quarta-feira, 8 de julho de 2009

Fernando Carvalho é um titã.

Por Daniel Ricci Araújo


Fernando Carvalho é um titã. Foi ele o mentor original desse novo Inter, que cuida de suas categorias de base com o cuidado demonstrado pela mãe dos filhotes quanto a seus rebentos. Foi por sua mão que se pode ter, pela primeira vez, a ideia de um quadro social gigantesco como a saída para clubes brasileiros dependerem um pouco menos da televisão e mais de si mesmos. É ele o condutor sereno deste Inter do século XXI, homem de vestiário, inteligente e educado, conhecedor de futebol como poucos. Sim: Fernando Carvalho é um titã. Mas na semana passada, cometeu um equívoco. Um grande equívoco, eu modestamente diria.

E foi o que bastou pra desencadear contra si uma rotunda e carnívora indignação.

Talvez premido pela circunstância natural, quase instintiva, de que o futebol brasileiro em linhas gerais já não suporta perder com a decisiva ajuda do apito para o Corinthians – o até certo ponto merecido vencedor da final da Copa do Brasil, diga-se de passagem – nosso eterno presidente semeou como uma bomba o dossiê da discórdia, demonstrando os severos, verdadeiros e indesmentíveis erros de arbitragem escandalosos a favor do time paulista. Lances inquestionáveis! Entre eles, um absurdo pênalti não marcado a favor do Vasco no Pacaembu. Uma penalidade ridícula dada em Ronaldo contra o Atlético Paranaense, em São Paulo, e por aí vai. Nem a mídia paulista ignora. Paulo Vinícius Coelho, o modelo de onze entre dez aspirantes a cronista esportivo do país vem falando nisso há quatro, cinco meses.

Ponhamos ainda na conta o segundo gol no Pacaembu contra o Inter, a falta cobrada com a bola andando, o pênalti no início daquele jogo em Alecsandro, duas doses de erros de Tite e um grande trabalho de Mano Menezes e voilá, temos um campeão. Eu sei, eu sei: isso parece conversa de quem quer desnaturar a realidade - o Inter tomou um banho de bola no primeiro tempo no Beira-Rio e não se fala mais nisso. Mas não é bem assim. Nosso time precisa ser apresentado às linhas de fundo do campo, reinventar-se e repensar conceitos, porém Dunga e a arbitragem ajudaram e muito na taça paulista. A título de parecermos mais realistas que o rei, não podemos sonegar a realidade.

Rotulem o dossiê de Carvalho como quiserem: coisa de malandro, manipulador, de intenções duvidosas ou desavergonhado. Só não o chamem de uma coisa: mentiroso. Porque mentiroso ele não é. A acusação foi forte, mas na hora errada. Sua reclamação foi consistente porque apoiada em fatos, não em ideias mirabolantes ou delírios persecutórios, carapuça tão bem vestida por certos clubes brasileiros em outros momentos. O Corinthians reclama de mãos cheias – é notável sua verdadeira propensão a atrair para si não o lance difícil, discutível, a jogada apertada do tira-teima, mas sim o erro de arbitragem escandaloso, aquele que silencia bruscamente o estádio como um golpe do assassino profissional. O roubo de fazer o torcedor querer cortar os pulsos é quase um direito de propriedade do "Timão". Isso é fato, é aritmética básica como dois mais dois são quatro.

E surge então, após a cômoda vitória de quarta passada, a figura taciturna do senhor Andres Sanchez a pedir "providências" contra Fernando Carvalho no Clube dos Treze – como se as culpas do Corinthians devessem ter como instância quaisquer outros lugares que não a Polícia Federal e, talvez, a Interpol. Nos aparece agora, vejam só, o convenientemente ex-amiguinho de Kia Joorabchian, mandalete maior do delinquente iraniano, a bradar contra um dirigente que está para ele como Gisele Bundchen estaria para a Bruxa do 71. Sejamos justamente duros: os postes nem mais despejam suas necessidades nos cachorros. Agora, eles fazem o serviço completo e saem proclamando asneiras a não mais poder.

Mas nosso grande dirigente, que falou as coisas certas em momento indevido, não deve dar a menor pelota ao seu colega de sabe-se lá o quê, porque Andres Sanchez, além de ser presidente do Corinthians, é um solene nada. Uma partícula. Um "homem de poucas luzes", como mesmo disse, um dia depois do jogo, nosso eterno presidente. E é mesmo verdade. Não vale a pena, presidente. Andres Sanchez é e sempre será um antigo mandalete, e Carvalho, um titã.

Todos os clubes que acumularem dezenas de milhares de sócios, daqui em diante, terão em Fernando Carvalho um discreto antecessor, queiram ou não. E Andres Sanchez, legará qual inventário ao futebol? Nenhum. Um depoimento na polícia aqui, uma explicação acolá, e aí está a sua obra.

E por isso não há nada idêntico, comparando-se os dois, que não seja o branco dos olhos de cada um.

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