terça-feira, 30 de junho de 2009

Carta aberta aos jogadores do Inter.

Por Daniel Ricci Araújo


Caros jogadores do nosso querido Sport Club Internacional,os senhores estão prestes a viver um daqueles raros momentos nos quais se cala o futebol e levanta-se a história. Junto a vocês, oito milhões de almas anseiam pela chegada do grande momento, da grande noite que, mais uma vez, marcará a grandeza deste clube, filho dos humildes, feito do povo e para o povo. Eu repito, meus senhores: o momento é raro. O futebol está, nesta semana, dando lugar a algo maior em nossos corações.

Junto às suas grandes qualidades de futebolistas descansa a possibilidade do único triunfo que nos falta, a única conta ainda a ajustar – a da retidão. Nenhum pênalti não marcado pode apagar esta chama. Olhando para vocês, a justiça suspira. Cuidando seus passos, a honestidade os aplaude. Hoje, um clube de cem mil sócios mostra ser possível, nesse continente esquecido e pobre, ainda existir uma paixão como a nossa. Aqui, neste sul profundo da América, o Inter diz ao planeta que não são necessários investidores iraquianos. Aqui não entregamos nosso destino a mafiosos procurados pela Interpol. Nestes pagos repousa uma força da natureza chamada Sport Club Internacional, que pode falar da tristeza porque a conhece, e mesmo assim dizer ao planeta inteiro, com justiça, glória e solenidade: outro mundo, outro caminho, são possíveis. Os senhores são os dignos portadores desse clube. Orgulhem-se disso, meus caros.

E por essas razões os senhores embarcam, agora, numa das mais belas jornadas de toda a nossa existência. Ouçam mais uma vez esta gloriosa torcida. Lembrem mais uma vez de todas as taças conquistadas. Mas acima de tudo, meus senhores, eu lhes peço: escutem seu próprio coração. Deem espaço àquela voz só nossa, àquela chama persistente, amiga dos bons e dos justos, chamada consciência. Mais uma vez como tantas outras, sejam os grandes profissionais e os ótimos jogadores os quais, eu tenho certeza, os senhores são. É preciso deixar tudo, absolutamente tudo dentro do campo na próxima quarta-feira. Toda a honra em forma de suor. Todo o amor em forma de vibração. É preciso deixar tudo. Tudo. Menos que isso será nada. Nós sabemos dessa verdade.

E não tenham medo da derrota, meus caros, não a temam por pouco. Como alguém disse sabiamente tempos atrás, muitas vezes o campeão é só isso mesmo, campeão. Se o título não vier, ainda sim os senhores poderão nos brindar com a tristeza mais sublime da nossa história. Sejamos homens, meus senhores, não no sentido quixotesco da palavra, mas em seu significado humano: retribuam na quarta-feira, como tantas vezes já fizeram, todo o amor desse povo. Retribuam calorosamente, apaixonadamente, com ganas de morrer em campo, e o resultado será o que tiver de ser. Paguem amor com amor. Feita essa combinação, o resultado então será só isso mesmo, o resultado. E a torcida, esta generosa e linda torcida, ainda assim, os agradecerá emocionada.

Mas caso a vitória venha, ah, meus caros! Para sempre todos nós estaremos ligados pelo cordão umbilical desta glória. Passarão os anos e os senhores, já velhos e felizes, contarão a seus netos sobre esse dia, o momento no qual estiveram além do profissionalismo, acima da esperança, a noite feliz em que ultrapassaram tudo não só para satisfazer a massa, mas sim a vocês mesmos, deixando o coração em campo. O famoso filme hollywoodiano estava certo: o que fazemos em vida realmente ecoa pela eternidade. Essa é a chance de vocês, mais uma vez, sobreviverem por todas as eras no coração deste povo sofrido e guerreiro que os espera na arquibancada do Gigante.

E isso tudo poderá ocorrer nesta quarta-feira, meus caros senhores. Não tenham medo do resultado. Sigam em frente. Esta torcida mais uma vez estará com vocês, com a mente e o coração. Preparem-se e sejam os grandes homens e atletas que, no campo e na vida, tenho certeza vocês almejam ser, e penso que já o são.

A história os aguarda, meus senhores. Deixem tudo em campo. Tudo.

Simplesmente tudo. E esta será mais uma noite para ecoar pela eternidade.

domingo, 28 de junho de 2009

Decisão - parte 2.

Por Raphael Castro


Não tem nada mais irritante que problema sem explicação. Por exemplo, quando alguém cai doente, sem um mínimo de lógica nos sintomas, é batata: os médicos tascam logo uma “virose”; seu computador trava, engasga, cospe, sem qualquer motivo aparente, e você escuta do iluminado do técnico o popular “dá um ‘boot’ na máquina” (uma expressão pomposa que designa a genial providência do “desliga-e-liga-de-novo” – ironicamente, pelo som, também remete à ideia que costumamos ter inicialmente nesses casos, ou seja, dar uma belíssima “bootinada” na tal da máquina).

Segue-se

Aí é o seu time que decide refugar uma atrás da outra, assustadoramente, vertiginosamente. A explicação: “crise técnica”. Ê, meu Deus, lá vamos nós de novo: em primeiro lugar, como não sou médico nem técnico de computador, sinto-me bastante confortável em desconsiderar olimpicamente os seus abalizados pareceres e recomendações nesses casos. Por outras palavras, é óbvio que deve ter uma explicação para o que está acontecendo no Inter, que nem eu, nem você, caro(a) leitor(a), sabemos ou saberemos; convenha-se: esse time tem perfeita consciência do que tem de fazer, e de quando fazer. Alegarem agora, de forma singela, uma esotérica “crise técnica” ou mumunhas afins é fazer caridade com a boa vontade e inteligência do torcedor...

Ausências

Aí vem a lembrança da falta que faz o Nilmar: respeitabilíssimo argumento, sem dúvida. Mas o Alecsandro, misteriosamente ao contrário de agora, até vinha bem (não fosse o homem, a vaca já tinha ido pro brejo em pleno Beira-Rio contra o Rondonópolis, o que, cá pra nós, não é dos contextos mais agradáveis). Kleber? Deveras, excelente jogador – mas já estou exausto de ler sobre a pouca resposta que ele dá, que não se trata de um jogador vibrante, que ele não repete as atuações que tem ou teve sei-lá-onde, que piriri-pororó (inclusive, no começo do ano, teve, MUITA, repito, MUITA gente defendendo a titularidade do Cordeiro (!?!?) no lugar do nosso selecionável lateral-ala-meia-indefinido-tudo-junto; Marcio Garcia diria que o mundo só não é redondo se você for um Dalit...). Por último, outra ausência bastante sentida foi a de “El Cranio”, mais um que deve ter escutado muito que não vem jogando nada, que Andrezinho pedia passagem, que o meia era o nosso eterno “décimo-primeiro-e-meio” jogador, que sei lá o que mais. Bem, o que então quer dizer todo este parágrafo? Ora, que elenco pra ganhar pelo menos de uma LDU em casa nós temos, apesar dos fatos, esses ingratos (assim, com rima pobre mesmo...).

Título

A essas alturas, já deve haver quem esteja se perguntando que diabo o título teve a ver com o texto, afinal. Respondo: tudo; absolutamente tudo. Porque mesmo com o nhenhenhém da “crise técnica” - uma óbvia lorota, prestidigitação, fumacinha ninja, tertúlia para entorpecer bovinos -, a minha fé permanece impoluta, inabalável e inquebrantável, para a volta contra um clube mais perverso que Darth Vader, Voldemort, Sauron e Hannibal Lecter juntos (como diria o meu ético, filosófico, santíssimo e benéfico avô, S.Assis P.Ererê “mais malvado que mate vencido misturado com canha quente”). Não tenho a mais pálida dúvida de que triunfaremos contra os infieis do Timão. De que seremos bicampeões da Copa do Brasil E TAMBÉM da Recopa. De que o “algo” que está rolando agora será devidamente remediado até quarta-feira. E de que estaremos todos rindo de tudo isso no dia 2, tanto quanto alguns riem de piadinhas de fino gosto sobre símios em programas de rádio (muito obrigado, Deus, por eu ser colorado). Contra os paulistas, inclusive, encaro mesmo o jogo como um dever moral, um conflito cósmico do Bem contra o Mal, enfim, um embate do qual depende toda a estabilidade do universo e a manutenção da espécie humana como a conhecemos hoje. Do contrário, sempre tem a opção de dar um “boot”. Em alguém...

Tópicas: Gre-Nal de crentes

Engraçado: daria até para fundar uma nova igreja em POA com esse mantra do “eu acredito” agora por todo lado...

Tópicas 2: imor(t)alidade

A meiga estratégia da desqualificação do ocorrido no Mineirão dá bem a medida de certos estados de espírito: pobres imor(t)ais...

Tópicas 3: Professor Pardal

E se na ausência de Magrão, Glaydson fosse o “cabeça de área” e Sandro avançasse para a segunda do meio-campo, com Guiña e D’Alessandro?

Tópicas 4:

Reparem: a tal “crise” começou com a derrota em São Paulo e piorou muito com a demissão do...Muricy. Coincidência?

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O fim da história colorada.

