sexta-feira, 31 de julho de 2009

Melacueca.

Por Marcelo Benvenutti


Tempos atrás, quando o Branco assumiu um cargo no já combalido Fluminense, discutiu com repórteres numa coletiva. Lá pelas tantas, um mais lacaio, sempre tem um mais lacaio, perguntou quais eram os objetivos dele na temporada para o seu time. Branco respondeu que os objetivos se resumiam, não corrijam a desconcordância, estúpidos de plantão, a um só: vencer o campeonato. O repórter retorquiu a pergunta argumentado que o time das Laranjeiras era muito limitado. Branco partiu pra ignorância. Sim, afinal, a resposta óbvia é sempre "vamos lutar parar sermos campeões".

Ano passado, quando Fernando Carvalho brigou com o Píffero, meia diretoria e desafiou quase toda a torcida colorada para contratar Tite, depois de espertamente confrontar o nome de Nelsinho, odiado por todos, com o de Tite, uma das metas era, depois de um mal começo no Brasileirão, conquistar uma vaga na Libertadores. Chegou a se dizer na época que teria até um prêmio extra para o treinador pela conquista da vaga. Não conseguimos. Com muito sofrimento ganhamos a Sul-Americana. Uma grande conquista para um torneio bem disputado.

Noves fora o Gauchão onde, marcando sob pressão e sem medo de perder, o Inter triturou os adversários, a partir das quartas-de-final da Copa do Brasil, o futebol da equipe colorada foi minguando. Taison era o líder dos artilheiros na temporada. Os dribles de D'Alessandro eram estudados passo a passo em vídeos didáticos na televisão. O objetivo traçado pelo líder da atual direção era bem simples, como o de Branco, apesar de todas as dificuldades: vencer tudo.

Perdemos a Copa do Brasil jogando o esquema atual, comumente chamado por aí de 7-0-3, que seja, nosso treinador manda sete jogadores recuarem, a zaga, os laterais e os três volantes, e os da frente, Andrezinho ou D'Alessandro, mais os dois avantes, que se virem para buscar jogo. E ai se um deles não voltar. Será achincalhado pelos patriotas do futebol moderno praticado nos pampas. Infelizmente pra quem gosta de ficar babando na frente da televisão pelos jogos do Barcelona. Esqueçam. No Rio Grande do Sul, os críticos masturbam-se com vídeos da seleção italiana. Fosse por ele, e por Tite, quem sabe, e todas as equipes jogariam num monótono catenaccio guerreiro e lutador. Futebol, Tite, é assim ó:

"Futebol é muito simples: quem tem a bola, ATACA: quem não tem, defende." - Neném Prancha (mas dizem que a frase mesmo é do João Saldanha)

Por fim, dias atrás, Tite, após uma dessas desastrosas viradas que sofremos jogo sim, jogo não, declarou que o objetivo colorado no campeonato brasileiro é, vejam só, "a vaga da Libertadores". Ou seja, quando ainda estávamos um ponto atrás do líder, nosso treinador, se por conta própria ou autorizado por terceiros, declara que uma vaga e tudo bem, que direi eu quando penso se vou ou não enfrentar sensação térmica abaixo de zero nas arquibancadas gélidas da beira do rio? Dizer que quer só a vaga é, como diria Tim Maia, ficar só no melacueca depois daquele arreto num canto sórdido de uma festa rock em um desses becos portoalegrenses. Não existe essa opção. Como Branco, xingando o repórter. Não existe meio-termo. Todos os times, desde os Avaís da vida até os grandes clubes, querem é o título. Nelson Piquet já dizia: segundo é último.

Quarta-feira, na semana da sacudida, respingou pra tudo que é lado, mas quem saiu encharcado foi só um. O bode foi colocado para dar voltas em torno da pista atlética. Fernando Carvalho prometeu um novo Inter. Um Inter com disposição. Tamanha hipocrisia seria impensável em qualquer outro lugar. Mas, em um país, como diria, de novo, nosso grande filósofo, Tim Maia: Um país em que prostituta se apaixona e traficante é viciado não pode ir pra frente mesmo. Sim, num país em que os políticos fazem campanhas prometendo o indispensável, honestidade, nada mais natural que o líder de um clube de futebol prometa à torcida o mínimo aceitável: vamos mostrar disposição.

Quando for pagar minhas contas, em vez de fazer tudo pela internet, irei até o banco. Pedirei um cafezinho. Conversarei com o gerente. Serei solícito e simpático. Enfim, mostrarei disposição. Mas direi que não tenho todo o dinheiro. Só muita vontade de quitar minhas dívidas. Será que rola?

Ps.: Mesmo com as discordâncias de idéias, desejo recuperação ao Tite. A perda de um familiar muito querido depois de uma longa enfermidade é muito dura. O tempo ajudará a aliviar a dor. Boa sorte.

Ps2: Trilha sonora do colunista hoje – Supergrass, Queen of The Stone Age e, claro, Tim Maia.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

D'Ale tinha razão.

Por Andreas Müller


Palavras de D’Alessandro registradas no jornal Zero Hora de 26 de maio deste ano:

— O mais importante do Inter, hoje, é a defesa. Na medida em que a defesa funciona, os gols dos atacantes aparecem mais, porque decidem os jogos. Pode parecer filosofia, mas é a realidade. Quem não leva gols, não perde. E tem mais chances de ganhar.

Cabezón sempre foi um sujeito meio desatinado, é verdade. Mas temos que reconhecer: de futebol, ele entende. Em maio, D’Ale resumiu em poucas palavras todo o funcionamento daquele sistema que, até então, mantinha o Inter na liderança do Campeonato Brasileiro – invicto e sem tomar um único gol. A força do Inter, dizia D’Ale, não estava só na velocidade de Nilmar, nem nos avanços insinuantes de Taison. Estava, isso sim, lá atrás, na famigerada “linha de quatro” em que se enfileiravam Bolívar, Índio, Álvaro e Kleber, todos sob a proteção classuda de Sandro.

D’Ale tinha razão. O Inter do primeiro semestre não tomava gols. Podia até fazer partidas deploráveis, especialmente fora de casa. Mas não tomava gols – e o resultado acabava aparecendo, mais cedo ou mais tarde, em um contra-ataque furtivo ou em uma bola parada. Funcionava, enfim. Simplesmente funcionava.

Lembram do jogo de ida contra o Flamengo, pelas quartas-de-finais da Copa do Brasil? Eu lembro: foi uma das piores apresentações do Inter no primeiro semestre deste ano. Ali a equipe de Tite foi dominada de um hemisfério a outro. Deixou o adversário jogar, não conseguiu criar nada e ainda viu D’Alessandro naufragar na dileta marcação de Toró. Mas vejam só: empatou! Ficou em um honroso e satisfatório zero a zero. Não perdeu, não sofreu nenhuma virada, não decepcionou. Apenas empatou. Porque aquele Inter – valha-me Deus! – não tomava gols.

O que mudou no Inter do primeiro para o segundo semestre foi apenas isto: a defesa, que deixou de ser o pilar forte do sistema de jogo colorado. Hoje, o Inter tem uma das defesas mais lentas e frágeis do país. Uma defesa que marca à distância, que erra passes à granel e que, pelo menos até a entrada de Sorondo, teimava em fazer de qualquer bola alçada na área um verdadeiro deus-nos-acuda. Vejam que a produção ofensiva do Inter não decaiu: nos últimos seis jogos, marcou nada menos do que 14 gols – mais de dois por confronto. É produtividade de campeão. O problema é que, nesses seis jogos, o Inter conseguiu levar, também, 14 gols. Uma peneira.

Nas últimas semanas, o Inter foi acometido por uma estranha “síndrome do segundo tempo”. O time começa bem, constrói uma vantagem considerável, mas invariavelmente permite que o adversário empate ou até vire o jogo. Foi assim contra Atlético-PR, Fluminense, Grêmio, São Paulo, Botafogo e, ontem, contra o Barueri. O diabo é que a estratégia de jogo colorada continua exatamente a mesma. Desde agosto de 2008, o Inter é um time que constrói uma vantagem e depois se encolhe para administrá-la. Tite, aliás, chegou a ser amplamente criticado pela covardia da equipe, que sempre se apequenava no próprio campo depois de marcar um ou dois gols. Pois bem: o Inter continua agindo exatamente da mesma maneira. A diferença é que, agora, toma gols no momento em que tenta administrar a vantagem. Antes não tomava.

Contra o Barueri, o Inter conseguiu melhorar na marcação. A equipe paulista criou pouquíssimas chances e só chegou ao empate devido às desventuras em série de Michel Alves. Os três pontos foram sofridos e deixaram um recado claro: o Inter não consegue mais executar aquela estratégia de Tite – a de vencer no primeiro tempo e administrar a vitória no segundo. Ora porque essa estratégia é mal executada e sobrecarrega demais a defesa. Ora porque nossos zagueiros realmente perderam o ímpeto e a qualidade que costumavam ter.

É esta a verdade: o Inter precisa se defender melhor. Esqueçam as especulações quanto a brigas de vestiário, os boatos sobre possíveis dispensas e as fofocas sobre noitadas. Tudo isso é uma grande balela. O Inter só precisa se defender melhor. Nada mais.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A réstia.

Por Gustavo Foster


Não acredito em sacudida no vestiário, não acredito em ponto de equilíbrio, não acredito em manutenção da comissão técnica. Não acredito em nada. Acho que, desde o início, desde a raiz, a ideia da direção está errada. O problema está em X, as soluções propostas apontam para Y. A cada declaração, a cada reportagem, a cada entrevista, minhas perspectivas afundam.

Tudo o que estava certo está morto e enterrado. Já era. O problema não é Bolívar, não é a dupla de zaga, não é a saída de Nilmar. Nossos problemas não estão nas substituições erradas de Tite, nem nos gols salvadores de Leandrão. (E muito menos, convenhamos, em D’Alessandro). Nossa crise é técnica, sim. Mas é muito mais anímica. Obviamente há algo de podre no reino de Fernando Carvalho. Reino este que mora, claramente, na barriga de dois ou três. Ou um.

Trocar peças de um jogo estragado não vai mudar em nada. Não são os peões os culpados, se jogam em um tabuleiro estragado. E é isso que joga quase toda a esperança de um futuro promissor para o fundo. É esse cenário que parece mostrar que tudo, até maio, era ilusão de ótica, fantasia, mágica. Ou, simplesmente, estávamos jogando contra adversários inferiores, sem brigas no vestiário e com os jogadores flutuando, de tão leve que se apresentava o ar na beira do rio. Mas Deus escreve certo por linhas tortas. E é aí que mora a minha réstia de esperança, o último fio da corda em que me agarro para tentar acreditar em um final de ano bom.

O sistema tático está errado, a punição de D’Alessandro é absurda, Kleber não deve ser o quarto zagueiro colorado, mas todos esses fatores, na mão contrária, podem resultar em algo positivo. Saem jogadores consagrados (D’Alessandro, Magrão, Nilmar) ou pré-consagrados (Taison) e entram iniciantes. Jogadores "medianos" (e, por medianos, me refiro a jogadores menos idolatrados, menos atingidos pela mídia, menos cotados a Craque do Brasileirão), como Andrezinho, Giuliano (buscando sair do patamar de "promessa" e chegar ao de "bom jogador"), Alecsandro (tentando se consagrar como centroavante matador), Bolaños (este, vindo de uma má fase estrondosa em sua chegada ao Brasil), entre outros.

Com isto, o Inter perde a cotação de "time do momento". Estamos, ao menos psicologicamente, abaixo de Avaí, Náutico, Barueri, qualquer time recém-chegado da Série B. Ninguém espera mais nada do Inter. Ainda menos sem Nilmar, D’Alessandro e Taison. Bolaños? Aquele perna de pau do Santos? O Inter já era. E é desse pensamento que talvez venha o detonador da nova fase do Inter. Com jogadores que estão querendo comer grama, provar que são dignos de levantar o Inter da crise, fazer o que as grandes estrelas não fizeram.

Eu acho que isso vai acontecer? Sinceramente, não. Talvez por, inconscientemente, achar que, quanto menos esse grupo tiver crédito, mais a teoria fará sentido.

Ou talvez por não acreditar, mesmo.

Mas é a última cartada.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O tetra começou.

Por Daniel Ricci Araújo


Sábado passado, por volta das nove horas da noite, o Inter começou a ser tetracampeão brasileiro.

Sim, senhoras e senhores, é isso mesmo. Após a apocalíptica derrota para o Botafogo, ali mesmo no estertor da tristeza clubística, o Inter começou a fincar no solo a viga-mestra do seu esperado título. Para amenizar o sofrimento oportunizado pelo time em campo, terminado o jogo, nos surge a voz apocalíptica dele, Fernando Carvalho, gritando Chega!, Chega!, Chega!, como se fosse mais um torcedor indignado. Até que enfim. Má fase é má fase: a maior alegria clubística do mês, fruto de uma entrevista coletiva.

O Inter não dá nada em campo, e não nos admiramos mais de fazer coisas estranhas por causa do retrocesso do time. Vejam só o caso do colunista, este triste plebeu que vos fala. O indivíduo simplesmente não aguentou. Nunca na minha vida de colorado tinha feito o que fiz sábado: aos vinte minutos do primeiro tempo, dois a zero para o Botafogo, abandonei o jogo. Simplesmente fui dar uma volta na rua, como quem não está gostando do filme e pede para sair. Eu, colorado de fé, de Beira-Rio sim ou sim, sempre, seja no frio glacial ou no calor senegalesco, dessa vez como que pura e simplesmente desisti do time.

Foi um espasmo cerebral, uma reação impulsiva. Mas foi. Simplesmente levantei do sofá da sala, os parentes atônitos, como se contemplassem um vulto de assombração, peguei a chave do carro e fui. Não havia mais sentido em ver o mesmo time de sempre jogar nada, os mesmos jogadores arrastarem-se em campo, os mesmos atacantes em fim de carreira invadindo nossa zaga a seu bel-prazer, enfim. No fim das contas, foi bom, pois não me estressei mais – empatar um jogo perdido e, depois, tomar o terceiro gol seria ainda pior, e acho que já não tenho mais ânimo para aturar certas coisas.

Mas acontece, então, o momento mais importante do jogo, ou do pós-jogo. Entro no carro para voltar e ligo o rádio – sim, pelo menos o resultado queria saber. E o que ouço? O bálsamo. O oásis no meio do deserto. Flutua pelo sistema de som do carro a voz estridente do vulto vivo dizendo a frase que dele se esperava há dois meses: “não há mais desculpas”. Feliz, paro na sinaleira do Parcão e já imagino, no dezembro próximo, aquela Goethe pintada de vermelho. Fernando Carvalho falou, e nele eu acredito.

Alguém dirá que a reação diretiva é tardia, talvez. Concordo. Mas ainda há tempo de reconstruir o Inter. Estamos na quarta colocação do campeonato, quatro pontos atrás do líder e com mais ou menos uns trinta jogos a disputar. Há tempo para retomar os trilhos, desde que o vagão marche direito. Pelo menos o Inter, parece, resolveu pôr a mão na consciência e dar um passo atrás. Na vida e no futebol, não conheço quem tenha superado seus problemas sem antes reconhecê-los.

O mea culpa o Inter já fez, resta pôr em prática o que precisa mudar. Eu, por via das dúvidas, acho de bom tom que os outros times do país comecem a desconfiar desse Inter tão fraco dos últimos meses. Sábado passado, por que não, o Colorado começou a ser campeão brasileiro.Acho que o Inter vai acordar, e o Brasil inteiro vai ouvi-lo.

Os Neros do Beira-Rio.

Por Raphael Castro


Bem, eu falei que existe uma explicação lógica para qualquer coisa; que seria impossível um time profissional simplesmente “desaprender” a jogar bola em pouco mais de sessenta dias; que creditar tudo que está acontecendo somente a esotéricas “crises técnicas” era pura balela; que o treinador não tinha passado ao status de parvo analfabeto em matéria de futebol, assim, de uma hora para outra (mesmo “errando” muito ultimamente - falaremos mais a seguir). Pois os fatos - ah, esses benfazejos - parecem corroborar totalmente a tese deste que ora vos fala (e falou a respeito bastante também nas últimas colunas): tinha mesmo – e como! - problema fora de campo (sim, escutei alguém gritando “Cassandro!” ao fundo...).

Óbvio, evidente, cristalino

O vestiário colorado vem sendo desconstruído escancaradamente na imprensa (ou tão escancaradamente quanto possível para evitar coisas chatas como um processinho amigo, por exemplo...). Vimos lendo toda sorte de ilações, teorias, fofocas, e, ao menos numa oportunidade, de forma um tanto ligeira e leviana, foram relatados comportamentos absolutamente ridículos para um elenco dito profissional...

Óbvio, evidente, cristalino 2

Bem, eu acho que quem fala coisas como essas deveria começar a dar nomes a certos bois, não é mesmo? Pois é, estimados(as) leitores(as), eu acho que tenho o direito de saber quem anda farreando fora da cidade antes de um jogo, ou quem teve a brilhante ideia de esmurrar um colega que trocou de empresário. Não é genial? Se arco com a mensalidade do clube, e se o dinheiro dela serve para pagar quem gosta de curtir pagode com a mulherada às vésperas de decisões, nada mais natural que o indigitado sambista possa ser pelo menos “aconselhado” a mudar seu comportamento. Só não me venham com “o que será que acontece com o Inter...”, “um certo jogador de um pretenso clube teria batido em um suposto colega...”, e outros mexeriquinhos do tipo - fica parecendo conversa de comadre travestida de...notícia!

Carola

Não, não sou nenhum moralista e sei perfeitamente que todo mundo pode se divertir. Só que 1) era meridianamente claro que havia algo de errado; 2) o que quer que fosse, não era noticiado devidamente como tal; 3) do jeito que falavam, a questão era só “técnica” ou “tática” (e, agora, “física” também); e 4) a direção ou assiste a tudo em berço esplêndido, ou vem sendo no mínimo (muito) incompetente pra botar ordem nesse mafuá. Se o sujeito quer zonear fora de campo, é questão totalmente individual (e, não poucas vezes, até bastante “íntima”, digamos assim). Agora, se isso prejudica o time e/ou faz o clube perder títulos, isso é da conta de terceiros, sim, senhor, ora, cáspita...

Abraçadinhos

Se então essa manutenção do Adenor era para reforçar a “otoridade” dele perante os jogadores, sinto informar que a bola se foi pela linha de fundo. Inclusive, após a última rodada, está muito claro que o elenco rachou de vez, e o fez em torno do técnico. É muito fácil perceber isso nas entrevistas, ou seja, quem está contra e quem está com ele. Por isso que, não sendo – como não é mesmo – um “péssimo” treinador, Adenor se vira com quem tem e com quem pode (isto é, com aqueles que o apoiam e em quem ele “confia” – às vezes até queimando os “rebeldes”). Só isso explica certas escalações, atuações e substituições. O preço por ter se embrulhado com um técnico isolado no vestiário? A possível perda de um título brasileiro e, quiçá, até mesmo de uma vaga na Libertadores, se a tomada de uma atitude demorar mais (como diria o meu fisiológico, filosófico, prevenido e prático avô, S.Assis P.Ererê “a medida de uma demora é o que nos escorre perna abaixo...”).

Epílogo?

Talvez seja tarde para qualquer reparo nesse sentido; agora é com ele até o fim do ano, com risco de abalroar a boa vontade da torcida (semi-informada que está), em nome da manutenção de um suposto “bom trabalho”. Nisso tudo, Carvalho e Vitório apenas parecem afinar suas harpas, enquanto o fogo vai comendo solto no Beira-Rio...

Tópicas: the flute

Não, não vou me furtar a falar sobre o último fim de semana. Em verdade, me irrita o Inter perder para quem quer que seja por desleixo ou desatenção (como no segundo gol de domingo); e, por isso mesmo, a eventual raiva experimentada obviamente não se qualifica por quem ganhou, mas pela defecada do time no lance. Por isso é que eu acho que tem clubes por aí que deveriam ser realmente estudados: devem ser os únicos no mundo que ganham por “goleadas” de 2 a 1...

Tópicas 2: the flute II

Logo, pelas razões acima, podia ter sido até de um Atlético-PR, um Barueri, ou um Botafogo da vida. Não teria feito a menor diferença. Inclusive, tenho me sentido cada vez mais desse jeito em relação a times e torcidas que se alegram por meras vagas em competições, lideranças de turno, passagens de fase ou por um único jogo ente outros 37. Nesse sentido, deve ser a mesma coisa que tomar flauta de alguém do Náutico: sim, pra mim são todos “timbus”...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

EDITADO: e foi-se Nilmar. É provável que eu nunca tenha escolhido tão adequadamente o título de uma coluna.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O Bêbado e o Equilibrista.

Por Marcelo Benvenutti


Seis da manhã. Porto Alegre ainda nem amanheceu. Julho gelado. A tempertaura beira o zero nos termômetros de rua. No saguão do HPS, crianças febris. Mães desesperadas. Velhinhos carregados pra lá e pra cá por filhos insones, encarangados de frio, arrastando os pés. Familiares em transe aguardando notícias de alguém que levou um tiro do vizinho, numa rixa de gangues, foi atropelado por um carro desgovernado de um alcoólatra. Atendentes de máscaras. A paranóia da gripe suína. O caos em perfeita ordem no portal do inferno.

Em meio às tragédias alheias, um homem fala sozinho. Foi recolhido na calçada. Estava caído, bêbado, desacordado. Balbuciava palavras desconexas e não sabia dizer nem o nome ou muito menos onde morava. Sem referências, foi largado num canto do saguão até que alguém lhe desse importância. Depois de algumas horas lhe deram um cobertor amassarocado. Perto do meio-dia, um copo de qualquer líquido que fosse. Um sanduíche de outro que sobrou do almoço. Foram lhe atender às três da tarde.

Tiraram a pressão. Observaram o movimento dos olhos. A língua. Batimentos cardíacos. Fora alguma friagem que poderia se transformar num resfriado ou algo pior, o homem tinha boa saúde. A ressaca lhe batia na cabeça e ele ainda não coordenava as palavras direito. Foi quando lhe deram um café preto bem forte que sua face ruborizou e aos poucos foi tentando concatenar as idéias. Em vão.

Uma atendente social veio falar com ele. Tentar fazer com que lhe desse um nome. Um endereço. Alguém par que eles pudessem comunicar. Nada. O homem só falava em "jogar pelas laterais". Mas não me tira mais um meia pra colocar outro volante. De virada, de novo, não! A atendente preencheu o relatório e encaminhou o caso para o atendimento psiquiátrico. Aquele homem necessitava de um auxílio profissional mais técnico.

O psiquiatra de plantão tentou fazer com que a conversa entre ambos se desenvolvesse. Qual o teu nome? Nome? Não sei. Tite? Tite! Não, não é meu nome. Mas é o que me lembro agora. Tite é um treinador de futebol conhecido. Tu não é o Tite, respondeu o psiquiatra. Não sou? Ainda mais confuso, o homem levantou-se e começou a caminhar de um lado para o outro. Mas e o Sandro? Porque tirar o Sandro e não o Magrão? O que aconteceu no intervalo? A gente perdeu pro Avaí? Não. Eu não sei. O psiquiatra plantonista, cheio de outros casos para atender, preencheu a ficha do paciente com um definitivo "amnésia" de cabo a rabo na folha e mandou que o homem aguardasse.

Muito tempo depois, já noite, homens de branco o vestiram com uma camisa amarrada ao contrário. Colocaram ele numa kombi branca e o conduziram pelas escuras ruas de Porto Alegre. O trânsito intermitente. Uma chuva fria batendo nos vidros. O homem, nariz grudado na janela, ficava quieto e acuado. Não entendia o que estava acontecendo à sua volta, ensimesmado em seus pensamentos. Desceram num prédio antigo e o levaram até uma sala hermética. Outras pessoas, não com camisa como ele, assistiam sentadas a um programa humorístico. Já era quase hora da janta. Lhe deram uma injeção de tranquilizante e tiraram sua camisa. Vestido com uma roupa sem cor, o homem sentou-se do lado dos outros na sala.

Um sujeito ao seu lado o cumprimentou. Qual é o teu caso? Eu não sei. Só queria que atacassem pelos flancos, fizessem algumas triangulações bem tramadas e chegassem no ataque com cinco ou seis jogadores. Colorado? Perguntou o outro. Sim. Eu sou colorado. Isso mesmo! Eu sou colorado! Gritou nosso herói. Qual teu nome? Não sei, respondeu de novo. O outro devolveu: O meu nome é Abel. Abel Braga. Fui eu quem conquistou o Mundial pra ti. Abel? Abel! O homem pulou da cadeira e abraçou efusivamente o suposto Abel, que na verdade se chama Carlos e quando estava do lado de fora trabalhava num açougue. Tu é o cara, Abel! Tu é o cara! E caiu duro no chão, o tranquilizante já surtindo efeito.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Organograma falho.

