto o bonito muitas vezes faz o óbvio, parte para o feijão com arroz, o feio investe nas preliminares. Abusa das investidas pelas pontas. Ataca por todos os flancos. Dizem que o feio é uma laranja mecânica. Afinal, o feio sempre tem de ser mais. Provar mais. Querer ser mais do que é. O feio precisa se garantir nos mínimos detalhes. Se ele vai ficar com a mulher, levá-la para a cama, namorar com a pretendida, é outra história. O feio sabe que isso não é impossível, mas é improvável. A natureza é injusta. E as mulheres, ainda mais.

Quando Alex e D'Alessandro foram expulsos domingo contra o Zequinha, completou-se o fim do meio campo colorado. Já sem o entrosamento com o "feio" Edinho, Magrão ficou solitário sem Guiñazu e as duas estrelas expulsas na partida. Restaram os "feios". Andrezinho. Maycon, Rosinei. Assim é o Gauchão. Assim ele tem sido nos últimos anos.

O Gauchão não estabelece grandes times. É um campeonato feio. Sujo. Malvado. Um campeonato traiçoeiro. O Gauchão não é nenhuma prenda bonita. Nem de longe parece com uma mulher em quem alguém deva investir. Os "bonitos" arrogantes desdenham do Gauchão. Pra que se esforçar? É fácil ganhar. Quando quisermos, vencemos. Em 2007 pensamos assim e só nós sabemos o fiasco que foi acabar em sétimo. Pois nós éramos bonitos e, afinal, o que essa mulher feia tá achando pra cima de nós? Por isso Alex e D'Alessandro não fizeram tanta falta. Por isso Andrezinho foi o nome do jogo ao lado do Taison. O Gauchão se abre para os que investem nele. Acreditam. Lhe abrem a porta. A passagem. Estendem o tapete vermelho para seus pés cascudos e enlameados. Por isso Rosinei pode até ficar lá fazendo de conta que joga. Pois ele, dentro dos seus limites, que não são muitos extensos, satisfaz o Gauchão. Marcão, mesmo sendo atropelado, basta. Um beijo. Um boa noite de Maycon e o Gauchão arreganha as pernas tal qual virgem piscante. É bola dentro. Festa.

Não levem o Gauchão a mal. É como pegar mulher feia no fim da noite. É ruim acordar dando bom dia, mas na hora, no entrevero, é feio não encarar. O Gauchão é o lugar em que os encantos não têm valor. Tem valor a insistência, a garra, a raça, a vontade dos "feios". É o lugar ondes os feios sempre têm vez. Pois quando um bonito, só por alguns momentos, por raiva, insegurança ou falta de vitórias, resolve investir, tal qual um Fernandão no jogo de final de 2008, o Gauchão é uma presa fácil. É traçado tão rapidamente quanto costela gorda em focinho de cachorro. Os feios fogem. As mulheres gritam. Quando os bons resolvem jogar no Gauchão, ninguém é de ninguém.

Mas, por enquanto, deixem os feios se lambuzarem.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

FABIANO, O HERÓI DAS VACAS MAGRAS.

Por Daniel Ricci Araújo


Zona norte de Porto Alegre, Estádio Passo D'Areia, último domingo.
Inter e São José estão preparados para o início de um protocolar jogo de tabela pela segunda rodada do Gauchão. De um lado, um campeão mundial e trinta e oito vezes vencedor do certame provinciano, único campeão brasileiro invicto e dono de todos os títulos que um clube profissional, estando deste lado do Atlântico, pode almejar. Do outro, o simpático São José, que tem nesta secular simpatia descompromissada, nos parece, uma de suas maiores virtudes clubísticas. Os jogadores estão perfilados, prontos, atentos, e a partida vai começar.

A Popular já saudara todos os atletas colorados e gritará depois também, registre-se, um elogioso e atualíssimo "Força, Xavante", ora pois. O rigoroso juiz agora já se prepara para o apito inicial. Luiz Fabiano de Souza, trinta e três anos de gols e noites no Dado Bier está postado no meio-campo, olhando para a frente e com a camisa já para fora do calção. Confrontando-se com o ídolo do passado, a Popular não titubeia e reedita com força o conhecido canto de uma época na qual ela sequer pensava em existir: "Uh, Fabiano! Uh, Fabiano! Uh, Fabiano!!". E que coisa, registremos isso: estamos já medindo o tempo com tal ampulheta. "Essa derrota foi antes de termos Abel", "isso era do tempo no qual a Popular não existia", "esse vice de futebol é de antes do Fernando Carvalho". Com passa o tempo, meus caros, como passa!

Mas voltemos ao jogo do domingo. Então, o estádio inteiro, escandalosamente colorado, toma finalmente conta da presença ilustre e reserva-se a mesma prerrogativa da torcida organizada – o "Uh, Fabiano" encorpa o entorno das arquibancadas e, por uns dez segundos, é a voz única e estridente a manifestar-se pela zona norte de Porto Alegre. D'Alessandro o olha curioso, Alex também. Fabiano sorri, envaidecido, e acena para a frente como se encontrasse um conhecido casual. Está um pouco tímido, talvez pela passagem do tempo que possa ter tirado-lhe um pouco do feeling, do tato necessário para conviver com a massa colorada. Perdeu um pouco do jeito, nota-se claramente, mas é quase mais ídolo hoje do que era há dez anos.

Em 1997, as torcidas da dupla – ou a maior parte delas – ainda não pensavam em aniquilar-se mutuamente. Naquela época, dez, quinze mil colorados no Olímpico (e vice-versa) eram coisa casual, não os dois mil espremidinhos de hoje, legado da atual e lamentável fase "pseudocastelhana" do nosso futebol. Pois numa tarde de agosto daquele remoto ano ainda pacífico, eu, um menino de quinze anos à época e outros dez mil ou mais colorados vimos Fabiano, o Fabiano Cachaça, o ídolo cambaleante e improvável simplesmente trucidar o Grêmio em seu próprio estádio. Quem estava lá, mesmo de depois de Yokohama, não esquece daquele dia.

Como diria Nelson Rodrigues, foi um show pessoal e intransferível. Fabiano, o ponteiro valdomiriano, acabou sendo o deus, o herói e o símbolo de uma tarde para sempre. De noventa minutos desses que podemos reviver a toda hora, seja na sinaleira ou na fila do banco. Mesmo tendo jogado muito mais tempo depois daquilo, Fabiano e 5 a 2 são sinônimos e, hoje em dia, esse feito do herói das vacas magras está polido, idealizado e reluzente como o chão do Taj Mahal. No meio da miséria da década de noventa, a simbologia daquele clássico foi, quem sabe, a melhor coisa de todas. Não há colorado que não se lembre dele sem sorrir, mesmo que de si para si. Fabiano, o herói das vacas magras. Aí está uma sentença que faz justiça ao homem.

Sim, a posterior saída de cena deu ao nosso personagem algo de cult, de mítico, como se dali extraíssemos um inesperado Macunaíma do Inter, um herói não despido de caráter mas sem aquelas seriedades passionais e dramáticas que, num Iarley ou num Fernandão, arrancam lágrimas e convulsões. "Uh, Fabiano", o ídolo? Ora, os mais novos o conhecem pelas histórias dos colorados de meia-idade, e só. O verniz da história já cobriu sua breve obra e no imaginário popular ele agora joga – e apronta – ainda mais do que quando estava em campo ou fora dele naqueles tempos.

Naquela época, os cinco gols vertidos em pleno Olímpico foram como uma prova, para os mais novos, de que ter fé no futuro era válido. Fabiano marcou dois e deu passe para mais dois. Foi responsável por uma expulsão e pelo quase fim da carreira do abnegado zagueiro Luciano. Anteontem, o temível ponta-direita de outrora até preocupou a zaga do Inter e não foi uma só vez que conseguiu envolver Marcão pelo nosso lado esquerdo.

