quarta-feira, 1 de abril de 2009

O JUVENTUDE PISCOU

Por Daniel Ricci Araújo

Juntem mais uma virtude a este Inter de 2009: caráter.

No último sábado, convenhamos: o Alfredo Jaconi recebeu o Inter com um débito moral a cumprir. Ora, o histórico e eterno 8 a 1 do ano passado estava e ainda está atrolhado na garganta do Juventude como se fosse um insuspeito osso de javali. E aos cinco minutos de jogo essa verdade estava clara - a gana de vingança já evaporava por todos os poros dos jogadores e torcedores rivais. Voavam canelas e solas pelo campo afora com a naturalidade de uma pequena guerra civil.

Foi nesse cenário, no primeiro tempo, que o Inter tratou de, primeiramente, virar o escore com pitadas de classe e um gol de alegoria, de museu, de galeria do Louvre. Nilmar arrebata pelo centro da área, puxa um balãozinho milimétrico no desprecavido defensor e, com a outra perna, toca a bola à meia-altura do goleiro para marcar um desses tentos que não se vê todos os dias. Um golaço. Até ali, 2 a 1 no placar, o Inter era o time técnico, mortal e muito apreciável das últimas rodadas. Mas só até ali.

Vem o segundo tempo e a ex-touca ameaça, mesmo que timidamente, um renascimento. Por conta de uma arbitragem conturbada, o Inter jogava com um a menos e o alviverde virava o placar para um inesperado 3 a 2. Entretanto, já cansado, desgastado, o Inter não parecia recuar e não aceitava o resultado, nem pelo menos suportava a ideia de encontrar uma derrota no horizonte próximo. Ocorre então o pênalti em Nilmar, sempre ele: o jogo está empatado. E daí em diante, meus caros, nossa equipe mostra por que vem para 2009 com sangue quente para levantar taças.

Mesmo com um a menos, repita-se, Tite segura ao máximo a dupla de ataque titular no jogo – e aqui, em campo inimigo, com espaço para o contragolpe, aqui sim os dois velocistas mostram todo o seu repertório: Taison e Nilmar passaram a tarde tornando a vida dos zagueiros do Juventude um pesadelo. Andrezinho – o melhor décimo-segundo jogador que já vi no Inter – continuava a ter uma atuação de luxo, compondo o meio-campo e jogando-se à frente com a mesma eficiência. Magrão, um gigante, Marcelo Cordeiro, uma grata surpresa, Guiñazu, valente à enésima potência: o time era todo ele uma afirmação de qualidade e de coragem. Parecia, em alguns instantes, que com um a menos jogava o Juventude, não o Inter. E assim quase ganhamos o jogo, não anulasse a arbitragem um gol legítimo ao final da partida.

A atuação do último sábado deu ainda mais esperanças à massa colorada, e não poderia ser diferente. O torcedor mata e morre pelo time não quando ele pratica tabelinhas de Copa de 70, absolutamente. O atestado de confiança dá-se quando a equipe mostra gana, fibra, espírito de corpo e valentia. O Uruguai ganhou uma Copa no Maracanã lotado, mas não é o gol de Gighia o cartão de visitas da terrível conquista charrua. Não. Foi a bofetada de Obdulio Varela em Bigode, tenha ela ocorrido ou não, que deu à narrativa da jornada uruguaia o cenário indisfarçável da eternidade. E o Inter, guardadas as devidas proporções, se não desferiu bordoadas a esmo é certo que olhou na cara do Juventude com o olhar de quem vem para matar ou morrer, numa carranca de mil eras. E o adversário, o que fez? Encarou igualmente? Não. Meus caros, eis a verdade. O Juventude piscou. E mesmo em superioridade numérica, jogando em casa, acusou o golpe.

Ao Inter, futebol não há de faltar. Depois do sábado passado, temperamento parece que também não. O maior perigo pode vir a ser, quem sabe, o excesso de confiança. Mas até quanto a isso creio estarmos todos vacinados. Quem tem caráter, como esse time possui, sabe que não se pode baixar a guarda nunca. Continuando assim, a temporada promete. Entre bofetadas e gols de placa a rodo, o Colorado vem aí.

Perder ou ganhar é do jogo, mas o Inter mostrou, no último sábado, que está pronto para 2009. Em todos os sentidos.

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