terça-feira, 2 de junho de 2009

QUE INTER TEREMOS EM 2014?

Por Daniel Ricci Araújo


A Copa do Mundo no Brasil, para mim, é um meio. Sim, um meio. E para o clube, não para a querida nação. Quando vemos e ouvimos nossas autoridades prometerem mundos e fundos, alargamentos, segundas vias, metrôs subterrâneos, aéreos e talvez até submarinos, duplicações, triplicações, ordem e progresso à enésima potência para tudo e todos, meus pensamentos mesmo assim são todos de uma ignorância patriótica sem limites. Quando ouço falar em Copa, só penso no Inter.

E então, afinal de contas, que Inter teremos em 2014?

Semana passada, em tom de galhofa programada, Renê Simões previu: em dez anos seremos "o maior clube do país". Apesar da frase feita para alisar o ego (o nosso ego, claro) pensemos: e se o Inter realmente se tornasse, no espaço de uma década, algo como o Real Madrid brasileiro? O clube que tem quase cem mil sócios, que lidera o Brasileirão com os reservas, que é apontado pela mídia do país inteiro, do gandula ao centroavante, como modelo a ser seguido tal qual fosse o primeiro CDF da classe, onde vai parar esse clube dentro de dez anos, dois lustros, uma década?

Convenhamos: no momento, a resposta à pergunta permite, no mínimo, uma deliciosa reflexão.

Para mim, a coisa mais importante no Inter do século XXI é sua estrutura "interna corporis", como diriam os causídicos: a força do Inter vem, em primeiro lugar, dos músculos e nervos da própria instituição. O Colorado não foi financiado por nenhum magnata árabe, não colocou seu destino nas mãos de empresas conhecidas no mundo esportivo e tampouco arrendou seu Departamento de Futebol a um grupo de investidores, e seja o que Deus quiser. Não. O primeiro pilar, a viga mestra deste Inter vencedor tem nome: categoria de base. E essa é nossa e ninguém tasca.

Sim, meus caros, foi o chão batido do Gigante que plantou as taças colhidas nesses tempos de hoje. Foi a partir dela – dos jogadores que revelou e das quantias que fez nascer em forma de vendas do nosso moderno pau-brasil, o atleta de futebol – que o Inter tornou-se um clube com resultados medianos dentro do campo, de medianos para bom, e aí então, com a confiança reconquistada, deu-se o empurrão final à engrenagem: o torcedor-sócio, o "Soldado Cidadão" desta nova era, desse presente, e hoje eles estão às portas de serem cem mil.

Vejam o caso da última quarta. O jogo estava crespo. Nilmar, o agora símbolo do Inter do futuro, o dos altos investimentos e dos atletas de ponta, saíra escandalosamente lesionado ainda no primeiro tempo. Com Taison, a solução veio, na segunda etapa, pela mão do Inter tradicional, do clube revelador, do sagrado chão batido (nota: eu diria Taison, o possesso, como fora antes Amarildo, mas seria então um adorável plagista). A jovem revelação tomou as rédeas e o comando do time com a naturalidade quase protocolar de quem pede o pão de cada dia na padaria da esquina. Em cinco minutos, duas arrancadas, o rapaz reduziu o Coritiba a pó. Ali o Inter histórico, o Celeiro de Ases, pedia passagem ao Inter moderno. E que bom que tudo ocorreu assim!

Mas afinal de contas, que Inter teremos em 2014?

Alguém me afirma que andamos muito dependentes do Sr. Sonda. Concordo, mas repenso: nessa história, quem é mais necessário a quem? Se o nosso clube traz jogadores com potencial e todos – ou quase todos – dão certo, e o negócio é bom para ambas as partes, só nos resta pensar pela ótica capitalista da demanda e da procura. Existem mais empresários com vontade de ganhar ainda mais dinheiro ou clubes em condição de dar-lhes o retorno que esperam? A resposta é evidente: sobram os primeiros, faltam os segundos. Hoje, investir no Inter é mais rentável do que comprar ações da Petrobrás. E se falham os negócios, se o Inter moderno não dá a resposta de sempre, ali ao lado está o campo de terra, onde os Taisons, Patos, Nilmares e Lúcios pululam para dentro do vestiário profissional com a habitualidade serena e precisa da vaga do mar.

O Inter de 2014 pode não acabar sendo o Real Madrid do Brasil. Mas se manter o casamento entre o melhor desses dois mundos, tenho até alguma pena dos adversários que virão.

Porque existem muitos Taisons ainda por surgir do chão batido do Gigante.

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