Por Gustavo Foster


Desde uma orquestra até uma colméia – passando por exércitos, continentes e empresas – , tudo baseia seu sucesso em uma organização. Organização esta que prima pela relação comandante-comandado. Combinada com uma estratégia, um ambiente favorável e mais alguns fatores que o Roberto Shinyashiky me ensinou, tudo tende ao sucesso.

Aproveito já para apresentar uma definição rasteira do termo "organograma", comumente utilizado na área de Administração: Organograma é um gráfico que representa a estrutura formal de uma organização. Credita-se a criação dos primeiros organogramas ao norte-americano Daniel C. McCallum, administrador de ferrovias, no ano de 1856. Os organogramas mostram como estão dispostas unidades funcionais, a hierarquia e as relações de comunicação existentes entre estes. Os órgãos ou departamentos são unidades administrativas com funções bem definidas. Num organograma, os órgãos são dispostos em níveis que representam a hierarquia existente entre eles. Em um organograma vertical, quanto mais alto estiver o órgão, maior a autoridade e a abrangência da atividade.

Pense agora no vestiário do Internacional. Nas entranhas do gramado perfeito do Beira-Rio. Qual é a organização do nosso clube? No papel, há o presidente do clube, que tem como subordinado próximo o vice-presidente de futebol. Este apresenta comando sobre o treinador, que delega funções junto ao grupo de jogadores. Está feito um simples rascunho da organização de um clube.

Porém, no Sport Club Internacional, problemas vão desde o funcionário mais poderoso aos últimos elementos do falho organograma, antes apresentado. O presidente, personagem inicial, não convence. Vitório Píffero é conhecido, há tempos, pelas desculpas esfarrapadas, pelas entrevistas indigestas, pelas atitudes descabidas e por uma singela arrogância não caracterizada com o clube que comanda.

Pois bem, passa-se para o cargo próximo, ocupado por Giovanni Luigi, o Robin de Píffero. Ele já ocupou todos os cargos possíveis. Como que um irmão, Luigi está sempre próximo ao presidente para defendê-lo, apoiá-lo e fazer o que for preciso para limpar a barra. Mas o problema é que Giovanni Luigi não impõe respeito, não se faz levar a sério. Em entrevistas, regurgita absurdos. Culpa a astrologia, demoniza a imprensa, chora por lesões. Quando perguntado diretamente sobre o time, que não dá resultados, irrita-se. As únicas reações ante as entrevistas de Luigi são a irritação latente ou o riso angustiado.

Sentado no banco de reservas, distribuindo coletes e fazendo substituições inúteis, Adenor Bacchi é apenas a árvore que nasceu de uma terra dura. Seus frutos são os 30% de aproveitamento nos últimos jogos. Muito já se falou sobre Tite. É evidente que ele não é técnico para o Internacional. "Mas não há opções no mercado", dirão os dirigentes, agora que Muricy foi para o Palmeiras, Luxemburgo foi para o Santos e meu cachorro está no veterinário. Mas Tite não é o problema (não o maior). Ele é apenas a conseqüência, apenas um sintoma. A doença é vem de dentro para fora.

E o único doutor que podia nos curar está maluco, com teimosias e dossiês.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Revolução.

Por Daniel Ricci Araújo


Tomara que essa crônica venha ao mundo solenemente morta.

Sinceramente, quero muito acordar nessa terça-feira, abrir a porta do principal diário noticioso do Rio Grande do Sul e ler que a revolução está em marcha. O café fumegante, um pedaço de pão torrado e a manchete definitiva: "Tite muda tudo", "Do jeito que estava não dava mais, afirma o comandante colorado". Ainda: "Carvalho: o Inter vai jogar muito mais daqui em diante, podem apostar". Coisa fantástica, animadora: às 7 horas da manhã cá estou eu em meio a uma pequena Queda da Bastilha futebolística. Ah, que maravilha seria o meu café da manhã com essas manchetes! Mudanças, mudanças, mudanças!

No entanto, nos acostumemos à modorra. Acho que o assunto desse texto continuará sendo atual hoje. Nada vai mudar no time.

Mais uma vez, a surrada novidade do Inter deste 21 de julho 2009 será o fato de que, infelizmente, não haverá qualquer novidade. A falta de mudanças reais, me parece, será a sequência do discurso de vestiário na perturbadora derrota de anteontem perante a comum equipe gremista. O time desconhece os lados do campo? Que coisa. Taison desapareceu? Azar. Kléber desacelera como um elefante antes de chegar à linha divisória do gramado? Não há problema: o Inter empilha más atuações e nada muda, nada pende para um lado ou outro, tudo se conserva escandalosa e assustadoramente igual. O Inter baba, ronca, e se contém em sua própria letargia como um ancião mal humorado e inconveniente.

Ora, vejamos: termina o vexatório clássico do último domingo e a primeira coisa que se vê é Fernando Carvalho, o grande presidente de sempre, sair aos microfones com a inadequada obstinação de um orador ateniense, pronto para defender o ancient regime reinante: "não muda nada! Nada!", vocifera o insigne vulto vivo. Mais do mesmo, infelizmente. Depois da derrota na Copa do Brasil, tudo continuaria como antes. Veio a perda da Recopa e continuamos adormecidos, o time cai a olhos vistos, tudo persiste igual. A equipe entrega o Gre-Nal no Olímpico mais vencível dos últimos anos e adivinhem? Nada muda!

As únicas coisas inéditas no Inter são as tolices. Taison, o pessimamente orientado Taison, que não vem jogando nada vezes nada, afirma agora que só pode ser criticado por quem jogou futebol. Imaginem a cena: desaba um prédio inteiro em Capão da Canoa e só engenheiros e arquitetos estão habilitados a procurar culpados e investigar os motivos. Um bebum toma o pileque derradeiro: ai do sóbrio que o jogue porta afora do bar. Tite arremata, após o clássico, que agora é hora de "ter cabelo no peito", e imagino é que aí vem uma nova contratação: Tony Ramos, auxiliar técnico - ou lateral-esquerdo, quem sabe corra mais que Kléber.

O Inter não precisa de pelo no peito, Tite. Chega de frases. O Inter necessita de ideias simples: jogadas pela linha de fundo, estabilidade defensiva e medalhões em má fase no banco. Coisas corriqueiras e pontuais que podem acontecer em qualquer time de futebol. Cem mil sócios não bastam, contratações milionárias não bastam, fama internacional não basta. Do mais reles mendigo ao maior milionário, o mandamento universal é o mesmo: sentar em cima dos louros é o começo do fim. E o Inter parece estar adormecido neles.

Nosso time enfrenta hoje, 21 de julho de 2009, talvez sem saber o início de sua encruzilhada particular. Ou se contenta com uma extraordinária realidade teórica enquanto conta número de sócios e reais entrando no caixa, ou sacode a poeira e começa a fazer brotar do chão o seu renascimento. O Inter do primeiro semestre morreu, e um novo precisa surgir. Na vida costuma ser bom olhar o todo em detrimento do hoje, mas no caso do Inter, as estatísticas de 2009, enquanto mais repetidas forem, mais continuarão contando uma fábula, uma história que já passou e que agora precisa ser reescrita. O Inter não precisa de cabelos no peito, Tite.

O que está faltando mesmo é iniciar uma revolução.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A Arte da Guerra.

Por Marcelo Benvenutti


Eu já desisti de entender o que se passa no reino do Beira-Rio, muito menos o que se passa na cabeça de Fernando Carvalho, Píffero e Luigi à parte, pois todo mundo sabe que quem manda é o Carvalho, e Tite, que ninguém sabe mais o que se esperar. Se fosse o Abel, que é doido, eu até entenderia, mas o Tite, um homem equilibrado e trabalhador, um homem que chora, como Abel também chorava, não tenho mais idéia do que ele vai fazer ou deixar de fazer. Ou tento.

Sun Tzu disse: Em geral o que ocupa o campo de batalha primeiro e aguarda o inimigo está em boa situação; o que chega à cena depois e corre a pelear está cansado.

