quarta-feira, 29 de abril de 2009

AINDA NÃO.

Por Gustavo Foster

Ainda não é hoje que jogaremos contra um time decente. Me desculpem os torcedores do Náutico, que apresenta história respeitável e grandiosidade considerável no cenário dos desportos, mas não há comparação a ser feita. Sem ter visto, sei que o time do Náutico é mais fraco que o do Inter. Sei que eles têm um atacante que é muito rápido, que só fez menos gols que o Diego Tardelli no Brasil, que é candidato ao prêmio Friedenreich e tudo mais. Mas, convenhamos. Não é um time bom.

Ainda não é nesse jogo que o Nilmar e o Taison vão ter uma marcação apertada, que os amarre a faça o Inter jogar inteligentemente, com jogadores surpresa, com jogadas laterais trabalhadas, com Magrão chegando de trás e infiltrando-se na área. Ainda não é nos Aflitos que o Lauro vai trabalhar como Hiran na Arena da Baixada (lembra dessa, PVC!). Nem os zagueiros terão dificuldades extremas, nem Sandro mostrará que é o novo Mathaus, arrancando à força a 10 das costas de D’Alessandro. Hoje, nada disso será necessário.

O Inter só precisará jogar o que vem jogando. Mantem a bola por 65% do tempo e, em três escapadas pelo meio da área, entre toques, dribles e lançamentos, dois gols de Taison e um de Índio, num surto de centroavante do zagueiro consagrado.

Ainda assim, duas coisas devem ser ditas – mas, também, só pra ninguém vir encher o saco com aquela história de "salto alto", "não tem jogo ganho", "o Náutico pode surpreender a soberba colorada" -, e, obediente, as direi:

A primeira é que o Náutico é melhor que grande parte dos adversários do Inter, até então. Tirando Juventude, talvez a Ulbra e um outro time, lá da Azenha, todos os outros são times provavelmente piores que o vice-campeão pernambucano. Mas, como referido no título do texto, ainda não é um time do mesmo nível. É uma luta entre peso pesado e peso pena. Tudo pode acontecer, mas a probabilidade está do lado colorado.

A outra é: eu posso achar isso. O Tite, o Nilmar, o Mahseredjian (bota essa no programa, Huck!), o Píffero, esses não podem. Se chegar lá achando que tá ganho, vai perder. E, se existe um time que deve ter essa lição tatuada no lombo, esse time é o Sport Club Internacional. Que entrem em campo amanhã com os uniformes do Juventude, do Sport, do Paulista, do São Caetano e do Goiás por baixo do manto sagrado, mas que não tenham um daqueles apagões-muricyzísticos, daquela fase sombria pré-Adriano Gabiru.

Então, Inter, continua do jeito que tá, que tá bonito. Somos melhores que eles, mas desempenho passado, história, elenco, reportagem especial na ESPN e na capa do site da FIFA não ganham jogo. O que ganha é bola no pé.

Ainda não é o maior adversário, mas, ainda sim, é um adversário a ser batido.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A LUZ DE D`ALESSANDRO.

Por Daniel Ricci Araújo

Escrito em setembro de 2008, após a goleada colorada por 4 a 1 no Gre-Nal do Brasileirão.

A maior verdade do futebol é que ele não tem verdades absolutas.

O futebol é o esporte no qual o dogma é uma chicana, a certeza de domingo do sábio é a piada do bebum da esquina de segunda-feira. Demos uma perna filosófica ao parágrafo - o futebol é um esporte socrático. Sobre ele, só sei que nada sei.

Digo isso porque depois da grande atuação de D’Alessandro ontem, veio-me à mente a conhecida frase de Alfredo Di Stefano: “nenhum jogador é melhor que todos juntos”. O grande craque argentino tinha lá suas razões, mas vamos e venhamos: os “todos os jogadores juntos” que jogavam com ele no Real Madrid e no River transformariam qualquer múmia que os acompanhasse num craque irretocável. É certo: o coletivo é a maior força do futebol, mas aqui mesmo eis um dogma. E no futebol, os dogmas fenecem para viver de novo e, depois, fenecer mais uma vez.

Mas refiro isso para falar do clássico de ontem e da maneira pela qual ele se resolveu. O Gre-Nal era igual, era um recém-nascido ainda ofegante e, do nada, D’Alessandro acerta uma patada referencial no gol gremista. O Inter toma as rédeas do jogo, o Grêmio equilibra, e como empata? Com outra sapatada do - pelo menos para mim - menosprezado Tcheco. Um golaço. O Gre-Nal caminhava para um equilíbrio atômico, tonitroante, um equilíbrio mortífero e stalingradiano.

E aí surgiu a luz de D’Alessandro.

Com toques, lançamentos, pausas e inteligência, D’Alessandro liderou o Inter e o levou à vitória decisiva e arrebatadora. Guiñazu e Índio foram gigantes, mas ninguém jogou mais que o primeiro argentino. A sua participação ostensiva durante a partida rebaixou os outros jogadores, tomou-lhes o lugar e o reconhecimento. D’Alessandro teve uma daquelas atuações incomuns, conceituais, e jogando um arroz com feijão divino (ou seria um asado de tira?). O argentino é lúcido, minimalista. Seu toque tem um quê de introvertido a contrastar com a espontaneidade tradicional da habilidade brasileira. E joga com um metodismo capaz de constranger o mais compenetrado primeiro-volante que se possa achar por aí.

Os mais experiente sabem: a sofisticação é a bengala do mundo, não as suas pernas. Não é sempre que se enche um cavalo de soldados para entrar em Tróia, ou que se cavalga por cima de um exército inimigo na garupa de um elefante. Para triunfar, quase sempre é necessário marchar no sol a pino ou rastejar pela lama mais humilhante, comer o pão mais simples e a água mais morna: simplicidade. D’Alessandro é assim - é desses que brilham, mas dispensam a garupa do elefante. Sua plasticidade tem um algo de comum que encanta e escandaliza. Não se vê uma janelinha, um balãozinho, um toque desnecessário de calcanhar. Embaixadinhas? Não. Pedalada? Nem pensar. D’Alessandro não bate de letra, não dá chaleira e nem passa de peito: seu jogo é pornograficamente simples, e sua singeleza constrange os outros. Um maestro em campo. E de chinelos!

Di Stéfano deverá estar certo, serenamente certo. “Nenhum jogador é melhor que todos juntos”.

Mas alguns poucos são bem melhores do que os outros.

domingo, 26 de abril de 2009

REMEM, MELETAS...!

Por Raphael Castro

Olha aqui, eu sei que tá todo mundo babando o ovo desse time do Inter, mas faz favor: jogamos com quem até agora? Não me venham dar como exemplo essas goleadas narcóticas contra uns descamisados sem eira nem beira. Pra mim, vitória sem "pedigree" não conta. Isso mesmo, estimados(as) leitores(as), vocês estão lendo certo: ouso ir contra tudo e todos, esta rasgação de seda em cima do Internacional está me embrulhando; daqui a pouco vou ter um coma glicêmico com as páginas de esportes. Xô, saiam fora, sumam daqui os elogiadores embusteiros, os bajuladores venenosos...! Abaixo, a crônica mela-cueca...!

De fato

Pois é, e lá vou eu me emocionar com umas "La Bobas" de meia tigela em cima do lateral do...Guarani?!?! Com um placar de 8 a 1 contra o...Caxias?!?!? Com 17 gols nos últimos três jogos começando com a...Ulbra?!?!? Ah, faz favor, vamos combinar. Sério, quem eles acham que ‘tão enganando com esses showzinhos mequetrefes contra uns mortos de fome de terceira divisão? Querem exibição? Então vão pro circo, que aqui é responsabilidade, é raça, é seriedade; É, seu Taison, vamos ver como vai ser contra as defesas do Brasileirão; pois é, Dr. Nilmar, vamos manter essa média contra um São Paulo, um Cruzeiro, um Flamengo; ô, Sr. Índio, vamos parar com essa bobagem de querer passar do Figueroa, é só jogar bola, tá? Marketing, leitores(as), puro marketing, como dizia o...aquele lá, como é nome dele...? Enfim, deixa pra lá...

Rolo

Mas ela, a mídia, sempre a mídia, também não ajuda; é "Rolo Compressor" pra cá, "máquina do meio pra frente" pra lá...pô, será que não se mancam? Aí nós vamos lá pro Recife agora jogar contra aqueles invertebrados que conseguiram perder – eu disse PERDER!! – a tal da batalha de sei-lá-o-que, e, se a gente não passar, vão dizer o quê? Que o técnico tava indo pras Arábias? Que os guris não agüentaram a ronca (com "R" mesmo) da decisão? Que somos uns matusquelas, que isso, que aquilo, que balacobaco do catirifofo? Tá, então é o seguinte: vocês ainda vão ter que trabalhar muito, mas muito, pra me convencer de que são a última picanha do espeto mesmo...agora, chega, vão lá suar sangue, vamos ver como vai ser quando a cincha arrebentar (como dizia o meu severo, gélido, exigente e disciplinador avô, S.Assis P.Ererê, "macho que é macho dorme pelado na neve e acorda suado...").

Só um instantinho...

O(A) caro(a) leitor(a) deve ter estranhado o momento "Celso-enxaqueca" acima; vamos então falar baixo pros jogadores do Inter logo ali não escutarem: esse time tá esmerilhando, minha gente, tá realmente chutando o pau da lona, matando este escrevinhador de felicidade. Mas deixa, deixa: senão daqui a pouco o troço desanda. Vamos deixar o pessoal ali quietinho, na maciota, só trabalhando. Esse ano ainda vai longe, meu São Padre Cacique...

Tópicas: louvar vaga na outra fase

Já vi FEBEPEÁ cometido; mas pedir pra cometer realmente era inédito...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

sexta-feira, 24 de abril de 2009

HOJE, AMANHÃ E DEPOIS...

Por Thiago Marimon


A traiçoeira Copa do Brasil segue fazendo suas vítimas dentre os clubes do chamado pelotão principal, ontem o Santos juntou-se ao Botafogo na lista dos precocemente eliminados, facilitando nosso caminho na luta por mais este caneco. Nós seguimos, e com louvor, para enfrentar o vencedor do confronto entre Criciúma e Náutico, hoje à noite, em Recife.