Era o "Uh, Fabiano" de volta. De certa forma, víamos ali o orgulho solitário de um passado recente desfilando pela ponta inimiga, esbaforido e sorrindo discretamente de vez em quando. Por um instante, confesso: deu gosto vê-lo invadir nossa própria área com aquele mesmo trote esquisito de outras eras.

Vejam só o que a gente não faz por um herói das vacas magras.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

SOBRE MITOS QUE SE DESFAZEM.

Por Andreas Müller

A dupla Gre-Nal atravessa uma fase atípica, surreal; uma fase em que ambas as torcidas vivem a cultuar mitos efêmeros, daqueles que se liquefazem tão logo a bola começa a rolar dentro dos gramados. Vejam os gremistas, por exemplo: há pelo menos dois anos que eles compartilham conosco de uma mesma tese – a de que o Grêmio conta com um elenco fracote, débil, um verdadeiro mistão de peladeiros, ex-jogadores e quase-craques. Bobagem, é claro. Os resultados recentes do nosso maior rival não inspiram lá muito entusiasmo, é verdade.

Mas convenhamos que eles são mais do que suficientes para desfazer o mito de que os times da Azenha são cronicamente fracos. O Grêmio tem uma base forte, sim senhor. Conta com um esquema defensivo sólido como rocha, um entrosamento comparável ao dos músicos da Orquestra da Ospa e um ataque que, se não é um primor de qualidade, tampouco pode ser considerado sofrível. Um bom time – eis o que o Grêmio tem apresentado dentro de campo nos últimos dois anos, à revelia de todas as crendices populares.

Mas deixemos os fregueses de lado. O Inter, vejam só, tem sido vítima do mesmo mal – em versão oposta. Desde 2005, pelo menos, emana do Beira Rio um otimismo incontido com os elencos que se sucedem nas camisetas vermelhas. Até certo ponto, é compreensível que seja assim. Pois não há como duvidar da qualidade de um grupo que ergue taças em escala industrial, como este. Mas o fato é que, nos últimos dois anos, o Inter sido o “melhor elenco do Brasil” somente na imaginação da torcida (e da crítica esportiva, talvez). Dentro de campo, temos de admitir, o Inter tem sido nada mais do que um bom time, ponto-final.

O Inter tem uma base forte, um meio de campo qualificado e um ataque que sempre mostra seu verdadeiro valor em jogos importantes. Mas, tal como o Grêmio, o Inter tem defeitos que quase anulam suas virtudes. Uma delas é a ausência de laterais que apóiam – torço fervorosamente pelo sucesso de Kléber e Marcelo Cordeiro, mas vá lá. Outra é de ordem técnica: uma vez a cada três jogos, no mínimo, Tite arma um retrancão inexplicável, que inutiliza as qualidades ofensivas do elenco e ainda deixa os adversários colorados no maior assanhamento.

E a torcida se dá por satisfeita com o “melhor elenco do Brasil”.

Não estou falando disso por causa do jogo de ontem. Tampouco estou incorporando o papel de arauto do pessimismo. O que eu quero é pragmatismo, amigos. Pragmatismo! Tudo baseado em fatos. O Inter tem um elenco invejável? É claro que tem! Que outro time pode se dar ao luxo de contar com Álvaro, Índio, Magrão, Guiñazu, D’Alessandro, Alex e Nilmar – agora acrescidos de Kléber e Alecsandro? Temos aí um grupo capaz de disputar qualquer título, regional ou internacional, não há como negar. Mas, para isso, é preciso cuidar também do elenco fora de campo.

Antes de sair por aí almejando ser bi-campeão de tudo, é preciso preparar os nossos jogadores e formar com eles um time que não se desmonte no decorrer dos campeonatos. Também é necessário ter um planejamento que abarque as inevitáveis saídas de jogadores diferenciados, como Alex. Finalmente, é indispensável treinar, motivar e, principalmente, ter paciência até que os resultados comecem a aparecer dentro de campo. Com isso, o elenco colorado será, de fato, o melhor do Brasil. Sem isso, ficaremos nessa maldita ilusão dos mitos, vendo o São Paulo ganhar as principais competições do ano e o Grêmio, quase.

sábado, 24 de janeiro de 2009

AO DIABO COM A CALMA (?)

Por Raphael Castro


Sim, o título é lá meio enigmático: trata-se, afinal, de uma afirmação (enrustida) ou de uma pergunta (insinuante)? Na verdade, nem tanto uma, nem tampouco a outra (eu sei, hoje tá difícil). O fato é que, a exemplo de todos os outros anos, este tal de 2009 também começa (a) sem vitória, (b) sem que isto, isoladamente, queira dizer patavina alguma e (c) com uma pá de gente já se descabelando por causa de um empate em casa ("o quê? Santa Cruz? Fala sério, bando de mequetrefes..." e tal e coisa...).

Adiante

Mas não temam, não temam: também como em épocas passadas, este escriba pensa que não há como depreender nada de um único jogo; mesmo que fosse contra um catadão de descamisados, também não ganharíamos essa partida (não ERA pra sair gol, entendem?); em segundo lugar, do jeito que as coisas são no Rio Grande, mesmo que ganhasse apertado, também iam reclamar que foi de pouco, "imagina, um time do nível do Inter..." etc.etc.etc.; mas houve virtudes, e as houve de forma perceptível – sim, porque sempre há um lado bom em tudo, não...?

Adiante II

Pois é, vivendo a eterna "contradição" entre ter um verdadeiro plantel de futebol, e a aposta em ogros comoventemente abnegados (sou, por evidente, partidário da primeira opção), chegou-se a dizer por aí que o time do Inter era "luxuoso" e mesmo assim só empatou – uma ironia pequena, como se vê, e que esconde lá um certo veneninho (como um flato silencioso: imperceptível, mas mortal); pois bem, dizia eu, todo ano alguma inteligência brilhante vem com essa bobagem: "diamantes", "galácticos", "luxuosos"...suponho então que deva haver quem não queira ou não goste de jogador bom; por mim, quem pode que os contrate – e tem muita gente que não pode mas bem que queria; de qualquer modo, penso que há uma relação claramente psiquiátrica entre adorar um cabecinha-de-bagre (e, sabemos, tem muita gente por aí com toda uma cultura disso, né...?) e ficar choramingando um sofrimento cozido à base de maus resultados e carestia de títulos. Mas também, não tem mesmo como esperar muita coisa de...bem, de gente assim como eu estou falando agora, certo...?

Soluço

Portanto, acho sinceramente que não foi de todo mau o empate: já deu pra ver alguma coisa, mas o time tá todo amarrado, e aos poucos prevejo que teremos muito do que nos alegrar este ano (se Deus quiser e o Adenor permitir); ou seja – e daí a razão do ambíguo título da coluna – o primeiro jogo é só...o primeiro jogo, ora! Convém apenas fazer as sinapses suficientes para corrigir e aprender o que for necessário. Calma, pero no mucho; o resto vai naturalmente (como dizia o meu musical, farrista, pé-de-valsa e prevenido avô, S.Assis P.Ererê, "gaiteiro esperto toca perto do banheiro...").

Tópicas: perguntinha inconveniente

Ok, então revelamos o nosso "centroavantismo" e veio Alecsandro Shrek: quem sai pra ele entrar (se for mesmo pra ele entrar)? Humilde sugestão: um volante, com Alex indo pro meio.

Tópicas 2: perguntinha inconveniente II

Forçoso questionar: a diretoria "planejou" a crise? Como vamos estar financeiramente para o segundo semestre?

Tópicas 3: the warrior

Edinho não era nenhum primor. Mas completou seu ciclo de Inter, ganhou tudo que dava e honrou muito a camisa que vestiu. Não vou acender vela nem molhar lenço, apenas agradecerei a um grande colorado, lhe desejando sorte em seus novos rumos...