Viu, Tite, não fui em quem disse, Carvalho. Foi o Sun Tzu que disse. Dois mil e quatrocentos anos atrás. Tem que ocupar o campo inimigo. Ocupar espaços. Para ocupar espaços é certo que o nosso exército, time, quero dizer, deve avançar para cima, não para trás, Tite. Com os espaços ocupados , o adversário que corra para roubar o espaço perdido. Ou seja, que corra atrás da bola.

A ordem ou a desordem dependem da organização; a coragem ou a covardia, das circunstâncias; a força ou a fraqueza, das disposições.

Se o time está desordenado em campo. Se o lateral não sabe se vai ou volta. Se o volante, os volantes, não auxiliam os meias, o meia, a organização da euipe é falha. Se é falha é porque falta orientação. Se o time some nas horas decisivas, é covardia. Se o time tem qualidade, não deveria ter medo. Se não tivesse medo, não fugiria. O medo nasce nos homens que temem perder o que conquistaram. Aqueles que se desapegam, nada temem. As circunstâncias é que fazem as regras, Fernando Carvalho, e não o contrário. Assim, se todos estiverem dispostos, o time manterá suas forças e vencerá. Sempre vence o mais forte, não necessariamente o melhor ou o mais justo. É do futebol.

A invencibilidade reside na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque.

Ataque, Tite. mande o time para frente. Esqueça teu passado e as ranzinices do Fernando Carvalho. A vitória reside no ataque pois, futebol, como diria Dino Sani, é futebol. Não é tênis. Não é dominó. E mesmo no tênis, ou no dominó, se ataca. Ignore a invencibilidade. Defender-se por temer a derrota ou os gols sofridos é como defender a virgindade da filha mais nova. Não existe como. Um dia, ela dará. E não vai ser só uma vez. Nem para um só. Assim também trabalha o retranqueiro. Contra o impossível.

Já quem ataca, joga a favor do possível. O gol sairá. Cedo ou tarde. Claro que não deves esquecer da retaguarda. Resguarda os teus flancos. É por lá que a vanguarda inimiga tentará infiltrar-se. O ponto fraco sempre será encontrado, mesmo que o inimigo não o reconheça logo no começo, ele descobrirá. Ataque ele pelos flancos. Quando um flanco se abre, a defesa inimiga se projeta para um lado e desguarnece o outro. Aí reside o ataque fulminante. Sem defesas. Pelo meio o preço a ser pago poderá ser alto. As baixas, desnecessárias. Os mantimentos, insuficientes. Mas, antes de tudo, Tite, ataque.

E, depois dessa pequena introdução à Arte da Guerra, Tite, espero que te mantenhas no posto, mesmo que a tropa esteja indisposta e a infantaria cansada e faminta. Sabemos que tu como general de brigada também tem suas ordens. Se elas forem néscias ou pusilânimes, ignore-as. A vitória nos aguarda.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Mudar não mudando.

Por Daniel Ricci Araújo


Já não é mais possível ignorar a realidade. O Inter do primeiro semestre acabou.

O que se viu nas duas últimas derrotas, a acachapante quase goleada para o comuníssimo time da LDU, no Equador, e a derrota de anteontem ante o fraco Atlético Paranaense, foi a última folha de uma partitura que já esgotou sua orquestra. O Inter do losango, da jogada em velocidade letal, o Inter da sensação Taison, essa equipe acabou. Os confrontos com times mais fortes, pressuposto lógico de todo segundo semestre, levaram-nos a outra realidade, seguramente mais dura e áspera.

Como podemos aceitar que a equipe de fábula do início do ano agora não consiga mais trocar cinco passes em sequência? Como o time do esquema 1-1-1, Guina, Nilmar e Papai do Céu, mesmo com todos os seus defeitos, acumulou uma mísera vitória no último mês e, mesmo assim, continua a ser um dos ponteiros da tabela? Apesar de seguirmos tendo um excelente grupo, talvez o melhor do país, um diagnóstico parece quase definitivo: o primeiro semestre nos enganou. E não foi pouco.

Contra as equipes do interior do nosso Estado, muito mais preocupadas em marcar do que propor o jogo, Magrão e Guiñazu conseguiam defender e ir à frente com a quase naturalidade de um Dener em início de carreira. Mas agora, claro, enfrentando equipes de mesmo nível, que precisam ser marcadas, os dois - principalmente Magrão - já nem de perto dão ao ataque a mesma sustentação de qualidade. Levando-se em conta não termos laterais de ofício e o fato de que, em jogos do Inter, as linhas de fundo só são utilizadas pelos quero-queros, era até bastante difícil que a equipe não empacasse. E, de fato, ela parou. Taison é a maior vítima disso, apesar da má fase individual que enfrenta.

Alguém dirá ter sido esse esquema o responsável pela vitória na Sul-Americana, ou quase isso. Mas como conquistamos aquela taça? Apesar da vitória em La Plata, com muitas, tremendas dificuldades. Reconheçamos, já é consenso geral: o esquema tático exauriu. Ele não proporciona jogo pelos lados do campo, dá pouca ou quase nenhuma opção a quem conduz a bola e, agora, além de ser insípido ofensivamente, virou uma peneira. Só nos últimos dois jogos tomamos seis gols.

A imensa maioria da torcida colorada rosna, bufa, esperneia contra Tite, e pede sua saída. Mas isso seria como resolver metade do problema e dar as costas à outra parte. Trocá-lo por quem? Muricy Ramalho – que esse ano implodiu o time do São Paulo com requintes de crueldade – para mais um revival? O ótimo ex-técnico Wanderley Luxemburgo? Alguém de um nível abaixo, como Geninho ou, hoje em dia, Parreira?

Tudo está nas mãos da direção. O que é melhor: romper com o bom trabalho de Tite, mas que precisa urgentemente ser repensado, ou ter com ele uma conversa séria e, se necessário, respaldá-lo para mandar alguns figurões direto para o banco de reservas, sem escalas? Aparar arestas ou botar todo o prédio abaixo?

Muitas vezes preservar as coisas boas é mais fácil do que as construir novamente. E quem sabe esteja na hora de o Inter, mais uma vez, mudar não mudando.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

À espera de um milagre?

Por Thiago Marimon

Que o pênalti imbecil, infantil e irresponsável cometido pelo dublê de lateral direito Bolívar tenha selado o fim da era Tite no Gigante da Beira Rio. Que o terceiro gol do Atlético tenha soterrado, de uma vez por todas, o ego do eterno Presidente Fernando Carvalho, avalista da manutenção do Pastor.

Como é de conhecimento de todos, Tite chegou ano passado contra vontade da turma de Piffero, mas, diante das poucas opções no mercado, da pressão por um novo comando e, principalmente, da força política de Carvalho, foi contratado. Justamente por isso, esta semana, ao desembarcar do fiasco no Equador, FC saiu mais uma vez em defesa de seu pupilo. Alegando que desde que atravessou a rua e passou a entregar os coletes na Padre Cacique o pastor disputou quatro competições, levantando dois canecos e sendo vice em outras duas oportunidades (vice da Recopa é engraçado). O argumento do ex-presidente seria valido, não fosse inócuo perante o péssimo momento da equipe.

O time joga um futebol previsível e já manjado. O comando não vislumbra qualquer mudança de panorama e tem dificuldades de encontrar saídas em situações complicadas. Quando foi a última vez que o Inter de Tite reverteu um resultado adverso? Dizer que os laterais não atacam, e no caso de Marcelo Cordeiro, tampouco defendem, é chover no molhado. Soma-se a isso uma zaga pouquíssimo inspirada, independente de quem estiver escalado. Álvaro, pesado e lento, foi esquentar o banco enquanto Danny passou a ser a salvação da lavoura, a minha inclusive. Ele entrou e sofremos quatro gols em dois jogos em cima dele. A responsabilidade então passou para Sorondo, o melhor zagueiro lesionado do mundo. Ontem, sofremos mais três com ele em campo ao lado de Índio. Já se fala em escalar Bolívar em sua posição de origem, mas alguém acha mesmo que somente isto resolverá o nosso problema? Chegamos no meio campo de Guiñazu. Única e exclusivamente de Guiñazu, pois hoje é somente ele quem joga por ali. E joga muito, se entrega, está no campo inteiro ao mesmo tempo, mas não resolve, nem resolverá, se continuar ao lado de Magrão em evidente inferno astral, Sandro, hoje lesionado, mas há tempos sem conseguir repetir as boas atuações que lhe fizeram titular, Glaydson, cumpridor e não mais que isso, e D’ale que, se não bastasse ter esquecido seu futebol na sala de fisioterapia quando retornava de lesão, é sobrecarregado com a função de encontrar espaços em meio a quatro, cinco zagueiros. Ainda tem Andrezinho. O substituto de todos, pois engana em todas as posições da meia cancha vermelha. Independentemente de quem saia por lesão, suspensão ou angústia na unha, Dézinho, o lamentável décimo segundo titular, está lá, com seus toques laterais e sua velocidade “barricheliana” pronto para fazer coisa nenhuma. Por fim, chegamos ao ataque de um homem só. Nilmar hoje cobra escanteio e corre pra área cabecear. Taison fez uma baita partida contra o MSI no Pacaembu, mas desde lá não produziu nada, Alecsandro parece que só faz gol quando o jogo está morto e Bolaños sofre por ser estrangeiro, pelo menos até sair, SE sair, a naturalização de Sorondo. Ou seja, somos em plenos mês de julho, totalmente dependentes de individualidades, uma vez que o time não joga como equipe há tempos. Porém, se mesmo jogando desta forma estamos flertando com a primeira posição deste Brasileirinhas 2009, onde poderemos chegar com um técnico menos bunda mole na casamata?