Por Andreas Müller

Começo a escrever este texto no exato momento em que o relógio aponta 00:50. É tarde, sim, e aquelas duas horas de boca-livre na área VIP do Beira Rio ainda estão fazendo efeito. Sabem como é, cerveja demais. E ainda havia a degustação da cachaça Dom Braga. Degustei várias vezes. A certa altura me perguntei se o nome da cachaça não teria relação com Abel Braga. Talvez fosse uma aliteração. Dom Elias e Abel Braga: Dom Braga. Essa pega de jeito.

O fato é que estou levemente embriagado. O Inter acaba de perder a Recopa. Desperdiçamos a chance – raríssima chance – de ultrapassar o Grêmio em títulos internacionais. Mas não doeu. Não em mim. Saí do Beira Rio tranquilo, conversando com meu pai e alguns amigos que passavam pelo pátio do Gigante. Encontrei, por exemplo, o Émerson, moderador da comunidade do Inter no Orkut. Reclamamos do Leandrão, mutuamente. Levantamos a hipótese de que o Inter não tem comando. Que, no fundo, o culpado disso tudo é o Tite. Sim, o Tite. Um enganador, esse Tite. Vamos ver como o Inter se sai no jogo de volta contra o Corinthians. Se perder, adeus Tite.

O Emanuel Neves, responável pela seção de colunistas aqui do Final Sports, estava comigo. Dei-lhe uma carona. No caminho, ele asseverou: estamos em crise técnica. No meu silêncio levemente embriagado, discordei. Não estamos em crise técnica. Estamos simplesmente chegando ao final da nossa história. Esse ciclo de vitórias, de títulos em série, de grandes times e grandes elencos: tudo isso está perto do fim. Em 1992, Francis Fukuyama lançou um livro provocador: “O Fim da História e o Último Homem”. Para Francis Fukuyama, o triunfo total do capitalismo representa o fim da história da humanidade. Não temos mais para onde evoluir, diz ele. Pois eu sou o Fukuyama colorado. Nossa história acaba de chegar ao cume derradeiro. Não temos mais o que ganhar. Somos campeões de tudo. Daqui para frente, só nos resta perder.

A LDU chegou a Porto Alegre pronta para jogar a “Copa do Mundo” contra o Inter. Já o Inter foi para a final da Recopa pronto para fazer um “treino de luxo”. Eis a novidade: o treino foi um cocô. Perdemos a Recopa e não há vídeo no Youtube que seja capaz de nos fazer acreditar numa virada. Aliás, se depender do tal treino de luxo, o Inter perderá para o Corinthians na semana que vem. E perderá sem criar uma única chance de gol. O diabo é que isso não é necessariamente ruim. É simplesmente parte do nosso crescimento. Precisamos morrer para renascer. Precisamos de uma reedição dos anos 90 para que tenhamos mais uma década semelhante a esta.

O Inter precisa ter fome. O Inter precisa ter desespero. O Inter precisa passar uma década inteira morrendo na praia. Do contrário, continuará encarando a finalíssima da Recopa como um “treino de luxo”. Qualquer goleada em Gauchão será encarada como um sinal de que o Rolo Compressor está de volta aos gramados. Qualquer elenco razoável será considerado o melhor do Brasil. Os gremistas reclamam da badalação em cima do time do Inter. Dizem que é exagero. Mas a maior vítima dessas mentiras somos nós, colorados. Por causa delas, nós achamos que dava para ganhar tudo neste ano. Ganhar tudo com o Alecsandro dando passes errados. De calcanhar. É com Alecsandro que chegamos ao fim da história colorada.

A boa notícia é que a área VIP funciona muito bem. Cerveja liberada. E salsichas. Muitas salsichas. As pessoas entram lá, bebem tudo que podem e comem salsichas cozidas. De palitinho. Depois, cheias de álcool e salsichas, seguem para o estádio levemente embriagadas. Como eu. Não deixa de ser um privilégio nestes tempos de Lei Seca. Ou melhor: nestes tempos de decadência colorada. Com a área VIP, é possível ver o Inter ser derrotado dentro de casa e não sentir dor nenhuma. Agora, por exemplo, são 01:56 e eu, levemente embrigadado, estou convencido de que a Recopa não tem tanta relevância assim. Importante, mesmo, é golear o Corinthians na semana que vem. Eu estarei lá. Até reservei o meu lugar na área VIP. Sugiro que você, leitor colorado, faça o mesmo. Sabe como é: dói menos.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Alguns adendos em relação ao grupo do Inter...

Por Gustavo Foster


...E "UMA ILHA DE FELICIDADE NO MEIO DO INFERNO DA CRISE".

Quando algo acontece de uma hora, sem motivos aparentes, deve-se parar, respirar fundo e praticar um exercício de revisão, para que depois tudo comece certo, novamente. É chegada essa hora, no Inter. É nítido que passamos por algo que, se não é uma crise, pode ser caracterizado como uma má sequência de jogos. Não ganhamos no mês. Perdemos para Coritiba, Corinthians, fomos goleados pelo Flamengo. Tudo depois de sermos cobertos por elogios de todo e qualquer espectador de futebol.

Algo aconteceu. Há quem culpe a preparação física, que perdeu – e muito! – com a ida de Fábio Mashrejdian para a Copa "Vamos-Atrapalhar-Os-Times-Já-Que-Não-Estamos-Fazendo-Nada" das Confederações. Outros bradam contra o calendário, que colocou três competições importantes em um espaço de uma semana, fazendo o time colorado ter que se virar como Hércules e suas dozee tarefas. É tudo pra ontem!

E, é claro, há os desfalques. A bruxa, aquela desgraçada, resolveu fazer um passeio por Porto Alegre e se pilhou no Guaíba. Sobrevoou o Gigante e tirou, de uma só vez, Magrão e D’Alessandro. Bolívar já estava suspenso. Kleber e Nilmar, a.k.a. "o jogador mais importante do time", foram chamados pelo COLORADO AMIGÃO Dunga, já que eram imprescindíveis no jogo contra o Egito. Final da Copa do Brasil? Que competição é essa? Contra o Corinthias botem o Alecsandro, ué, não era o melhor grupo do Brasil? Valeu, Dunga.

Tudo é verdade. Mas o fato é que esses jogos obrigam a torcida e os profissionais do clube a repensarem algumas convicções. O melhor grupo do país merece ser reavaliado.

Os primeiros são os goleiros, que, apesar de todas as derrotas, não foram culpados. Lauro é seguro e Michel Alves se impõe quando chamado. Nas metas, nenhum problema. Já nas laterais... Danilo Silva quase nunca falha: e esse "quase" nos complicou a vida no Pacaembu. Para lateral reserva, serve. Mas o problema é entrar num jogo importante, como uma final de Copa do Brasil. E aconteceu. Marcelo Cordeiro não ataca e deixa uma avenida no lado esquerdo de campo. Sabe aquela história de "só sentir falta quando perde"? Pois é. Volta, Kleber!

Na zaga, o problema é flagrante. A dupla, perfeita até a metade do ano, começou um processo de decadência há um mês e hoje coleciona erros em lances importantes. Índio, um dos símbolos do Internacional, confirma sua tendência "motanha-russa" e volta a ter uma fase ruim. Depois de um 2006 perfeito, um 07/08 lento e um fim de 2008/inicio de 2009 novamente exemplares, volta a ganhar peso e perder velocidade. E, ao seu lado, um líder que não joga. Álvaro, já diria um gênio anônimo, é o "jogador-coala": lento e sempre segurando alguém. Em nada lembra aquele Álvaro do início, brigador, perfeito nos carrinhos, seguro na defesa. Hoje, é um jogador extremamente pesado, facilmente vencido na velocidade e compulsivo por faltas na frente da área. Sorondo, que vem se mostrando o melhor zagueiro do grupo, e Danny, outro baita jogador, já estão caindo de maduro para entrar no time titular. Principalmente o primeiro, no lugar de Álvaro. Sorondo tem tudo para fazer história no Internacional.

Chegando ao meio de campo, coração do time de Tite, o problema tornam-se os reservas. Na cabeça do técnico, me parece que não ficam claros os substitutos imediatos de cada jogador. Andrezinho entra em praticamente qualquer função. Glaydson é primeiro volante e armador. Giuliano não sabe se ataca ou defende. Rosinei ainda é relacionado, e ninguém entende o porquê.
Sandro, Magrão, Guiñazu e D’Alessandro. Esses são os quatro titulares. Sai Sandro? Glaydson ou Maycon. Magrão não pode jogar: defensivamente, Glaydson; ofensivamente, Andrezinho. Guiñazu, a mesma coisa, com preferência por Glaydson. D’Alessandro fora? Andrezinho, imediatamente. Giuliano, somente em caso de necessidade. Ou para teste. Mas não em jogos decisivos.

No ataque, o problema também é grande. Nilmar e Taison são craques. Alecsandro e Leandrão, obviamente, não (apesar de o primeiro achar que sim). Chega essa hora e é difícil criticar o Tite. Não temos substitutos para o ataque. Alecsandro não se decide se é centroavante, ponta ou malabarista de circo. Leandrão não é o horror que falam: mas não é jogador para armar jogadas. Bolaños me pareceu bom jogador. Eu testaria mais vezes. Giuliano no ataque, não. Jogador que não sabe fazer gol não pode ter essa responsabilidade.

