quarta-feira, 17 de junho de 2009

Lembrem de 2005.

Por Gustavo Foster

Eu odeio o Corinthians.

Lembro da época do Tupãzinho, Marcelinho Carioca, Mirandinha. Eu era piá e gostava do "timão". Escolhia no videogame, tinha camiseta, torcia na Libertadores. Nunca foi, pra mim, uma equipe antipática, até pelo contrário. O Palmeiras tinha aquela ligação com o Grêmio (ao menos na minha mente): Felipão, Arce, Paulo Nunes. E o Corinthians era o time do povo, o time do Cascão nos gibis. Enfim, eu simpatizava.

E foi uma frase que me fez passar a detestar a equipe paulistana: "Pois é... Enquanto alguns têm duas Mercedes Benz na garagem, outros precisam pegar ônibus". Andres Sanchez, à época vice de futebol (hoje, coincidentemente, presidente), retratou em poucas palavras a situação inescapável em que o Inter se encontrava: éramos surrupiados em rede nacional e a tranquilidade dos lados paulistas permitia que o dirigente do "time que tem duas Mercedes na garagem" fosse à imprensa e fizesse piada sobre aquilo que pode ser considerado o maior arranjo já feito em um campeonato nacional.

Depois, muito ainda aconteceu. Um dos lados conquistou tudo que se pode conquistar, o outro amargou um ano na obscura Segunda Divisão. E depois de dois anos de acontecimentos importantes (para bem ou para mal) em ambos os clubes, reencontram-se Inter e Corinthians, numa final de competição nacional.

Os jogadores, de ambos os lados, afirmam que não há qualquer sentimento de revanche. Píffero, honrando sua eterna sinceridade (por vezes exagerada), já bradou: "Essa espinha ainda tá cravada na guéla". Fontes seguras afirmam que Edinho, em sua passagem pelo Beira-Rio na semana passada, foi palestrante convidado no vestiário colorado e, durante horas, amaldiçoou os alvi-negros paulistas. Clemer sonha há três semanas com a imagem de Perdigão fazendo o passe, Tinga recebendo, Fábio Costa saindo do gol, o pulo, os pés na canela, a queda, o cartão, as mãos à cabeça. E é nessa hora que ele acorda. Suando e dando socos no colchão. Guiñazu passa o dia no Youtube: o único vídeo visto é a transmissão da Globo para aquele jogo. El cholo já repete, como que instintivamente, às frases de Arnaldo Cézar Coelho. "Mas isso é um absurdo! O que que é isso? Ele expulsou?".

Não teremos D’Alessandro. Nem Nilmar. Sequer Kleber. Bolívar dá lugar a alguém, não se sabe quem. Magrão saiu do treino com o braço engessado, envolto em gelo. Até mesmo o reserva Alecsandro, tomado pelo vírus da gripe, torna-se dúvida. Zagueiros, laterais, volantes, meias, atacantes. Desfalques em todos os lugares do campo. Não importa: coloquem 11 amadores a enfrentar o Corinthians hoje. Eles vestirão a camiseta do Inter e, com ela, virá a história daquele dia de 2005. Em suas mentes, espocarão imagens de Dualibi, Sanchez, Antônio Lopes, Márcio Rezende de Freitas. Szveiter. E, assim, o resultado que trarão do Pacaembu será positivo.

Nesse primeiro jogo, fora de casa, cheio de desfalques, o Inter deve primar pela raça. Pela vontade. Noventa minutos de pura atenção, não desviar o olho do adversário e se preocupar principalmente em ter o jogo dominado. Sem tomar gol, viemos para o Beira-Rio com uma vantagem abissal.

E aqui, contra o time completo e 50 mil torcedores ensandecidos, eu quero ver tirar o título do Inter.

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