A troca de comando urge, não há mais clima, não há mais mobilização e, definitivamente, não há mais paciência. Que esta troca seja feita enquanto o clube ainda habita a ponta da tabela, e, principalmente, enquanto ainda temos opções no mercado. Luxemburgo nem pensar. Não chegamos até aqui para entregar o clube na mão dele e de seus “parceiros”. Sobra Muricy. Um chato, antipático, nada político, reclamão, turrão, chorão e quetais. Mas não o quero para sogro, estou muito bem servido nesta posição. Quero apenas vê-lo conquistar seu quarto (quinto?) nacional consecutivo. Time nós temos para isso, está mais do que provado. E sigo afirmando que não há adversário com mais grupo para erguer este caneco. O líder é o Roth (hahaha), Palmeiras ainda cai na velha história de confiar (até a primeira derrota) no interino, Flamengo e São Paulo não convencem, Cruzeiro quando voltar da Libertadores será tarde, e o mais novo incensado, Corinthians, perdeu para o conhecido e deveras limitado time do grêmio.

Há uma semana do centenário do clássico greNAL, o que esperamos para trocar o comando? Um fiasco no clássico, o fim da teimosia de Carvalho ou um milagre?

Seja qual for a resposta, ela é para ontem!

Saudações Coloradas...

domingo, 12 de julho de 2009

O fim de qualquer coisa.

Por Raphael Castro


Tenho para mim que as pessoas costumam ser inertes em qualquer dimensão de suas vidas. Por exemplo, é assim no trabalho. No namoro. No casamento. Vemos que é difícil a adaptação a qualquer mudança, especialmente quando nos damos conta de que elas, as mudanças, não costumam dar pisca-alerta ou deixar recado para acontecerem. Digo isso, entre outras coisas, porque na semana passada tive um problema técnico (lembram do “boot” da outra coluna? Pois é...) e não consegui mandar o texto que seria publicado. Mas o incrível, e aqui valido a minha tese ali de cima, é que o dito naquele texto valeria integralmente hoje também (somos mesmo uns indolentes irremediáveis quando se trata de dar um jeito na vida...).

Dizia eu...

Pensei, logo após aquela inqualificável finalíssima da Copa Enjeitada, que o time tinha se deixado levar por essa maldita relação “freudiana” que estamos criando com o Corinthians (sim, pois basta vê-los pela frente que só pensamos “naquilo”...); ao contrário de muitos, que viram vontade em campo, não percebi ali nada além de um nervosismo mais adequado a times juvenis. Concluí, então, que não apenas o time se derretia a olho nu, também o fizeram a direção - com o tal do dossiê -, e o técnico (que dava uma impressão um tanto aparvalhada, perdida, e, claro, inerte, na casamata). Bom, o diagnóstico, óbvio, é esse. Seria necessário investigar o(s) porquê(s)...

Seguimos

Agora só se fala em “declínio assustador”, “lomba abaixo”, “crise técnica”, “queda vertiginosa” e quejandos. Pois eu acho que “vertiginosa” é a cara de pau de quem pretende me convencer de que o time simplesmente “desaprendeu”, que o motivo para a atual situação é, apenas, “técnico” ou “tático”. Alto lá: também é; mas não pode ser só. Então tudo dava certo antes com essa forma de jogar, e agora só o que vemos é esse futebolzinho molusco? Então o time ganhou na unha a vaga do Flamengo para as semis da Copa Esotérica e ali tudo já estava errado? Então seguramos o Coxa babando sangue no Couto Pereira e já éramos um time coloidal como agora? Não, não aceito, de jeito nenhum; quem quiser comprar isso pelo valor de face, esteja à vontade, e faça também lista de Natal e deixe dente embaixo do travesseiro. Comigo não cola...

Racional (?)

Ok, admitamos a dificuldade contra times maiores - de resto, já amplamente antecipada por qualquer samambaia que acompanhe e goste de futebol: o que eu quero dizer é que a grande diferença de antes e de agora é...ALMA! Eu sei, nem sempre só a vontade compensa (até porque, se o problema de um clube fosse só “alma”, o time do centro espírita não perdia uma). Mas vejamos: é possível encontrar por aí trocentas dúzias de palpites ao menos interessantes sobre a escalação do time e sobre a postura certa num jogo decisivo. Acho então IM-POS-SÍ-VEL que quem conviva com os caras todo santo dia não saiba quem está melhor, quem poderia render mais em determinada situação, ou, pasmem, o que fazer para mudar um jogo quando a picanha pinga sangue. Nem que seja para fazer como Abel, o Insano, botando 19 atacantes para tentar virar um jogo (bem, mas pelo menos isso ele fazia!). Agora não: assistimos a este futebolzinho enrodilhado, constipado, inexplicável, essa...essa...“crise técnica”! Fala sério...é evidente que isso tem que ter uma razão minimamente plausível – e certamente tem...

A real

Então eu vou cravar: é óbvio que o futebol do Inter não se escafedeu, simplesmente; é óbvio que o treinador não é um bobalhão sem recurso e sem estofo; é óbvio que o esquema precisa ser melhorado; é óbvio que todos sabem o que pode ser feito para voltarmos às boas; é óbvio que essa imobilidade não é ocasional, nem inexplicável; é óbvio que a nossa lateral direita está uma avenida; e é óbvio que tem mais coisa acontecendo no Beira-Rio do que nós sabemos (como diria o meu churrasqueiro, culinário, assador e comilão avô, S.Assis P.Ererê “costela de porco, gosto de porco, gordura de porco...não pode ser fraldinha, né?”).

No more

Resta então esperarmos que não se conformem à modorra neste momento o time, a direção, o técnico, enfim, que não sigam o instinto natural de permanecer confirmando o axioma das avestruzes, segundo o qual, numa crise, nada melhor que um buraquinho (sem trocadalhos, por favor...). O fim anda, assim como a fila deve fazer, caros(as) leitores(as)...

Tópicas: raça (?)

Não faço apologia à violência, mas então o André Santos me levanta o D’Alessandro do chão aos três minutos de jogo em pleno Beira-Rio e ninguém faz nada? Mas pelo menos teve vontade, não é mesmo? (suspiro...).

Tópicas 2: cassandra

Disse e repito: ainda que tenhamos perdido para o Coritiba e passado pelo Flamengo com as calças na mão, pelo menos então havia GARRA - reparem que esta fase medonha começou logo após a derrota para em SP, quando foi unânime a boa atuação e...quando Muricy caiu no São Paulo...será que qualquer “semelhança” terá sido mera “coincidência” neste caso?

Tópicas 3: no “vermelho”

De três competições obrigatórias (pois tem também essa “Copa Mala Sem Alça” no Japão), já se foram duas (CB e Recopa). Já tão devendo...

Tópicas 4: eras

Será que passaremos da “Era Adenor” para “Já era, Adenor”?

Tópicas 5: piadinha

Ótima ideia, também vou lançar uma camiseta: “no máximo quarto lugar de tudo...”

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

quinta-feira, 9 de julho de 2009

(Nem por) Uma noite com a Megan Fox.

Por Gustavo Foster


A temporada recém havia dado as caras e eu – respaldado por muitos comentaristas, colunistas e porteiros – considerava 2009 um ano preza, pois este nos mostraria um dos mais competitivos, brigados, belos e, principalmente, bem jogados campeonatos dos últimos idos.