E desse jeito, acho que o time deve ser armado. Mudar algo na zaga, repensar os reservas do meio-campo, esquecer alguns jogadores que pouco (ou nada) produzem (como Rosinei, Alecsandro, Giuliano em todas as posições do campo, Glaydson de armador) são algumas das atitudes que penso que deveriam ser tomadas. Além, é claro, de fazer mandinga, reza braba, trabalho para que a Seleção saia logo dessa Copa Caça-Níquel e o Nilmar volte logo. Sem ele, não dá.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Futebol (ainda) é feito de craques.

Por Marcelo Benvenutti


Se futebol fosse realmente um esporte coletivo, somente coletivo, como os treinadores gostam de pregar em seus discursos professorais nas entrevistas coletivas, de nada serviria um time mediano contratar um craque. Sim, para que serve um craque em um time que é formado por jogadores que se esforçam para chamar a bola de "meu bem"? O craque não chama a bola de "meu bem". A bola é que se aconchega em seus pés e o chama de "querido". O craque só no andar já tem um jeito diferente. O craque não caminha, flutua.

O craque pode ser mau-caráter. Pode ser marrento. O craque pode, até mesmo, ser simpático. Mas todo time que realmente se diz vencedor necessita de um craque. Todo time de um grande clube necessita dele. As grandes seleções, as inesquecíveis, eram grupos que tinham, no mínimo, um craque.

A Hungria de 54, com Puskas. O Brasil de 58, com Didi, Pelé, Garrincha e outros. A Holanda de Cruyff. A Argentina de Maradona. O Flamengo de Zico, Fluminense de Rivelino, Corinthians de Sócrates, São Paulo de Raí, Vasco da Gama de Edmundo. Times vencedores. Ou que jamais serão esquecidos. Muitas vezes não jogavam tudo aquilo. Não apresentavam um futebol vistoso. Mas mesmo nessas horas deixavam o gramado molhado de suor. Sim, porque os craques estavam ali, servindo, auxiliando, brilhando.

Não existem prioridades. A prioridade do time de craques é vencer. Vencer e dar espetáculo. Dar espetáculo e brilhar para sempre, como uma verdadeira estrela brilhante, que vibra e cintila no céu sem precisar ser comprada no atacado da Nasa.

Em 2009 nos acostumamos a ver o Internacional vencedor. O Rolo Compressor. Avassalador. O Inter tem grupo, pregava a direção. Muitos de nós acreditamos. Sim, se entrar um boneco de posto em campo com a camiseta do Inter, venceremos. As vitórias se acumulavam e nós vibrávamos. Por quê? Porque além de vencer, vencer dando espetáculo é o sonho de qualquer torcedor. Quem não sonha ver seu time do coração vencer dando show é porque não gosta de futebol ou sofre de sérias patologias. Insano. Mas o time perfeito, o jogo ideal, vinha nos visitar. Goleadas. Cinco, seis, oito gols, quanto mais, melhor. Mas não só por isso. Porque cada jogada era um desenho nas nossas mentes. Cada gol vinha depois de uma sinfonia de acordes individuais extremamente bem executados. Cada coadjuvante se aproximando dos atores principais. Escalando suas limitações na exorbitância do futebol dito coletivo. Ledo engano. Lerdo engano. O futebol é, sim, feito de individualidades.

Assim era o Inter de Nilmar, D'Alessandro e Taison. Parte da torcida criticava Nilmar. Mercenário. Fresco. Outros adjetivos que aqui não vou enumerar. D'Alessandro não dá entrevistas. Os repórteres não gostam dele. As mães não gostam dele. O Papai Noel, o coelhinho da Páscoa e o Lasier Martins não gostam dele. D'Alessandro é o mal em pessoa. Taison fala demais. Fala bobagens. Taison é um guri. Taison "vai matá Sandrinha". Mas tirem D'Alessandro, Taison e Nilmar do Internacional e o que restará é o coletivo. No coletivo sobram a garra e a vontade de um extraterrestre, Guiñazu, mas que não é um craque. A bola não chama o Guiña de querido. A bola obedece El Cholo. Se ela não obedecer, problema dela. Lauro nos salva de bolas impossíveis e não engole perus imemoriais. Mas o trio acima, o trio de craques, pois Taison pra mim é craque, não só chama a bola de querida, como a carrega pra casa, deita na cama e dá beijo de boa noite de língua. E quando os craques somem e nos resta o coletivo, sobra a vontade.

O Inter não entrou em campo contra o Flamengo. Não. Não tivemos vontade, fomos covardes e patéticos. Não jogamos nada e não fizemos por merecer nada menos que um quatro a zero. Ficou de bom tamanho. O líder do campeonato se distancia treinado por um mau humorado acostumado a treinar equipes medíocres. Os medíocres até podem ser campeões, quando se esforçam além do limite e o campeonato é curto. No longo prazo restam os craques. Nas páginas de história sobrevivem os grandes times. Os excepcionais.

Os loucos. Gênios. O Inter de domingo passado não ficará para a história. Nem jogará o resto do campeonato. Cabe a direção nos garantir que os craques voltarão. Porque, sem craques, nem Guiñazu vai convencer os outros jogadores colorados que, coadjuvantes que são, irão nos salvar do naufrágio. Guiñazu nadará sozinho.

Assim como nadou no Maracanã.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Onde os fracos não têm vez (ou “Entreatos”).

Por Raphael Castro


Ei, você aí...é, você mesmo, que está lendo este texto agora: caso você tenha sequer cogitado a famosa e pusilânime “jogada de toalha”, então nem perca o seu tempo; vá salgar a carne do churrasco de logo mais, tome uma cervejinha gelada para começar bem o fim de semana, ou ainda, prepare um bom mate para ler no jornal que “complicou para o Inter”. Caso contrário, aproveite o dia de hoje (e os próximos) para sorver o ar da certeza, da segurança, da crença inabalável de que você estará sorrindo, em transe, com sono, de ressaca e/ou tudo isso junto numa certa linda manhã de 2 de julho...

Análise

Sim, caro(a) leitor(a), devemos admitir que o mata-mata é mesmo cruel às vezes – especialmente na hora de esperar a volta. Curiosamente, entretanto, ele é um tanto didático, pois ensina a paciência, a perseverança e, mais importante, o amor incondicional ao clube. O torcedor se apega a tudo e a todos para simplesmente...acreditar; sim, apenas acreditar que, no final, tudo dará certo. O suspense destas ocasiões, curtido no sumo da ansiedade e forjado na bigorna da fé, é mesmo uma sensação fantástica. Sim, meio “sadomasô”, sem dúvida; mas quem se importa...? Quem se importa se é contra os dez mandamentos e proibido por lei divina marcar pênalti contra o Corinthians no Pacaembu? Quem se importa com os piques de “Ronaldorca”? Quem se importa se contra o Timão até as leis da Física são revogadas, como na inércia “caseira” da bola naquela falta do segundo gol...?

Adiante...

Você, leitor(a) que já chegou até aqui, é que não. Porque você sabe que a flautinha infantil, fácil, de agora, é própria de garotinhos apressados e incontinentes; porque você sabe que deve permanecer calmo feito um monge diante desses pobres gentios que agora riem de você; porque você sabe que deve ser calculista feito um réptil, num torneio de mata-mata; porque você viu o que aconteceu com o Paraná no Gigante e com os paulistas na Ilha do Retiro nesta mesma Copa Maldita ano passado; porque você não ACHA que somos melhores, você SABE que somos melhores. E, sobretudo, caro(a) leitor(a) porque você é colorado(a). Tão simples quanto isso (mas nem tão simples que qualquer herege por aí possa compreender...).

Aqui

E também porque você sabe que a desforra em competições de ida e volta é que nem a picanha de domingo de manhã, ou seja, tirada da geladeira (como diria o meu cibernético, internético, automático e tecnológico avô, S.Assis P.Ererê, “só acaba quando não tem mais ‘i-meil’ em cima”). Portanto, ei, você...é, você aí, que chegou até este ponto do texto: apenas observe no que vai se transformar esta cidade e este povo maravilhoso à medida que o jogo for chegando. Respire longamente, demoradamente, cada milímetro cúbico de ar até lá; você vai se inundar, se preencher, se inflar de Inter durante todos esses dias (e, o melhor, isso vai acontecer mesmo que você não queira). Mande às favas as estatísticas, a invencibilidade do Mano, o tabu das finais da Copa Enjeitada; veja a onda que vai se formar e quebrar na cabeça dos corintianos com a força de todo o vermelho do universo a lhes desabar sobre as atônitas cabeças; ouça os cânticos quase religiosos no Beira-Rio durante a partida. O cenário, caro(a) leitor(a), verdade seja dita, não poderia estar mais perfeito. Einstein uma vez declarou que “Deus não joga dados”; acho que até isto o Inter vai me provar em contrário. Porque esta Copa não ficou mais difícil; ficou apenas mais épica...

Tópicas: sem stress

O Inter é meu pastor, nada me faltará...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Caraca! Quanto Corintiano em Porto Alegre!

