segunda-feira, 20 de abril de 2009

SÓ A HISTÓRIA COMPREENDERÁ.

Por Andreas Müller


Será preciso que se passem algumas décadas, quem sabe um século inteiro para que os acontecimentos de ontem revelem sua verdadeira grandeza para a história do futebol gaúcho. Porque hoje, ainda ofuscado pelo brilho das conquistas que o Inter vem agrupando nos anos recentes, o verdadeiro massacre cometido contra o Caxias chega a parecer um mero e pitoresco detalhe. É como se a goleada tivesse ocorrido ao natural, sem qualquer tipo de esforço ou inspiração; é como se do Inter não se pudesse esperar outra coisa e a goleada de 8 a 1 sobre Caxias, em plena final da Taça Fabio Koff, fosse nada mais do que uma obrigação burocrática para um time do quilate do Sport Club Internacional.

No futuro, quando o distanciamento do tempo permitir interpretações menos apaixonadas e mais pragmáticas, é provável que torcedores, jornalistas e dirigentes finalmente se deem conta do que realmente era e representava este Inter – o Inter do Novo Século. Quando este dia chegar, eles perceberão que, sob o comando moral e simbólico de Guinazu, o Inter deu início a um ciclo de vitórias e goleadas inenarráveis nos primeiros anos do século 21. Um ciclo sustentado pelos mesmíssimos valores e virtudes que eram cultuados pelo mitológico Rolo Compressor dos anos 40.

Neste dia, os torcedores, jornalistas e dirigentes ficarão boquiabertos e abismados. Pois perceberão que ali, no gramado do Beira Rio, diante deles, estava mais do que um ótimo time: estava, também, um fenômeno que marcaria época e deixaria saudades; estava um grupo que se tornaria referência de qualidade para as futuras gerações de colorados e, inevitavelmente, gremistas.

E assim, atônitos diante das memórias que sucederão este lampejo, muitos deles se sentirão ingênuos e até se arrependerão das críticas que faziam a este time colorado. O Inter do Novo Século – concluirão eles – era perfeito. Tinha qualidade em todos os setores, tocava com rapidez, subia ao ataque em bloco e desfrutava de nomes e valores individuais inigualáveis. Perfeito. As críticas eram simplesmente descabidas.

A tese de que o Inter “não tem pegada”, por exemplo: no futuro, será motivo de risos – tal como o legado de seu principal autor. Apegados ao pouco que a memória permite preservar, todos saberão que era impossível haver defeitos em um time que goleava 70% de seus adversários; que ganhava todos os Gre-Nais que disputava; que conquistava campeonatos regionais sempre com goleadas homéricas (dois 8 x 1 consecutivos) na finalíssima; e que ainda cometeu a façanha de conquistar não só a taça do Gauchão, mas também a da Sulamericana de forma irretocavelmente invicta – tudo isso depois de se desfazer de Fernandão, seu líder redentor. Dizer que faltava pegada ao Inter do Novo Século será, então, um absurdo. Uma desfaçatez equivalente a afirmar que faltava preparo físico ao Rolo Compressor ou entrosamento ao Inter dos anos 70.

O Inter do Novo Século, amigos, é uma lenda viva, um fato histórico que está acontecendo bem diante de nossos olhos. É um time que faz a torcida cansar de comemorar gols. É uma máquina de conquistar títulos. Mas será preciso que se passem algumas décadas, quem sabe um século inteiro para que toda essa grandeza seja, finalmente, reconhecida.

Até lá, o que nos resta é comemorar.

Pura e simplesmente, comemorar.

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