O Fluminense tinha adicionado à escalação Thiago Neves, que – bom filho que é – à casa tornou, um centroavante de Seleção: Fred e, à casamata, um treinador campeão de Copa do Mundo. No Flamengo, havia O Imperador, ouriçado com a oportunidade de fazer alguns gols no Botafogo enquanto bebe Itaipava. Ronaldo – 20kg adelante, mas ainda Ronaldo – no Corinthians. São Paulo embalado após o tri. Grêmio... Não. Na Azenha ninguém tava empolgado. Mas, enfim. Parecia estar ali o prenúncio de uma temporada empolgante para quem gosta de futebol.

Mas chega julho, o campeonato já está próximo da décima rodada e o que se nota é joga-se mais um facílimo campeonato. Não há grandes times. Os craques não correspondem. E, mais do que nunca, o campeonato está na mão de quem LEVAR A SÉRIO. Quem é o grande jogador, hoje, no Brasil? Penso, agora, nos óbvios Ronaldo e Adriano, no Kleber do Cruzeiro e no Nilmar. Na minha opinião, o último está anos-luz à frente de qualquer outro. Ronaldo, talvez pela INCOMPARABILIDADE com a bola nos pés, esteja no mesmo nível, quando se fala em "resolver jogo".

Ou seja. Em resumo, o que se nota é que há cada vez mais participantes, ao passo que diminui, a passos rápidos, o número de postulantes (sejam eles à Libertadores ou ao título). Quem conseguir UM diferencial pula rapidamente para um grupo de quatro ou cinco times (se não menos), de onde irá sair o campeão brasileiro (e mais uns três participantes da Libertadores – vamos considerar uma zebra aí no meio). E, nessa tocada, vou direto pra conclusão: o Inter não pode vender Nilmar.

Píffero, primeiro rasga esse contrato com o Wolfsburg. Isso, RASGA, e depois escuta.

Os melhores times do Brasil, hoje, são, além do Inter: Cruzeiro, Corinthians, Flamengo, Palmeiras (Obina! Cleiton Xavier!!!) e, vá lá, Grêmio, São Paulo e Santos. Bons times. Algum baita time? Não. E é aí que o Inter se diferencia dos outros.

O Inter, de Lauro a Taison, tem uma equipe muito boa. Uma equipe que fica na média, se comparada às outras do grupo forte, citado anteriormente. Porém, no ataque, há um jogador que faz a diferença. Ali, no finalzinho da escalação, magricela, correndo atrás da bola, tá vendo? Sim. Nilmar coloca o time colorado acima de qualquer outro. O Corinthians é ajeitadinho e tem Ronaldo. O Inter é um belo time e tem Nilmar. O Cruzeiro peca na zaga, mas tem Kleber. O Inter tem uma boa defesa, além de Nilmar.

Tite tem duas possibilidades de ganhar um jogo: a primeira é quando seu time joga melhor que o outro e, com propriedade, ganha. A segunda é, mesmo jogando mal, ver os três pontos acalentaram-se no lar de Adenor e Rose por conta de duas jogadas magistrais de Nilmar. O Inter pode jogar mal, e essa é a diferença.

Ok, é impossível segurar o Nilmar. Ofereceram trezentos milhões de euros, dois iates, uma mansão em Miami e uma noite com a Megan Fox. Colocando Bolaños ou Alecsandro no ataque, o time fica ruim? Não. Mas perde o diferencial, a qualidade que o destaca naquele grupo de quatro ou cinco.

Sem Nilmar, tudo fica muito mais difícil. E, quando o time recuperar a força, talvez seja tarde demais.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Fernando Carvalho é um titã.

Por Daniel Ricci Araújo


Fernando Carvalho é um titã. Foi ele o mentor original desse novo Inter, que cuida de suas categorias de base com o cuidado demonstrado pela mãe dos filhotes quanto a seus rebentos. Foi por sua mão que se pode ter, pela primeira vez, a ideia de um quadro social gigantesco como a saída para clubes brasileiros dependerem um pouco menos da televisão e mais de si mesmos. É ele o condutor sereno deste Inter do século XXI, homem de vestiário, inteligente e educado, conhecedor de futebol como poucos. Sim: Fernando Carvalho é um titã. Mas na semana passada, cometeu um equívoco. Um grande equívoco, eu modestamente diria.

E foi o que bastou pra desencadear contra si uma rotunda e carnívora indignação.

Talvez premido pela circunstância natural, quase instintiva, de que o futebol brasileiro em linhas gerais já não suporta perder com a decisiva ajuda do apito para o Corinthians – o até certo ponto merecido vencedor da final da Copa do Brasil, diga-se de passagem – nosso eterno presidente semeou como uma bomba o dossiê da discórdia, demonstrando os severos, verdadeiros e indesmentíveis erros de arbitragem escandalosos a favor do time paulista. Lances inquestionáveis! Entre eles, um absurdo pênalti não marcado a favor do Vasco no Pacaembu. Uma penalidade ridícula dada em Ronaldo contra o Atlético Paranaense, em São Paulo, e por aí vai. Nem a mídia paulista ignora. Paulo Vinícius Coelho, o modelo de onze entre dez aspirantes a cronista esportivo do país vem falando nisso há quatro, cinco meses.

Ponhamos ainda na conta o segundo gol no Pacaembu contra o Inter, a falta cobrada com a bola andando, o pênalti no início daquele jogo em Alecsandro, duas doses de erros de Tite e um grande trabalho de Mano Menezes e voilá, temos um campeão. Eu sei, eu sei: isso parece conversa de quem quer desnaturar a realidade - o Inter tomou um banho de bola no primeiro tempo no Beira-Rio e não se fala mais nisso. Mas não é bem assim. Nosso time precisa ser apresentado às linhas de fundo do campo, reinventar-se e repensar conceitos, porém Dunga e a arbitragem ajudaram e muito na taça paulista. A título de parecermos mais realistas que o rei, não podemos sonegar a realidade.

Rotulem o dossiê de Carvalho como quiserem: coisa de malandro, manipulador, de intenções duvidosas ou desavergonhado. Só não o chamem de uma coisa: mentiroso. Porque mentiroso ele não é. A acusação foi forte, mas na hora errada. Sua reclamação foi consistente porque apoiada em fatos, não em ideias mirabolantes ou delírios persecutórios, carapuça tão bem vestida por certos clubes brasileiros em outros momentos. O Corinthians reclama de mãos cheias – é notável sua verdadeira propensão a atrair para si não o lance difícil, discutível, a jogada apertada do tira-teima, mas sim o erro de arbitragem escandaloso, aquele que silencia bruscamente o estádio como um golpe do assassino profissional. O roubo de fazer o torcedor querer cortar os pulsos é quase um direito de propriedade do "Timão". Isso é fato, é aritmética básica como dois mais dois são quatro.

E surge então, após a cômoda vitória de quarta passada, a figura taciturna do senhor Andres Sanchez a pedir "providências" contra Fernando Carvalho no Clube dos Treze – como se as culpas do Corinthians devessem ter como instância quaisquer outros lugares que não a Polícia Federal e, talvez, a Interpol. Nos aparece agora, vejam só, o convenientemente ex-amiguinho de Kia Joorabchian, mandalete maior do delinquente iraniano, a bradar contra um dirigente que está para ele como Gisele Bundchen estaria para a Bruxa do 71. Sejamos justamente duros: os postes nem mais despejam suas necessidades nos cachorros. Agora, eles fazem o serviço completo e saem proclamando asneiras a não mais poder.

Mas nosso grande dirigente, que falou as coisas certas em momento indevido, não deve dar a menor pelota ao seu colega de sabe-se lá o quê, porque Andres Sanchez, além de ser presidente do Corinthians, é um solene nada. Uma partícula. Um "homem de poucas luzes", como mesmo disse, um dia depois do jogo, nosso eterno presidente. E é mesmo verdade. Não vale a pena, presidente. Andres Sanchez é e sempre será um antigo mandalete, e Carvalho, um titã.

Todos os clubes que acumularem dezenas de milhares de sócios, daqui em diante, terão em Fernando Carvalho um discreto antecessor, queiram ou não. E Andres Sanchez, legará qual inventário ao futebol? Nenhum. Um depoimento na polícia aqui, uma explicação acolá, e aí está a sua obra.

