quarta-feira, 10 de junho de 2009

Não é sorte.

Por Gustavo Foster


A nova moda agora é procurar defeito no Inter. Não, não. O Inter? Melhor time do país? Nada disso. Quem, no início do ano, atestava que o Colorado patrolaria tudo e todos, tinha time para ganhar todos os campeonatos e possuia o melhor grupo da história do futebol mundial, hoje fala que “não é tudo isso”.

“Vejam, por exemplo, o jogo contra o Flamengo”, dizem os indecisos comentaristas: creditam simplesmente à sorte a falta na frente da área e o gol, de fato, salvador de Andrezinho. Lembram ainda da partida diante do Coritiba. Partida na qual o time se classificou para a final da segunda maior competição nacional. “Apesar de ter jogado mal, apesar de ter perdido e apesar de não ter merecido”. Sorte, de novo. E há ainda o último, contra o Cruzeiro. O time mineiro deixou a equipe de Tite encaixotada em sua zona defensiva, mas parou nas mãos de Lauro e Michel Alves, além de ter apanhado muito, do – agora – violento time do Inter.

Nós, os colunistas da Final Sports, conversamos através de e-mails sobre diversos assuntos, de cervejas baratas a entrevistas com atrizes pornô estrangeiras. Por vezes, falamos de futebol. Numa dessas, alguém – não me recordo quem – levantou uma suspeita pertinente: E se esse estilo de jogo - perigoso, defensivo, que aposta no contra-ataque, no erro do adversário, na velocidade dos atacantes, na investida pontual dos volantes e na eficácia de seu sistema defensivo - for o estilo de jogo que Tite procura?

Dessas discussões, do modo como o time tem se portado nos últimos jogos e das afirmações de Tite eu tiro que esse é, de fato, o modo de jogo do Inter em 2009. Um time que tem sangue-frio e exige de sua torcida o mesmo.

Isso não tinha ficado aparente até agora porque, claro, contra times do interior do Rio Grande do Sul, a única preocupação era de quanto venceríamos (isso sem qualquer soberba, apenas realismo. Tanto que o Internacional foi campeão invicto, pois era, simplesmente, melhor que qualquer outro time no campeonato). Mas, a partir do início do Brasileirão e das fases finais da Copa do Brasil, a situação mudou: os times melhoraram. E de dentro daquele time passador, habilidoso, musical, de ataques rápidos, surgiu uma equipe defensiva, porém incisiva. Como se da borboleta saísse a lagarta. Do belo, evoluímos para o feio que dá resultado.

E essa tática mostra-se tão ou mais eficiente quanto a antiga. E traiçoeira, pois engana. Entram em campo os dois times, o vermelho encolhe-se perto do goleiro Lauro, como um urso que hiberna durante meses, como um predador que mostra-se indefeso, permitindo a aproximação da presa e, na hora exata, dá o bote. E o adversário se atira, vendo ali uma possibilidade de vantagem iminente, um alvo aparentemente fácil. O time colorado se defende. Com dificuldade, com milagres do goleiro, com impedimentos mal marcados, com escanteios em sequência, com pênaltis duvidosos. Mas se defende. A hora certa chegará.

O tempo passa e a bola não entra na meta do camisa 1 colorado. É nessa hora que Tite olha para o banco de reservas, avisa seus comandados que “é chegada a hora, olhem só”, vira-se de volta para o campo, onde os onze estrategistas no comando de Adenor o escutam atentamente e percebem que, de fato, a hora é agora. Tite solta apenas um grito e esse é o sinal: “Adianta! Vai pra frente que é agora!” O adversário, cansado, se vê agora como o atacado, com Magrão e Kleber vindo pelos lados, com Sandro tabelando diretamente com os atacantes, com Taison e Nilmar vindo como flechas do círculo central e Índio e Álvaro entrando na área, à espera de um cruzamento. D’Alessandro domina, olha as diversas opções e lança: um único lançamento em 90 minutos. É o que precisamos. A investida é fatal. Dois minutos de ataque colorado, um gol. Final de jogo: pressão do time adversário por 88 minutos. Vitória colorada.

Os comentaristas esportivos vão à loucura: cadê aquele Inter do início do ano?, o Taison não tocou na bola, que que esse enganador do Nilmar tá fazendo na Seleção?, o Tite substituiu mal. O Inter deu sorte!

Não. Não é sorte.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito boa observação, isso pode ajudar a acalmar nós colorados em relação ao nosso time.