Tópicas 4: esclarecimento

Pedindo desculpas aos estimadíssimos(as) leitores(as) pela ausência em nosso colóquio semanal no último sábado, esclareço apenas que não havia o menor clima para escrever, em função do que ocorreu com nossos amigos e irmãos xavantes. Que recebam muita luz e força neste momento, portanto...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

QUINZE MIL.

Por Marcelo Benvenutti


Ano passado, numa partida entre o Inter e o Palmeiras, logo após o fiasco da goleada contra o futuro rebaixado Vasco da Gama, compareceram 15 mil torcedores no Beira-Rio. Público pequeno para o tamanho do espetáculo. Jogo de transmissão em rede. Dez da noite. Palmeiras ainda sonhando com o título. E o Beira-Rio urrando. Pulsando. Pulando. Querendo sangue a todo custo. Eram 15 mil insanos debaixo de uma chuvarada impondo junto com os jogadores uma goleada destruidora. Como escrevi na época, e não fui nada original, saímos de alma lavada.

Poucos meses antes, no jogo mais importante do ano até aquele momento, o Inter, após uma suposta discussão nos vestiários sobre valores de premiação e uma mais suposta ainda declaração de Abel aos seus comandados que estaria saindo para a Arábia, joga uma partida apática contra um Sport Recife brigador, mas inferior tecnicamente ao Internacional. Vencemos por um a zero. E boa parte dos mais de 40 mil que estavam no estádio ensaiavam uma vaia estrondosa. Uma semana depois o time vergonhosamente jogava uma das partidas mais bundamoles da recente história colorada. Foi o fim da era Fernandão. Logo depois ele e Iarley iriam embora, um pouco antes, Abel, e nós, colorados, entrávamos na penumbra das mudanças às prestações.

Em agosto, quando da goleada contra o Palmeiras, as mudanças estavam no começo, mas elas se prolongaram por mais um tempo. O grupo só se ajustou em outubro, ainda a tempo de conquistar um título inédito, mas tarde demais para buscar a vaga na Libertadores. De um certo modo, os apupadores e corneteiros sentiram-se aliviados. A vaia não foi em vão. Eles estavam certos em vaiar. Teriam o que dizer nas roda de cafezinho no escritório, na hora da marmita na fábrica, na mesa de bar no fim da tarde. Um corneteiro só é feliz na desgraça. A tragédia alimenta seu dia-a-dia. Se não tiver como reclamar do próprio time, o corneteiro inventa. Afinal, cornetear, além de ser uma modo de vida, é um despiste. A corneta é o Lexotan da alma.
Entorpece os sentidos e faz o corneteiro esquecer seus problemas cotidianos.

Terça-feira. Verão. Calor, mas nem tanto, no suportável para os portoalegrenses. Primeiro jogo da temporada. Um insosso Santa Cruz espera o Internacional em seu campo. Só espera. É uma ordem dos deuses times do interior esperarem Inter ou Grêmio no Gauchão. Desde tempos imemoriais. O primeiro chute num Gauchão foi um recuo para o goleiro. Quando ainda não era ilegal. O goleiro do Santa sabe disso. A primeira dividida foi uma cirurgia no joelho. Os zagueiros sabem. O time todo sabe. Toda a população da cidade mais que sabe. Os jogadores colorados se não sabem, vão descobrir. Os 15 mil torcedores que foram ao estádio também deveriam saber.

Mas 15 mil é um número mágico. Dizem que 15 mil é o número da torcida fiel. Aquela que sempre apóia, mesmo quando tudo vai contra. Os 15 mil da goleada contra o Palmeiras. Menos naquela tarde-noite. Após o apito final, indiferente à retranca adversária, ao começo de temporada, ao primeiro jogo após a suada conquista sul-americana, os apupos vieram. Fortes. Incisivos. O recalque exposto nas sociais. A felicidade estampada nos rostos fechados dos reclamões. Que empatar em casa contra times do interior é considerado uma derrota, isso é. Só que o Inter insistiu, bateu, tentou, teve gol mal anulado, bolas nos travessões, volume de jogo como gostam de falar os comentaristas esportivos. Só que ainda falta algo. Falta ritmo. Falta ousadia do treinador no Gauchão. Falta centroavante. Mas, apesar de tudo, falta paciência ao corneteiro. Afinal,. não basta ser verão, sair do estádio quase de dia, chegar em casa cedo, tomar uma gelada depois praquele papo com os amigos. Não. O corneteiro só é feliz na desgraça. O corneteito, amigos, é botafoguense. Torce pro Inter por descuido. Afinal, apesar de gostar de sofrer, mesmo o corneteiro admite, é muito melhor ser colorado.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

UMA VIAGEM AO BEIRA-RIO.

Por Daniel Ricci Araújo


Passando pelo Largo da Epatur e tomando a rótula que dá ao carro o sentido da Avenida Borges de Medeiros, o jogo começa.

Uma ou outra divagação já salta pelo som da rádio AM: o Inter completo ou não, Índio está com febre, a revelação da base possui um pré-contrato de cinco anos. Cinco anos! Os novos fatos vão interagindo, ganhando a imaginação e nutrindo o debate animado dos caroneiros. E este Marquinhos, joga bola? Ah, acho que joga sim. O carro faz a volta, sobe a feia rampa urbana do centro da cidade e desemboca na Borges, onde uma multidão de prédios públicos abocanha cada um certa parte das calçadas à direita, numa procissão de cimento e escadarias que quase vão até o shopping center e, se não incomodam, tampouco agradam aqueles que, no mais das vezes, não gostam das autoridades e de suas ordens. Tenho uma causa e não recebo há cinco anos, diz um.

Ainda bem que existe o futebol

As camisas vermelhas já ocupam as calçadas. Em frente ao IPE, esse edifício cinza, triste e petrificado num mesmo entroncamento ocupado por buzinas e motoboys velocíssimos, já ali colorados com camisas regatas da Popular andam lado a lado com pais e filhos pequenos, estes últimos ambos meticulosamente de mãos dadas, quietos e contrastando com os gestos largos e barulhentos dos torcedores organizados. Observado pelo vidro do carro o menino reluz e dá pequenos saltos na calçada com um fardamento novíssimo do Inter, camisa 15 com o nome de D'Alessandro às costas e as longas meias esticadas até cobrir os pequeninos joelhos, ora, vejam como vai contente esse menino pela mão do seu pai. Falando na rádio, Fernando Carvalho anuncia pela enésima vez que o Inter tem o dever "de ser sempre competitivo". Enquanto o repórter anuncia a projeção da escalação, o carro para na sinaleira. O Rio Guaíba está à direita, um pouco longe ainda, e o tempo, um pouco nublado.

O sinal verde irrompe e o carro, andando não mais de duzentos metros em linha reta, precipita-se desabalado a uma imediata outra parte da cidade. A rua calçada com paralelepípedos lisos faz com que o automóvel, ao atritar suavemente seus pneus com o chão, provoque um barulho entre o grave e o agudo, mais para o primeiro, e parece que por isso se tem a impressão de praticar-se uma velocidade mais alta do que realmente se verifica pelo medidor. Do lado direito não mais aparecem os prédios públicos e seu movimento frenético – agora, o bonito parque municipal está diante de nós e é como se sua área verde e seus corredores de chão batido anunciassem a proximidade do Gigante, mesmo que não estejamos ainda tão perto dele, como se sabe. A área arborizada e o som do carro e das pedras da rua dão a sensação de um bairro residencial e, na verdade, é assim mesmo o mais correto a dizer pois estamos chegando perto de casa, uma segunda casa, esta pública, digamos assim, e que sempre se espera visitar, quem sabe, se pudéssemos, até mais do que a nossa própria, a qual muitas vezes só nos prende uma aborrecida obrigação de nela estar.