Mais do que uma vitória, quem esteve ontem no Gigante viu mais um show. Show de D’alessandro, o maior meia que já tive o prazer de ver jogar ao vivo, de Taison, rápido e objetivo como sempre, de Alecsandro, mortal dentro da área, de Índio, rumo à tornar-se o zagueiro com mais gols envergando o manto alvi-rubro. O clube vive uma fase mágica, diz o Presidente, a torcida está em estado de graça, alardeiam os entendidos. E o melhor, isso tudo é verdade. Difícil conter a euforia quando se vê o futebol apresentado pelo Inter de 2009. Sair de casa e rumar ao Gigante é garantia de gols. Resta saber quantos Taison irá guardar, quantas colunas D’alessandro entortará, quantos quilômetros o pulmão de Guiñazu aguentará. O Inter já não joga mais bola, dá show.

Os adversários, desde os mais tradicionais aos esporádicos, acusam o golpe. A imprensa, aquela ora azul, hoje é criticada aos quatro cantos por ser vermelha. A ordem hierárquica entre as competições não é mais respeitada. Tanto faz se os adversários a serem batidos falam português ou espanhol, afinal, como já se percebeu, são todos do mesmo naipe. Imprensa, torcida, secadores e demais amantes do esporte bretão querem gols, querem ver show. E isso, quem faz é o Inter. A equipe é solidária, aplicada e altamente competitiva. A repetição do esquema tático adotado por Tite vem dando resultados. Fabio Mahseredjian colocou todos na ponta dos cascos. O time está voando. E, sim, eu estou deslumbrado!

Porém, um pé atrás nunca é demais. Pois, apesar da evolução de Bolívar, ainda carecemos de um lateral direito mais presente no apoio e, muito embora não tenhamos sofrido gols nos últimos jogos, um zagueiro mais seguro e menos lento que Álvaro é recomendável. Além disso, adotando o co-irmão como parâmetro, veremos que desde o início da temporada fizemos apenas três jogos contra um adversário minimamente respeitável. Vencemos os todos é bem verdade, mas para uma projeção mais precisa do que esperar para este ano, necessitamos de uma maior amostragem. O primeiro grande teste do ano já tem data marcada. Acontece no dia dez de maio, no estádio do Pacaembu, contra o badalado MSI de Gordo e Brother Menezes, na abertura do campeonato nacional, obsessão colorada desde os gloriosos anos setenta.

Com Lauro, Bolívar (Leo Moura?), Sorondo, Índio e Kleber; Sandro, Guina, Magrão e D’ale; Nilmar e Taison e SETENTA E SEIS gols na temporada - média superior a TRÊS por jogo – eu acredito.

Manifestai-vos discípulos de Washington Olivetto, isso tudo é puro marketing!

Saudações Coloradas...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O QUE ACONTECEU NAQUELE DOMINGO.

Por Gustavo Foster


O que aconteceu naquele domingo, quando menos de 40 mil privilegiados tiveram a honra de assistir a pouco mais de 90 minutos sublimes, em um palco gramado encoberto por chuva e gritos? A resposta “um jogo de futebol” é, ao mesmo tempo, a mais correta e a mais absurda das respostas.

O Inter não foi um time de futebol; Nilmar, Taison e D’Alessandro não foram jogadores; nós não fomos espectadores. Fomos todos algo mais. Participamos ativamente de algo jamais visto, algo único. Algo que merece, sim, ser lembrado para sempre na história do futebol.

Os primeiros 45 minutos foram a imagem da perfeição transmitida por um jogo de futebol. Só um time jogava, só 11 jogadores encostavam na bola (com exceção, talvez, do goleiro Lauro), só o Inter fazia gols. E como fizemos. Não há registros na história do esporte universal de uma superioridade tão gritante refletida em uma diferença tão espantosa no placar. Sete a zero. Um gol a cada 6 minutos, se eu ainda consigo raciocionar matematicamente (Guiñazu parece ter me retirado essa capacidade, após o seu gol – teria sido o quarto? Talvez o quinto. Ou o nono).

O resumo do primeiro tempo é: saída de bola. Se foi dada pelo Caxias, o Inter roubava com Sandro, que passava para Guina. Este devolvia para Sandro, que abria com Magrão, que jogava para Bolívar. Bolívar lançava para Taison na ponta. O guri fazia um remelexo genial, todo o sistema defensivo ficava desconcertado e, nesse instante, a bola já tinha passado pelos pés de D’Alessandro, que dava um La Boba em um volante qualquer, e estava nos pés de Nilmar. Nilmar colocava 200 no retão, ia até a outra linha de fundo, deixava de calcanhar para Kleber, que cruzava para Taison. Esse é o significado de “envolver o adversário”.

O time do Caxias parecia composto por atores contratados por Píffero. Corriam atrás da bola, mas pareciam agir pelo espetáculo. Espetáculo, por óbvio, colorado. E isso corrobora a minha opinião da perfeição. Jamais um time jogará mais que o Inter do primeiro-tempo. Chegará perto, se igualará, mas nunca passará disso. É contra qualquer lei ou regra vigente.

O que aconteceu naquele domingo?

Aconteceu que todos resolveram jogar espetacularmente bem. Não houve alguém que tenha cometido algum erro, seja ele técnico, tático, plástico, físico. Nada. O Inter jogou um futebol que fez a torcida sorrir e, mais do que isto, rir. Ouviam-se risos fáceis, risadas satisfeitas. Gargalhadas de bem-estar. Uma terapia, um retiro, um hotel 5 estrelas para mente e olhos. Os passes de D’Alessandro, as corridas de Taison, os dribles de Nilmar, os cruzamentos de Kleber, os carrinhos de Sandro, a onipresença de Guinazu faziam feliz quem ali estivesse.

E por isso a afirmação. Foram 30 e poucos mil que tiverem sorte. Não há televisão que mostre a vontade com que todos ali cantavam. “Colorado, colorado: nada vai nos separar. Somos todos teus seguidores, para sempre eu vou te amar.”

E para sempre vão amar e seguir, mesmo. Pois 100 anos de torcida se pagam em míseros 45 minutos. Foi isso que aconteceu naquele domingo: um jogo que recompensou tudo que qualquer pessoa já tenha feito por um time.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

UM SÉCULO EM 45 MINUTOS.

Por Marcelo Benvenutti

Em 45 minutos, o Internacional mostrou aos 40 mil presentes no estádio e aos milhões que acompanharam ao vivo ou por reprises o que realmente podemos chamar de futebol. Que os faladores, os secadores, os mau humorados falem que o adversário estava desfalcado de dois jogadores emprestados pelo próprio Colorado. Que falem! Se estivessem em campo, falariam, maldosamente, que estavam vendidos. Que falem que Gauchão não vale nada, e não vale muita coisa mesmo, não vale nem o cargo de treinadores antes ditos como competentes. Competem tanto que esquecem o básico. Vencer. Jogando futebol. Por que não?

Em 45 minutos, o Internacional finalmente mostrou o que sabe fazer. Muitos dirão que o jogo foi fácil. Não. Não foi fácil antes. Não seria agora. Os jogos nunca são fáceis. As corridas na chuva não são mais difíceis. O piloto é que a torna mais fácil. Os gols de placa não são feitos por acaso. Nascem do virtuosismo dos escolhidos. Dos escolhidos que lutaram pela perfeição. Ninguém é escolhido por acaso. Não existe mágica. Existe trabalho. Trabalho e imaginação. Imaginação e sorte; dádiva e dor. Tudo nasce e morre ao mesmo tempo. Assim como um gol colorado após o outro.

Em 45 minutos, o Internacional marcou e fechou todos os espaços do valente Caxias. Valente porque ousou jogar de igual para igual. Devemos valorizar os insanos que assim pensam. O racionalismo riograndense chegou a tal ponto da intelectualidade inóspita que, aqui nessas plagas, ousar jogar futebol é considerado uma chaga de Cristo. É um pecado imortal. De carioca pra baixo é o time xingado. Pois o Internacional não teme ser carioca. Pois o Inter é carioca. É paulista. É argentino. Italiano. Inglês. Africano. Sempre foi assim. Desde o início dos tempos. E os tempos começaram em 4 de abril de 1909. Dia em que nasceram o Internacional e Vicente Rao. A alegria do futebol.

Em 45 minutos, D'Alessandro, o centro da roda colorada, fez o jogo girar ao seu redor. Guiñazu e Magrão cortando pelos lados. Sandro, um verdadeiro camisa 5 usando a 8 nas costas, guardando a zaga. Álvaro se redimindo de noites passadas. Índio perdendo gols. Bolívar dando ares na frente. É dele o passe para um dos gols. Kleber, finalmente solto de suas grades pelo Tite. Solto por Sandro. Por Guiñazu. Kleber fazendo de ponta o que um lateral deve saber das pontas. Cruzar com precisão. E Taison? Quem é ésse cara? Taison é um extraterrestre. Taison não existe. É um bólido incandescente circulandopela área adversária. Nem mesmo Nilmar consegue alcançá-lo. Taison é o pulmão colorado. Taison é o estertor da civilização vermelha.

Em 45 minutos, o Internacional jogou futebol. Futebol como poucas vezes se viu, e talvez se verá, no gramado verde da beira do Guaíba. E o pior é que não existiu nada de mágico naquilo. Ou melhor. Pois o Internacional trabalhou para isso. Tite esbravejava com o placar de 5 gols favoráveis em meia hora de partida. Maior obsessão, impossível. Esse time do Inter é feito de obsessivos. Treinado por um obsessivo. Que comemora um título ao lado da mãe, nervosa, chorando, com o terço na mão. Nem só de terços vive este time. Não negamos as ajudas dos céus ou dos infernos, de um dos quais D'Alessandro parece ter vindo. Este time é a obsessão de um homem chamado FernandoCarvalho. É a obsessão de uma torcida, sofrida, calejada, que não quer só ver seu Inter ser campeão. De qualquer jeito. Sim, quer vencer. Mas mais que vencer. Os colorados amam o futebol. Nós queremos espetáculo.

Em 45 minutos, a torcida colorada reviveu o futebol épico de outras eras. Era como se Carlitos estivesse ali recuando para cabecear inclinado. Como se Escurinho e Falcão estivessem trocando passes de cabeça até matar torcedores de infarto nas arquibancadas. Como se Valdomiro fizesse aquele golaço na final do estadual de 1978. Fabiano naquele golaço de fora da área contra o Santos. Fernandão no bate-roupa de Ceni. O Internacional estabeleceu para si o parâmetro de seus próprios limites.

Em 45 minutos, o Internacional apresentou todas as suas armas. Agora, tudo o que vier será comparado. E é bom que exista a comparação. Pois quando se atinge o ideal, o máximo que se exige é repeti-lo. O máximo que se exige é revivê-lo. O Inter reviveu seus grandes jogos e seus grandes times. O Rolo dos 40. O Rolinho dos 50. A máquina dos 70. Uma aceleração do futebol da Libertadores de 2006. Um grande clube estabelece suas próprias limitações.

Em 45 minutos, o Internacional estabeleceu que para ele não existe limites.

Em 45 minutos, o Internacional jogou por um século.

*Ps.(1): Semana passada no texto sobre os camisas 7 realmente esqueci oTinga.

**Ps.(2): A Copa do Brasil é nossa sina. Devemos vencê-la. De qualquer modo.

Nem que seja … jogando futebol.*

segunda-feira, 20 de abril de 2009

SÓ A HISTÓRIA COMPREENDERÁ.

Por Andreas Müller


Será preciso que se passem algumas décadas, quem sabe um século inteiro para que os acontecimentos de ontem revelem sua verdadeira grandeza para a história do futebol gaúcho. Porque hoje, ainda ofuscado pelo brilho das conquistas que o Inter vem agrupando nos anos recentes, o verdadeiro massacre cometido contra o Caxias chega a parecer um mero e pitoresco detalhe. É como se a goleada tivesse ocorrido ao natural, sem qualquer tipo de esforço ou inspiração; é como se do Inter não se pudesse esperar outra coisa e a goleada de 8 a 1 sobre Caxias, em plena final da Taça Fabio Koff, fosse nada mais do que uma obrigação burocrática para um time do quilate do Sport Club Internacional.

No futuro, quando o distanciamento do tempo permitir interpretações menos apaixonadas e mais pragmáticas, é provável que torcedores, jornalistas e dirigentes finalmente se deem conta do que realmente era e representava este Inter – o Inter do Novo Século. Quando este dia chegar, eles perceberão que, sob o comando moral e simbólico de Guinazu, o Inter deu início a um ciclo de vitórias e goleadas inenarráveis nos primeiros anos do século 21. Um ciclo sustentado pelos mesmíssimos valores e virtudes que eram cultuados pelo mitológico Rolo Compressor dos anos 40.

Neste dia, os torcedores, jornalistas e dirigentes ficarão boquiabertos e abismados. Pois perceberão que ali, no gramado do Beira Rio, diante deles, estava mais do que um ótimo time: estava, também, um fenômeno que marcaria época e deixaria saudades; estava um grupo que se tornaria referência de qualidade para as futuras gerações de colorados e, inevitavelmente, gremistas.

E assim, atônitos diante das memórias que sucederão este lampejo, muitos deles se sentirão ingênuos e até se arrependerão das críticas que faziam a este time colorado. O Inter do Novo Século – concluirão eles – era perfeito. Tinha qualidade em todos os setores, tocava com rapidez, subia ao ataque em bloco e desfrutava de nomes e valores individuais inigualáveis. Perfeito. As críticas eram simplesmente descabidas.

A tese de que o Inter “não tem pegada”, por exemplo: no futuro, será motivo de risos – tal como o legado de seu principal autor. Apegados ao pouco que a memória permite preservar, todos saberão que era impossível haver defeitos em um time que goleava 70% de seus adversários; que ganhava todos os Gre-Nais que disputava; que conquistava campeonatos regionais sempre com goleadas homéricas (dois 8 x 1 consecutivos) na finalíssima; e que ainda cometeu a façanha de conquistar não só a taça do Gauchão, mas também a da Sulamericana de forma irretocavelmente invicta – tudo isso depois de se desfazer de Fernandão, seu líder redentor. Dizer que faltava pegada ao Inter do Novo Século será, então, um absurdo. Uma desfaçatez equivalente a afirmar que faltava preparo físico ao Rolo Compressor ou entrosamento ao Inter dos anos 70.

O Inter do Novo Século, amigos, é uma lenda viva, um fato histórico que está acontecendo bem diante de nossos olhos. É um time que faz a torcida cansar de comemorar gols. É uma máquina de conquistar títulos. Mas será preciso que se passem algumas décadas, quem sabe um século inteiro para que toda essa grandeza seja, finalmente, reconhecida.

Até lá, o que nos resta é comemorar.

Pura e simplesmente, comemorar.

sábado, 18 de abril de 2009

À PAISANA.

Por Thiago Marimon


La Copa, a do Brasil, como bem sabemos, é traiçoeira. Não satisfeita com a peça que nos aplicou contra o finado e glorioso Rondon United, ontem ela voltou a atacar. Na tocaia, aprontou duas peças ao faceiro futebol carioca. O Botafogo (o original, não o dos Pampas), favorito para o título da Taça Rio contra o Flamengo, caiu diante do seu conterrâneo, o Americano de Campos, enquanto que o incensado Fluminense de Conca, Thiago Neves e Fred “Morrinson” voltou da terra de Jesus Cristo com um resultado adverso, turbinado por uma indesejável crise interna. A Copa age na camufla, e a nós, calejados que somos, cientes dos malfadados anos noventa e com a lembrança ainda fresca na memória dos confrontos contra Londrinas e Juventudes, cabe muita calma nessa hora.

Redundante dizer que um Clube com a estrutura que temos não pode se dar ao luxo de ficar de fora da maior competição das Américas. Portanto, a Copa do Brasil, o atalho mais curto para a Libertadores é de fundamental importância para o planejamento colorado. Nos meus 27 anos já pude ver a bandeira colorada triunfando do Rio Grande à Yokohama, mas ainda não tive a oportunidade de ver meu time Campeão Nacional (abraço Zveiter), e aguardo ansioso por este dia. Porém, se para erguer o caneco da Copa for necessário priorizá-la em detrimento do campeonato nacional, eu topo, na hora. Pois, por culpa do calendário da CBF, mais uma vez as duas maiores competições nacionais serão disputadas de forma simultânea, aberração esta que perdurará até a décima rodada do Brasileirão.

No último confronto, contra o poderoso Guarani, recém rebaixado para a divisão azul do paulistão, nosso iluminado entregador de coletes teve a brilhante idéia de sair jogando com Glaydson e Andrézinho, enquanto Giuliano e D’ale amargaram um banco, o resultado, assim como o futebol apresentado, foi insuficiente, forçando o jogo de volta, quarta feira próxima. Não temo este jogo, dentro de nossos domínios quem canta mais alto é o Inter, todavia, para manutenção desta senda de vitórias, será necessário, logo ali mais à frente, um futebol menos pastoril e mais agressivo, principalmente quando fora de nossos pagos. Se confirmarmos o favoritismo, eliminando o time de Campinas, o hipotético próximo adversário será o Náutico, encerrando aí o ciclo de confrontos “de menor importância”, o que já é um considerável alívio, mesmo que nas próximas fases encaremos Flamengo, Santos e MSI, nesta ordem.

O grupo do Inter é forjado para grandes disputas, para casa cheia, para Noites de Copa. Justamente por isso um confronto contra o Náutico merece uma grande dose de apreensão, dedicação e foco. Foco este que a partir deste domingo poderemos concentrar apenas e tão somente para Copa. Uma vez mantida a hegemonia regional, representada pela taça entregue pelo ilustre e aflito (não necessariamente nesta mesma ordem) Presidente eterno do Clube dos Treze, Sr. Fábio André Koff as mão de El Cholo, antecipando assim a decisão do título.

Temos time, grupo e torcida para conquistar a Copa do Brasil e de quebra fazer bonito no Brasileirão. É chegada a hora de espantar de uma vez por todas o fantasma dos anos noventa. Não há outro resultado aceitável, esta taça tem que ser nossa.

Saudações Coloradas.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

ROTINA.

Por Marcelo Benvenutti


Dias de semana costumo deixar um cedê tocando sem tirar enquanto carrego meu parco 1.0 pelas ruas de Porto Alegre, Menino Deus, Goethe, Zona Norte. Quase sempre o mesmo trajeto. As mesmas sinaleiras, Os mesmos buracos. Os mesmos mendigos nas esquinas de sempre. A rotina tomando conta do meu tédio urbano. Quebro a rotina viajando no som que é o que me resta. Essa semana tasquei uma coletânea MP3 da vida do Velevt Undergound e Lou Reed. Só as clássicas. Quem não conhece VU ou Lou Reed, a princípio, acha repetitivo e insosso. Depois de um tempo sentindo o som e perdendo-se na sordidez sombria das músicas de Lou Reed, descobre-se que ali vive um gênio de uma jogada única. Única, mas fatal. Assim também acontece com o AC/DC. Ou os Ramones. Mesmos acordes. Mesma rotina. Mesmos caminhos. Mas sempre cru. Direto. Mortal. Lou Reed, se jogasse futebol, seria ponta. Seria louco. É louco. Seria 7. Sempre 7.

A história da camisa 7 no Internacional tem seus mais impressionantes astros. Carlitos, o homem dos grenais. Maior goleador da história colorada. O homem do gol do plano inclinado. Um goleador simples. Seco. Direto. Quinze temporadas de glórias e títulos. Depois, ou quase simultaneamente, se inicia a de outro gênio. Tesourinha. Que também vestiu a 7. Tesourinha, o homem que faltava na Copa de 1950. Garrincha de seu tempo. Mirrado. Pequeno. Um ponta que movimenta o imaginário de Porto Alegre até os dias de hoje. O Lupicínio Rodrigues do futebol gaúcho. Gênio admirado até mesmo fora do país em uma época que somente o vento minuano e Getúlio Vargas entravam ou saiam do Rio Grande do Sul.