Por Marcelo Benvenutti


Sim! Dunga, valeu pela força! Alecsandro não lambe a meia suja do Nilmar! Sumiu em campo! Taison driblou, entrou, levou falta, fez, aconteceu, errou, o Felipe pegou, onde tava a parceria? Onde tava a parceria, caralho? Sumiu! Sumiu embaixo da chuteira de alguém, de um nada, de um coisa alguma! Os grandes jogadores se fazem nas decisões, Alecsandro! Nilmar se fez em decisões! Gol no Grêmio em Bento! Gol no Estudiantes na prorrogação! Nós temos grupo? Pode ser que sim. Mas Leandrão não é grupo nem na série D do Brasileirão. Nunca foi. Emprestem ele pro Flamenguinho da Tuca. Leandrão igual a pesadelo dos anos 90. Troquem ele por uma garrafa de plástico de 51 pela metade!

O meio campo não segurou a bola? Não. O meio campo lutou. Brigou. Mas o Corinthians marcou melhor. Marcou como nunca. Partida perfeita do meio pra trás. Mano Menezes retranqueiro FDP. Só Taison conseguia furar a muralha deles. Nós perdemos na defesa. Índio ficou em Porto Alegre e tá até agora procurando o Gordo amante de traveco. Mas fazer o quê? O Índio tem crédito com a torcida colorada. Nem Deus parava o Gordo naquela bola. Ele faz aquilo como o Garrincha que driblava sempre pro mesmo lado. Nós tomamos um gol do Corinthians numa falha coletiva. Outro de um Deus gordo num ato de punição divina.

Nossos laterais provaram mais uma vez que não temos laterais. Se Kleber firula, a firula dele é melhor que a de Cordeiro. Seu cruzamento fez ou outra acerta o avante na área. Danilo afundou. Bolívar, o vaiado, o xingado General de 2006, andava comendo a grama. Sobrou grama a ser comida na lateral colorada. Só pra lembrar de novo: Valeu, Dunga! Nos tira da final o cara que é hoje melhor que o traveco deles pra ir passear na África do Sul num torneio contra Novas Zelândias da vida! Ei, Brasil, vai tomar no cu! Inter, ôôô! Inter, ôôô!

O silêncio espreitava a vizinhança. Até que dezenas de corintianos ressurgiram das cinzas de 2005 e torceram enlouquecidamente por seu time na noite úmida de Porto Alegre. Até parece que não tinha outro jogo acontecendo por aí. Eu acho que não. Todo mundo colado na TV. Mas é bom que seja assim. Essa Copa do Brasil não vale nada mesmo. Vale vaga prum outro campeonato sem audiência em Porto Alegre. Caraca! Como tem corintiano em Porto Alegre!

Mas é isso aí, Tite. Não é agora que eu vou te criticar. Não é pelo Leandrão ou pelo Glaydson pra segurar o 0x2, não. O Dunga já escalou demais teu time. O lance é torcer pro D'Alessandro voltar, com todo respeito ao Andrezinho, que até não foi mal, mas não é o D'Alessandro, por mais que os desinformados pela mídia recalcada gaúcha digam o contrário. O negócio é o Nilmar chegar logo no primeiro vôo da África do Sul. Abandona a concentração! Qualquer coisa! O Taison precisa de ti. E do D'Alessandro! Bota o Sorondo na zaga! Deixem o Álvaro no Keep Cooler! Renovem com o Bolívar ontem! Contratem uma turma de travecas avantajadas pra atravessar a vida do Gordo uns dias antes! Cansem ele de sexo não-natural na véspera do jogo!

É isso aí, mesmo, Tite! Precisamos da partida perfeita! Da foda perfeita! Daquelas de pedir a mão na manhã seguinte! Precisamos daquele 5x1! Sim! Daqueles de virada! Quem não for doido o bastante para acreditar que fique em casa torcendo pelo time da CBF! Ou pro São Paulo! Já tem corintiano demais em Porto Alegre!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Lembrem de 2005.

Por Gustavo Foster

Eu odeio o Corinthians.

Lembro da época do Tupãzinho, Marcelinho Carioca, Mirandinha. Eu era piá e gostava do "timão". Escolhia no videogame, tinha camiseta, torcia na Libertadores. Nunca foi, pra mim, uma equipe antipática, até pelo contrário. O Palmeiras tinha aquela ligação com o Grêmio (ao menos na minha mente): Felipão, Arce, Paulo Nunes. E o Corinthians era o time do povo, o time do Cascão nos gibis. Enfim, eu simpatizava.

E foi uma frase que me fez passar a detestar a equipe paulistana: "Pois é... Enquanto alguns têm duas Mercedes Benz na garagem, outros precisam pegar ônibus". Andres Sanchez, à época vice de futebol (hoje, coincidentemente, presidente), retratou em poucas palavras a situação inescapável em que o Inter se encontrava: éramos surrupiados em rede nacional e a tranquilidade dos lados paulistas permitia que o dirigente do "time que tem duas Mercedes na garagem" fosse à imprensa e fizesse piada sobre aquilo que pode ser considerado o maior arranjo já feito em um campeonato nacional.

Depois, muito ainda aconteceu. Um dos lados conquistou tudo que se pode conquistar, o outro amargou um ano na obscura Segunda Divisão. E depois de dois anos de acontecimentos importantes (para bem ou para mal) em ambos os clubes, reencontram-se Inter e Corinthians, numa final de competição nacional.

Os jogadores, de ambos os lados, afirmam que não há qualquer sentimento de revanche. Píffero, honrando sua eterna sinceridade (por vezes exagerada), já bradou: "Essa espinha ainda tá cravada na guéla". Fontes seguras afirmam que Edinho, em sua passagem pelo Beira-Rio na semana passada, foi palestrante convidado no vestiário colorado e, durante horas, amaldiçoou os alvi-negros paulistas. Clemer sonha há três semanas com a imagem de Perdigão fazendo o passe, Tinga recebendo, Fábio Costa saindo do gol, o pulo, os pés na canela, a queda, o cartão, as mãos à cabeça. E é nessa hora que ele acorda. Suando e dando socos no colchão. Guiñazu passa o dia no Youtube: o único vídeo visto é a transmissão da Globo para aquele jogo. El cholo já repete, como que instintivamente, às frases de Arnaldo Cézar Coelho. "Mas isso é um absurdo! O que que é isso? Ele expulsou?".

Não teremos D’Alessandro. Nem Nilmar. Sequer Kleber. Bolívar dá lugar a alguém, não se sabe quem. Magrão saiu do treino com o braço engessado, envolto em gelo. Até mesmo o reserva Alecsandro, tomado pelo vírus da gripe, torna-se dúvida. Zagueiros, laterais, volantes, meias, atacantes. Desfalques em todos os lugares do campo. Não importa: coloquem 11 amadores a enfrentar o Corinthians hoje. Eles vestirão a camiseta do Inter e, com ela, virá a história daquele dia de 2005. Em suas mentes, espocarão imagens de Dualibi, Sanchez, Antônio Lopes, Márcio Rezende de Freitas. Szveiter. E, assim, o resultado que trarão do Pacaembu será positivo.

Nesse primeiro jogo, fora de casa, cheio de desfalques, o Inter deve primar pela raça. Pela vontade. Noventa minutos de pura atenção, não desviar o olho do adversário e se preocupar principalmente em ter o jogo dominado. Sem tomar gol, viemos para o Beira-Rio com uma vantagem abissal.

E aqui, contra o time completo e 50 mil torcedores ensandecidos, eu quero ver tirar o título do Inter.

terça-feira, 16 de junho de 2009

96 mil sócios X 56 mil lugares.

Por Thiago Marimon


Chegamos ao limite do aceitável. Prestes a alcançarmos o almejado e simbólico número de CEM MIL SÓCIOS, vivemos hoje um problema. Um BOM PROBLEMA, é bem verdade, mas que nem por isso deixa de carecer uma solução.

Grandes jogos no Beira Rio já viraram rotina, e, sempre que eles acontecem, o assunto delicado e recorrente da falta de lugar para todos vem novamente à tona. O caderno de obras apresentado pelo clube para a Copa do Mundo 2014 prevê, entre diversas outras modificações, uma expansão da arquibancada inferior sobre onde hoje está a saudosa coréia, resultando em uma desejável aproximação da torcida ao campo e um acréscimo de cerca de quatro mil lugares, sendo a lotação máxima do Gigante, após reformado, de SESSENTA MIL torcedores, confortavelmente acomodados. Entretanto, com o crescente número de sócios, nem se tivéssemos cem mil lugares seria suficiente para a massa vermelha, cada vez mais acostumada às grandes decisões. Além disso, o estádio, como sabemos, lota em no máximo quatro ou cinco jogos ao ano, e isso não é exclusividade colorada, conforme aponta a média de público dos times da primeira divisão no campeonato brasileiro de 2008, que foi de aproximadamente dezessete mil torcedores. A do Inter, um pouco maior, dezoito mil. Portanto, mesmo que o time chegue, a todo o momento, à decisões, aumentar o número de lugares no estádio não é a solução mais apropriada. Acredito, portanto, que o mais inteligente seria usar de forma racional o espaço existente. Se não vejamos:

Contamos hoje com cerca de QUARENTA E DOIS mil sócios da modalidade antiga, os chamados carteira vermelha, com acesso garantido nos jogos desde que com a mensalidade em dia. E, conforme os últimos números apresentados pelo clube, aproximadamente CINQÜENTA E QUATRO mil sócios campeões do mundo, a modalidade nova, os carteiras brancas, que necessitam comprar ingresso. Ontem, conforme divulgado pelo clube, foram colocados à venda doze mil ingressos para os sócios carteira branca. Para chegar nesse número o clube valeu-se do mesmo artifício de outras oportunidades, qual seja, a ESTIMATIVA. Estima-se o número de sócios carteira vermelha, com acesso garantido, que comparecerão ao estádio, com base na média dos últimos jogos. E, com este número em mãos, calcula-se a quantidade restante para os demais sócios da modalidade nova e, quando sobram ingressos (que não foi o caso de ontem, nem da final da Sulamericana do ano passado), para os não sócios.