Agora as mangas e golas vermelhas e brancas cada vez mais se amontoam, um sem fim de números dez ou dezesseis às costas, algumas sete, cinco, outras nove, todas num ritual de passagem e aproximação impensado, intuitivo, como se as camisas fossem todas formigas labutando e rumando conscientemente ao destino comum, com uma harmonia de propósitos que dispensa qualquer acerto prévio. Andamos mais e volta o asfalto silencioso: à esquerda um viaduto marca o último obstáculo visível entre nós e o destino final. Depois uma suave dobra à direita e o primeiro leve engarrafamento, uma buzinada essencial e a visão interrompida da avenida desfaz-se, agora a nossa frente está subitamente descoberta como um lençol que cai ao chão, lá está o estádio, antes dele o ginásio e a tremenda bandeira que o anuncia.

O Beira-Rio encontra-se quase na nossa frente e o menor dos jogos, não importa, traz até ali uma confluência tremenda. Uma pequena Meca eventual e comum, mas mesmo assim não menos Meca tendo em vista seu significado de imprescindível habitualidade assim promulgada pelos frequentadores daquela bela e amena ocasião de sempre. Na frente do imponente portão ornamentado de mármore preto (será mesmo mármore?) que a atual diretoria mandou edificar, há como uma reunião de velhos conhecidos perante o bar de sempre, o de dentro do complexo ou, quem sabe, algum dos botecos do outro lado da rua, todos ali e acolá como se fossem uma família, rindo, conversando e tomando uma ou outra cerveja.

Hoje o Inter goleia, não é possível outro resultado. Não sei, jogos assim de repente encrespam. Que nada rapaz, peça mais uma aí, por favor. É como se todos estivessem em casa, uma casa talvez não como a primeira de todas, mas mesmo assim um lar, e como já dito muitas vezes mais esperado que o original, o primeiro deles, onde só repousamos a cabeça e dormimos o sono do cotidiano.

Tudo isso reinicia hoje, e está perfeito que o bom Deus nos guarde assim, donos desta casa e desta rotina, primeira e única, o trajeto petrificado e resistente a todas as mudanças. Hoje, pela Borges ou não, voltamos todos ao Beira-Rio.

Esteja você onde estiver, não se precisa pedir licença para entrar.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

JOGADORES NÃO DEVERIAM MORRER.

Por Andreas Müller

Foi imensa, arrasadora a comoção provocada pela tragédia do Brasil de Pelotas. Imensa e arrasadora, porém compreensível. Pois o acidente não matou três homens comuns. Não: na ribanceira daquela estrada infernal ficaram as vidas, as carreiras, os sonhos e o futuro de três personalidades do futebol – e isso faz toda a diferença.

No funeral improvisado no Bento Freitas, por exemplo: lá estavam não só os amigos e familiares das vítimas, mas também os milhares, dezenas de milhares de torcedores xavantes. Torcedores que sempre viram nas cores do Brasil uma razão para sorrir ou chorar, para cantar ou calar. Torcedores que sempre respiraram os ares da paixão rubro-negra, pedindo em troca nada mais do que algumas alegrias e tristezas, essas coisas tão antagônicas que dão corpo a nossas lembranças mais ternas. Torcedores como eu e você, portanto: ainda que vistam camisetas diferentes, eles também fazem questão de acompanhar o time aonde quer que ele vá – apenas para experimentar um pouco mais daqueles brevíssimos momentos em que a vida parece ser infinita.

Eis a verdade: jogadores de futebol não deveriam morrer. São eles, afinal de contas, que preenchem nossas vidas com o que é realmente imortal: um drible desconcertante, uma dividida de classe, um gol feito – ou miseravelmente perdido. Ao cabo de tudo, eles e seus lances aparentemente passageiros ficam gravados na parte mais pulsante dos nossos corações. A mesma parte em que guardamos o primeiro beijo, a última desilusão, o abraço de um grande amigo, a morte do nosso cãozinho de estimação e até mesmo essa sensação de assombro e euforia que nos acomete quando ouvimos nosso filho chorar pela primeira vez nos braços da mãe, como que apavorado por descobrir-se finalmente vivo.

Títulos? Sempre serão menos importantes do que os gols que os tornam possíveis. Contratações milionárias? São pequenas, quase insignificantes diante destes jogadores que crescem junto com a torcida e realizam, no gramado, os sonhos de quem os espera na arquibancada. O atacante Claudio Milar, o zagueiro Régis Alves e o preparador de goleiros Giovani Guimarães foram assim. Viveram pouco, quase nada. Tiveram suas jornadas abreviadas por um acidente estúpido e injusto. Mas realizaram, cada um a sua maneira, façanhas que muitos mortais levariam sete vidas para igualar.

Milar, por exemplo, tinha pouco mais de 34 anos de vida. Régis ainda estava nos 28 e Giovani, nos 40. Mas cada um deles foi protagonista de momentos que a torcida xavante carregará consigo por muitas gerações. É verdade que eles não estão mais aqui. Mas todos os três estarão sempre vivíssimos em cada história contada e recontada de pai para filho, em cada lágrima de saudade chorada por ex-colegas e familiares, em cada lembrança de seus torcedores e adversários. De certa forma, é esta a verdadeira vida que temos depois da morte. Felizes são eles, os jogadores de futebol, que continuam vivendo nos corações de toda uma nação.

Estamos de luto. Hoje, há uma ferida aberta no peito de todo o Rio Grande do Sul. Mas o fato é que a vida é implacável e obstinada – não há dor que seja capaz de interrompê-la. Podemos e devemos chorar pelas vítimas e compartilhar a tristeza dos que ficaram. Mas temos de seguir adiante e suportar todas as consequências, boas ou ruins, da continuidade. Nosso dever maior é ajudar os sobreviventes e respeitar o luto dos familiares. É estender a mão para que a nação xavante consiga se reerguer mais rapidamente. Em breve, tenham certeza, o Brasil de Pelotas voltará aos gramados ainda mais forte e vibrante. É simplesmente inevitável que seja assim.

Jogadores de futebol não deveriam morrer. Mas convenhamos que a vida compensa essa injustiça: os clubes de futebol – são eles que não morrem jamais.

sábado, 17 de janeiro de 2009

VAI COMEÇAR TUDO DE NOVO.

Por Thiago Marimon


Buenas, é chegada a hora. Terça feira próxima, dia 20 de janeiro de 2009, daremos início a mais uma empreitada. Não sabemos ao certo o que nos aguarda. Se o time, com a base mantida e alguns reforços pontuais confirmará nossas expectativas, ou se, alheios ao nosso sentimento, teremos um ano de futebol instável. Por óbvio que preferimos a primeira opção. No papel, novamente temos um dos melhores grupos do país, restando-nos comprovar esta condição dentro das quatro linhas.

Porém, vitórias não traduzem honra, raça, dedicação e identificação com o Clube. Quero sim ver meu time vencedor, quero erguer taças e comemorar títulos. Quero ficar rouco em Noites de Copa, ou em jogos modorrentos de quartas feiras às 21h50m com o vento do Guaíba gelando a alma do vivente postado no concreto da superior. Mas principalmente, quero que cada um que envergar o manto, no sagrado ano do Centenário Colorado, o faça sabendo da responsabilidade que carrega e da torcida que representa.

Gauchão, Copa do Brasil, Suruga, Recopa, Brasileirão e Sula. Lá vamos nós. Vai começar tudo de novo.

