terça-feira, 12 de maio de 2009

UM FIM DE SEMANA EM SÃO PAULO.

Por Daniel Ricci Araújo


Passei um bom tempo do ano passado tentando agendar uma ida ao Estádio do Pacaembu para ver o Inter jogar. Sempre tive vontade de conhecer e ver um jogo nosso no mais charmoso estádio paulista, com sua bela praça Charles Miller à frente, um bonito largo feito sob medida para o encontro das torcidas, antes e após o jogo. Neste último fim de semana, enfim, tive a oportunidade de assistir à vitória do Inter contra o Corinthians. E não me arrependo do dinheiro gasto, que não foi pouco.

Já antes, no sábado, pudemos conhecer o – eu diria – obrigatório Museu do Futebol, situado dentro do próprio Pacaembu. A experiência é fascinante. Ao preço módico de seis reais, o cidadão faz mais do que visitar um ponto turístico, muito mais – na verdade, pagamos para assistir a uma celebração do futebol e de todos os contrastes responsáveis por torná-lo o mais vivo e palpitante traço da unidade nacional brasileira. Sim, o Inter está lá, representado com flâmulas, bandeiras, o histórico gol de Figueroa e um golaço de Fernandão, estes reproduzidos em vídeo. Mas a realidade é que o Museu do Futebol tem o mérito de ser formidavelmente atemporal e, inventemos uma palavra, aclubístico. Saímos de lá com a sensação de que o esporte bretão nosso de cada dia vale a pena tanto quanto o pão diário presente na nossa mesa.

Indo embora do museu, seguimos nosso trajeto para ir até o Palestra Itália acompanhar Palmeiras x Coritiba. Acabamos revendo, é claro, Marcão e Cleiton Xavier. Este último, quem diria, ao entrar em campo como a solução do time, no segundo tempo, recebe os aplausos empolgados da torcida palmeirense – assim nos fazendo pensar que, realmente, o sol mais cedo ou mais tarde nasce para todos. Mas antes disso, a difícil compra de ingressos e entrada no estádio faz-nos constatar, orgulhosamente, que o Inter está dez anos à frente de muitos outros times do Brasil.

Se assistir a um jogo no Beira-Rio, para o sócio, é uma experiência primeiramente de conforto, já não se pode dizer o mesmo quanto ao palmeirense, mesmo no conhecido e badalado Setor Visa, único local onde consegui entrar sem ter de desafiar uma fila homérica. Apesar das ótimas instalações internas, a demora na compra do ingresso me convenceu: tudo que o sócio colorado tem para si como uma coisa comum é, para o torcedor regular do país, uma grande regalia. O que o palmeirense ali presente, de maior poder aquisitivo, compra ao custo de 55 reais por jogo, o sócio colorado recebe pagando mais ou menos isso, mas por mês. E nessa diferença está tudo e mais um pouco.

Chegando ao domingo, o Pacaembu então está pronto e aguardando a estreia colorada rumo ao tetracampeonato. Quando da entrada dos times em campo, uma coisa literalmente fica escancarada a olho nu – nosso novo telão é muito, mas muito superior ao do estádio onde estamos visitantes. Os degraus das arquibancadas são altos demais, mas o estádio todo compensa ao oferecer uma boa visão da partida, razoavelmente próxima do campo. O jogo é frouxo e, apesar de ter começado a administrar o resultado cedo demais, a pintura de Nilmar (maravilhosamente retratada ontem pelo Andreas, aqui mesmo) vale a tarde, a noite e o ano inteiro. Um triunfo sob medida, pragmático, apertado: o Campeonato Brasileiro irá separar os homens das crianças.

Acaba o jogo e a massa escoa pelas ruas. Saímos juntos, ouvindo as conversas e lamentações. Os corintianos mostram recalque e escárnio: esse time do Inter nunca será campeão com essa bolinha, diz um. A sensação que fica é de estar definitivamente instalada uma rivalidade extra entre os dois clubes. Nota-se claramente: os corintianos, claro, não gostaram de perder, e menos ainda de perder para o Inter. No entanto, ninguém clamou por Marcio Rezende ou Kia Joorabchian. Já é um início.

O Inter agora ruma ao Maracanã. Lá não estarei presente. Mas o que fica para mim dessa incursão a terras paulistas é que o Inter, inegavelmente, é hoje junto com o São Paulo uma das duas maiores instituições futebolísticas do país. O respeito de todos pelo nosso clube é inegável até quando vai demonstrado pela raiva – nem mesmo os corintianos, derrotados e bravos, conseguiram deixar de falar mal do Inter não só domingo, após o jogo, como também ontem, e, provavelmente, ainda hoje. Não nos esquecem, é impressionante. Que siga assim. E oxalá possamos todos ainda assistir a muitas vitórias coloradas, por aqui ou acolá.

Porque o Inter de 2009 nos permite, sem dúvida, sonhar com viagens cada vez mais distantes.

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