Nos malfadados anos 1960, anos de obras, de sonhos postergados, Sapiranga reluziu com a 7 no único título que conquistamos em longas e insalubres 13 temporadas. Sapiranga continuava a saga da 7 em seu caminho centenário. Na era Beira-Rio, um homem só, solitário, entrava em campo abaixo de vaias. Xingado pela torcida e pela crítica. Espoliado. Somente encontrava sossego no lar ao lado da mulher. Treinava mais que os outros. Se exercitava mais que todos. Este homem, de jogada pontiaguda, quase rotineira, mas mortal, tão mortal quanto a jogada de um camisa 7 deve ser, sempre atirava-se para a frente e cruzava certeiro na cabeça do centroavante ou chutava direto, uma pancada certeira. Este homem chama-se Valdomiro Vaz Franco e seu nome se confunde com o próprio nome do Sport Club Internacional.

A saga ressurgiu das cinzas em 1996, quando um ponta esquecido em uma época em que os pontas já estavam em extinção, entrou em um jogo contra o Flamengo, no Maracanã, fez dois gols e simplesmente abismou o país. O que depois seria o ensandecido camisa 7 do título tão festejado do Gauchão de 1997 e de um dos melhores times que o Inter montou antes dos anos 2000. Fabiano não só reviveu a legendária camisa 7 como trouxe de volta a jogada única, as pernas tortas, gambetão, enviesado. As entrevistas de fala rápida e confusa. A noite. O peso excessivo. Enfim, um ícone transgredindo o mundo pós queda do Muro de Berlim enjoado e chato de tanta gente politicamente correta. Um acorde só de Lou Reed atravessando os tempos e fazendo jogadas impensáveis de tão simples e fantásticas.

E seguindo a rotina de uma Sister Ray quase no final dos anos zero do século 21, apresenta-se um guri chamado Taison. No princípio, vaiado pela torcida. Correria doida pelos lados e incompetência nas conclusões. Taison segurou as críticas e treinou. Com a benção de Fernando Carvalho e a amizade de D'Alessandro, Taison cresceu. Taison transformou seu acorde único em um acorde fatal. Os adversários até sabem o que ele vai fazer. Mas é quase impossível controlá-lo. Ele toca a bola na frente e corre. Corre. Run run run run run, Taison, é contigo. A parede repetitiva repercutindo pelo Beira-Rio. Taison é o fato que faltava para dar continuidade a lendária camisa 7 do Internacional.

Domingo. Quatro da tarde. Quando adentrar o gramado com esta camisa, Taison, repetirá seus acordes mortais de Angous Young vermelho. Dará entrevistas rápidas e confusas. Dedicará seus gols à mãe. Pedirá que a trilha sonora dos melhores lances seja um rap desconhecido. Será incompreendido. E, talvez também por isso, terá seu nome impresso na história não escrita da camisa 7 colorada. História de heróis. Loucos. Geniais. Colorados.

Minha rotina voltará a ser a mesma na segunda-feira. Espero eu que mais pesada por ter que carregar mais uma faixa de campeão no peito. Talvez daí toque no som do carro uma música em lembrança aos adversários colorados.

Highway to Hell.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

COMO ESCREVER QUANDO NÃO HÁ SOBRE O QUE ESCREVER.

Por Gustavo Foster

O jornalismo esportivo é um caso impressionante. Enquanto todas as outras áreas da profissão, sem qualquer ressalva, buscam uma maneira de transformar a infinidade de fatos em informações, a seção de esportes parece viver em um marasmo irretocável. Segunda-feira traz os desdobramentos do jogo de domingo, assim como quinta faz em relação ao seu dia predecessor. O problema é o resto da semana.

Sobre o que falar quando não há lesões, quando não há erros de arbitragem, não há brigas entre torcidas, não há um goleador inspiradíssimo? Cria-se algo. A Folha de São Paulo costumava, em tempos de ditadura, preencher páginas censuradas com receitas de bolo. Não podemos falar da corrupção do Senado? Duas xícaras de farinha, uma colher de sopa de açúcar, duas de manteiga, mexe tudo e leva ao forno, simples. A tática, antes utilizada pela impossibilidade, pela proibição de levar ao público informações relevantes, poderia, hoje em dia, ser utilizada pela pura e simples falta do que falar.

Antes uma piada de papagaio na página de esportes do que um texto afirmando que falta ao Inter "pegada", depois de um jogo onde o time avançou à segunda final do Campeonato Gaúcho, no qual está invicto. E vencendo por quatro a zero. Se é pra ser engraçado, que se utilizem técnicas consagradas: portugueses, papagaios, gaúchos.

Faça um teste. Ligue a sua televisão e procure por canais esportivos do centro do país. Sim, aqueles paulistófilos, aqueles odiadores de times não-eixo, aqueles flamenguistas manipuladores. Sintonize exatamente esse canal (se não tiver TV a cabo, procure pelo site do canal, dá no mesmo). Espere pelos comentários em relação ao time colorado e ouça, como se essa fosse a primeira vez que você ouve falar no Sport Club Internacional. Os comentários darão a ideia de um time (no mínimo) coeso, invicto no campeonato estadual, na segunda fase da copa nacional, com esquema de jogo definido e umas ou outras indefinições. Aliás, isso são menos opiniões e mais fatos.

Depois de passada a primeira fase da análise, abra um jornal local. Sintonize uma rádio porto-alegrense. Assista a um programa esportivo gaúcho. Fizemos quatro na semifinal, mas o time ainda não está pronto para o Brasileirão. Perdemos só uma no ano, porém o ataque carece de um atacante. Ganhamos a grande maioria dos jogos do ano, mas críticas são feitas com base na única derrota. Lauro defendeu um pênalti e seu rebote, entretanto é um goleiro inseguro, que sai mal nos cruzamentos. A zaga é a menos vazada do estado e uma das que menos tomou gols no país, todavia Álvaro parece sem ritmo, Índio não vem jogando bem, Bolívar não satisfaz como lateral e Kleber está na seleção por conta da astrologia. E dizem mais: não temos pegada.

Abro aqui um parêntese. Não imagino o que querem dizer com "pegada". No meu radinho de pilha, assistindo à tranquila semifinal fabiokoffiana (Guinazu mandou avisar que tá louco pra receber a taça de ti, meu bruxo), ouvi os comentários de Wianey Carlet, o autor da tese "falta-pegada-ao-Inter". Segundo o jornalista, o jogo era "praticamente equilibrado" e os pecados defensivos do Inter podiam ser comprovados pelos números: 9 arremates a gol – como gosta de dizer Carlet – do time da unversidade (algum problema em falar Ulbra?) contra 6 do Inter. Uma diferença gritante, que prova por A mais B que o resultado foi injusto ou, ao menos, exagerado. Por final, WC sentenciou: "o time colorado está muito faceiro", como se este fosse um pecado capital. Podem ganhar de 10, mas faceiro jamais!

Parece da cultura bovina (valeu, Nova Corja!) que não pode um time primar pela técnica, abdicando da pancadaria generalizada. Janelinha? Onde já se viu, parte pra cima com voadora. Eles dão balãozinho, nós damos carrinho. Gol de bicicleta é só de Santa Catarina pra cima, aqui é de bico, mas só depois de bate-e-rebate na pequena área, com direito a sangue na testa do goleiro. Aliás, é conhecida a preferência carletiana quase febril por volantes e por técnicos nascidos nas plagas daqui. Ténico carioca? Ihh, lá vem aqueles três meias. E três meias é sinal de muita alegria, faltam uns volantes brucutus aí. Daqueles que não saibam sair jogando, que deem balão, que não acertem meio passe. Uns três desses no meio de campo são quase suficientes. Está feita a felicidade. Um futebol feio, empatador. Mas que ao menos não é faceiro, onde é que já se viu.

Pêlo em ovo. Chifre em cabeça de cavalo. A possibilidade do pensamento acerca da probabilidade do mínimo defeito é assunto. Vira uma coluna. Coluna essa polêmica, por óbvio. Sendo polêmica, está aí a receita para mais uns quatro ou cinco dias de assunto. Um escreve na página 37, o outro rebate na 39 do dia seguinte. O blog do primeiro conta, amanhã, com uma pesquisa sobre o texto de dois dias atrás. Vejam só, não é isso que nos ensinam na faculdade? Convergência de mídias.

Se essa é a receita, eu preferia a de bolo.

terça-feira, 14 de abril de 2009

PENINHA, O ADORÁVEL NEOBAGUAL.

Por Daniel Ricci Araújo


No último sábado, o lúcido Wianey Carlet (do qual, somando e diminuindo, mais concordo que discordo), publicou afável nota de desagravo em relação a Eduardo Bueno, um inteligente, inofensivo e caricato símbolo da cultura pop geraldina gremista, condenado que fora este a ressarcir Carlos Simon por motivo de uma ação judicial.

Peninha, o adorável neobagual tricolor, mesmo que não queira tornou-se um referente da raiva adolescente gremista. Servindo de paladino ao sentimento do radicalismo geraldino que via na Era Felipão algo para sempre, seus dizeres e obras nada mais são do que um dos berços nos quais dorme a ideologia gremista do século XXI: ressentimento calculado, verborragia, imitações do Boca Juniors e derrotas a rodo. Enquanto mais jogos o Grêmio perde, mais os Peninhas bradam à turba, e mais ela escuta e repete esses ditos.

Ontem, David Coimbra pulicou em seu blog a resposta do adorável neobagual aos elogios recebidos no sábado. Como a carranca geraldina nada mais faz do que nos brindar com um tremendo bom humor, achei razoável comentar a missiva em questão, quase certo de que os amigos concordarão com meus termos. Abre aspas, fala um profeta da Geral:

1) Não chamei Carlos Simon de “ladrão”. De qualquer sorte, independentemente da decisão da juíza, posso assegurar que essa é a opinião de 99,9% da torcida do Grêmio e que processo algum irá modificá-la. Pode abrir votação.