Não me atrevo a discutir a sustentabilidade financeira dos sócios da modalidade antiga, uma vez que estes não geram receita ao clube através da venda de ingressos. Não discuto isso por dois motivos. O primeiro deles é o simples desconhecimento das receitas do clube. O segundo, é que, estes sócios engordam a receita do clube desde as épocas de vacas não tão gordas, e, portanto merecem respeito e gratidão.

Porém, este modo usado pelo clube, a estimativa, eu discuto, e com gosto, pois esta já se mostrou, há algum tempo, INEFICIENTE. Seja pela simples imprecisão dos números, leia-se margem de erro, ou C.C. (coeficiente de cagaço), como costumeiramente usamos na engenharia, seja pela fragilidade desta frente às intempéries. O clima, este rapaz muy sensível, fez com que, em mais de uma oportunidade, houvesse clarões em jogos decisivos. Por exemplo, foi o que aconteceu no último clássico greNAL, onde a lotação estava esgotada, mas notava-se facilmente diversos lugares vazios no estádio, em razão de uma chuva de última hora que fez com que diversos torcedores desistissem de ir ao Gigante para assistirem o jogo no conforto de seus lares, “furando a estimativa da direção”. Até aí tudo bem, cada um tem seus motivos e sabe o local que acha mais adequado para acompanhar os jogos. O que não pode acontecer é essas pessoas, que decidem assistir as peleias em casa, impossibilitarem que aqueles sedentos por uma visita ao Gigante, compareçam ao estádio.

E aqui entramos numa seara deveras delicada. Não me odeiem.

Defendo o fim da imprecisa estimativa. Sustento que os sócios da modalidade antiga CONFIRMEM sua presença (ou ausência, o que for mais viável) no estádio. Minha sugestão, nada inédita, é de que, os sócios com acesso garantido entrem em contato com o clube, até às 23:59h da véspera dos jogos, seja via SMS, E-mail, Telefone ou “in loco” e digam se estarão lá no dia seguinte. Com o número de presentes em mãos, o clube colocaria à venda, a partir da manhã do dia do jogo, os ingressos restantes, e destinaria um percentual da receita adquirida aos sócios carteira vermelha que cedessem seu lugar no estádio. Seja através de descontos na mensalidade, seja através de regalias diversas. Algum tipo de “punição” àqueles que embora confirmados não comparecerem também poderia ser estudada, muito embora, concordo que oferecer vantagem seja muito mais simpático com o torcedor do que aplicar punições. Esta minha sugestão simplória está sujeita às mais diversas melhorias, porém, se faz necessária uma mudança, seja qual for. E, ao que tudo indica, algo próximo à esta solução acima será adotado pelo clube a partir do 2010. E aí começa o impasse.

Os sócios da modalidade antiga, além de defenderem que estão no quadro social há mais tempo, apelam rotineiramente ao que julgam ser seu DIREITO ADQUIRIDO*. Podendo, desta forma, decidir, conforme sua conveniência, se vão ou não ao jogo, mesmo que esta decisão aconteça cinco minutos antes do início da peleia. Porém, uma rápida lida no CONTRATO** de sócio mostra que os direitos, resumidamente, são os seguintes:

- O direito de votar e ser votado, após o lapso temporal estipulado em contrato;

- Direito de acesso ao estádio (ou de preferência na compra frente ao torcedor “comum”, no caso da carteira branca);

- Direito de participar das promoções do clube (placar eletrônico no intervalo, rede de descontos e afins).

Encerra-se aqui o aclamado DIREITO ADQUIRIDO. E vale lembrar que todos os direitos citados acima, exigem, em contrapartida, o pagamento, em dia, das mensalidades estipuladas. Logo, todo e qualquer argumento sobre a impossibilidade contratual de exigir a confirmação de presença cai por terra. Sendo possível inclusive que o clube aumente a mensalidade de forma a tornar sustentável a manutenção desta modalidade de sócios (uma vez que o contrato nada versa sobre esta questão), o que duvido que seja feito.

Vale lembrar que todos, sócios antigos, novos, não sócios, “cadeirantes” e quetais, são torcedores do Inter da mesma forma. Portanto, creio que não deveria ser necessária esta discussão para que alguém tivesse o direito de assistir os jogos no estádio e lotar o Gigante em dia de festa. Toavia, quando a discussão entra no campo do direito individual, seja de colorados, gremistas, palmeirenses ou xavantes, nota-se claramente que, infelizmente, a discussão muda de rumo, e cada um quer puxar a brasa para o seu assado. Esquecem que quadro social não pode e não vai parar de crescer, e que a receita mensal que ingressa no clube através deste é responsável pelo momento do time, e só tende a melhorar.

Carecemos somente de acertos pontuais, embora polêmicos. E eles virão. E um bocado a mais de boa vontade, e um pouquinho a menos de egoísmo, facilitarão bastante as coisas. Certamente todos queremos a mesma coisa, um Inter cada vez maior.

No más, venceremos por 2x1 amanhã, e dia primeiro de julho*** teremos uma noite histórica no Gigante, o dia da desforra, dia de título.

Saudações Coloradas...

* Embora bacharel em direito, o que paga meu salário é minha atividade profissional como desenhista projetista. Portanto, se falei alguma bobagem, que algum advogado DE VERDADE, me socorra.

** O contrato em tese é o de sócio campeão do mundo. Minha modalidade. Não tive acesso ao contrato de sócio “modalidade antiga”, mas me atrevo a dizer que o contrato não é diferente. Caso alguém tenha uma informação diferente da minha, por favor, me corrija.

*** Antes de ser acusado de recalque, ou algo parecido com o que li ontem nos mais variados locais, afirmo que meu ingresso está garantido, ou seja, a falta de ingresso não é a motivação deste texto, e sim a forma como está sendo feita a distribuição.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

DECISÃO - PARTE 1.

Por Raphael Castro


É melhor desistirmos: estaremos desfalcados, a primeira é fora, contra um time poderosíssimo, treinado por um técnico que, em matéria de ardil e malandragem, é o próprio cão; Nilmar e Kleber estão fora, assim como a nossa reserva de catimba portenha e Bolívar, e já parimos um elefante para passar pelo temível Coritiba. Assim como no Couto Pereira, vai estar um frio de lascar, provavelmente agravado pela típica garoa ácida paulistana, sem contar com a horda de loucos que lotará as arquibancadas do Pacaembu. Então joguem a toalha, por favor, nos acudam, será um drama, um sufoco, um pavor dantesco, um terror nauseabundo...

A real

Não sei mais o que querem fazer para vender notícia. Suponho que deva ser divertido tentar achar um novo obstáculo intransponível para o Inter a cada semana. Que, aliás, nunca se confirma: se passamos “mal” contra o Coritiba, também é verdade que não se viu uma pressão tão avassaladora assim dos paranaenses. E a grande verdade é que a “Copa Enjeitada” é uma competição muito mais traiçoeira do que difícil de ganhar (calma lá, não estou desdenhando o título, quero-o muito, sim, pelos motivos que os(as) caros(as) leitores(as) já devem estar descapilarizados(as) de saber); qualquer vacilo é fatal, razão pela qual deve-se levá-la sempre na ponta dos pés. E é exatamente isso que me parece estar fazendo o Inter. Não digo que não possa perder em São Paulo. Até pode: mas que isto se deva a uma jornada felicíssima do adversário, e não por derretimento nosso...

Portanto

Então não dou a menor pelota para quem novamente vaticina os novos “perigos” que enfrentaremos na fria noite paulista (tanto faz se também for quente, é que “fria” dá uma dramaticidade maior); pode ser o Ronalducho, o volante Cristian (aquele dos dedos médios em riste para a torcida do São Paulo), o Felipe (que nos “perdoou” pelo rebaixamento – é, leitores(as), que preguiça...), o Mano e seus mil e um truques. Vou então contra tudo e todos e, nas CNTP, vou pregar: Corinthians, venha pra cima; mostre que é o “Timão”, demonstre a sua superioridade sobre um time desfalcado, desabrigado de sua casa e torcida. Venha ganhar mais este título, perdido no ano passado, vingue-se de seu algoz de 2007. Venha, mas venha mesmo. E não esqueça que é o Inter que te espera deste lado, Corinthians. Que comece então o jogo (como diria o meu culinário, chef ,cozinheiro e assador avô, S.Assis P.Ererê, “tem gente que adora vir de garfo em dia de sopa...”).

Tópicas: preparador

Confesso que não entendi: preparador físico também é convocado? Que que o Mahseredjian tá fazendo lá, então?

Tópicas 2: doping moral

Tá, eles têm a chance de estar na Libertadores no ano do centenário deles; e nós de ganharmos a vaga no nosso; dá meio igual, não...?

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Não é sorte.

