quinta-feira, 12 de março de 2009

O HOMEM QUE SABIA SEUS LIMITES.

Por Gustavo Foster


Coreano é uma língua muito feia. Que me desculpe o oriental que, por um acaso, me lê. Mas não é bonita a língua sul-coreana: trancada, rápida demais, repetitiva. Por vezes, irritante. Falo com tanta certeza por ter trabalhado, durante três meses, com dezenas de coreanos. Não imagino o que acham do português do Brasil por lá (dizem que o nosso é um dos mais difíceis idiomas), mas eu prefiro mil vezes ouvir alguém falando francês, italiano – até mesmo inglês – do que o coreano.

E é do Pohang Steelers, time sul-coreano, que veio Andrezinho. E feio também parecia seu futebol, ao chegar. Impossível não lembrar do impressionante preconceito que a torcida colorada tinha contra o meio-campo: "Ah, nunca que esse coxa colada vai dar certo!", " Pra que contratar esse cara?, nem correr sabe!", "Melhor jogador do campeonato sul-coreano até o Michel é!" e impropérios afins.

Andrezinho ficou na dele, inteligente que é (aliás, a inteligência do negro de cabelo trançado merece algumas linhas: nunca reclamou de nada, nunca colocou-se contra a torcida, sempre valorizou o time em que estava e jamais provocou desavenças com qualquer pessoa relacionada ao Inter. Esperto). Como quem sabe o lugar que ocupa e o lugar em que deve estar, o carioca esperou. Esperou sentado, vendo Dalessandro, Alex, Guiliano, mais um pouco de Alex...Até que alguém se machucava, ou tomava um cartão vermelho, ou pedia folga para negociar com a Europa, ou alegava problemas familiares (para negociar com a Europa). E lá chamavam Andrezinho, o tapa-buraco. Falta volante? Andrezinho. Não temos meio-campo pra por? Andrezinho. O atacante não apareceu? Chama o Andrezinho. Do meio pra frente, ele fez todas.

E é ai que entra o ponto forte desse jogador: do meio pra frente, ele fez todas. E fez bem.

Andrezinho fez tantas improvisações – e tão bem – que chegou a hora de vê-lo desde o início, com seqüência e no lugar de origem. Como que combinado, saiu Alex. A imprensa, que já não gosta de defensivismo, praticamente obrigou um esquema com dois armadores. E quem seria o armador? Logicamente, o já considerado 12º jogador colorado. E, tal qual um formigueiro que é pisoteado por um tranqüilo elefante, Taison – até então o destaque incomparável do time de verão colorado – foi posto à sombra por um rápido, passador, centralizador, armador e, vejam só, chutador Andrezinho.

Ele já disse que, ao vir para o futebol gaúcho, aprendeu "a marcar e a atacar melhor", e é inegável a afirmação. Quando jogou com a camisa 5, na função de Magrão (que, se não sente, deveria sentir-se ameaçado), não só não comprometeu, mas jogou muito bem, marcando e chegando ao ataque como se aquela fosse sua função desde a concepção. E assim foi quando jogou substituindo Dalessandro, Alex, Taison e quem mais ele tenha substituído.

A dúvida que fica é se tudo isso é justificativa suficiente para tirá-lo do banco e afirmá-lo de vez como titular ou mantém-se a ideia de que o time é mesmo forte o bastante para ter um jogador do nível de Andrezinho no banco de reservas. Minha opinião ainda passa mais perto da segunda, mas não é difícil para mim imaginar um jogador de pernas tortas, coxas coladas, cabelo rastafari e andar desajeitado entrando em campo com a camisa 10 vermelha e tornando-se, discretamente, um dos jogadores mais importantes do elenco.

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