quinta-feira, 23 de abril de 2009

O QUE ACONTECEU NAQUELE DOMINGO.

Por Gustavo Foster


O que aconteceu naquele domingo, quando menos de 40 mil privilegiados tiveram a honra de assistir a pouco mais de 90 minutos sublimes, em um palco gramado encoberto por chuva e gritos? A resposta “um jogo de futebol” é, ao mesmo tempo, a mais correta e a mais absurda das respostas.

O Inter não foi um time de futebol; Nilmar, Taison e D’Alessandro não foram jogadores; nós não fomos espectadores. Fomos todos algo mais. Participamos ativamente de algo jamais visto, algo único. Algo que merece, sim, ser lembrado para sempre na história do futebol.

Os primeiros 45 minutos foram a imagem da perfeição transmitida por um jogo de futebol. Só um time jogava, só 11 jogadores encostavam na bola (com exceção, talvez, do goleiro Lauro), só o Inter fazia gols. E como fizemos. Não há registros na história do esporte universal de uma superioridade tão gritante refletida em uma diferença tão espantosa no placar. Sete a zero. Um gol a cada 6 minutos, se eu ainda consigo raciocionar matematicamente (Guiñazu parece ter me retirado essa capacidade, após o seu gol – teria sido o quarto? Talvez o quinto. Ou o nono).

O resumo do primeiro tempo é: saída de bola. Se foi dada pelo Caxias, o Inter roubava com Sandro, que passava para Guina. Este devolvia para Sandro, que abria com Magrão, que jogava para Bolívar. Bolívar lançava para Taison na ponta. O guri fazia um remelexo genial, todo o sistema defensivo ficava desconcertado e, nesse instante, a bola já tinha passado pelos pés de D’Alessandro, que dava um La Boba em um volante qualquer, e estava nos pés de Nilmar. Nilmar colocava 200 no retão, ia até a outra linha de fundo, deixava de calcanhar para Kleber, que cruzava para Taison. Esse é o significado de “envolver o adversário”.

O time do Caxias parecia composto por atores contratados por Píffero. Corriam atrás da bola, mas pareciam agir pelo espetáculo. Espetáculo, por óbvio, colorado. E isso corrobora a minha opinião da perfeição. Jamais um time jogará mais que o Inter do primeiro-tempo. Chegará perto, se igualará, mas nunca passará disso. É contra qualquer lei ou regra vigente.

O que aconteceu naquele domingo?

Aconteceu que todos resolveram jogar espetacularmente bem. Não houve alguém que tenha cometido algum erro, seja ele técnico, tático, plástico, físico. Nada. O Inter jogou um futebol que fez a torcida sorrir e, mais do que isto, rir. Ouviam-se risos fáceis, risadas satisfeitas. Gargalhadas de bem-estar. Uma terapia, um retiro, um hotel 5 estrelas para mente e olhos. Os passes de D’Alessandro, as corridas de Taison, os dribles de Nilmar, os cruzamentos de Kleber, os carrinhos de Sandro, a onipresença de Guinazu faziam feliz quem ali estivesse.

E por isso a afirmação. Foram 30 e poucos mil que tiverem sorte. Não há televisão que mostre a vontade com que todos ali cantavam. “Colorado, colorado: nada vai nos separar. Somos todos teus seguidores, para sempre eu vou te amar.”

E para sempre vão amar e seguir, mesmo. Pois 100 anos de torcida se pagam em míseros 45 minutos. Foi isso que aconteceu naquele domingo: um jogo que recompensou tudo que qualquer pessoa já tenha feito por um time.

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