E por isso não há nada idêntico, comparando-se os dois, que não seja o branco dos olhos de cada um.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Ainda o SE.

Por Thiago Marimon


Imaginem SE, após perder o título da Copa do Brasil, que, apesar de ser uma competição de menor importância, foi bastante desejado, em função das circunstâncias e principalmente em razão do ADVERSÁRIO da final; além de tropeçar em casa no primeiro jogo da disputa pelo bi campeonato da Recopa, tendo a complicada - mas não impossível - missão de reverter o resultado na altitude do Equador, nós estivéssemos hoje com a obrigação de mirar exclusivamente na competição nacional, mesmo estando em uma posição mediana na tabela, trocando dirigentes (e, segundo alguns, uns sopapos com o técnico), fazendo listas de dispensa e sem qualquer perspectiva palpável de crescimento a médio prazo.

Imaginem SE em uma situação hipotética, totalmente imaginária e surreal, no ano do nosso Centenário tivéssemos um elenco de refugos, com jogadores aflorando toda sua lascívia entre seus companheiros, sendo considerado por todos uma vergonha dentro e fora de campo, um exemplo de administração a não ser seguida, com dirigentes metendo a mão no dinheiro das parcerias “escusas” do clube, e ainda lutássemos para não cair, igualando o recorde de derrotas do glorioso Sergipe, passando dez rodadas na lanterna, sem vencer nenhum embate fora de casa, trocando cinco vezes de comando e tendo que comprar jogos em Criciúma para postergar a queda à divisão azul do futebol nacional. E ainda, SE nossa torcida fosse alugada, deslumbrada, com uma rotina de atitudes vergonhosas e condenáveis, com repertório de velório, acreditando em coelhinho da páscoa, mula sem cabeça, Maxi Lopez e imor(t)alidade.

Imaginem, SE um clube como o nosso, tido por muitos como o melhor plantel do Brasil, exemplo de estrutura, não chegasse, nos últimos três anos em sete finais e levantasse seis canecos. Com quase cem mil sócios e diversos parceiros que confiam na gestão do clube e acreditam que injetar receitas em nossos cofres ou usar a vitrine que é hoje o Sport Club Internacional pode render diversos frutos em futuros negócios.

Seria ruim, não é? Me daria uma puta dor de cotovelo, certamente. Como é bom ser Colorado.

Uma protocolar vitória contra o Náutico já serve para amenizar os problemas. Após um mês de junho bizarro, somos novamente líderes do campeonato brasileiro, dois pontos à frente do galo mineiro, com a melhor defesa da competição. Os maiores adversários estão distantes na tabela, o calendário está a nosso favor, temos tudo para abrir uma boa vantagem e refazer aquela gordura que queimamos em função da Copa do Brasil. O Campeonato Brasileiro de pontos corridos premia constância, planejamento e grupo. Três fatores presentes na Padre Cacique. Conhecemos nossas carências, sejam elas de jogadores ou e de comando técnico, mas, uma rápida olhada em nossos adversários mostra que os mesmos defeitos que temos aqui são potencializados acolá. Não há um único clube no campeonato nacional isento de problemas, com um plantel completo, onde os reservas mantenham o desempenho dos titulares e o técnico seja um gênio, isento de erros e tropeços. Neste modelo de pontos corridos só se chega nas cabeças com competência, e, se o teu técnico não for o Sexy Roth, dificilmente, após abrir uma vantagem considerável, seu time irá amarelar e entregar o caneco ao adversário. Os pequenos devem ser o fiel da balança, times grandes deixarão pontos em Recife, no Pacaembu, contra o MSI ou no Mineirão contra o Cruzeiro. E, estes pontos nos já temos. Soma-se a isso o histórico de bom desempenho no Gigante, e um desempenho razoável fora de casa e chegamos na receita para, após trinta anos, voltar a erguer o caneco da maior competição nacional.

O foco agora é o nacional. Estamos muito vivos neste tal de Brasileirão, podem acreditar.

Crise? Não conheço...

Saudações Coloradas.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Hino oficial do secador.

Por Marcelo Benvenutti

Composição: Lupicínio Rodrigues

Adaptação: Marcelo Benvenutti

Pela TV secaremos
Ou até o rádio derreter
Mas o certo é que nos vingaremos
Do Inter sempre nos vencer

Mais de cem anos de história
Perdendo pro Rolo Compressor
Só alcançamos a glória
Quando eles caem do andor

Pela TV secaremos
Ou até o rádio derreter
Mas o certo é que nos vingaremos
Do Inter sempre nos vencer

Nós como bons secadores
E com imenso prazer
Aplaudiremos o inimigo
Que aos colorados vencer

Pela TV secaremos
Ou até o rádio derreter
Mas o certo é que nos vingaremos
Do Inter sempre nos vencer

Gremista secador sem igual
Sabe como ninguém azarar
empre com o mesmo ideal
De ver o Inter desabar

Pela TV secaremos
u até o rádio derreter
Mas o certo é que nos vingaremos
Do Inter sempre nos vencer

Ps.: Danem-se os politicamente corretos. É isso aí, D'Alessandro!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Nós faremos acontecer.

Por Gustavo Foster


Esqueça de tudo. Hoje nada importa, pois o destino já está traçado. Só o que existe são onze jogadores de vermelho dentro de um templo e milhões deles, fora. Alguns, privilegiados, assistirão de camarote o futuro ser desenhado pelas entidades espirituais do futebol.

Foram elas que traçaram esse caminho. Tudo planejado: time consagrado como melhor do país, algumas derrotas, medo, mais derrotas, crise e o três a zero redentor de Bolaños. E é ele, Bolaños, que, com três pontapés certeiros, profetizou a redenção colorada de hoje.

É fim de tarde. Há mais de três horas que você não pensa em nada que não seja vermelho. Abre o armário, procura a camisa vermelha. Alecsandro domina a bola, olha para a direita. Você veste a camisa e desce em direção à parada de ônibus. Na hora exata. O camisa nove visualiza um equatoriano esguio correndo para dentro da área. Passa. Na hora exata. Você já está dentro do ônibus. É possível ver o Gigante há alguns milhares de metros. Você desce. E ouve, ou imagina ouvir, gritos insandecidos de dentro daquele gigante. O passe sai errado, mas Bolaños é rápido. Aproveita-se do erro infantil do zagueiro e chuta. Você para a caminhada.

É hoje, você pensa. Sim. É hoje.

Os gritos parecem agora mais fortes. Você começa a sentir um nervosismo, que se confunde com a tensão, a ansiedade e, principalmente, com a vontade de entrar logo no Beira-Rio. Alecsandro, de novo, vem como uma flecha. Agora você já sabe o que está acontecendo. Compra uma cerveja e sorri. O estreante, vestido com a sete, corre, dessa vez mais rápido. Um gole. O centroavante faz o passe. Você olha para o lado: um ônibus parece conduzir o triplo de sua capacidade. E o canto é ensurdecedor. A bola atravessa o campo como que intocável. Passa pelo goleiro. Por um zagueiro. Dois. E para nos pés do profeta, que, novamente, dá apenas um toque.

Você começa a cantar. Não podemos perder. Você daria a vida por um campeonato, uma taça a mais. O resultado é esse. Dois a zero. Já me serve, você pensa.Uma cerveja nunca pareceu tão boa.

E agora o cenário é cinematográfico. Tudo parece arquitetado para o final que você imagina. Buzinas, brigadianos, cachorro-quente, cambistas, ônibus, o Mac Áurio à frente. Tudo envolto por uma massa densa vermelha. Os cantos são plenamente audíveis. Muitos. Todos eles, ao mesmo tempo, gritados, urrados. E uma cena, como que projetada nos muros do Beira-Rio, começa a ser vista. E você definitivamente pode enxergá-la acontecendo. Giuliano cruza, desajeitado. Você já está correndo em direção ao Beira-Rio. A bola cruza a área. Você se posiciona na fila, ofegante (por cansaço e por ansiedade). O zagueiro corta e a bola, ordinária enviada pelos deuses do futebol, procura Bolaños. Você entra no estádio e olha para a grama: a cena parece ocorrer ali, à sua frente. O equatoriano chuta, a bola entra, três a zero.

Você nunca viu o estádio assim. A fumaça é inacreditável. A altura dos gritos é impossível. O número de pessoas é estupidamente grande. Três a zero. Bolaños já havia feito a profecia. Você, agora, mais do que acredita. Você não tem dúvidas.

Começa o jogo.