terça-feira, 21 de julho de 2009

Revolução.

Por Daniel Ricci Araújo


Tomara que essa crônica venha ao mundo solenemente morta.

Sinceramente, quero muito acordar nessa terça-feira, abrir a porta do principal diário noticioso do Rio Grande do Sul e ler que a revolução está em marcha. O café fumegante, um pedaço de pão torrado e a manchete definitiva: "Tite muda tudo", "Do jeito que estava não dava mais, afirma o comandante colorado". Ainda: "Carvalho: o Inter vai jogar muito mais daqui em diante, podem apostar". Coisa fantástica, animadora: às 7 horas da manhã cá estou eu em meio a uma pequena Queda da Bastilha futebolística. Ah, que maravilha seria o meu café da manhã com essas manchetes! Mudanças, mudanças, mudanças!

No entanto, nos acostumemos à modorra. Acho que o assunto desse texto continuará sendo atual hoje. Nada vai mudar no time.

Mais uma vez, a surrada novidade do Inter deste 21 de julho 2009 será o fato de que, infelizmente, não haverá qualquer novidade. A falta de mudanças reais, me parece, será a sequência do discurso de vestiário na perturbadora derrota de anteontem perante a comum equipe gremista. O time desconhece os lados do campo? Que coisa. Taison desapareceu? Azar. Kléber desacelera como um elefante antes de chegar à linha divisória do gramado? Não há problema: o Inter empilha más atuações e nada muda, nada pende para um lado ou outro, tudo se conserva escandalosa e assustadoramente igual. O Inter baba, ronca, e se contém em sua própria letargia como um ancião mal humorado e inconveniente.

Ora, vejamos: termina o vexatório clássico do último domingo e a primeira coisa que se vê é Fernando Carvalho, o grande presidente de sempre, sair aos microfones com a inadequada obstinação de um orador ateniense, pronto para defender o ancient regime reinante: "não muda nada! Nada!", vocifera o insigne vulto vivo. Mais do mesmo, infelizmente. Depois da derrota na Copa do Brasil, tudo continuaria como antes. Veio a perda da Recopa e continuamos adormecidos, o time cai a olhos vistos, tudo persiste igual. A equipe entrega o Gre-Nal no Olímpico mais vencível dos últimos anos e adivinhem? Nada muda!

As únicas coisas inéditas no Inter são as tolices. Taison, o pessimamente orientado Taison, que não vem jogando nada vezes nada, afirma agora que só pode ser criticado por quem jogou futebol. Imaginem a cena: desaba um prédio inteiro em Capão da Canoa e só engenheiros e arquitetos estão habilitados a procurar culpados e investigar os motivos. Um bebum toma o pileque derradeiro: ai do sóbrio que o jogue porta afora do bar. Tite arremata, após o clássico, que agora é hora de "ter cabelo no peito", e imagino é que aí vem uma nova contratação: Tony Ramos, auxiliar técnico - ou lateral-esquerdo, quem sabe corra mais que Kléber.

O Inter não precisa de pelo no peito, Tite. Chega de frases. O Inter necessita de ideias simples: jogadas pela linha de fundo, estabilidade defensiva e medalhões em má fase no banco. Coisas corriqueiras e pontuais que podem acontecer em qualquer time de futebol. Cem mil sócios não bastam, contratações milionárias não bastam, fama internacional não basta. Do mais reles mendigo ao maior milionário, o mandamento universal é o mesmo: sentar em cima dos louros é o começo do fim. E o Inter parece estar adormecido neles.

Nosso time enfrenta hoje, 21 de julho de 2009, talvez sem saber o início de sua encruzilhada particular. Ou se contenta com uma extraordinária realidade teórica enquanto conta número de sócios e reais entrando no caixa, ou sacode a poeira e começa a fazer brotar do chão o seu renascimento. O Inter do primeiro semestre morreu, e um novo precisa surgir. Na vida costuma ser bom olhar o todo em detrimento do hoje, mas no caso do Inter, as estatísticas de 2009, enquanto mais repetidas forem, mais continuarão contando uma fábula, uma história que já passou e que agora precisa ser reescrita. O Inter não precisa de cabelos no peito, Tite.

O que está faltando mesmo é iniciar uma revolução.

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