Por Gustavo Foster


A nova moda agora é procurar defeito no Inter. Não, não. O Inter? Melhor time do país? Nada disso. Quem, no início do ano, atestava que o Colorado patrolaria tudo e todos, tinha time para ganhar todos os campeonatos e possuia o melhor grupo da história do futebol mundial, hoje fala que “não é tudo isso”.

“Vejam, por exemplo, o jogo contra o Flamengo”, dizem os indecisos comentaristas: creditam simplesmente à sorte a falta na frente da área e o gol, de fato, salvador de Andrezinho. Lembram ainda da partida diante do Coritiba. Partida na qual o time se classificou para a final da segunda maior competição nacional. “Apesar de ter jogado mal, apesar de ter perdido e apesar de não ter merecido”. Sorte, de novo. E há ainda o último, contra o Cruzeiro. O time mineiro deixou a equipe de Tite encaixotada em sua zona defensiva, mas parou nas mãos de Lauro e Michel Alves, além de ter apanhado muito, do – agora – violento time do Inter.

Nós, os colunistas da Final Sports, conversamos através de e-mails sobre diversos assuntos, de cervejas baratas a entrevistas com atrizes pornô estrangeiras. Por vezes, falamos de futebol. Numa dessas, alguém – não me recordo quem – levantou uma suspeita pertinente: E se esse estilo de jogo - perigoso, defensivo, que aposta no contra-ataque, no erro do adversário, na velocidade dos atacantes, na investida pontual dos volantes e na eficácia de seu sistema defensivo - for o estilo de jogo que Tite procura?

Dessas discussões, do modo como o time tem se portado nos últimos jogos e das afirmações de Tite eu tiro que esse é, de fato, o modo de jogo do Inter em 2009. Um time que tem sangue-frio e exige de sua torcida o mesmo.

Isso não tinha ficado aparente até agora porque, claro, contra times do interior do Rio Grande do Sul, a única preocupação era de quanto venceríamos (isso sem qualquer soberba, apenas realismo. Tanto que o Internacional foi campeão invicto, pois era, simplesmente, melhor que qualquer outro time no campeonato). Mas, a partir do início do Brasileirão e das fases finais da Copa do Brasil, a situação mudou: os times melhoraram. E de dentro daquele time passador, habilidoso, musical, de ataques rápidos, surgiu uma equipe defensiva, porém incisiva. Como se da borboleta saísse a lagarta. Do belo, evoluímos para o feio que dá resultado.

E essa tática mostra-se tão ou mais eficiente quanto a antiga. E traiçoeira, pois engana. Entram em campo os dois times, o vermelho encolhe-se perto do goleiro Lauro, como um urso que hiberna durante meses, como um predador que mostra-se indefeso, permitindo a aproximação da presa e, na hora exata, dá o bote. E o adversário se atira, vendo ali uma possibilidade de vantagem iminente, um alvo aparentemente fácil. O time colorado se defende. Com dificuldade, com milagres do goleiro, com impedimentos mal marcados, com escanteios em sequência, com pênaltis duvidosos. Mas se defende. A hora certa chegará.

O tempo passa e a bola não entra na meta do camisa 1 colorado. É nessa hora que Tite olha para o banco de reservas, avisa seus comandados que “é chegada a hora, olhem só”, vira-se de volta para o campo, onde os onze estrategistas no comando de Adenor o escutam atentamente e percebem que, de fato, a hora é agora. Tite solta apenas um grito e esse é o sinal: “Adianta! Vai pra frente que é agora!” O adversário, cansado, se vê agora como o atacado, com Magrão e Kleber vindo pelos lados, com Sandro tabelando diretamente com os atacantes, com Taison e Nilmar vindo como flechas do círculo central e Índio e Álvaro entrando na área, à espera de um cruzamento. D’Alessandro domina, olha as diversas opções e lança: um único lançamento em 90 minutos. É o que precisamos. A investida é fatal. Dois minutos de ataque colorado, um gol. Final de jogo: pressão do time adversário por 88 minutos. Vitória colorada.

Os comentaristas esportivos vão à loucura: cadê aquele Inter do início do ano?, o Taison não tocou na bola, que que esse enganador do Nilmar tá fazendo na Seleção?, o Tite substituiu mal. O Inter deu sorte!

Não. Não é sorte.

terça-feira, 9 de junho de 2009

DOZE VERDADES E UMA REITERAÇÃO.

Por Daniel Ricci Araújo


1) Bolívar poderia ter sido expulso direto, mas o gol do Cruzeiro foi marcado em impedimento.

2) Kléber mentiu ao suprimir o pisão no pé de Lauro e, além do mais, não tem moral para julgar ninguém. Nunca teve. Wellington Paulista (quem?) falar mal do Índio é algo como a Preta Gil comparar-se à Gisele Bündchen. Engraçado, nada mais.

3) Neste 2009, Danny Morais, quando chamado, dá resposta superior a Álvaro.

4) Guiñazu é um dos três maiores volantes da história do Inter.

5) O time deu a impressão a alguns de ser um candidato a esquadrão estilo Copa de 70, mas dentro do campo. O Inter não disse, o Inter não se gabou, o Inter não propagandeou isso para ninguém. Parte da mídia, sim. O time está jogando para o gasto, mas poderia estar melhor? Talvez, o jogo com o Coritiba não foi bom. Mas uma coisa é bem diferente da outra.

6) O Inter tem quase cem mil investidores. Não um só, mesmo que esse um seja o maior de todos. Se surrupiarem do Inter o investidor solitário, o clube permanece forte. Se tirarem os cem mil, não. Antigamente, quando um conhecido dono de grande empresa gaúcha investia e/ou ajudava o rival, não havia dissertações e dissecações do tema pela mídia, não ostensivamente, pelo menos. Sonda é ótimo para o Inter, mas o Inter é ainda melhor para ele.

7) O estádio da Copa do Mundo de 2014, no Rio Grande do Sul, é o Beira-Rio. Repetindo: o estádio da Copa do Mundo de 2014, no Rio Grande do Sul, é o Beira-Rio.

8) Institucionalmente, o Inter não tem nenhum direito de ser agressivo com o Corinthians e tampouco qualquer obrigação de ser amável – educação protocolar basta. Inter e Corinthians são dois grandes clubes e, um dia, "farão as pazes", mas isso dificilmente ocorrerá enquanto o presidente do time paulista for uma pessoa que esteve visceralmente ligada à MSI e, um belo dia, resolveu mudar de lado.

9) Eu associei meu pai às escondidas. Você também pode associar seu pai, seu irmão, seu primo, seu vizinho, o padeiro da esquina ou sua namorada antes de dar-lhes a notícia. Quando contar, eles vão gostar e pagarão de bom grado. Pode confiar em mim. Associe quem você escolher agora mesmo, depois de ler esse texto, e descubra isso por si mesmo. No futebol e na vida, muitas vezes só precisamos mesmo é de um empurrãozinho.

10) Se o seu clube é grande e não tem estádio próprio, a culpa não é do mundo nem do governo. A culpa é do seu clube. Não seja recalcado com os torcedores dos times donos de suas próprias casas, por favor.

11) Em alguns jogos, com equipes do Estado do mandante da partida, as transmissões regionalizadas do "pay-per-view" ofendem a inteligência dos telespectadores. Pelo seu estágio de evolução atual, o futebol brasileiro não comporta mais tolos bairrismos midiáticos. Chega. Não somos provincianos, e o Brasil não é mais um aglomerado de aldeias.

12) Nosso time é o melhor do país atualmente, e isso não significa que será para sempre, ou sequer nos próximos vinte, trinta dias. Mas agora, hoje, é superior ao Cruzeiro, mais equilibrado que o SPFC e tem melhor grupo se comparado ao Palmeiras – e também, porque não tomaria 4 a 2 do Sport depois de sair ganhando por 2 a 0. Se um time perde para o Inter merecendo empatar ou vencer, talvez seja mais mérito dele do que deficiência do Inter.

13) E por último, pois algo me diz ser muito importante repetir isso, para saberem que estamos atentos: o estádio da Copa do Mundo de 2014, no Rio Grande do Sul, é o Beira-Rio. Repetindo, de novo, mais uma vez: o estádio da Copa do Mundo de 2014, no Rio Grande do Sul, é o Beira-Rio. Beira-Rio. Estamos entendidos?

Eu acho que sim.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A MÁ PREGUIÇA...

Por Raphael Castro


Sério, lendo algumas coisas realmente dá uma preguiça incrível. Não preguiça daquela boa, curtida, que até foi elevada a pecado capital. Não: aqui falo de uma preguiça irritante, de má-vontade, de boca torta, de menor emoção; ou seja, uma autêntica “anti-preguiça” (com hífen mesmo, pra dar uma noção da minha indignação)...

What?

De que falo? Ora, dos comentários antes do jogo com o Coritiba – melhor dizendo, com os comentários depois também; trata-se de uma imbecilidade bem democrática, pois tem pra todos os gostos. Querem ver? Que tal aquela do “o Inter é o melhor do Brasil, vocês não têm com o que se preocupar”, ou “será o poderoso Inter jogando contra o famélico Coritiba”? A chatice transbordante destas linhas é suficiente para revelar um despeito babante, de tão alucinado; é o expediente mais ridículo – e covarde – que tem, de secar sem admitir a desesperada tentativa de desidratar o adversário (no caso, o Inter) o quanto possível; e o que é pior, se passássemos – como de fato passamos –, a pusilanimidade do comentário ficaria então totalmente desnuda, pois o engraçadinho sempre poderia se proteger dizendo que “eu sabia, eu estava certo”. Como se vê, é um expediente dos mais desprezíveis, que nem mereceria maiores comentários, não fosse eu o chato que sou...

