sábado, 4 de abril de 2009

É MUITA SORTE...

Por Raphael Castro


“Não é possível, é muita sorte...”, pensei quando percebi que o dia do Centenário ia cair num sábado. Justo no meu dia, era muita sorte; e aí bateu o pavor da responsabilidade, as mãos ficando úmidas pelo nervosismo de ter que escrever algo que realmente estivesse à altura de uma data tão mágica e abençoada.

A primeira decisão foi a de adotar um formato diferente do meu usual, sem os títulos entre os parágrafos: o texto deveria ter “continuidade”, que funcionaria então como uma metáfora do meu amor doentiamente incondicional pelo Inter.

Em seguida pensei no que escrever, e aí o mate roncou mais alto: que poderia eu dizer que já não tivesse sido falado por todo mundo nos dias que antecederam este sensacional 4 de abril de 2009? Que novidade eu poderia acrescentar, o que poderia ser inédito e digno do tempo do(a) caro(a) leitor(a), a ponto de justificar a permanência nesta humilde página da internet?

Foi então que me dei conta: na verdade, a minha relação com o Internacional é diferente, absolutamente diferente da provável grande maioria dos colorados que professam o seu amor vermelho nas arquibancadas do Gigante, pelo simples motivo de que não sou gaúcho e nunca morei no Rio Grande.

Portanto, estamos aqui diante de um “brutal” paradoxo; comecei a pensar então no que diriam deste paulista matusquela “que nem mora aqui, se diz colorado e ainda fica nos enchendo a paciência com aqueles textos chatíssimos”. Na verdade, as eventuais conclusões sobre isso seriam bem menos importantes do que investigar que louco sentimento é este, que faz com que mesmo quem esteja longe não consiga esquecer do significado de ser vermelho. De fato, esta “coisa” pelo Internacional foi a primeira emoção que eu aprendi e a mais antiga de que me lembro. Eu logo percebi que aquilo era diferente quando chegava no maternal e não via ninguém com uma camiseta igual à minha no dia do futebol: naquela confusão de verdes, pretos e brancos, tricolores, eu me sentia muito bem sozinho no meu vermelho, e assim foi por toda a vida. Deve ser por isso que fui me acostumando com a ideia de um amor só meu, próprio, que não dividia com ninguém (além do meu pai, talvez o colorado mais fanático que eu conheço). Nunca, jamais, me rendi à “tentação” de abandonar a paixão original, ou de sucumbir àquela babaquice de “torcer por um em SP, outro no Rio, mais um em Minas”, e assim por diante; o amor pelo Colorado me ensinou o que é dedicação e fidelidade, obstinação e retidão de caráter. Aquilo era realmente um negócio muito diferente para um guri de três ou quatro anos, mas me marcou pro resto da vida – inclusive numa manhã linda e ensolarada de um certo domingo de 2006, quando finalmente percebi que não estava mais tão sozinho (“é, não existe exílio pra colorado”, pensei...).

Daí vai que hoje afirmo sem problemas que a minha relação com o Inter é pessoal, intransferível e...bem, “óssea”; o “ser coloradamente” é parte de mim, da minha personalidade, e absolutamente indissociável do meu corpo e alma. O Inter, caros(as) leitores(as), é e sempre será o “meu amigo de fé, meu irmão camarada”, fiel, eterno, irrevogável, meu companheiro de trago, de alegria, de tristeza ou mesmo de felicidades inatingíveis. Pouco importa que o Gigante não esteja aqui, pois basta que eu abra a minha janela e ele imediatamente me aparece; pouco importa que eu não vá aos jogos, pois fecho os olhos e chego instantaneamente na arquibancada; pouco importa que eu não tenha visto Oreco, Nena, Tesourinha, Larri e Bodinho, pois os tenho mesmo assim como grandes amigos (mas a partir do Figueroa, Falcão, Carpegiani e Valdomiro, eu até que comecei a ver um pouquinho - nunca mais parei, como se vê); pouco importa que eu não estava em Yokohama, pois meu filho se chamará Pablo Horacio Toshiro de Castro; pois é, nada importa e tudo importa, porque tudo é Colorado, querido(as) leitores(as). Costumo dizer que se o Inter não existisse ele precisaria ser inventado; ainda bem que os irmãos Poppe tiveram esta brilhante idéia há 100 anos. E que vai continuar nos próximos 100, e nos 100 depois deles...

A esta altura, espero de verdade ter feito jus à ocasião com este texto, e principalmente ter demonstrado que, se paradoxo nisto tudo existe, é só pelo fato de ter gente que inexplicavelmente não segue esta verdadeira religião chamada Internacional, a qual afirma e reafirma um sentimento universal, rubro, infinito, poderoso, cententário...

É mesmo uma gigantesca sorte ser colorado (como dizia o meu afortunado, pra cima, sortudo e felicíssimo avô, S.Assis P.Ererê, “mais macanudo que canhoto em jogo do osso“). É muita, muita sorte...

PARABÉNS, INTER...!!

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

NOTA: dedico este texto a todos que me fizeram ficar cada dia um pouco mais colorado, como meu pai, meus tios José e Carlos, e meu primo Eduardo. Além disso, vale também um grande abraço de aniversário ao César (cara, muda de time! hehehe), Manu, Andreas, Daniel, Foster, Benvenutti, Marimon, Luís Felipe e Balakka. Vamo’, vamo’, Inter...!!

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