Ora, sem querer defender o sr. Simon, mas não devemos nos guiar por uma superioridade de opinião tão avassaladora. Não tenho quaisquer dúvidas de que esse percentual de gremistas também continua achando que a Terra é composta de dois continentes e o Hamburgo é time grande, ou seja: o que 99,9% da torcida do Grêmio acha nem sempre é parâmetro para alguma coisa.

2) Não disse que “a paixão envolvida permite visões distorcidamente parciais”. Foram meus advogados que disseram.

Não querendo parecer intrometido, mas geraldino de estirpe não deixa os outros falarem por ele (só o David Coimbra) e quando diz algo, diz em espanhol, para que não pairem dúvidas!

3) (...) me inspirou para escrever o livro “Os erros de Carlos Simon”, que será lançado em breve com a disposição altruísta de que a rememoração do extenso rol de suas falhas o leve aprimorar-se em sua profissão”.

Sensibilizados com tamanha dedicação do autor a essa causa, pensamos já igualmente em brindar o mercado editorial com outra obra: “Choro em azul, preto e branco: o Grêmio e as arbitragens”, livro que demandaria pesquisa infinitamente mais extensa se comparada à do autor e, ainda, caso desse ao seu comprador, de brinde, uma caixa de lenços para enxugar tantas lágrimas, certamente teria o obscuro condão de desmatar a Floresta Amazônica inteira - porque, convenhamos, haja celulose para tanto papel.

4) Descobri que Ricardo Teixeira e a Comissão de Arbitragem da CBF — que eu desconhecia serem letrados — leram meu livro Grêmio: Nada pode ser maior. Como costumo tratar bem meus leitores, vou enviar-lhes um exemplar da nova obra.

Pedimos encarecidamente que oportunize em conjunto, pelo bem da arbitragem nacional, dois adendos técnicos muito úteis à obra. O primeiro deles, “Como fazer um gol em Gre-Nal dominando a bola com o pulso”, de autoria do outrora endeusado Ronaldinho Gaúcho. O outro, baseado em fatos há pouco ocorridos, é de ninguém menos do que André Krieger e aspones, com apresentação e benção espiritual de Paulo Sant'Anna: “Como reclamar de um gol anulado num Gre-Nal fazendo de conta que meu zagueiro não deveria ter ido para a rua antes”: sim, o título é desaconselhavelmente longo, mas o ensinamento, acreditamos, continuará servindo às linhagens de dirigentes tricolores por eras e eras.

5) (...) o caso me inspirou a criar um site, errosdesimon.com. aberto a atualizações do público em geral, já que o livro não conseguirá acompanhar a rapidez com que o panorama se modifica.

Inspirados por tal iniciativa, pensamos em fundar, para consulta pública, um outro utilíssimo sítio de Internet: mortesdoimortal.com. Ora, nem Ele, o Iluminado, o Juiz dos Juízes consegue entender a existência de algo ou alguém que morre repetidas vezes, quando não uma vez a cada fim de semana e, mesmo assim, continua chamando a si mesmo de imortal - Seu próprio filho, quando esteve na Terra, morreu uma vez só, e a muito custo! Assim, o referido banco de dados, que também estaria aberto a atualizações do público poderia catalogar o número de homicídios futebolísticos perpetrados contra a mesma vítima para que se possa, ao fim e ao cabo, fornecer à já estupefata Divina Providência elementos para seu melhor esclarecimento celestial quanto à árdua questão em pauta.

6) (...) venho lançar de público, através de tua prestigiosa coluna, um desafio: ele escreve um livro e eu apito um Grenal e veremos quem erra menos.

Ora, seria fácil ao referido árbitro vencer tal contenda. Bastaria escrever um livro de uma página só, com uma foto do adorável neobagual e a seguinte frase: “Para parecer com um argentino, como faço?”. Pronto, aí está um livro perfeito e tecnicamente irretocável, com uma pergunta procedente e um acabamento gráfico adequado: desafio ganho.

7) (...) porque tal processo com certeza unirá nossas trajetórias profissionais por um bom tempo e haverá de servir de estímulo para nos aprimorarmos no exercício de nossas atividades — levando mais longe o nome do Rio Grande.

Peninha, não nos leve a mal, mas quando o assunto é levar mais longe o nome do Rio Grande, a experiência mostra claramente a melhor saída: deixe isso para o Inter. Porque vamos e venhamos: com teu “know-how” clubístico, chegarias no máximo ao Bairro dos Aflitos.

E olhe lá.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

SEGREDOS DE UM CASAMENTO.

Por Andreas Müller

Quando conheci minha esposa, em janeiro de 1999, eu sequer poderia imaginar que estava iniciando ali um casamento duplo – com ela e com o Inter. Pois quis o destino, esse fanfarrão, que numa certa tarde nublada eu esbarrasse com minha vizinha mais bonita na portaria do meu condomínio. E que o porteiro, dileto como sempre, se encarregasse de nos apresentar mutuamente e me fizesse descobrir ali que o nome dela era Caroline, que ela era colorada como eu e que com ela estava todo o resto da minha vida.

Eu e Carol parecíamos não ter nada em comum. Ela era uma virginiana daquelas metódicas, com hora para dormir e estudar, rituais para tomar banho e uma estranha fixação pelo alinhamento dos livros que descansavam na estante em ordem alfabética decrescente. Já eu era um desses geminianos caóticos que jamais conseguem usar um relógio, acordam sempre atrasados, preparam um copo de Nescau para o café da manhã e saem de casa sem lembrar de bebê-lo.

Os teóricos dos relacionamentos – e eles existem em toda parte – diriam que éramos opostos que se atraem, feijão com arroz, queijo com goiabada e todas essas bobagens que Claudinho e Bochecha nos fazem cantar de vez em quando. Mas o tempo acabaria mostrando que aqueles contrastes eram apenas aparentes. E que por trás deles havia duas pessoas que sempre almejaram as mesmas coisas na vida. O que faz um casal dar certo, afinal de contas, não são os hábitos ou manias em comum, e sim a capacidade de compartilhar sonhos – engulam essa, teóricos.

Pois um dos sonhos que sempre compartilhamos era o de ver o Inter se tornar um clube gigante. Digo: gigante mesmo, mais do que sempre foi – mais do que qualquer outro clube jamais conseguiu ser. O leitor pode imaginar como era duro nutrir esse sonho numa época em que o Inter teimava em ser coadjuvante não só do futebol brasileiro, mas também do gaúcho. Fugir do rebaixamento havia sido nossa mais recente alegria. Dunga era tudo que tínhamos, mas Ronaldinho Gaúcho fazia questão de mostrar que isso não adiantava coisa alguma naquela maldita época. De qualquer forma, persistimos nesse sonho, eu e Carol, eu e o Inter. Sabíamos que nossa hora chegaria. Simplesmente sabíamos.

Hoje, o Inter é quase tudo aquilo que sonhávamos. “Quase”, porque o desejo de grandeza de um torcedor é infinito. A alegria do torcedor é uma utopia. O Inter já se tornou campeão de todos os campeonatos nacionais e mundiais de que se tem notícia. Mas essas conquistas só serviram para nos fazer almejar mais, mais e mais. Chegamos ao cume da montanha só para vislumbrar todas as outras que ainda precisamos escalar. É bom que seja assim: o que segura um casal é a capacidade de compartilhar sonhos, lembram? Então que busquemos novos sonhos para manter vivo o casamento entre o Inter e seus torcedores. Sonhos que unem o clube à torcida e ajudam a alimentar o amor entre ambos.

Eu e Carol também temos muitos outros sonhos em comum, é claro. Neste exato momento, por exemplo, estamos trabalhando feito chineses e abusando do cheque especial em nome da construção da nossa “casa própria” – engraçado como eu sempre lembro do Sílvio Santos quando ouço essa expressão, “casa própria”. Abrimos mão de todos os pequenos e grandes luxos da vida em nome desse objetivo maior. É duro, sim, especialmente quando chega o fim-de-semana e descobrimos que a nossa cota de despesas no item “entretenimento” já se esgotou e tudo que nos resta, agora, é esperar que o domingo chegue duma vez para que possamos pegar o “Serraria” e desembarcar na frente do Beira Rio, este lugar abençoado que nos dá tantas alegrias sem cobrar consumação.

Mas persistimos nesse sonho, eu e Carol, porque o sonho nos une e ajuda a alimentar nosso amor. Talvez, no futuro, nós possamos até nos orgulhar de termos passado por tantas privações e nossa casa será, então, uma alegria quase incompreensível para nossos corações – tal como foi aquela Libertadores da América em 2006, lembram? O fato é que eu e Carol sabemos que chegaremos lá. Simplesmente sabemos. E o Inter já nos mostrou que saber é uma forma de fazer acontecer.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

MERECEMOS PERDER.

Por Marcelo Benvenutti

Tempos atrás escrevi sobre certas toucas coloradas. Com os tempos elas vem e vão. Uma morrem. Outras, sobrevivem como ervas daninhas. E não estou falando de equipes com quem o Inter joga e perde. No caso do Inter basta não vencer mais do que empatar que já vira touca. Contra o Guarani de Campinas, até antes do jogo de ontem, eram 32 jogos, 11 vitórias coloradas, 12 empates e 9 vitórias bugrinas. A última vitória colorada no Brinco de ouro tinha acontecido 20 anos atrás. Mas, sempre tem um mas, nunca foi fácil a nossa vida diante dos esmeraldinos paulistas.

Eu tinha sete anos e tomei conhecimento do Guarani. Nosso time estava no intervalo entre o bicampeonato de 75-76 e o tri invicto em 79. Capitão, Careca e Bozó. Jamais vou esquecer a linha de frente do time que nos enfiou 3x0 num Brasileirão. Esse ataque seria campeão brasileiro de 1978. Eram tempos em que o Guarani crescia e prometia tornar-se uma potência do interior brasileiro. Só prometia. Desmandos de direções malsucedidas de Betos Zinis da vida e este Guarani hoje pena voltando para a B nacional e irá sofrer na segundona paulista. Notícias vindas de Campinas dão conta que o estádio foi colocado à venda. Quase um passo para a bancarrota.