Variação 1

Aí tem a variação dessa invejinha “enrustida”: o enaltecimento exagerado, quase suplicante, da qualidade (inexistente) do adversário (aqui, diferente de lá em cima, o Coritiba); de uma hora a outra, os paranaenses mereceram ressalvas e cautelas dispensáveis só a loucos furiosos. Cansei de ler sobre os inumeráveis cuidados que o Inter deveria ter no Couto Pereira, alguns apelando até para a catiça meteorológica – afinal, até com o frio íamos ter de nos precaver (o que provavelmente se justificaria mesmo, dado o clima equatorial que caracteriza Porto Alegre nessa época do ano)...

Segunda e última variação

Por fim, vinha a (muito) mal disfarçada opinião de que tínhamos corrido riscos demais na gélida noite de quarta-feira última; não, definitivamente não merecíamos a classificação, “como ousam passar à final da Copa do Brasil sem dar espetáculo?” Passamos a sofrer golpes de pedras, cusparadas e outros líquidos e sólidos porque tínhamos passado para a final perdendo uma partida. Nem botar o regulamento no sovaco podíamos mais, fomos tolhidos do direito de passar jogando...mal.

Pra ir embora

Tudo isso para dizer que está risível toda esta má vontade com o Inter: se passamos, não temos mérito; se ganhamos, o juiz, claro, roubou; se estamos bem, é porque os adversários ainda não nos testaram (em tempo: a esta altura já devemos ter tido mais “testes” que um vestibulando de Medicina...). Nada disso, pra quem é bom entendedor, passa despercebido. Desdenhem o quanto for; desmereçam, se isto lhes traz a ilusão do bem-estar; a verdade é que não dá pra elevar crônica esportiva ou gosto por futebol a ciência de foguetes. Se a realidade briga com previsões ou preferências...bem, nem é preciso dizer o que é mais fácil mudar, não é mesmo? É, caros(as) leitores(as), que preguiça... (como diria o meu prático, inteligente, pragmático e sagaz avô, S.Assis P.Ererê, “quem gosta de ficar parado é cocô na curva...”).

Tópicas: a enjeitada

Sei que vão me maldizer, mas a quem interessar possa: continuo achando a Copa do Brasil um título meio sem pedigree – valendo apenas pela muito agradável conveniência do atalho à Libertadores. E quem não entender que jogar a Libertadores anualmente é uma necessidade financeira, está fora do futebol do século XXI.

Tópicas 2: para aí, só um pouquinho...

Alguém acha mesmo que desde o Náutico não enfrentamos times no nível da Libertadores? Pra pensar então: o que poderia estar acontecendo agora mesmo se tivesse havido uma gestão responsável do vestiário vermelho nos últimos dois anos? Pois é...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

quinta-feira, 4 de junho de 2009

DESCASQUEM AS BATATAS.

Por Marcelo Benvenutti

Dizem que homem não chora. Diziam antigamente. O sofrimento da dor, certa vez me disseram, é relativo. Dei um chute nas canelas do frasista e ele respondeu que não era bem assim. Não foi isso que eu quis dizer. A dor pode ser controlada. Se controlarmos a dor poderemos confrontar nossos medos. Claro que era um papo de auto-ajuda em uma época que nem existia auto-ajuda. E a canela dele realmente ficou roxa depois de meu chute.

Na sinaleira, parado no trânsito, uma mulher vem me entregar um panfleto de um desses falastrões que fazem palestras para empresários e funcionários de grandes corporações. Como ser um vencedor, me dizia o papel. Como ser? Certamente não explicaram isso para a mulher que distribui a propaganda de tal falcatrua. Se existem vencedores, diria um óbvio Machado de Assis da vida, ele que fique com as batatas. Os outros? Que distribuam papéis coloridas em esquinas movimentadas.

Li outro dia que antes da final da Champions League foi passado um vídeo baseado em cima do filme O Gladiador para os atletas do Barcelona. Motivação. Determinação. Garra. Certamente seriam os sentimentos que o filme deveria passar ao espírito dos jogadores catalães. O Barça foi lá e deu um baile na turma do metrossexual português. Acredito que daria um baile mesmo que o próprio Russel Crowe surgisse do outro lado do campo com um batalhão do exército imperial de Roma.

Ouvi na rádio ontem o motivador colorado dizendo que o exemplo de superação para os atletas antes da partida foi o da cantora Susan Boyle, o tribufu escocês que da noite pro dia virou estrela de YouTube. Era a favorita do programa de calouros britânico e, na final, perdeu. Parabenizou os vencedores e internou-se em uma clínica com grande desgaste emocional. Não estava preparada para a vitória. De tanto dizerem que venceria, perdeu, diria o Sun Tzu do Couto Pereira, Renê Simões. No caso do treinador coxa-branca, o troféu abacaxi ficou de bom tamanho. Falador passa mal, Renê, já dizia o Trio Mocotó.

A entregadora de panfletos, que não vai ganhar de ninguém na concepção moderna de vencedores como pregam os gurus empresariais, continuará sorrindo. Susan Boyle poderá ser uma grande intérprete se realmente cantar e lembrar que a vida não é um concurso. É vida. Quem canta, vive quando solta a voz. Os vencedores ganham as batatas e o ônus de descascá-las. A historinha repetida a esmo se perde na memória. Tal qual um Goebbels, os publicitários multiplicam as possibilidades e fecham as alternativas. As vitórias, cretinos, também nascem da dor. Tite sabe disso. Nos faz entender na carne. Se era desnecessário sofrer, Tite nos ensina. Sofram! Descasquem as batatas!

Perguntado como queimava a própria mão sem mexer um músculo em reação, Lawrence da Arábia, no filme homônimo, respondia: É simples. Eu não me importo. Guiñazu ao responder como suporta a dor após correr 90 minutos ou mais defendendo o Inter, responde: Eu esqueço. Depois me atiro quebrado para me recuperar para a próxima partida. São exceções à regra. Assim como a dor da perda só se esvai com o sofrimento explícito, a conquista arrancada à força, com sacrifícios, com superação, só se completa com a catarse coletiva da vitória extenuante.O choro dos vencedores.

Ao final do jogo, D'Alessandro chorou.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O FANTASMA DE NOVENTA ESTÁ MORTO.

Por Gustavo Foster


Uma década não dura apenas dez anos. Não para a torcida colorada, que amargou, durante uns 15 aquela que parecia ser a eterna "década de 90". Os anos de terror do Inter começaram provavelmente em 1988-89, com aquela sequência de vexames: empate com o Bahia em casa, derrota impossível para o Olimpia, também em casa. Depois, tivemos o desprazer de ver o Banguzinho do co-irmão ser campeão gaúcho em 95, o Bragantino acabar com o sonho do Campeonato Brasileiro em 96, o Juventude espinafrar um quatro a zero no Inter de Paulo Autouri em 99. Vexames, torturas.

O último desastre da década maldita talvez tenha sido a semi-final contra o Cruzeiro, em 2000, no dia em que Leandro Guerreiro foi picado pela mosca tsé-tsé. Era aniversário da minha irmã e a TV era mais importante que o bolo, naquele salão. As reminiscências puderam ser percebidas nos anos seguintes, ainda (ou alguém esqueceu aquele cinco a zero do São Caetano de Tite, quando estávamos a um passo da Libertadores-04?).

Mas contra o Coritiba, Taison matou o fantasma de noventa.

O cenário era recorrente: éramos favoritos, o time era considerado bom, o campeonato estava para nós. E o Coritiba veio para o Beira-Rio e fez um gol a 14 minutos de jogo. Os quase 50 mil colorados pensaram, com certeza, na mesma coisa. Toda aquela insegurança de dez anos atrás voltou, passaram pela cabeça o gol do Mabília no quatro a zero, o pênalti perdido pelo Leandro Nariz, o pênalti "perdido" por Perdigão, os apagões da era Muricy. Tudo, de 1988 a 2005. Aqueles dez anos que se estenderam por catorze, quinze, dezesseis intermináveis temporadas. E parecia estar voltando.

Era quase possível assistir à tristeza caindo sobre o Gigante. Um tornado, vindo de dentro do rio, assolava a cidade de Porto Alegre e levava tudo que era vermelho de volta para o passado. Não conseguíamos acreditar que, de novo, voltaríamos para a casa com o sentimento de que quase deu certo.

Mas o sentimento de decepção durou menos de 10 minutos. Foi o tempo que o pelotense endiabrado que é Taison demorou para ver D’Alessandro lançar Nilmar. A bola caiu nos seus pés. E aquela bola era uma arma. Uma uzi carregada, mirando para o passado. Taison teve o tempo de pará-la, olhar para o gol e dar um chute rasteiro. Libertador. Depois disso, Nilmar se machucou, entrou Alecsandro, autor do gol da virada e do passe para o terceiro gol, este de Andrezinho. Tudo dito se comprovava: tínhamos grupo, contávamos com jogadores diferenciados, o trio de ataque era o melhor da América, nosso treinador encontrara o equilíbrio, a defesa estava sólida e conseguíamos, de fato, consolidar o papel de favoritos.

