quinta-feira, 28 de maio de 2009

SEM SURPRESAS.

Por Marcelo Benvenutti

Taison é o cara. Andrezinho faz por merecer. Guiñazu sempre faz falta. Tudo isso é verdade. O que pode não ser verdade são as superstições que rodeiam o futebol, principalmente nos jogos decisivos.

O torcedor cumpre sua rotina, tanto em casa como no estádio. Coloca o rádio no mesmo volume de sempre e na mesma rádio. Senta no mesmo lugar do sofá. A perna de um certo modo que dê sorte. A mesma marca de cerveja. Se encaminhar para o mesmo local do estádio. A camisa de sempre, mesmo que seja aquela desbotada, carcomida por muitas lavagens. Sei que nem todos acreditam ou fazem tantos quiprocós para tentar auxiliar o time do coração, mas mesmo quem não acredita, acaba apelando para qualquer santo na hora do desespero.

Os times em campo. Torcida do Inter cantando. Festa. Semifinal de qualquer competição sempre deve ser uma festa. Eu, que faz muito abandonei quase todas as minhas superstições relacionadas ao futebol, depois de tantas vitórias e derrotas descobrimos que quase nenhuma delas faz sentido, temi ao ver os times se desolcando no gramado do Beira-Rio. Sim. Ali todo o temor que acompanha cada colorado que acompanhou aquela noite trágica de 1999 numa semifinal de Copa do Brasil voltou à minha mente. Era a tática secreta do filósofo do reagge Renê Simões.

Sim. O Coritiba escolheu o lado em vez da bola. Sim. O Inter sempre escolhe o lado e não a bola. O Inter sempre ataca para o lado do placar no segundo tempo, não no primeiro. O jogo começa e o Inter, numa bobeira, toma o gol na única conclusão perigosa que os curitibanos fariam no jogo inteiro. Nilmar sendo exterminado no ataque. Magrão revidando na volta. O jogo desbanca para algo próximo à pancadaria graças ao bundamolismo do árbitro. Mas se o negócio é boxe, não me controlo ao ter que usar do trocadilho com Taison. Taison aniquila. Nocauteia. Taison põe abaixo até mesmo as piores premonições supertisciosas.

Notando que minha tática de manter os mesmo movimentos não ajuda em nada o time em campo, decido sair detrás da goleira do placar e me colocar na divisa entre a torcida gaúcha e paranaense. Nada mais correto contra-atacar a surpresa do Renê "mala" Simões com um antítodo certeiro. Mandar o azar pro inferno. Claro que eu não vou deixar de dividir o sucesso de minha manobra diversionista com Taison. O guri invade a área e quatro patetas de verde e branco cercam o Furacão da Copa enquanto Alecsandro recebe um mumu do outro lado da área e fuzila o goleiro coxa branca. Nem dá tempo de comemorar o gol e Taison entra como um trem bala no estado das araucárias e entrega a bola para que Alecsandro largue uma de futsal no peito de Andrezinho, que conclui de forma acachapante.

A superstição que se exploda. A torcida não sabe para onde pular. Um mais exaltado quase sobe no cordão de isolamento para provocar os coxinhas, agora silenciados pelo estrondo vermelho. Uma brigadiana mais nova observa e esboça um movimento. Um soldado mais velho se aproxima e faz sinal de calma para a guria soldado. É festa. Sempre é festa. Mesmo que o lado do campo mude. Mesmo que quebrem um Nilmar. Mesmo que Guiñazu tente correr a maratona só pra aliviar a tensão. Nada disso adianta, Renê Simões. Nós vencemos. E mesmo não sendo uma maravilha de futebol apresentado, cruzo os dedos, beixo o crucifixo, dou três pulos com um pé só e não piso nas marcas da calçada, e te digo: Nada pode nos surpreender!

A moeda foi lançada e dos dois lados está escrito somente um nome: Taison.

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