Pois foi esse clube, falido, quebrado, rebaixado, com a moral mais baixa que a bunda do Tcheco se arrastando para o vestiário, que o Inter penou para vencer hoje. Penou. E penou porque mereceu penar. Porque abdicou de jogar futebol para trocar passes laterais, dessa vez inúteis. Porque abandonou uma certa ofensividade de outras jornadas em função de sabe-se lá o que. No primeiro tempo, acuado, o Guarani permitia o Inter avançar até onde tudo se fechava e o meio de campo de última hora com Glaydson era lento e confuso. Estranho até mesmo porque boa parte das críticas feitas ao Magrão utilizam como argumento a lentidão do centurião de Heliópolis, pai do Matheus e do Pedro. Penamos.

Numa jogada de, incrível, quase ponta, Guiñazu fez o trabalho do Kleber folhagem-de-shopping-center, cruzou por cima da área e Andrezinho escorou para um sem-pulo de Taison. Golaço. Fora isso, algumas escapadas de Taison ou do Nilmar tô-precisando-de-outra-lua-de-mel-com-a-patroa. No intervalo, em que devem ter servido chá broxante com biscoito amamtegado, o Inter assistiu o Guarani avançar o meio-campo e, tentar, pressionar a defesa colorada. O clone de Romário deles errou um gol que nem Maxi Lopez e Jonas juntos errariam. Álvaro caçava borboletas enquanto o Kleber procurava saber se cobrava pedágio ou não para atravessarem a brioi (sem acento) que ele tinha inaugurado ali pela esquerda.

No final, depois de, mais uma vez, Taison resolver a partida, tal qual o Tyson original, derrubando o adversário no primeiro assalto, a defesa colorada resolveu dar uma de zaga da Suécia na semifinal de 94 e deixar o Romário de Ciudad Del Este fuzilar as redes do Lauro vem-que-tem-mas-não-sai. Era a punição pela covardia. Pela falta de originalidade. Pela lentidão. Não teve D'Alessandro, Alecsandro ou Giuliano (alguém arranja lugar pra esse cara no time) que impedisse o Píffero de poder administrar um bom público na volta, tomara que após a conquista do Gauchão. Antes disso, o Canoas, a universidade aquela lá, como é o nome mesmo?

Resumindo, respeitar o adversário é jogar para vencer. Sempre.

Hoje, merecemos "perder".

quarta-feira, 8 de abril de 2009

OS MAIS IMPORTANTES, PARA MIM.

Por Gustavo Foster

Cem anos não é pouca coisa. E falo isso pensando no número de pessoas relacionadas ao Inter que existem, após uma centena de anos. Quantos craques já ouviram a ovação completa de um Beira-Rio lotado, quantos técnicos já foram dormir com o grito de “Burro, burro, burro” ainda ressoando, quantos “olha o mijo!” já precederam uma briga, quantos “aí, sócio!” foram escutados por corajosos que iam acompanhados ao estádio, quantas linhas já foram escritas sobre o Internacional, nestes cem anos.

E os jornalistas têm se refestelado nestes cem anos. Fazem lista pra tudo. Os 5 maiores isso, os 5 mais aquilo. Eu sigo na linha e homenageio o Inter agradecendo às cinco pessoas mais importantes para mim, relacionadas ao Internacional.

Obrigado, Fábio Rochemback. (Sim, Fábio Rochemback). Jogador de uma das piores fases do Inter, lá por 2001. Lembro que uma das minhas maiores alegrias, naquela época, era ver um jogador colorado vestindo a camiseta amarela da Seleção. E Rochemback era habitué na seleção de Felipão. Copa América e Copa das Confederações, bem me lembro. O nosso representante lá, lembrando algo que todo mundo sabia, mas havia esquecido: “lá embaixo, lá em Porto Alegre, tem um time importante”. Foi negociado com o Barcelona, algo que também me fez feliz. Piá, pensava: “viu só? Até o Barcelona quer os nossos jogadores, mazá colorado!”. Quem não tem cão caça com gato.

Obrigado, Fabiano. Uh Fabiano! F de Fernandão, F de Figueroa, de Falcão, de Fernando Carvalho. Não. Para mim, o jogador mais importante da história do Internacional atende por (Uh) Fabiano. A minha história como torcedor e a história do eterno 7 como jogador colorado se confudem, tornando-se, ao final, a mesma. Começa a minha história como torcedor mais ou menos na época em que chega Luís Fabiano de Souza ao Inter. Segue-se uma fase negra, na qual o rasgo de esperança era corcunda e vestia a sete. Depois do último Grenal, vi o ídolo saindo do Beira-Rio, vestindo vermelho. Centenas de colorados o cercavam, os gritos de “Uh Fabiano” e “Volta, Fabiano” ensurdeciam, o agora jogador do Zequinha atendia telefones alheios, para falar com desconhecidos fãs, beijava mulheres que nunca havia visto, mas era provável que conhecesse, tirava fotos com crianças que não sabiam quem era, mas atendiam ao pedido do pai, fanático. Fabiano é o símbolo de uma geração. Foi o único jogador com o qual eu, quando criança, entrei em campo.

Obrigado, Fernandão. Mais que um jogador, uma instituição colorada. Tudo que Fernandão fizer, daqui pra frente, em sua vida, será relacionado ao Colorado. E tudo que o Inter alcançar, em 100, 200, mil anos, terá um pouco de Fernandão em si. Todas as camisetas vendidas tem um número nove atrás. Um craque, um mestre com a bola nos pés, dono do time por quatro anos. Trouxe Mundial, trouxe Libertadores, trouxe tudo que dava, mas isso não importa muito perto de tudo que significou Fernandão para o Inter. Fernandeus.

Obrigado, Fernando Carvalho. Unânime. Indiscutível. Não há, no universo, alguém que duvide da importancia de Fernando Carvalho para a história do Internacional. Pegou o Inter em frangalhos, demolido após duas décadas de fracassos. Fez o que devia, reergueu o clube como um todo e, quando achou que tinha chegado ao topo, levou uma porrada. Vice em 2005. Mostrou que não era guri quando levou isso como incentivo para, no ano seguinte, enquadrar o escudo colorado na galera dos maiores times do mundo.

E, por fim, obrigado, pai. Colorado desde 75, quando entrou pela primeira vez no Beira-Rio e saiu de lá campeão brasileiro, me ensinou tudo que sei sobre ser colorado (entre tantas outras coisas). Com ele, chorei ao quase ser rebaixado, contra o Palmeiras e me ajoelhei no concreto do Beira-Rio para, novamente, chorar ao vencer o São Paulo. Ou seja, todas minhas memórias têm como personagem ele.

Essas cinco pessoas resumem o que outras tantas significam para mim, como colorado apaixonado. Agradeço a todas elas e sinto-me orgulhoso de fazer parte da história de um time centenário, orgulho do povo do Rio Grande do Sul.

terça-feira, 7 de abril de 2009

QUARENTA ANOS, BEIRA-RIO

Por Daniel Ricci Araújo

Tempo que passa, tempo que volta. Poppe, Seferin, Rua Arlindo. Antenor Lemos. Gente nossa. Papel picado, gol, festa. Imitando crioulo, hein? Vicente Rao, Villalba, Carlitos. Eucaliptos. Rolo, Rolinho. Copa do Mundo, o tempo passa: ficou pequeno. O Gigante é pra já! Que nada, bóia cativa. Torcida pra pedreiro, lembra? Meu nome é Paulo Roberto e vim doar dez tijolos. Como é lindo. Vai surgindo, vai surgindo. Que concreto todo é esse, que nasceu de dentro d'água?

Seu Borda. Stechman, Ruy Tedesco. Pedra fundamental. Bóia cativa: vão rindo, vão rindo... O Gigante vai tomando forma, interminável, imenso. De pé. Um colosso! Inveja pinga pelo ar. Bóia cativa? Chorem, chorem bastante agora. Olha o sol, tá que arde na rua. Pai, vamos pela rampa? Aquele lá é o Eusébio, filho. Gol. Golaço! Gilson Porto. Quando tem jogo de novo, pai? Tempo que passa, tempo que volta – e voa.

Goleira do placar, um sufoco. Voa, Manga. Nelinho, que patada - a bola ziguezagueia, parece uma abelhinha solta, haja goleiro pra pegar. Voa, Manga! Gol de cabeça, Figueroa. Raio de sol. Cruza, Valdomiro. Lá vem ela, raio de sol: santos lugares, esses todos. O mito cabeceia. Capitão dos Andes. A área é minha casa, só entre nela quem eu quiser. Raul, paradinho. Parece até o Guaíba que ruge, quanto barulho. Goleira do placar, aquela ali, ó. Figueroa. É campeão do Brasil!

Falcão, Escurinho, Falcão, Escurinho. Pimba, pimba, pimba, quarenta e seis do segundo: obra-prima. A maior torcida do Rio Grande: eu vi tudo de lá da aba, lá de cima. Só de cabeça, pá, pum, bicampeão. Setenta e seis. Era um silêncio, e do nada o Guaíba como que fazia eco no meio da gritaria. Esse rio é colorado, já dizia meu pai. Invasão corintiana? Conta outra: aqui quem manda é o Inter. Falta cobrada, no poste e na linha, gol, bola picando, paulistinha. Goleira do Gigantinho. Final: pá e pum, bicampeão. Eu vi tudo, lá da aba. Tempo que passa, tempo que volta – e voa.

Tá difícil a coisa. Um a zero pra eles, um a menos. Não, Casemiro. Deu uma sarrafada no cara, ali na frente da inferior. Não, Casemiro! E agora? Abel, o Odone tá tomando champanha no vestiário, diz ele que já era. Vai Maurício, vai Edu, vai Nílson. Vocês viram esse jogo e isso aqui vem abaixo. Dá um bago pra dentro d'área, Maurício, que eles estão apavorados. Dá um bago. Gol! Gol! Gol do Nílson! Imitando Sassá Mutema, lembra? Gol do século, desse e do próximo. Gre-Nal do século! Bóia cativa? Chora, chora. Como é lindo!

