quarta-feira, 27 de maio de 2009

LEMBREMOS RENÊ SIMÕES.

Por Gustavo Foster


Muito tem se falado do Inter de 2009, todos percebem. Comentaristas, programas esportivos, jogadores, taxistas, porteiros de prédio: D’Alessandro é mais falado que namoro em cidade do interior. Mas, essa semana, alguém exagerou, falou mais do Inter do qualquer pessoa havia feito. René Simões.

A partir de confirmada a classificação colorada, o técnico coxa-branca disse que somos bicho-papão, que nos assemelhamos ao "carro que todos querem ter", elogiou o trabalho do Tite, disse admirar o esforço dos atletas e do preparador físico, dentre tantas outras filosofais teorias que são demolidas em um apito.

Porém, há uma frase do bigodudo que deve ser guardada – e que parece ter passado em branco para muitos. Segue: "se fosse basquete ou vôlei, dava pra esquecer, o Inter já era campeão", disse, ao responder à pergunta do site GloboEsporte, acerca da grandiosidade do desafio a ser enfrentado.

Nunca fui muito de nenhum dos dois esportes. Pelo que me consta – e pelo que o Google me contou – , no vôlei participam seis jogadores, tem um que usa uma camiseta diferente, a partida é dividida em sets de 25 e sempre que o professor de Educação Física anuncia que "hoje vai ser vôlei", a gurizada chia. Basquete é aquela coisa: cada cesta vale 2 ou 3 pontos, dependendo do lugar de onde foi feito o arremesso, o jogo é divido em quartos, que têm um determinado tempo e, ao final, ganha quem tem mais pontos.

Admito que não entendo muito, mas a principal diferença que vejo dos dois em relação ao futebol é a seqüencialidade – mesmo que tal palavra não exista –, que não existe em mesma escala no esporte bretão. O que faz do futebol algo tão especial diante dos outros é valorização do instante. Um jogo de basquete jamais será resolvido em uma cesta fantástica (talvez sim, mas após outras 50 usuais). Numa partida de vôlei, a cortada histórica do jogador vale tanto quanto os outros 24 pontos que o time dele vai ter que fazer no resto do set. Em ambos, são muitos os pontos, o que faz com que, ao final, ganhe quem errar menos. Ou seja, o melhor. Saca, defende, levanta, corta, defende, levanta de novo e corta. Ponto. Umas 40 vezes por set.

E é isso que aproxima tanto equipes fantásticas de zebras do interior. Na mesma entrevista, René Simões chora as pitangas porque não vai poder escalar Marcelinho Paraíba. Ele é o cara aqui. Só com essa informação, dá pra perceber o abismo que distancia Inter e Coritiba, no que diz respeito à qualidade do elenco. No Beira-Rio, há no mínimo seis jogadores melhores que o veterano oxigenado. Mas voltando: não é basquete nem vôlei. Se fosse basquete ou vôlei, uma cochilada do Lauro resultaria em um ponto do Coritiba. O Inter já teria 17. Taison teria 50 chances de arremesso: acertaria 48, sendo 23 de três pontos. Nilmar daria deixadinhas maestrais, enquanto os adversários de verde tantariam por aquela bola no chão por um sem-fim de vezes. Enfim, o Inter ganharia o jogo e, fatalmente, estaria garantido na final.

Mas é bom sempre lembrar. Não é vôlei nem basquete. É futebol.

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