"Eu luto por todos aqueles que estão comigo, por todos que mostram que são do meu bando. Que deixam bem claro só pela cor do manto. Eu luto para botar mais uma estrela no peito, para gritar bem alto, tenho este direito! Quero ver o Fernandão tocando de lado e o Falcão encobrindo o goleiro. Para os que não acreditavam, quero que o grito deste gol ecoe pelo mundo inteiro. Não vou esquecer dos que tentam atrapalhar o nosso caminho. Vou vencer eles toda hora, todos os anos, de domingo a domingo. E isso é para os que tentam tirar a luz dos nossos santos. Oro com meu povo contra os que se atravessam, contra as lesões, as viagens cansativas e os hotéis barulhentos. Contra o argentino que entrou de carrinho e o juiz que achou que eu estava mentindo. QUERO A MINHA CAMISETA SUJA DE BARRO E DE SANGUE PARA DEIXAR O VERMELHO MAIS FORTE. Para meu gigante testemunhar mais uma conquista, para os quinhentos mil vermelhos buscarem o time no aeroporto. Vai começar tudo de novo, time querido, o teu presente diz tudo, por ti tenho orado, onze homens idolatrados, perseguidos em sonhos e nos gramados. Clube do povo, do meu povo querido, dá-lhe colorado."

Marco Carvalho

Um baita 2009 a todos.

Saudações Coloradas...

Essa seria a minha pequena crônica. Hoje à noite é minha formatura e estou em meio a uma mudança, deixando a Terra da Garoa e retornando para Porto Alegre, o que tem tomado todo meu tempo. Portanto, fiz essa pequena coluna pensando em ao menos deixar marcada abertura dos trabalhos em 2009, tendo em vista o início do regional. Porém, nem sabemos mais se o regional começará esta semana, tampouco isso importa neste momento.

Dormi muito tarde ontem e hoje, às dez da matina, fui acordado com o celular tocando. A voz do outro lado me dava a amarga notícia. O ônibus com a delegação do Brasil de Pelotas sofreu um acidente nessa madrugada, ferindo vários passageiros e causando a morte de três pessoas.
Nasci e cresci em Pelotas, saí de lá há quase 10 anos, mas volto frequentemente à minha querida cidade para visitar família e amigos. Meu pai sempre foi Colorado e me ensinou a amar o vermelho desde guri. Contudo, sempre tive como meu segundo time o Brasil. Quem já foi na Baixada em dia de jogo sabe que é impossível não torcer pelo Xavante.

Cláudio Millar - O Xavante perde o seu "Fernandão"

Faltam-me palavras neste momento infeliz... me solidarizo com as perdas e deixo apenas o desejo mais sincero de força às famílias, amigos, torcida e à Instituição Grêmio Esportivo Brasil.

ps.: Para quem está longe e quer saber notícias, meu amigo Fábio, do Blog "Um Café e um Mate" está acompanhando e publicando informações sobre o acidente e o estado de saúde da delegação. Fica aqui o link: http://cafemate.blogspot.com

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

SIM, NÓS PODEMOS!

Por Marcelo Benvenutti

No genial romance à Leste do Éden, um dos personagens de John Steinbeck, um chinês, passa boa parte da vida traduzindo apenas um techo do Gênesis da Bíblia que fala sobre o destino de Caim, aquele que matou Abel.

Na verdade, ocupa seu tempo apenas na tradução de apenas um verbo. Tenta chegar ao texto original. Na bíblia anglo-saxônica, o tal verbo se apresenta como "SERÁ", dando ao trecho do texto o significado de destino. Será designa que não existem alternativas. Será. O povo de Deus. Os escolhidos. Fecha bem com o determinismo histórico dos anglo-saxões. E de um ou outro povo que se julga escolhido e sai bombardeando quem quiser que seja. Exemplos não faltam.

Na bíblia medieval, o verbo se apresenta como "DEVERÁ". Deverá não é destino. Deverá é uma imposição. Ditadura. Na Idade Média, nem todos eram os escolhidos, mas deveriam seguir o caminho. Se não seguissem, seriam punidos. A diferença em relação aos predestinados, é que devem fazer algo, não necessariamente querem fazer, mas são obrigados pelas circunstâncias a atingirem seus objetivos, independentemente da força ou do meios que se utilizem. Devem. E pronto.

No texto original, o chinês do romance encontrou o verbo "PODERÁ". Poder é um verbo dos mais fortes e verdadeiros. Poder é decidir que será seguido um caminho. Poder é ter vontade própria. Poder é ultrapassar obstáculos. Poder não está preso à ditadura do dever ou o messianismo do ser. Poder é livre-arbítrio. Não somos algo, mas podemos ser. Mas para podermos ser, devemos lutar por isso. Devemos chegar pelo próprio esforço e vontade. O verbo poder, ao contrário do que acham os ditadores ou os escolhidos, é que move o mundo.

Em 2009, ano do centenário, Fernando Carvalho declarou, em tom irado, que o Internacional lutará para vencer todos os seis títulos que disputará. Lutar não se inclui necessariamente em nenhum exemplo acima. Lutar é saber que para conquistar algo devemos nos esforçar. Sim, vocês podem dizer que está mais próximo de poder. Eu me arrisco mais. Dos seis títulos mencionados, dois aparecem como determinados. Seremos campeões da Suruga Cup, contra um time japonês, que, convenhamos, vamos ganhar, não é? Seremos campeões da Recopa, ida e volta. A LDU desmontada. Até o Bolaños saiu de lá. Não menosprezando, é um título de força, mas o destino nos empurra para essa conquista. Nós DEVEMOS ser campeão gaúcho. Por mais que o Gauchão seja um trambolho no caminho da dupla, este campeonato é dever dos colorados. Não temos praticamente nada de terrível para enfrentar até o fim de abril, esta é a realidade, e o Gauchão é nosso dever. Assim como a Copa do Brasil. Se consideramos que temos um dos melhores elencos do Brasil. Que bem treinados seguiremos adiante na Copa, não vai ser o Flamengo, Fluminese ou o Corinthians do Gordo que irá nos atrapalhar. Devemos ser campeões da Copa do Basil. Somos um dos favoritos e temos que encarar essa empreitada de frente. Sem medo. Sem amarelar na hora derradeira. Ganhar a Copa do Brasil é obrigação.

Enfim, PODEMOS ser campeões brasileiros e da Sul-Americana. Podemos. O Náutico ou o Santo André é que não podem. Nós, podemos. Mas para sermos campeões destas duas competições paralelas, teremos que suar mais que o plausível. Jogar mais que o simples. Correr mais que o Guiñazu. Não somos obrigados a vencer as duas. As duas têm vários favoritos. Muito mais que os outros campeonatos. Mas são essas competições que vão contar. Estas que vão alimentar nossos sonhos. Muito mais o Brasileirão que a Sul-Americana. Sei que a Copa do Brasil leva à Libertadores, mas dizem que a Sul-Americana também levará. Então, que nos falta para voltarmos a vencer o Brasileirão? Falta PODER. Desejo de poder. Nós podemos. Em tempos midiáticos do marketing de Obama, diremos: SIM, NÓS PODEMOS.

Feliz 2009 para todos os colorados.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

FESTA, SIM!

Por Gustavo Foster

O principal assunto do ano não é o centenário. É o medo de que as festas do centenário atrapalhem o futebol. Na minha opinião, um pouco exagerado.

Gato escaldado tem medo de água fria, eu sei. Mas 2007 e 2008 são diferentes de 2009. Em 2007 era empolgação à flor da pele, a adrenalina dos 90 minutos contra o Barcelona se transformava em endorfina e dopamina. Resumindo: era como uma ressaca, depois de uma noite com as melhores cervejas e as mais bonitas modelos do mundo. Ruim, mas bom.

Em 2008 botaram a culpa em Dubai, mas o que rolou foi falta de vontade de voltar à vida real. Outro Mundial já tinha acontecido, precisávamos ganhar mais alguma coisa, dois anos era tempo demais. A vontade era de continuar, mas começava a amanhecer e a champagne tinha acabado há algum tempo.

