sexta-feira, 26 de junho de 2009

O fim da história colorada.

Por Andreas Müller

Começo a escrever este texto no exato momento em que o relógio aponta 00:50. É tarde, sim, e aquelas duas horas de boca-livre na área VIP do Beira Rio ainda estão fazendo efeito. Sabem como é, cerveja demais. E ainda havia a degustação da cachaça Dom Braga. Degustei várias vezes. A certa altura me perguntei se o nome da cachaça não teria relação com Abel Braga. Talvez fosse uma aliteração. Dom Elias e Abel Braga: Dom Braga. Essa pega de jeito.

O fato é que estou levemente embriagado. O Inter acaba de perder a Recopa. Desperdiçamos a chance – raríssima chance – de ultrapassar o Grêmio em títulos internacionais. Mas não doeu. Não em mim. Saí do Beira Rio tranquilo, conversando com meu pai e alguns amigos que passavam pelo pátio do Gigante. Encontrei, por exemplo, o Émerson, moderador da comunidade do Inter no Orkut. Reclamamos do Leandrão, mutuamente. Levantamos a hipótese de que o Inter não tem comando. Que, no fundo, o culpado disso tudo é o Tite. Sim, o Tite. Um enganador, esse Tite. Vamos ver como o Inter se sai no jogo de volta contra o Corinthians. Se perder, adeus Tite.

O Emanuel Neves, responável pela seção de colunistas aqui do Final Sports, estava comigo. Dei-lhe uma carona. No caminho, ele asseverou: estamos em crise técnica. No meu silêncio levemente embriagado, discordei. Não estamos em crise técnica. Estamos simplesmente chegando ao final da nossa história. Esse ciclo de vitórias, de títulos em série, de grandes times e grandes elencos: tudo isso está perto do fim. Em 1992, Francis Fukuyama lançou um livro provocador: “O Fim da História e o Último Homem”. Para Francis Fukuyama, o triunfo total do capitalismo representa o fim da história da humanidade. Não temos mais para onde evoluir, diz ele. Pois eu sou o Fukuyama colorado. Nossa história acaba de chegar ao cume derradeiro. Não temos mais o que ganhar. Somos campeões de tudo. Daqui para frente, só nos resta perder.

A LDU chegou a Porto Alegre pronta para jogar a “Copa do Mundo” contra o Inter. Já o Inter foi para a final da Recopa pronto para fazer um “treino de luxo”. Eis a novidade: o treino foi um cocô. Perdemos a Recopa e não há vídeo no Youtube que seja capaz de nos fazer acreditar numa virada. Aliás, se depender do tal treino de luxo, o Inter perderá para o Corinthians na semana que vem. E perderá sem criar uma única chance de gol. O diabo é que isso não é necessariamente ruim. É simplesmente parte do nosso crescimento. Precisamos morrer para renascer. Precisamos de uma reedição dos anos 90 para que tenhamos mais uma década semelhante a esta.

O Inter precisa ter fome. O Inter precisa ter desespero. O Inter precisa passar uma década inteira morrendo na praia. Do contrário, continuará encarando a finalíssima da Recopa como um “treino de luxo”. Qualquer goleada em Gauchão será encarada como um sinal de que o Rolo Compressor está de volta aos gramados. Qualquer elenco razoável será considerado o melhor do Brasil. Os gremistas reclamam da badalação em cima do time do Inter. Dizem que é exagero. Mas a maior vítima dessas mentiras somos nós, colorados. Por causa delas, nós achamos que dava para ganhar tudo neste ano. Ganhar tudo com o Alecsandro dando passes errados. De calcanhar. É com Alecsandro que chegamos ao fim da história colorada.

A boa notícia é que a área VIP funciona muito bem. Cerveja liberada. E salsichas. Muitas salsichas. As pessoas entram lá, bebem tudo que podem e comem salsichas cozidas. De palitinho. Depois, cheias de álcool e salsichas, seguem para o estádio levemente embriagadas. Como eu. Não deixa de ser um privilégio nestes tempos de Lei Seca. Ou melhor: nestes tempos de decadência colorada. Com a área VIP, é possível ver o Inter ser derrotado dentro de casa e não sentir dor nenhuma. Agora, por exemplo, são 01:56 e eu, levemente embrigadado, estou convencido de que a Recopa não tem tanta relevância assim. Importante, mesmo, é golear o Corinthians na semana que vem. Eu estarei lá. Até reservei o meu lugar na área VIP. Sugiro que você, leitor colorado, faça o mesmo. Sabe como é: dói menos.

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