Jogamos hoje com uma vantagem imensa, abissal. Acho difícil não fazermos gol. Se marcarmos, apenas outros quatro gols nos tiram da final da Copa do Brasil. Acredito que isso não acontecerá.

Foi-se a época em que precisávamos ter sempre um pé atrás. Hoje, o Inter é um time confiável. Taison nos mostrou isso.

terça-feira, 2 de junho de 2009

QUE INTER TEREMOS EM 2014?

Por Daniel Ricci Araújo


A Copa do Mundo no Brasil, para mim, é um meio. Sim, um meio. E para o clube, não para a querida nação. Quando vemos e ouvimos nossas autoridades prometerem mundos e fundos, alargamentos, segundas vias, metrôs subterrâneos, aéreos e talvez até submarinos, duplicações, triplicações, ordem e progresso à enésima potência para tudo e todos, meus pensamentos mesmo assim são todos de uma ignorância patriótica sem limites. Quando ouço falar em Copa, só penso no Inter.

E então, afinal de contas, que Inter teremos em 2014?

Semana passada, em tom de galhofa programada, Renê Simões previu: em dez anos seremos "o maior clube do país". Apesar da frase feita para alisar o ego (o nosso ego, claro) pensemos: e se o Inter realmente se tornasse, no espaço de uma década, algo como o Real Madrid brasileiro? O clube que tem quase cem mil sócios, que lidera o Brasileirão com os reservas, que é apontado pela mídia do país inteiro, do gandula ao centroavante, como modelo a ser seguido tal qual fosse o primeiro CDF da classe, onde vai parar esse clube dentro de dez anos, dois lustros, uma década?

Convenhamos: no momento, a resposta à pergunta permite, no mínimo, uma deliciosa reflexão.

Para mim, a coisa mais importante no Inter do século XXI é sua estrutura "interna corporis", como diriam os causídicos: a força do Inter vem, em primeiro lugar, dos músculos e nervos da própria instituição. O Colorado não foi financiado por nenhum magnata árabe, não colocou seu destino nas mãos de empresas conhecidas no mundo esportivo e tampouco arrendou seu Departamento de Futebol a um grupo de investidores, e seja o que Deus quiser. Não. O primeiro pilar, a viga mestra deste Inter vencedor tem nome: categoria de base. E essa é nossa e ninguém tasca.

Sim, meus caros, foi o chão batido do Gigante que plantou as taças colhidas nesses tempos de hoje. Foi a partir dela – dos jogadores que revelou e das quantias que fez nascer em forma de vendas do nosso moderno pau-brasil, o atleta de futebol – que o Inter tornou-se um clube com resultados medianos dentro do campo, de medianos para bom, e aí então, com a confiança reconquistada, deu-se o empurrão final à engrenagem: o torcedor-sócio, o "Soldado Cidadão" desta nova era, desse presente, e hoje eles estão às portas de serem cem mil.

Vejam o caso da última quarta. O jogo estava crespo. Nilmar, o agora símbolo do Inter do futuro, o dos altos investimentos e dos atletas de ponta, saíra escandalosamente lesionado ainda no primeiro tempo. Com Taison, a solução veio, na segunda etapa, pela mão do Inter tradicional, do clube revelador, do sagrado chão batido (nota: eu diria Taison, o possesso, como fora antes Amarildo, mas seria então um adorável plagista). A jovem revelação tomou as rédeas e o comando do time com a naturalidade quase protocolar de quem pede o pão de cada dia na padaria da esquina. Em cinco minutos, duas arrancadas, o rapaz reduziu o Coritiba a pó. Ali o Inter histórico, o Celeiro de Ases, pedia passagem ao Inter moderno. E que bom que tudo ocorreu assim!

Mas afinal de contas, que Inter teremos em 2014?

Alguém me afirma que andamos muito dependentes do Sr. Sonda. Concordo, mas repenso: nessa história, quem é mais necessário a quem? Se o nosso clube traz jogadores com potencial e todos – ou quase todos – dão certo, e o negócio é bom para ambas as partes, só nos resta pensar pela ótica capitalista da demanda e da procura. Existem mais empresários com vontade de ganhar ainda mais dinheiro ou clubes em condição de dar-lhes o retorno que esperam? A resposta é evidente: sobram os primeiros, faltam os segundos. Hoje, investir no Inter é mais rentável do que comprar ações da Petrobrás. E se falham os negócios, se o Inter moderno não dá a resposta de sempre, ali ao lado está o campo de terra, onde os Taisons, Patos, Nilmares e Lúcios pululam para dentro do vestiário profissional com a habitualidade serena e precisa da vaga do mar.

O Inter de 2014 pode não acabar sendo o Real Madrid do Brasil. Mas se manter o casamento entre o melhor desses dois mundos, tenho até alguma pena dos adversários que virão.

Porque existem muitos Taisons ainda por surgir do chão batido do Gigante.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

MOMENTOS DE DECISÃO.

Por Andreas Müller


Estou doente. Asma. A respiração me falta. O ar passa pela minha garganta com dificuldade. Sinto-me como se tivesse engolido um punhado de areia fina e parte dela estivesse trancada em minha traqueia, arranhando-me as entranhas. A sensação, acreditem, é desesperadora. Por isso, peço desculpas aos amigos e me auto-imponho uma folga. Deixo-lhes, abaixo, a cópia de uma crônica que eu mesmo publiquei em 2007, mas que, a meu ver, se aplica perfeitamente ao momento que estamos vivendo hoje: um momento de decisão. Um momento de afirmação.
Grande abraço e boa sorte a todos nós na quarta-feira.

O filme se chama “O Pianista”. Conta a história do polonês Wladyslaw Szpilman, um pianista de talento ímpar que sobreviveu a um dos episódios mais sombrios da Segunda Guerra Mundial. Szpilman, para quem não sabe, passou quase três anos vivendo como um rato na Polônia. Escondia-se dos nazistas em um apartamento abandonado, sem água nem luz, em pleno Gueto de Varsóvia. Pois há uma cena inesquecível neste filme, “O Pianista”. Uma cena que encanta e perturba ao mesmo tempo; e que, de certa forma, traduz como nós todos deveríamos agir nos momentos decisivos da vida e – por que não? – do futebol.

Na cena, Szpilman espera a madrugada cair e sai de seu esconderijo disposto a procurar comida. Acaba encontrando uma lata de pepinos em conserva dentro de um casarão abandonado. Szpilman, magro e desgastado pelos anos de confinamento, tenta abrir a lata a qualquer custo. Mas não consegue. Simplesmente não há nada por perto, nenhuma faca, nenhum prego capaz de rompê-la. Todo o esforço para abrir a lata resulta apenas em barulho, muito barulho – o suficiente para atrair um oficial alemão que passa pelas redondezas naquele momento. O destino não poderia ser mais irônico: Szpilman, que passara quase três anos escondendo-se de forma heróica, é finalmente flagrado pelos nazistas – graças a uma lata de pepinos.

No meio do casarão, porém, há um piano velho e empoeirado. Szpilman aproveita a deixa, aponta para o instrumento e tenta convencer o oficial de que é pianista – como se isso fosse capaz de livrá-lo da morte. O alemão não parece nada impressionado. Mesmo assim, talvez por não ter nada mais interessante a fazer, ordena que o prisioneiro toque uma música. E é neste exato momento que o pianista dá uma verdadeira lição sobre como agir em momentos de decisão.
Szpilman toma posição em frente ao piano. Pousa os dedos sobre as teclas e arrisca um primeiro acorde. As notas saem tremidas, desafinadas. Ele pára, tenta resgatar a firmeza das mãos. E recomeça. Os primeiros compassos da Balada Nº 1 de Chopin ecoam pela casa. Lentamente, Szpilman se entrega à música. Toca como se fosse a última vez. As falanges saltam-lhe dos dedos, os tendões estão prestes a rasgar-lhe a pele magra das mãos. Mas Szpilman toca com maestria, submerso na melodia. Demora-se nas notas mais longas e soturnas. Deixa a música escorrer, gota a gota, de seu coração aberto. O polonês que passou três anos vivendo como um rato não tem mais nada a perder. Deseja que sua última apresentação seja simplesmente perfeita; quer somente honrar uma breve e desgraçada vida de pianista. Nas notas desafinadas de um piano velho, ele se imortaliza. E o oficial alemão, emocionado com o talento do prisioneiro, decide liberá-lo.

As grandes conquistas acontecem quando tocamos como Szpilman.

Na vida ou no futebol, as vitórias surgem quando nos livramos de nossos medos mais terríveis; quando somos capazes devotar todas as energias àquilo que dá sentido a nossas vidas. Foi assim que o Internacional conquistou a Libertadores 2006. Não tínhamos medo de perder e nem medo de atacar. Abel Braga não tinha medo de inventar e nossos atacantes não hesitavam em procurar o gol. O Internacional conquistou três títulos internacionais em dois anos porque se entregou de corpo e alma à razão de sua existência, o futebol. A própria torcida se entregou ao clube e deixou a paixão escorrer, gota a gota, para dentro de campo. Times assim são imbatíveis. Erguem troféus, imortalizam-se. Salvam-se por um detalhe. Enfrentam os piores inimigos – inclusive os grandes – e sobrevivem.