Agora, no ano dos 100 anos, a coisa é diferente. E tudo por uma só coisa: os jogadores têm muito pouco a ver com o centenário. No Mundial, ELES ganharam. Em Dubai, ELES que conheceram o sheik. No centenário, não são eles que fazem cem anos.

A preparação tem sido feita com muita precaução: nada de autógrafos em demasia, palestras do Tite pra baixar a bola, Bento Gonçalves para acalmar os ânimos, treino no primeiro dia do ano. Acho isso completamente certo, mas, para a torcida, para "fora do vestiário", a data tem que ser lembrada. Maldição do centenário é coisa de fracassado que quer arranjar desculpa.

Eu sempre prezo pelo regular, pela média, nem céu, nem inferno. Não dá pra esquecer de jogar futebol e tirar o ano pra fazer festa, mas, por favor: não encarnem o espírito loser que tão tentando impor ao futebol – sem mata-mata, jogos sem torcida como punição, processo por avião flautista –, passando o ano sem lembrar de uma data que, pô, é importantíssima.

Então, o que eu acho é: vamos fazer festa, afinal somos um baita clube, estamos fazendo 100 anos, temos um time bom para o centenário, temos reconhecimento, o Nilmar vai ficar. Mas só não podemos esquecer do seguinte: a melhor forma de comemorar é levantando taças, e nós temos muitas pra levantar esse ano.

Que venha 2009. Boa sorte, colorado!

P.S.: Se a camiseta do centenário for mesmo essa que está sendo mostrada: parabéns, direção. Camiseta de time, principalmente numa data que lembra a história, deve ser o mais simples possível. O Inter é um time primariamente vermelho, com pouco branco. E só. Esse é o nosso uniforme: todo vermelho (e não laranja-marca-texto / vermelho-escuro-quase-preto como já vimos), com gola e partes da manga brancas. Simples e genial. Torcerei e, se for confirmado, provavelmente comprarei.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Por Daniel Ricci Araújo

Tenho a impressão de ver na maioria das pessoas a crença de que a falta de Libertadores no nosso Centenário explica-se pela apagada trajetória do Inter no Brasileirão. Eu, no entanto, tenho para mim coisa diferente. O pecado capital da temporada de 2008 ocorreu na Ilha do Retiro, em maio daquele finado ano. Foi ali, no momento crucial no qual alguns jogadores experimentados do elenco falharam, foi ali, empatando um jogo e estando com um a mais que o ano de 2008 entrou em uma letargia profunda, da qual realmente só veio a acordar quando Nilmar estufou a rede do Estudiantes, sete meses depois.

O nosso grande Calcanhar de Aquiles de 2008 foi a Copa do Brasil.

E por mais irônico que possa parecer (pausa: o futebol, ora pois, quase sempre é atroz e descaradamente irônico), o 8 a 1 no Juventude atrapalhou a classificação na Copa do Brasil. Tendo massacrado o time caxiense no domingo, o Inter, mesmo que não queira admitir, chegou mais desgastado para o jogo de ida contra o Sport no Beira-Rio, três dias depois. E mesmo tendo dominado escancaradamente aquela partida do primeiro ao último minuto, venceu só por 1 a 0. Ali, naquela vitória tranquila e mirrada, começou a escapar a Libertadores de 2009.

Não me entendam mal: o Inter tinha mesmo de ter feito oito, nove, dez, quinze gols no Juventude. A alma colorada pedia essa vingança, e fez bem ao clube aquele escore acachapante, como se o time e a torcida fossem uma pessoa que, recuperada, tratasse de nocautear a bofetadas um antigo inimigo que se aproveitara de um súbito momento de fraqueza seu. Mas aquele suor jogado na grama, aquela raiva misturada com alegria liberada, aquela oportunidade brilhando aos nossos olhos de simplesmente incinerar o inimigo foram como o contraveneno ministrado ao mais letal dos suicidas: satisfeito e empanturrado com aquele banquete de gols, o Inter foi dormir feliz. Mas mortalmente extenuado.

Em outras épocas e com menos carga sobre si, o Inter teria – quem sabe – desclassificado aquele Sport Recife até ao natural. No jogo em Pernambuco, assustou a maneira como a nossa equipe simplesmente perdeu o prumo da partida de um momento para outro, e isso jogando com um a mais. Águas passadas? Sim, mas aquele era um rio de fácil navegação e que atracava na competição mais importante desse ano. Imaginem o Inter na Libertadores com Nilmar, D'Alessandro e Alex. Pelo menos sonhar com o bicampeonato seria no mínimo um dever.

A tabela da Copa do Brasil de 2009, se tudo correr dentro da normalidade, nos anuncia em fevereiro o desconhecido União Rondonópolis e após, fazendo uma simples projeção, Guarani, Náutico, Flamengo, Coritiba ou Santos e, na final, Fluminense ou Corinthians. Ah, o Corinthians... Aqui um parênteses – que maravilhoso seria pegar o Corinthians na final desta Copa do Brasil. O Juventude já passou pela nossa vingança, mas nem todas as nossas contas foram acertadas. Temos que passar a régua e fechar a conta dessa outra cota pendente.

Esse ano, começamos a jornada de jogos com uma pré-temporada sem glamour mas convencional, pragmática. Ao que tudo indica o time que acabou 2008 jogando talvez o melhor futebol do país está mantido, Tite trabalha com mais confiança, sem a pressão inicial gerada por sua contratação e Fernando Carvalho está de volta oficialmente ao clube. O Inter está fora da Libertadores, mas a base está, e aqui continuará. E mais: jogar algo é menos importante do que vencer. Jogar, até o Boyacá Chicó joga. Jogar é para muitos, vencer é para um só.

O torneio mais importante do primeiro semestre o Inter entra para ganhar, ninguém duvida disso, do Oiapoque ao Chuí. O negócio agora é a Copa do Brasil. E tenho certeza que vamos com tudo.

Afinal de contas, a Libertadores precisa do Inter para ser melhor do que já é.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

TORCEDOR ANTES DE TUDO

Por Andreas Müller


O Conselho Deliberativo do Inter, devo confessar, ainda é um universo estranho para mim. Conheci-o pela primeira vez na noite do último 29 de dezembro, uma noite calorenta e de ruas semidesertas em Porto Alegre. Cheguei cedo, quase uma hora antes do combinado, apenas para ter certeza de que não perderia nada importante – ou pitoresco. Mas exagerei na dose e fiquei um tempão parado em frente ao salão, aguardando os demais conselheiros colorados se abancarem. Tudo muito calmo e protocolar. Nem parecia que naquela noite seria apreciado um assunto de primeira grandeza: o orçamento do Sport Club Internacional para o ano de seu Centenário.

Talvez você não saiba, então aí vão os parênteses de esclarecimento: eu sou um dos 23 novos conselheiros do movimento INTERnet/BV eleitos em dezembro. O grupo recebeu mais de 1.000 votos. Um resultado surpreendente, é verdade – porém legítimo, inapelavelmente. Hoje, contando-se com os dois conselheiros que já haviam sido eleitos em 2006, o movimento INTERnet/BV dispõe de 25 representantes no Conselho Deliberativo do Inter. Não posso negar que sinto um orgulho inominável de ser um deles... Mas isso é outra história. O Final Sports não é – e nunca foi – palanque político de ninguém. Voltemos, portanto, ao objetivo central desta crônica: descrever o ambiente peculiar que impera numa assembleia do Conselho Deliberativo do Inter.

Eu sei que vai soar estranho, mas o fato é que uma das primeiras coisas que chamam a atenção de um novato como eu são as... pipocas. Sim, pipocas. Pois há, na entrada do Conselho, uma máquina de fazer pipocas. Os conselheiros que chegam cedo podem ir até ali e pescar o seu saquinho de pipocas livre e gratuitamente. E assim é: enquanto a reunião não começa, os nobres representantes dos mais variados movimentos e correntes políticas do Inter se esbaldam em pipocas. O salão propriamente dito ainda está vazio e, aos poucos, começa a se formar uma fila considerável em frente à mesa com a lista de presenças. Mas quase todos os conselheiros se apresentam devidamente munidos dos seus saquinhos de pipoca.

