quarta-feira, 25 de março de 2009

O PÉ ESQUERDO DE KLEBER

Por Gustavo FosteR

Provavelmente antes dos 30 minutos do primeiro tempo da goleada (como tem sido recorrente) contra o agora não-acentuado Noia, Pedro Ernesto Denardin sentencia, em ondas médias: "esse Kleber é fantástico, é o melhor passador do Brasil!

"Não tenho acompanhado o futebol do resto do país, admito. Menos ainda os dados sobre número de passes acertados e média de eficácia nos cruzamentos, mas hei de, se não concordar, acreditar na informação dada pelo narrador. Que passador esse Kleber!

É rápido? É. Marca bem? Até que marca. É raçudo? Chega ao fundo de campo com frequência espantosa? Tem habilidade? Sim, sim e sim. Mas o que faz do selecionável ex-santista um jogador, para mim, fora do comum é a qualidade do passe.

Kleber tem nos pés a precisão congelante de John Bonham. Precisão chata, indubitável. Se o canhoto chega perto da linha de fundo e ameaça um cruzamento, o tempo-espaço se esculhamba e dá pra ver a cabeça na bola e a bola no fundo das redes. Assim como ao ver a baqueta do Bonzo sendo levantada: perfeição é o mínimo. Invariavelmete.

A lateral-esquerda é talvez a posição menos decisiva do futebol. Zagueiros são imprescindíveis; volantes resguardam tudo; se não são os meias, quem faz o time andar?; atacantes fazem os gols. Agora, laterais... Tá, cruzam, ocupam os lados do campo, cobrem a subida dos pontas, mas pô...

Só que Kleber é decisivo. Um cruzamento, um lançamento, uma jogada sua podem decidir um jogo. Não é a toa que o colorado é convocado regularmente para a Seleção Brasileira. Seu pé esquerdo é precioso, algo que há muito não se vê no Brasil (e no mundo, vale dizer), que carece de laterais desde Roberto Carlos (não o Rei, mas o do meião de 2006), que é lembrado na Europa como craque e no Brasil como culpado.

Nosso lateral parece não se dar conta de que futebol não é quantificável, não se gasta. Ele só joga o necessário, como que com medo de que um dia a bola se recuse a tomar a direção certa: "Já me usaste demais, agora chega!" Melhor ter cautela. Quatro a zero? Não pede bola, fica na intermediária defensiva, de vez em quando recebe a bola, olha para um lado, olha para o outro, analisa as possibilidades e dá apenas um toque na bola.

Apenas um toque, mas nunca um toque simples, nunca um toque mediano, corriqueiro. Sempre com classe, tal qual um médico renomado, cansado de medicar aspirina. Chega de "minhas juntas tão doendo", "acho que o remédio não tá fazendo efeito", "minha pele tá muito oleosa"... Kleber quer cirurgias cerebrais arriscadas, quer final de campeonato mundial com três expulsos para cada lado. No resto dos jogos, é só ir ao campo adversário três vezes, dar um ou dois cruzamentos, meia dúzia de passes e pronto. Maçante.

E é por isso que o Inter tem nas mãos peça rara. Não existem mais laterais convincentes. Nem aqui nem no exterior. São meias improvisados, zagueiros reservas quebrando galho, volantes que sabem jogar, mas nunca um bom lateral. Assim dito, nos resguardemos a assistir e pensar: "esse Kleber é fantástico, é o melhor passador do Brasil!"

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