Por Daniel Ricci Araújo
Passei um bom tempo do ano passado tentando agendar uma ida ao Estádio do Pacaembu para ver o Inter jogar. Sempre tive vontade de conhecer e ver um jogo nosso no mais charmoso estádio paulista, com sua bela praça Charles Miller à frente, um bonito largo feito sob medida para o encontro das torcidas, antes e após o jogo. Neste último fim de semana, enfim, tive a oportunidade de assistir à vitória do Inter contra o Corinthians. E não me arrependo do dinheiro gasto, que não foi pouco.
Já antes, no sábado, pudemos conhecer o – eu diria – obrigatório Museu do Futebol, situado dentro do próprio Pacaembu. A experiência é fascinante. Ao preço módico de seis reais, o cidadão faz mais do que visitar um ponto turístico, muito mais – na verdade, pagamos para assistir a uma celebração do futebol e de todos os contrastes responsáveis por torná-lo o mais vivo e palpitante traço da unidade nacional brasileira. Sim, o Inter está lá, representado com flâmulas, bandeiras, o histórico gol de Figueroa e um golaço de Fernandão, estes reproduzidos em vídeo. Mas a realidade é que o Museu do Futebol tem o mérito de ser formidavelmente atemporal e, inventemos uma palavra, aclubístico. Saímos de lá com a sensação de que o esporte bretão nosso de cada dia vale a pena tanto quanto o pão diário presente na nossa mesa.
Indo embora do museu, seguimos nosso trajeto para ir até o Palestra Itália acompanhar Palmeiras x Coritiba. Acabamos revendo, é claro, Marcão e Cleiton Xavier. Este último, quem diria, ao entrar em campo como a solução do time, no segundo tempo, recebe os aplausos empolgados da torcida palmeirense – assim nos fazendo pensar que, realmente, o sol mais cedo ou mais tarde nasce para todos. Mas antes disso, a difícil compra de ingressos e entrada no estádio faz-nos constatar, orgulhosamente, que o Inter está dez anos à frente de muitos outros times do Brasil.
Se assistir a um jogo no Beira-Rio, para o sócio, é uma experiência primeiramente de conforto, já não se pode dizer o mesmo quanto ao palmeirense, mesmo no conhecido e badalado Setor Visa, único local onde consegui entrar sem ter de desafiar uma fila homérica. Apesar das ótimas instalações internas, a demora na compra do ingresso me convenceu: tudo que o sócio colorado tem para si como uma coisa comum é, para o torcedor regular do país, uma grande regalia. O que o palmeirense ali presente, de maior poder aquisitivo, compra ao custo de 55 reais por jogo, o sócio colorado recebe pagando mais ou menos isso, mas por mês. E nessa diferença está tudo e mais um pouco.
Chegando ao domingo, o Pacaembu então está pronto e aguardando a estreia colorada rumo ao tetracampeonato. Quando da entrada dos times em campo, uma coisa literalmente fica escancarada a olho nu – nosso novo telão é muito, mas muito superior ao do estádio onde estamos visitantes. Os degraus das arquibancadas são altos demais, mas o estádio todo compensa ao oferecer uma boa visão da partida, razoavelmente próxima do campo. O jogo é frouxo e, apesar de ter começado a administrar o resultado cedo demais, a pintura de Nilmar (maravilhosamente retratada ontem pelo Andreas, aqui mesmo) vale a tarde, a noite e o ano inteiro. Um triunfo sob medida, pragmático, apertado: o Campeonato Brasileiro irá separar os homens das crianças.
Acaba o jogo e a massa escoa pelas ruas. Saímos juntos, ouvindo as conversas e lamentações. Os corintianos mostram recalque e escárnio: esse time do Inter nunca será campeão com essa bolinha, diz um. A sensação que fica é de estar definitivamente instalada uma rivalidade extra entre os dois clubes. Nota-se claramente: os corintianos, claro, não gostaram de perder, e menos ainda de perder para o Inter. No entanto, ninguém clamou por Marcio Rezende ou Kia Joorabchian. Já é um início.
O Inter agora ruma ao Maracanã. Lá não estarei presente. Mas o que fica para mim dessa incursão a terras paulistas é que o Inter, inegavelmente, é hoje junto com o São Paulo uma das duas maiores instituições futebolísticas do país. O respeito de todos pelo nosso clube é inegável até quando vai demonstrado pela raiva – nem mesmo os corintianos, derrotados e bravos, conseguiram deixar de falar mal do Inter não só domingo, após o jogo, como também ontem, e, provavelmente, ainda hoje. Não nos esquecem, é impressionante. Que siga assim. E oxalá possamos todos ainda assistir a muitas vitórias coloradas, por aqui ou acolá.
Porque o Inter de 2009 nos permite, sem dúvida, sonhar com viagens cada vez mais distantes.
terça-feira, 12 de maio de 2009
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