sexta-feira, 27 de março de 2009

GANHAR TUDO

Por Marcelo Benvenutti


Em 1990, eu ainda tinha tempo e paciência de sobra para assistir a quase todos os jogos de uma Copa do Mundo. Mesmo sendo aquela a Copa do Lazaroni, que no final das contas antecipou em termos táticos muito do que se viu acontecer depois, só que ele chegou antes do tempo em um país em que era necessário vencer uma Copa de qualquer jeito, desde que fosse jogando o futebol "carioca way of life".

Numa dessas tardes insossas me deparei com um Alemanha, na época ainda Ocidental, e Emirados Árabes Unidos. Pronto para um massacre, que veio a acontecer depois, diante da Alemanha com Matthaus, Klinsmann e Vöeller, nada mais natural, me acomodei para assistir ao jogo. Mas, no fim, o que me fez guardar esta partida na memória foi o Beckenbauer na casamata. Os alemães venciam por dois a zero e tomaram um gol dos árabes, treinados pelo Zagallo. O Franz, que já berrava irado no banco, entrou quase em convulsão, e assim continuou mesmo depois do time aplicar cinco a um no adversário. Sempre admirei a quase estupidez alemã no futebol em sempre seguir em frente mesmo quando tudo está perdido ou, ao contrário, tudo já está definido a favor. Foi assim nesse jogo, tinha sido assim na final de 1986 quando perdendo de dois a zero para a Argentina buscaram um empate e só perderam o jogo porque o adversário tinha Maradona e Burruchaga (aquele mesmo que tinha calado o estádio de um time "copeiro" dois anos antes). Se quiserem outro exemplo, assistam o filme "A Batalha de Berna". Nada a ver com outras batalhas bambas por aí. Uma batalha de campeões.

Fui lembrando dessa história, o Beckenbauer estressado no banco gritando para o time atacar num jogo que já estava definido num jogo da fase de grupos contra um adversário muito fraco, quando assistia ao Internacional na terça-feira diante do Esportivo. Depois de levarmos o gol do time de Bento quando estava três a zero, Tite começou a ficar nervoso. Taison diminuiu seu nervosismo. Mais tarde o Inter enviou outra sacola de gols em mais um saco de pancadas no Gauchão. Mas, mesmo assim, a câmera se fixava em Tite, de pé, gritando com os jogadores. Mexendo os braços. Orientando a equipe. Exasperado. Cansado. Estressado. Finda a partida e ele declara que não está satisfeito com o futebol apresentado. Que não deveríamos ter sofrido os gols que sofremos. Que a equipe tem muito que melhorar. Isso vindo do Tite, um treinador que sempre se definiu por dar entrevistas evasivas, inconclusivas e invariavelmente lotados de um otimismo destrambelhado.

Concordo com as atitudes e com as palavras do treinador colorado. Este é o espírito que deve ter um grupo vencedor. Que eu sempre quero que os times do Inter tenham. Jogar para vencer. Sempre. Se a vitória está concretizada, jogar para fazer mais. Se tomar um gol, partir pra cima. Se o adversário é forte, jogamos além dos limites para vencer. Se o adversário é fraco, idem. O problema é do adversário. Se o Gauchão é um torneio onde não temos inimigos à altura? Azar deles. Que o Rolo Compressor esmague a todos. Sem distinção. Porque, nós todos sabemos, o Gauchão não é parâmetro para nada. Mas é um torneio histórico que devemos conquistar de forma rápida e rasteira.

E que não se repita mais a dormência do time em Rondonópolis. A Copa do Brasil, não se enganem, é traiçoeira, mas os adversários são, na maioria, tão ou mais fracos que no Gauchão. Temos que avançar assim como nesse returno do Regional. Respeitando os adversários jogando os 90 minutos com obsessão castelhana, obediência tática germânica e talento individual brasileiro. Somente assim alcançaremos nosso objetivo. Que é, resumindo, bem simples e direto. Ganhar tudo.

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