Entrar no salão do Conselho Deliberativo é uma experiência à parte. Tem-se ali um verdadeiro parlamento. São cerca de 300 cadeiras dispostas em meia lua em torno de uma mesa central – onde se localiza a diretoria. No fundo, jazem os quadros de alguns dos ex-presidentes mais ilustres da história do Internacional, todos eles devidamente pintados à mão. E é no mínimo honrosa a tarefa de se sentar sob o olhar de Henrique Poppe Leão tendo nas mãos a responsabilidade de apreciar assuntos cruciais para o futuro do clube que ele ajudou a fundar.
Eu disse que o Conselho Deliberativo do Inter se parece com um parlamento? Pois peço desculpas pelo eufemismo: o lugar é um parlamento no sentido literal da palavra. Conselheiros alinhados à “situação” – isto é, que apoiam declaradamente a atual diretoria do Inter – sentam-se à direita da mesa-diretora. Já os de “oposição” se colocam à esquerda. No centro se posicionam, ainda, os “independentes” e alguns desgarrados de grupos mais antigos. É mais ou menos por ali que eu e meus 24 colegas do INTERnet/BV procuramos assento nesta primeira participação.

A reunião começa com um discurso do atual presidente do Conselho Deliberativo do Inter, Claudio Bonatto, que lê a pauta do dia e faz algumas considerações iniciais. É assistido de perto por Vitório Piffero, Mário Sergio Martins da Silva e outros ilustres membros da casa. Sem demora, os conselheiros começam a se manifestar a respeito do assunto primordial desta noite: o orçamento do Inter para 2009. Fazem questionamentos, sugerem ideias (algumas delas, excelentes) e também dirigem algumas críticas à direção. Todas as intervenções, elogiosas ou não, têm resposta por parte da diretoria. Em alguns casos, é o próprio presidente Piffero que se encarrega de respondê-las. E assim se encaminham as discussões sobre o orçamento do Inter para 2009 – que, minutos mais tarde, será aprovado por unanimidade.

O ponto curioso é a reação dos conselheiros a cada intervenção. Se um representante da situação se manifesta, recebe aplausos somente do pessoal da própria situação – os demais o ignoram. Da mesma forma, um discurso de alguém da oposição é ovacionado somente pelos da oposição. Não importa o que se diga; se a ideia é brilhante ou inútil, se a sugestão é genial ou desprezível – cada conselheiro só recebe apoio explícito entre os seus. Já eu, novato que sou, procuro me manter fiel a meu pragmatismo de torcedor: aplaudo todos que falam de algo que considero útil para o Inter, independentemente do fato de estarem à direita ou à esquerda da mesa-diretora.

A reunião se aproxima do fim e, agora, a pauta entra naquele terreno mais pantanoso, normalmente designado como “assuntos gerais”. Vários conselheiros pedem a palavra. Uns são mais econômicos e pragmáticos: fazem perguntas objetivas, vão direto ao ponto, dão o recado e esperam pela resposta. Outros preferem exercitar a própria retórica e se deixam demorar em torno de assuntos recorrentes, já exauridos por outros conselheiros. Há, ainda, aqueles que preferem açoitar adversários políticos. É um negócio meio assustador, à primeira vista. Mas o fato é que tudo transcorre dentro da mais cristalina normalidade.

Por que estou entrando neste assunto justamente hoje?

Simples: sou colunista do Final Sports desde 2002. Aqui eu já fiz críticas, elogios, crônicas e odes sobre os mais diversos temas relativos aos Inter. Já pisei na bola muitas vezes, mas também já acertei lá na gaveta. O certo é que, nestes quase sete anos, eu jamais me despi do sentimento mais genuíno de torcedor colorado. O que eu falo, o que eu sinto, tudo que vem desta cachola é inapelavelmente colorado. Assim continuará sendo nos próximos anos. Todas as segundas-feiras, o leitor do Final Sports poderá ler, aqui, minhas opiniões sobre tudo que diz respeito ao Inter. Serão opiniões de um conselheiro, sim senhor. Mas serão, mais do que isso, opiniões de um simples torcedor colorado de arquibancada. Um torcedor que não tem nenhum outro interesse senão o de ver o Inter ser “campeão de tudo” – ou, melhor ainda, campeão de “tudo de novo”.

Um excelente 2009 a todos.

sábado, 10 de janeiro de 2009

ESTE ANO...

Por Raphael Castro


Vamos e venhamos, esta época é chatíssima: as especulações de sempre, notícias “receita de bolo” só pra ocupar o espaço suarento do verão jornalístico, e a galera nas redações batendo o espantamoscas (ortografia nova aqui?) contra suas camisetas de física, ao ritmo de lufadas quentes geradas por precários ventiladorzinhos de mesa. Como se vê, tudo mui deprimente, a exemplo daqueles “hang looses” que os boleiros mandam pavlovianamente para os fotógrafos a cada volta em torno do campo. Parafraseando Kurt Cobain, abstinência de futebol é, definitivamente, um horror...

I can see the light

Só que este ano tem “novidade”; sim, as aspas cabem aqui. Malditamente, aliás: este ano parece que estamos fazendo a coisa do jeito que se deve, ou seja, botando a rapaziada pra correr desde cedo, pra ninguém morrer antes da metade do segundo tempo. Depois de duas pré-temporadas sob o comando de Abel, o Maluco Beleza, subimos garbosamente a Serra com Adenor e seu espírito geométrico-pastoril.

Preparação

Com a rotina “Capitão Nascimento” do Dr. Fabio Mahseredjian (não dizer o nome dele ao contrário, se não ele é tragado para outra dimensão, que nem aquele inimigo do Super-Homem), podemos ter algumas certezas - e, se não certezas, razoáveis presságios, vai: o preparo físico vai melhorar e muito (algo como um engenheiro ter que saber aritmética, pra dizer o mínimo às mentes privilegiadas do biênio anterior); já teremos um esquema definido, que se provou minimamente efetivo nas lides platinas do ano passado; e continuamos atentos ao mercado (argh!), inclusive tentando acastelhanar mais ainda o time, via o argentino Ricardo “Tição” (Noir, para os franceses). Enfim, em tudo e por tudo, indicações de que não se repetirá marca no vanerão colorado este ano...

Contraponto

O contraste com a programação colóide dos últimos anos, então, é ao mesmo tempo saudável e irritante (mais ou menos que nem espremer espinha): tivesse havido, como (sempre) cobrado, mais inteligência e atenção com o início das temporadas ‘07 e ‘08, salpicadas com seriedade e recheio nas calças, certamente a(s) história(s) seria(m) outra(s), e o Centenário, americano. Mas fiquemos assim, seis competições...e no mínimo quatro títulos: Recopa, Gauchão, Copa do Brasil e Brasileiro são absoluta obrigação (como diria o meu nativista, tradicional, intransigente e inquisidor avô, S.Assis P.Ererê, “ou ronca a erva, ou não me pede mais mate...”).

Tópicas: vestes talares

Pelo amor de São Padre Cacique e de Nossa Senhora do Amor Rubro Todo-Poderoso, não vão me enfezar (de fezes, mesmo) a camisa do Centenário: vermelha, com gola e punho branco. E deu.

Tópicas 2: the question

Escaparemos do sempre redivivo FEBEPEÁ este ano? Nah, receio que não...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

PRA QUE SERVEM OS LATERAIS?