Pinga, quarenta e dois do segundo. No meio do gol ele não fica. Fecha o olho e bate. Peguei mascado na bola, no meio do gol – ali ele não ficava. É campeão! Vai, Fabiano. Dispara. Uma bomba, chutaço, busca Danrlei! Vai Renteria, encobre o goleiro. A bola, suspensa, anda, plana, voa. Nem as barras da Popular se mexem. O goleiro da LDU só olha. Bola quica, vai sair. Que nada! Entrou, dois a zero. A América vai ser vermelha, anota aí. Até o Guaíba já sabe.

Vai, Fernandão. Jorge Wagner, bate no Ceni que a bola tá molhada. Soltou, é agora. Carrinho nela. América Vermelha! Capitão América. Que pressão. Mais um escanteio? E esse juiz que não termina o jogo. Ô, seu juiz? Acabou! Olha a taça, vai pra história, que maravilha. Libertadores! Ninguém vai embora do estádio, quanta emoção! Portão 8, lembra? Gol do Dunga, aos trinta e seis, lembra? Um dia essa sorte mudava. Viu filho, como valeu a pena esperar?

O pessoal foi pra Goethe bem cedo, eu não quis. Quando o Gabiru fez o gol, já vim pra cá, nem me preocupei. Era nosso, ninguém tasca. Tava escrito há mil anos. Eu tinha que vir pra cá, entende? Portão 8, lembra? E esse calor todo agora, eles vêm na passeata, Beira-Rio lotado num dia de semana? Ali na frente da social, Fernandão sem camisa, alucinado: "ôôô, vamo vamo Inter". Que loucura. É assim que se toca os céus com a mão, pai? É, filho. E aqui, na nossa casa, que coisa linda.

D'Alessandro. Chuta, Nilmar. Golaço. Campeão de tudo, e pra sempre. Gigante pra Sempre. Vô, quando foi tua primeira vez no Beira-Rio? Tem coisa melhor que vir no Beira-Rio em dia de jogo, vô? Não, não tem. Crianças: como perguntam! Foi ali o gol do Figueroa, né vô? Foi dali que o Librelato encaçapou aquela bucha, né vô? Santas perguntas. Que concreto todo é esse, que nasceu de dentro d'água? É o Beira-Rio, guri. Quarenta anos aqui dentro, não é pra qualquer um.


Tempo que passa, tempo que volta.

E voa.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O INTER ESTÁ NA LIBERTADORES

Por Andreas Müller


Disseram que o Inter não estava participando da Libertadores da América. Que o Inter não era parâmetro para o Grêmio, já que estava alijado da maior competição futebolística do Ocidente. E que ao Inter restava, então, contentar-se com os buracos do Gauchão na reta final da taça Fábio Koff. Tudo uma rotunda bobagem, claro. A verdade é que o Inter está, sim, tendo participação decisiva na Libertadores 2009.

Reparem: ontem, no clássico que inaugurou os próximos 100 anos da nação colorada, o Inter fez mais – muito mais – do que emplacar a trocentésima vitória consecutiva contra o seu secular rival. O Inter também abalou os pilares que sustentavam a magnífica campanha do atual líder do Grupo 7 na Libertadores da América. A começar pela demissão de Celso Roth.

Celso Roth pode não ser um técnico brilhante. Mas era, sim, um dos fatores que davam consistência ao Grêmio. Mesmo com jogadores de qualidade limitada, Roth sempre conseguiu montar times compactos, de marcação quase impecável e com grande produção ofensiva – tal como no Gre-Nal deste domingo. Celso Roth era, portanto, um dos pontos fortes do Grêmio. Só não teve melhor sorte nos campeonatos que disputou por uma questão muito simples: seus jogadores eram, quase todos, medíocres.

Foi Celso Roth que fez do Grêmio o grande campeão do Brasileirão 2008. Os jogadores gremistas é que não conseguiram confirmar o título depois de sentir o peso do favoritismo. Pois Roth nunca teve culpa pelas amareladas sucessivas de Tcheco. Roth nunca teve culpa pelas bolas na trave e gols milagrosamente perdidos por Perea, Morales, Reinaldo e outros ilustres senhores. Roth nunca teve culpa pela qualidade predominantemente baixa das contratações do Grêmio. Nada disso. Roth sempre foi o contraponto dos problemas gremistas; sempre soube montar times fortes com o pouco que tinha nas mãos. Seu único pecado foi o de não fazer mágicas.

Por que falo tanto de Celso Roth numa coluna que deveria se dedicar aos assuntos e anseios colorados? Simples: porque a demissão de Roth é obra do Inter. Diria mais: é uma conquista do Inter, uma das grandes vitórias coloradas deste ano. Em três jogos, o Inter desintegrou a credibilidade do trabalho de Celso Roth. Em três jogos, o Inter fez com que um dos melhores times da Libertadores 2009 perdesse seu grande – e talvez único – ponto de referência.

Graças ao Inter, o Grêmio chegará às oitavas-de-final da Libertadores em plena reestruturação. Um novo técnico terá de assumir o grupo tricolor, conhecê-lo e conquistar sua confiança e lealdade enquanto o calendário da Conmebol avança. Não conheço nenhum técnico – além de Felipão, talvez – que seja capaz de realizar essa missão em tempo tão curto. A chance de errar e desperdiçar a chance do tri é muito grande. Isso sem contar as tensões de vestiário, a desconfiança da torcida, o ceticismo da imprensa...

Tudo por causa do Inter e essa maldita mania de permitir que Índio suba ao ataque.

O Inter, como se vê, está na Libertadores.

sábado, 4 de abril de 2009

É MUITA SORTE...

Por Raphael Castro


“Não é possível, é muita sorte...”, pensei quando percebi que o dia do Centenário ia cair num sábado. Justo no meu dia, era muita sorte; e aí bateu o pavor da responsabilidade, as mãos ficando úmidas pelo nervosismo de ter que escrever algo que realmente estivesse à altura de uma data tão mágica e abençoada.

A primeira decisão foi a de adotar um formato diferente do meu usual, sem os títulos entre os parágrafos: o texto deveria ter “continuidade”, que funcionaria então como uma metáfora do meu amor doentiamente incondicional pelo Inter.

Em seguida pensei no que escrever, e aí o mate roncou mais alto: que poderia eu dizer que já não tivesse sido falado por todo mundo nos dias que antecederam este sensacional 4 de abril de 2009? Que novidade eu poderia acrescentar, o que poderia ser inédito e digno do tempo do(a) caro(a) leitor(a), a ponto de justificar a permanência nesta humilde página da internet?

Foi então que me dei conta: na verdade, a minha relação com o Internacional é diferente, absolutamente diferente da provável grande maioria dos colorados que professam o seu amor vermelho nas arquibancadas do Gigante, pelo simples motivo de que não sou gaúcho e nunca morei no Rio Grande.

Portanto, estamos aqui diante de um “brutal” paradoxo; comecei a pensar então no que diriam deste paulista matusquela “que nem mora aqui, se diz colorado e ainda fica nos enchendo a paciência com aqueles textos chatíssimos”. Na verdade, as eventuais conclusões sobre isso seriam bem menos importantes do que investigar que louco sentimento é este, que faz com que mesmo quem esteja longe não consiga esquecer do significado de ser vermelho. De fato, esta “coisa” pelo Internacional foi a primeira emoção que eu aprendi e a mais antiga de que me lembro. Eu logo percebi que aquilo era diferente quando chegava no maternal e não via ninguém com uma camiseta igual à minha no dia do futebol: naquela confusão de verdes, pretos e brancos, tricolores, eu me sentia muito bem sozinho no meu vermelho, e assim foi por toda a vida. Deve ser por isso que fui me acostumando com a ideia de um amor só meu, próprio, que não dividia com ninguém (além do meu pai, talvez o colorado mais fanático que eu conheço). Nunca, jamais, me rendi à “tentação” de abandonar a paixão original, ou de sucumbir àquela babaquice de “torcer por um em SP, outro no Rio, mais um em Minas”, e assim por diante; o amor pelo Colorado me ensinou o que é dedicação e fidelidade, obstinação e retidão de caráter. Aquilo era realmente um negócio muito diferente para um guri de três ou quatro anos, mas me marcou pro resto da vida – inclusive numa manhã linda e ensolarada de um certo domingo de 2006, quando finalmente percebi que não estava mais tão sozinho (“é, não existe exílio pra colorado”, pensei...).

Daí vai que hoje afirmo sem problemas que a minha relação com o Inter é pessoal, intransferível e...bem, “óssea”; o “ser coloradamente” é parte de mim, da minha personalidade, e absolutamente indissociável do meu corpo e alma. O Inter, caros(as) leitores(as), é e sempre será o “meu amigo de fé, meu irmão camarada”, fiel, eterno, irrevogável, meu companheiro de trago, de alegria, de tristeza ou mesmo de felicidades inatingíveis. Pouco importa que o Gigante não esteja aqui, pois basta que eu abra a minha janela e ele imediatamente me aparece; pouco importa que eu não vá aos jogos, pois fecho os olhos e chego instantaneamente na arquibancada; pouco importa que eu não tenha visto Oreco, Nena, Tesourinha, Larri e Bodinho, pois os tenho mesmo assim como grandes amigos (mas a partir do Figueroa, Falcão, Carpegiani e Valdomiro, eu até que comecei a ver um pouquinho - nunca mais parei, como se vê); pouco importa que eu não estava em Yokohama, pois meu filho se chamará Pablo Horacio Toshiro de Castro; pois é, nada importa e tudo importa, porque tudo é Colorado, querido(as) leitores(as). Costumo dizer que se o Inter não existisse ele precisaria ser inventado; ainda bem que os irmãos Poppe tiveram esta brilhante idéia há 100 anos. E que vai continuar nos próximos 100, e nos 100 depois deles...

A esta altura, espero de verdade ter feito jus à ocasião com este texto, e principalmente ter demonstrado que, se paradoxo nisto tudo existe, é só pelo fato de ter gente que inexplicavelmente não segue esta verdadeira religião chamada Internacional, a qual afirma e reafirma um sentimento universal, rubro, infinito, poderoso, cententário...

