terça-feira, 14 de julho de 2009

Mudar não mudando.

Por Daniel Ricci Araújo


Já não é mais possível ignorar a realidade. O Inter do primeiro semestre acabou.

O que se viu nas duas últimas derrotas, a acachapante quase goleada para o comuníssimo time da LDU, no Equador, e a derrota de anteontem ante o fraco Atlético Paranaense, foi a última folha de uma partitura que já esgotou sua orquestra. O Inter do losango, da jogada em velocidade letal, o Inter da sensação Taison, essa equipe acabou. Os confrontos com times mais fortes, pressuposto lógico de todo segundo semestre, levaram-nos a outra realidade, seguramente mais dura e áspera.

Como podemos aceitar que a equipe de fábula do início do ano agora não consiga mais trocar cinco passes em sequência? Como o time do esquema 1-1-1, Guina, Nilmar e Papai do Céu, mesmo com todos os seus defeitos, acumulou uma mísera vitória no último mês e, mesmo assim, continua a ser um dos ponteiros da tabela? Apesar de seguirmos tendo um excelente grupo, talvez o melhor do país, um diagnóstico parece quase definitivo: o primeiro semestre nos enganou. E não foi pouco.

Contra as equipes do interior do nosso Estado, muito mais preocupadas em marcar do que propor o jogo, Magrão e Guiñazu conseguiam defender e ir à frente com a quase naturalidade de um Dener em início de carreira. Mas agora, claro, enfrentando equipes de mesmo nível, que precisam ser marcadas, os dois - principalmente Magrão - já nem de perto dão ao ataque a mesma sustentação de qualidade. Levando-se em conta não termos laterais de ofício e o fato de que, em jogos do Inter, as linhas de fundo só são utilizadas pelos quero-queros, era até bastante difícil que a equipe não empacasse. E, de fato, ela parou. Taison é a maior vítima disso, apesar da má fase individual que enfrenta.

Alguém dirá ter sido esse esquema o responsável pela vitória na Sul-Americana, ou quase isso. Mas como conquistamos aquela taça? Apesar da vitória em La Plata, com muitas, tremendas dificuldades. Reconheçamos, já é consenso geral: o esquema tático exauriu. Ele não proporciona jogo pelos lados do campo, dá pouca ou quase nenhuma opção a quem conduz a bola e, agora, além de ser insípido ofensivamente, virou uma peneira. Só nos últimos dois jogos tomamos seis gols.

A imensa maioria da torcida colorada rosna, bufa, esperneia contra Tite, e pede sua saída. Mas isso seria como resolver metade do problema e dar as costas à outra parte. Trocá-lo por quem? Muricy Ramalho – que esse ano implodiu o time do São Paulo com requintes de crueldade – para mais um revival? O ótimo ex-técnico Wanderley Luxemburgo? Alguém de um nível abaixo, como Geninho ou, hoje em dia, Parreira?

Tudo está nas mãos da direção. O que é melhor: romper com o bom trabalho de Tite, mas que precisa urgentemente ser repensado, ou ter com ele uma conversa séria e, se necessário, respaldá-lo para mandar alguns figurões direto para o banco de reservas, sem escalas? Aparar arestas ou botar todo o prédio abaixo?

Muitas vezes preservar as coisas boas é mais fácil do que as construir novamente. E quem sabe esteja na hora de o Inter, mais uma vez, mudar não mudando.

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