quarta-feira, 22 de abril de 2009

UM SÉCULO EM 45 MINUTOS.

Por Marcelo Benvenutti

Em 45 minutos, o Internacional mostrou aos 40 mil presentes no estádio e aos milhões que acompanharam ao vivo ou por reprises o que realmente podemos chamar de futebol. Que os faladores, os secadores, os mau humorados falem que o adversário estava desfalcado de dois jogadores emprestados pelo próprio Colorado. Que falem! Se estivessem em campo, falariam, maldosamente, que estavam vendidos. Que falem que Gauchão não vale nada, e não vale muita coisa mesmo, não vale nem o cargo de treinadores antes ditos como competentes. Competem tanto que esquecem o básico. Vencer. Jogando futebol. Por que não?

Em 45 minutos, o Internacional finalmente mostrou o que sabe fazer. Muitos dirão que o jogo foi fácil. Não. Não foi fácil antes. Não seria agora. Os jogos nunca são fáceis. As corridas na chuva não são mais difíceis. O piloto é que a torna mais fácil. Os gols de placa não são feitos por acaso. Nascem do virtuosismo dos escolhidos. Dos escolhidos que lutaram pela perfeição. Ninguém é escolhido por acaso. Não existe mágica. Existe trabalho. Trabalho e imaginação. Imaginação e sorte; dádiva e dor. Tudo nasce e morre ao mesmo tempo. Assim como um gol colorado após o outro.

Em 45 minutos, o Internacional marcou e fechou todos os espaços do valente Caxias. Valente porque ousou jogar de igual para igual. Devemos valorizar os insanos que assim pensam. O racionalismo riograndense chegou a tal ponto da intelectualidade inóspita que, aqui nessas plagas, ousar jogar futebol é considerado uma chaga de Cristo. É um pecado imortal. De carioca pra baixo é o time xingado. Pois o Internacional não teme ser carioca. Pois o Inter é carioca. É paulista. É argentino. Italiano. Inglês. Africano. Sempre foi assim. Desde o início dos tempos. E os tempos começaram em 4 de abril de 1909. Dia em que nasceram o Internacional e Vicente Rao. A alegria do futebol.

Em 45 minutos, D'Alessandro, o centro da roda colorada, fez o jogo girar ao seu redor. Guiñazu e Magrão cortando pelos lados. Sandro, um verdadeiro camisa 5 usando a 8 nas costas, guardando a zaga. Álvaro se redimindo de noites passadas. Índio perdendo gols. Bolívar dando ares na frente. É dele o passe para um dos gols. Kleber, finalmente solto de suas grades pelo Tite. Solto por Sandro. Por Guiñazu. Kleber fazendo de ponta o que um lateral deve saber das pontas. Cruzar com precisão. E Taison? Quem é ésse cara? Taison é um extraterrestre. Taison não existe. É um bólido incandescente circulandopela área adversária. Nem mesmo Nilmar consegue alcançá-lo. Taison é o pulmão colorado. Taison é o estertor da civilização vermelha.

Em 45 minutos, o Internacional jogou futebol. Futebol como poucas vezes se viu, e talvez se verá, no gramado verde da beira do Guaíba. E o pior é que não existiu nada de mágico naquilo. Ou melhor. Pois o Internacional trabalhou para isso. Tite esbravejava com o placar de 5 gols favoráveis em meia hora de partida. Maior obsessão, impossível. Esse time do Inter é feito de obsessivos. Treinado por um obsessivo. Que comemora um título ao lado da mãe, nervosa, chorando, com o terço na mão. Nem só de terços vive este time. Não negamos as ajudas dos céus ou dos infernos, de um dos quais D'Alessandro parece ter vindo. Este time é a obsessão de um homem chamado FernandoCarvalho. É a obsessão de uma torcida, sofrida, calejada, que não quer só ver seu Inter ser campeão. De qualquer jeito. Sim, quer vencer. Mas mais que vencer. Os colorados amam o futebol. Nós queremos espetáculo.

Em 45 minutos, a torcida colorada reviveu o futebol épico de outras eras. Era como se Carlitos estivesse ali recuando para cabecear inclinado. Como se Escurinho e Falcão estivessem trocando passes de cabeça até matar torcedores de infarto nas arquibancadas. Como se Valdomiro fizesse aquele golaço na final do estadual de 1978. Fabiano naquele golaço de fora da área contra o Santos. Fernandão no bate-roupa de Ceni. O Internacional estabeleceu para si o parâmetro de seus próprios limites.

Em 45 minutos, o Internacional apresentou todas as suas armas. Agora, tudo o que vier será comparado. E é bom que exista a comparação. Pois quando se atinge o ideal, o máximo que se exige é repeti-lo. O máximo que se exige é revivê-lo. O Inter reviveu seus grandes jogos e seus grandes times. O Rolo dos 40. O Rolinho dos 50. A máquina dos 70. Uma aceleração do futebol da Libertadores de 2006. Um grande clube estabelece suas próprias limitações.

Em 45 minutos, o Internacional estabeleceu que para ele não existe limites.

Em 45 minutos, o Internacional jogou por um século.

*Ps.(1): Semana passada no texto sobre os camisas 7 realmente esqueci oTinga.

**Ps.(2): A Copa do Brasil é nossa sina. Devemos vencê-la. De qualquer modo.

Nem que seja … jogando futebol.*

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