É mesmo uma gigantesca sorte ser colorado (como dizia o meu afortunado, pra cima, sortudo e felicíssimo avô, S.Assis P.Ererê, “mais macanudo que canhoto em jogo do osso“). É muita, muita sorte...

PARABÉNS, INTER...!!

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

NOTA: dedico este texto a todos que me fizeram ficar cada dia um pouco mais colorado, como meu pai, meus tios José e Carlos, e meu primo Eduardo. Além disso, vale também um grande abraço de aniversário ao César (cara, muda de time! hehehe), Manu, Andreas, Daniel, Foster, Benvenutti, Marimon, Luís Felipe e Balakka. Vamo’, vamo’, Inter...!!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

MALEDETO CASSIAS

Por Thiago Marimon


O cara acorda Inter, almoça Inter. Dorme, Inter. Adivinha com o que sonha? Não adianta, ou outros times são mesmo cheios de defeitos. O alt+tab passa a ser o principal instrumento de trabalho. Os projetos acumulam, o futebol multiplica. Multiplica paixões, amizades, parcerias, gritos, e-mail’s, comentários, discussões, implicâncias e, primordialmente, emoções. Amanhã, 04 de abril de 2009, esse combustível multiplicador de sentimentos faz 100 anos. O ideal de um cara (abraço, Poppe), que um dia acordou com vontade de fundar um clube, entra em breve no seleto grupo dos Centenários. E nós, abençoados seguidores emotivos, teremos o privilégio indelegável de celebrá-lo. Certas coisas são para ver, certas coisas são para ler, o Inter, esse, meu caro, é para amar.

E como se comemora o centenário de seu time de futebol? Esse dublê de cronista que aqui digita não faz a mínima. As camisetas hoje, dizem, custam muito caro. Alucinados afirmam que chegam ao disparate de valer tanto quanto um salário mínimo tupiniquim, neste mundão grande sô, onde ainda há gente que morre de fome. Fome, boa idéia. Um jantar, quem sabe?! Pensando bem, melhor não. Creio que o cachorro do Rosário (saudades, Circulu’s Lanches) ainda sai por menos de duzentos mangos. Quem sabe então um relógio... não, o celular me diz as horas por muito menos. Uma medalha comemorativa da fábrica de dinheiro oficial da terra brasilis só após eu vencer o BBB. Ponderando, eu nem sou simpático mesmo. Como legítimo antipático, vou fazer a MINHA programação. Uma boa caminhada pra pensar na vida me basta. Ser consumidor no centenário não é para o meu combalido cofrinho.

Na falta de motivo melhor, aquele convite eternamente recusado para correr na redença de manhã cedo serve para arrumar a parceria:

- Amor, vamos dar uma caminhada?

-Quando? Sábado de manhã... a gente passa lá pelo Parque Marinha!

Ok?

Ok. ÓTEMO. Estava aí traçado o trajeto perfeito para perder meu cabaço em se tratando de centenário de times de futebol. Madrugar no sábado próximo, despertar a digníssima senhora e devidamente fardado com o manto que outrora cobriu Fernandão, Falcão e Figueroa, zarpar rumo à Praça Sport Club Internacional (vai que é tua, Mallet), de bandeira sobre os ombros e garrafa térmica sob o braço. Encontrar amigos, rir, conversar e dali partir em direção ao palco da maioria de minhas maiores alegrias desde que me entendo por gente. Caminhando sob o anil do antes saudoso (adiós, SP) céu de outono, no melhor lugar do mundo para se estar neste sábado, Porto Alegre. Mais tarde voltar para casa, sabedor que neste dia especial, da minha maneira, reafirmei o meu amor por esta coisa imaterial que é o SER COLORADO.

Mas o final de semana vermelho não termina aí. O regional é enfadonho. Mas as peleias são divertidas. O resultado final é conhecido. O placar não. Ir ao Gigante é sinal de vitória, resta saber de quanto. Quem sabe bater um valioso ULBRA (4x1), ou um Novo Hamburgo (4x1), quem sabe o Esportivo (6x2). Assistir alguma pintura de Nilmar, uma arrancada de Taison, ou testemunhar Índio se tornando o zagueiro com mais gols pela história colorada, ou ainda até, ver Alecsandro e/ou Liquinho confirmarem as esperanças que nutrem na torcida desde que seus pés tocaram no glorioso tapete verde da Padre Cacique. Seria apenas mais uma vitória, a classificação garantida. O final de mais um domingo com o cronômetro ligado para a inevitável contagem regressiva que se tornou a conquista da taça cof-cof, com a conseqüente, reiterada e rotineira chegada de mais uma taça para o abarrotado armário "amor de mãe" alvirrubro.

Final de semana perfeito, não é mesmo?

Seria. Olho gordo. Só pode ser olho gordo. O cara programa o final de semana com dias de antecedência, convence a esposa a caminhar no sábado de manhã, se permite até abrir a mão e desembolsar uns pilas para comprar uma cartela de selos postais alusivos ao centenário (na dúvida, caso não esteja aqui para os 200 anos) e me vem a squadra mais máscula, copeira e peleadora desses pagos, comandada pelo insubstituível entregador de coletes com nome de canal pornô, e estraga tudo? Puta sacanagem.

Maledeto Argel, maledetos 817 metros de altitude (vlw Wiki, tamo aí Maradona), maledeto Cassias. Por culpa desses gringos, meu sereno final de semana virou teste de DNA. Domingo agora é dia de reafirmar a paternidade. A supremacia. De mostrar aos incrédulos quem manda nesta terra. É dia de greNAL. A oportunidade de fechar com chave de ouro a festa do centenário, enfim... é o dia de reafirmarmos o motivo que me fez escrever - e te fez ler (obrigado, aliás) - até aqui.

E nós, mais uma vez, estaremos lá.

Parabéns, e muito obrigado, SPORT CLUB INTERNACIONAL.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O JUVENTUDE PISCOU

Por Daniel Ricci Araújo

Juntem mais uma virtude a este Inter de 2009: caráter.

No último sábado, convenhamos: o Alfredo Jaconi recebeu o Inter com um débito moral a cumprir. Ora, o histórico e eterno 8 a 1 do ano passado estava e ainda está atrolhado na garganta do Juventude como se fosse um insuspeito osso de javali. E aos cinco minutos de jogo essa verdade estava clara - a gana de vingança já evaporava por todos os poros dos jogadores e torcedores rivais. Voavam canelas e solas pelo campo afora com a naturalidade de uma pequena guerra civil.

Foi nesse cenário, no primeiro tempo, que o Inter tratou de, primeiramente, virar o escore com pitadas de classe e um gol de alegoria, de museu, de galeria do Louvre. Nilmar arrebata pelo centro da área, puxa um balãozinho milimétrico no desprecavido defensor e, com a outra perna, toca a bola à meia-altura do goleiro para marcar um desses tentos que não se vê todos os dias. Um golaço. Até ali, 2 a 1 no placar, o Inter era o time técnico, mortal e muito apreciável das últimas rodadas. Mas só até ali.

Vem o segundo tempo e a ex-touca ameaça, mesmo que timidamente, um renascimento. Por conta de uma arbitragem conturbada, o Inter jogava com um a menos e o alviverde virava o placar para um inesperado 3 a 2. Entretanto, já cansado, desgastado, o Inter não parecia recuar e não aceitava o resultado, nem pelo menos suportava a ideia de encontrar uma derrota no horizonte próximo. Ocorre então o pênalti em Nilmar, sempre ele: o jogo está empatado. E daí em diante, meus caros, nossa equipe mostra por que vem para 2009 com sangue quente para levantar taças.

Mesmo com um a menos, repita-se, Tite segura ao máximo a dupla de ataque titular no jogo – e aqui, em campo inimigo, com espaço para o contragolpe, aqui sim os dois velocistas mostram todo o seu repertório: Taison e Nilmar passaram a tarde tornando a vida dos zagueiros do Juventude um pesadelo. Andrezinho – o melhor décimo-segundo jogador que já vi no Inter – continuava a ter uma atuação de luxo, compondo o meio-campo e jogando-se à frente com a mesma eficiência. Magrão, um gigante, Marcelo Cordeiro, uma grata surpresa, Guiñazu, valente à enésima potência: o time era todo ele uma afirmação de qualidade e de coragem. Parecia, em alguns instantes, que com um a menos jogava o Juventude, não o Inter. E assim quase ganhamos o jogo, não anulasse a arbitragem um gol legítimo ao final da partida.

A atuação do último sábado deu ainda mais esperanças à massa colorada, e não poderia ser diferente. O torcedor mata e morre pelo time não quando ele pratica tabelinhas de Copa de 70, absolutamente. O atestado de confiança dá-se quando a equipe mostra gana, fibra, espírito de corpo e valentia. O Uruguai ganhou uma Copa no Maracanã lotado, mas não é o gol de Gighia o cartão de visitas da terrível conquista charrua. Não. Foi a bofetada de Obdulio Varela em Bigode, tenha ela ocorrido ou não, que deu à narrativa da jornada uruguaia o cenário indisfarçável da eternidade. E o Inter, guardadas as devidas proporções, se não desferiu bordoadas a esmo é certo que olhou na cara do Juventude com o olhar de quem vem para matar ou morrer, numa carranca de mil eras. E o adversário, o que fez? Encarou igualmente? Não. Meus caros, eis a verdade. O Juventude piscou. E mesmo em superioridade numérica, jogando em casa, acusou o golpe.

Ao Inter, futebol não há de faltar. Depois do sábado passado, temperamento parece que também não. O maior perigo pode vir a ser, quem sabe, o excesso de confiança. Mas até quanto a isso creio estarmos todos vacinados. Quem tem caráter, como esse time possui, sabe que não se pode baixar a guarda nunca. Continuando assim, a temporada promete. Entre bofetadas e gols de placa a rodo, o Colorado vem aí.

Perder ou ganhar é do jogo, mas o Inter mostrou, no último sábado, que está pronto para 2009. Em todos os sentidos.