Por Marcelo Benvenutti

O Filósofo tem razão quando afirma que o maior reforço colorado em 2009 é a manutenção do grupo que venceu a Sulamericana. Se não é o melhor time do mundo, vinha jogando bem nas partidas finais do torneio, apesar do apagão no segundo tempo da final. No momento que escrevo, a direção estuda a venda do Edinho. Nada apareceu de oficial em relação ao Alex e uma possível saída dele. Nilmar, Guiñazu e D'Ale são, por enquanto, inegociáveis.

Se estamos bem na zaga, julgo que estamos bem, afinal, zagueiros têm que ser utilizados nas laterais, nestas, estamos cambaleando. Em defesa da direção, afirmo que não é fácil encontrar bons laterais. Tipo, bons mesmo! Assim como não será fácil encontrar um substituto para Alex jogando como ele vinha jogando. Se o Alex repetir o ano, já está ótimo. Tento pensar assim como pensa o Filósofo. Não adianta pensar diferente. O treinador é ele, eu sou colorado, quero que o Inter se dê bem dentro do possível, ou seja, dentro do que ele pensa e faz.

Se Edinho for vendido, acredito eu, entra o Sandro. Se Alex sair, ele coloca o Taison. Se contratarem um companheiro para o Nilmar, joga o companheiro do Nilmar. O lateral-direito, tão raro quanto um bom esquerdo, ainda poderá ser contratado. Mas não me empolgo com laterais. Eles não existem mais e faz tempo. Não existem mais como existiam antes. As famosas linhas de quatro que todos falam, e eu entendo cada vez menos quando falam, pra mim não passam na prática de um retorno ao passado. Não quer dizer que sejam ruins. Mas com dois laterais presos como o Inter vinha jogando, um volante pra "fazer o serviço sujo", segundo palavras do próprio Edinho, dois meias com características mais de marcação, um meia de cada lado e um atacante isolado? Mais parece um retrancão num lance tipo 4-3-2-1. É o que eu vejo. Onde tem linhas de quatro? Vou saber eu, sei que o Filósofo optou pela segurança defensiva acima de tudo. É o natural. Dele.

Mas se Nilmar tiver um companheiro, Alex, ou quem ficar no lugar dele, jogar no meio e Edinho for embora, teremos um 4-4-2. Sem quadrados. Sem líberos. Se os laterais, que duvido muito, apoiarem bem, teremos um time mais que avançado, em termos de se atirar para frente. No que, infelizmente para grande parte de nós, colorados, tenho que admitir, Edinho fará falta. Sim, críticas abaixo, mas se queremos laterais que apóiem, meias que vão e voltem e façam a ligação, dois atacantes natos, dois zagueiros que saibam sair com a bola, quem fará o "serviço sujo"? Sandro não parece ser o mais indicado. Guiñazu já sabemos que marca por dois ou três. Por essas, tentando pensar como o Filósofo, acredito que o lateral-direito não vá fazer muita diferença. Bolívar jogará disfarçado de lateral. Ou Sorondo fechará um triângulo. E o Filósofo vai disfarçar um 3-5-2 quando ataca e um 4-4-2 quando defende, no que linhas de quatro, números e laterais se perdem.

A verdade, pra mim, não sei se para o Filósofo, é que gosto de times que marcam no meio de campo sem deixar chance para que o adversário avance. Isso é o óbvio. Se o time se contém atrás, necessita de armadores habilidosos e atacantes rápidos. Isso o Inter tem. E de bons volantes marcadores. Isso relativamente temos. Restam as laterais. Se os meias abrirem, uma hora um ou outro para uma jogada mais aprofundada e um lançamento em diagonal, pegam um Nilmar correndo nas costas da zaga. Se uma vez ou outra um dos volantes avançar para se transformar em surpresa, ou mesmo um zagueiro. Se os zagueiros cobrirem as laterais, ou os volantes, ou os meias, já que jogamos praticamente com quatro zagueiros. Se acontecer tudo isso, afinal, me expliquem, sim, eu não sou nenhum gênio, preciso que me ajudem, para que servem os laterais?

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

QUAL PARTE, DANIEL CARVALHO?

Por Daniel Ricci Araújo


No último domingo, em entrevista ao site Globo.com, o pai de Daniel Carvalho nos brinda com uma declaração no mínimo curiosa (digamos curiosa para, pelo menos por enquanto, preservar por antecipação o personagem desta crônica).

Fala Álbio Carvalho, pai do outrora ídolo colorado (hoje em dia não se sabe) Daniel Carvalho, abre aspas: "O Daniel foi eleito por dois anos o melhor jogador da Rússia, tem um conceito muito grande lá. Só veio para o Brasil porque ele queria dar uma folga. Ele estava há quatro anos na Rússia, havia casado há pouco tempo e ganhou um filho. A ideia foi esta. Ele veio, cumpriu a parte dele, e agora vai retomar a carreira na Europa".

Não sei qual trecho da colocação agradará mais ao nobre leitor. Eu, particularmente, fiquei intrigado com o tal de "cumpriu a sua parte". Qual parte, Daniel Carvalho? A de um mísero gol no segundo semestre do ano passado? A das várias atuações sonolentas? A da falta dos dribles, dos lançamentos e dos chutes de outros tempos? Qual parte, Daniel Carvalho, qual parte foi cumprida? Falar mal de Daniel Carvalho é difícil, muito difícil. Custa muito à minha memória mais remota de colorado escrever uma crônica-acusação como essa, mas nada nos pode restar depois de ouvir uma declaração desse quilate.

Tentemos ser justos, e não debitemos essa loucura na conta quase óbvia do desrespeito à instituição. Sejamos justos e até algo a mais – façamo-nos um pouco puritanos como o pastor bíblico, ou o da "Marília de Dirceu": ou nosso Daniel dos Dribles Carvalho perdeu completamente o contato com o Planeta Terra, ou seu pai foi morar em Urano e esqueceu-se de voltar. Ou Daniel pensa como o pai, e está decididamente louco, ou desautoriza seu pai por ter dito o que disse, e mantém-se pelo menos a confiança se não em seu futebol, pelo menos em seu bom senso, ou o que tenha restado dele.

Mas se achamos que acaba por aí a cosa toda, ah não. Continuemos. Como quem dá a marretada final na vítima, o Sr. Álbio ainda afirma, no final, o seguinte escárnio: "O futuro a Deus pertence. Não temos mágoa nenhuma, futebol é assim", comentou. Vamos recapitular, pois depois do baque momentâneo isso é necessário: Daniel Carvalho não tem mágoa nenhuma do Inter. Daniel Carvalho recebeu um salário polpudíssimo, voltou a sua terra natal, não jogou nada vezes coisa alguma mas, que bom, que maravilha, saiu "sem mágoas". Agora é minha vez: por favor, parem o mundo que eu quero descer! Quando sai o próximo trem para Mercúrio?

Não é possível que um jogador de extrema, mas extrema identificação com a torcida – que, reza a lenda, acordava durante as madrugadas moscovitas para torcer pelo Inter em 2006 – tenha ido embora e, no fim de seu passeio por aqui, permita ou não discorde que seu pai e empresário cometa um desrespeito em forma de declaração.

Na verdade, eu torço (e muito) para que hoje mesmo o Sr. Álbio Carvalho dê uma enérgica resposta e diga que nunca, nunca, nunquinha deu, daria ou dará declarações como essas. Eu, mesmo assim, teria de continuar achando que seu filho foi a decepção do ano no Inter, mas isso já livraria nosso quadro de ídolos de perder uma de suas fotos. Daniel sabe bem como foi recebido de volta em 2008, mesmo numa época como a atual, na qual ele era somente mais um dos grandes jogadores do elenco. A torcida, que tanto gosta dele, merece, no mínimo, uma explicação. E espero que ela não demore.

Mas já que Daniel Carvalho cumpriu "a sua parte", como diz o próprio pai, talvez fiquemos mais uma vez a ver navios.