terça-feira, 19 de maio de 2009

TAISON PRECISA SORRIR.

Por Daniel Ricci Araújo


No último domingo à noite, Magrão esteve em um programa de debates na TVCOM. Conversa vai, conversa vem, um dos apresentadores resolve imprimir à até ali agradável charla futebolística um calculado tom de questionamento social. Sabedor da infância difícil do nosso volante, o jornalista tasca uma pergunta protocolar e esperada: como sentia-se o realizado Magrão jogador, depois de tantas dificuldades ultrapassadas na vida? A resposta, coloquial, foi de uma simplicidade desconcertante:

- Cara, sinceramente: eu tô no lucro.

É empolgante notar, no homem de origem modesta, a simplicidade de pensamento que, desobrigando o sujeito de muitos deveres, faz da pessoa um ser mais feliz e muito dificilmente é alcançada pelo cidadão nascido com tudo a sua disposição. Quando estamos acostumados a não ter o que perder podemos nada e, ao mesmo tempo, tudo. O contrário traz o risco, a incerteza e, a galope, um medo terrível, de assar as entranhas.

Foi este medo – o de perder o que já tem – que fez Taison protagonizar uma atuação sofrível na última semana, no Maracanã.

Quando nossa jovem revelação – provavelmente o melhor jogador do primeiro semestre no Brasil – pisou o gramado do maior estádio do mundo, sua cabeça juvenil balançou. Após mais de vinte gols, arrancadas rotundas, dribles desconcertantes e elogios a não mais poder, ali estava a novidade colorada, no palco esportivo maior da nação, pronta para demonstrar aos olhos do país o que se falava dele e muito mais.

Ali, naquele momento, naquela circunstância, os quatro meses de excelente futebol eram um fardo pesado demais para ser carregado. Como prova-se um gol? Com outro gol. Como convencemos de um drible? Com outro drible. Repetir-se: eis a pior das missões para quem é bom no que faz. Taison sabe disso, e tamanha responsabilidade de ser ele mesmo engessou seu jogo normalmente espontâneo e imprevisível. Suas pernas pareciam travadas. Sua cintura, pesada. No Maracanã, no afã de provar, Taison não foi Taison. Faltou-lhe desincumbir-se disso: da carga de ser quem ele de fato é.

Mas isso passou. E com o feeling da experiência a tiracolo, Tite foi de uma precisão cirúrgica no auxílio ao jovem rebento. Não aconselhou a Taison somente que voltasse para marcar, que corresse mais, soltasse a bola ou procurasse o jogo. Não. Pediu-lhe somente que sorrisse. Sorrir, ora bolas. O ser humano precisa da leveza, da irresponsabilidade, dessa ligação pueril com o dever para assim se esquecer dele e então encará-lo de frente, manhã após manhã, dia após dia sem sentir-se intimidado por sua inevitável dureza.

Taison, para alcançar essa consciência, precisa sorrir. E a partir de agora, ele sorrirá. E será feliz, e marcará gols e dará arrancadas e driblará adversários com a agilidade felina dos tempos em que jogava por jogar, e o fazia muito bem. Taison precisa sorrir. Porque como Magrão mesmo disse, nada melhor para encarar a vida do que se ver sempre no lucro. E no dia em que Taison se der conta disso, ele, o menino pobre de Pelotas que sabe mais sobre o barro da vida do que a maioria de nós, aí então ele terá para sempre aprendido a melhor lição de todas: para enfrentar a responsabilidade, é necessário primeiro mandá-la às favas.

E por isso e tantas coisas mais, Taison precisa sorrir.

Nenhum comentário: