segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Uh, Fernandão!

Por Thiago Marimon

Final de uma clássica tarde de domingo. O relógio aponta quase 18:30h e mais de trinta mil almas vermelhas rumam ao Beira Rio. A minha foi calma, sangue doce total. Já passei da fase de me estressar em jogo de futebol. Entro mudo, saio calado, quanto menos gente me incomodar, melhor. É difícil se empolgar com este time do Tite, mas as lamúrias infinitas da mal acostumada torcida vermelha também irritam. Assim sendo, escolhi o fone de ouvido como companhia e sigo indo ao estádio. É o que sempre faço quando estou em Porto Alegre em dia de jogo. Não será este Pastor de camiseta cor de vinho que há cem jogos comanda o Inter que irá me tolher este prazer.

Para variar, um pequeno atraso. Ainda descia do T5 na José de Alencar quando Marquinhos, para loucura do narrador que me berrava nos ouvidos, fez o primeiro gol aos cinco minutos da etapa inicial. Golaço que eu só pude confirmar em casa, vendo o VT. Apertei o passo, mas não o suficiente. Já enxergava o Gigante ao fundo, com a bandeira à meio mastro pelo morte do ex presidente Gildo Russowsky quando o segundo urro toma conta da Padre Cacique. Era Fernandão e sua sina de dar alegrias à massa vermelha. O Capitão de 2006 sobe para dividir uma bola de cabeça junto com Magrão e, fazendo uso desproporcional da força, acerta o meio campo colorado. O juiz não pensa duas vezes e o faz sair de campo prematuramente, certamente mais encabulado pela torcida que o aplaudia freneticamente do que irritado com a injusta expulsão. Uh, Fernandão!, grita a massa. Ainda antes de ingressar no estádio, ao subir a rampa que dá acesso às cadeiras pares, o terceiro urro. Era o capitão, dessa vez o nosso, não o outro. Guiñazu guardava o segundo gol colorado. Capitão por capitão, eu sou mais o meu.

Já acomodado no estádio, eu finalmente estava vendo aquilo que o narrador me contava pelos fones. O Inter amassava o Goiás, que com um jogador a menos e sem um volante dando proteção à zaga (que foi sacado para a entrada de F9), apenas se defendia, e mal. Eller jogando o futebol que jogava quando deixou o Beira Rio e por alguns momentos fazendo às vezes de lateral esquerdo. Giuliano bom na armação e perigoso na conclusão e a mais nova cria do Celeiro de Ases, Marquinhos, destruindo com o jogo. O time de vermelho finalmente jogava pelos lados, ora com o esforçado Danilo, ora com o selecionável Kleber, enchendo os olhos de todos, até mesmo daqueles com menos esperanças e paciência com o time pastoril, como eu.

A esta altura, a euforia desmedida era quase inevitável, quase. Pois, para quem já viu ao vivo o Inter sair ganhando por dois gols de diferença, em casa, contra Fluminense, SPFW e Barueri, para depois complicar o jogo, canja de galinha e um pé atrás nunca são demais. Porém, para nossa alegria, assim como Fernandão não foi o Fernandão de sempre, Adenor também não foi aquele que conhecemos. E, mesmo vencendo por dois gols de diferença, Tite, o homem que dorme com a luz acesa pois tem medo do escuro, manteve o time no ataque. O que se viu no segundo tempo foi um vareio. Giuliano jogou muito e mereceu seu gol, assim como Kleber que completou o escore com um golaço. O placar marcava quatro tentos a zero, mas se marcasse seis, sete, ninguém haveria de discordar, tamanha a superioridade alvirrubra frente à equipe do centro oeste. Pedrito de Quixeramobim não entrou em campo e a única chance real de gol do time esmeraldino saiu de uma cabeçada que passou rente ao poste direito de Lauro, e só.

E foi mais ou menos assim que no final de tarde dos festejados medalhões Campeões Mundiais, foi a gurizada colorada quem fez a festa.

Alguns dirão que ganhamos do Goiás, mas é esse mesmo Goiás o segundo colocado no Nacional. Um dos times de melhor campanha, no acumulado, desde que o brasileirinhas passou ser disputado na forma de pontos corridos. A superioridade vermelha perante o vice-líder da competição cada vez mais corrobora a minha tese de que não há franco favorito. E me irrita profundamente ver que temos time de sobra para levantar este caneco, mesmo achando que, com Tite na casamata, isto é pouco provável.

Quarta-feira, todos ao Gigante, em busca do simbólico título do turno para seguir no vácuo do Palmeiras, que com Muricy no banco, Diego Souza na meia e agora Vagner Love no ataque, é o único time que pode nos separar do caneco... vai ter que dar, vai ter que dar.

Sim, eu sou bipolar.

Saudações Coloradas...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Tirem as crianças da sala.

Por Daniel Ricci Araújo


Ouçam a escandalosa notícia: a CBF nossa de cada dia quer agora proibir a multidão de crianças na entrada do time no Beira-Rio, e de quebra, ao que parece, punir o Inter por isso.

Chega a ser algo simbólico: as ricas e alvas crianças não caíram nos bons olhos da CBF. Elas atrapalham o início dos jogos, imaginam os altos dirigentes, mesmo não havendo qualquer registro de problemas em súmulas, mesmo nunca tendo ouvido-se falar de qualquer reclamação nesse sentido. Mesmo assim, com sua invulgar definição de conveniência do show, afirma-nos a CBF a necessidade de concretizar a sentença cruel: tirem as crianças da sala agora mesmo. Tudo pela organização, e salve-salve os jogos às dez horas da noite nas quartas-feiras.

Sem mandar recado ou fazer consulta prévia, a dona de fato e de direito do futebol tupiniquim portou-se como a velha autoritária de sempre: oficiou ao STJD a respeito do crime hediondo que vem sendo cometido no Beira-Rio, e a este seu outro braço casmurro pediu providências, imagino eu urgentes, urgentíssimas. Seja o que Deus ou o Procurador-Geral quiserem. Remeta-se e cumpra-se. Nunca se viu tamanha bazófia. A proibição chega a ser simbólica, repito. É quase uma licença poética para falar do quando essa entidade representa de ruim para o Brasil.

De fato, a CBF é uma madrasta ditatorial e má. Muito má. Um anacronismo da época do Brasil dos Sarneys, dos ACM´s, dos tenentes-governantes os quais, a tanto custo, a consciência nacional ainda tenta expurgar de sua história. Mas não é fácil banir essa gente de seu escafandro de arremedos administrativos. O fato de que uma entidade privada possua com mão rigorosa de ditadura pessoal e intransferível os destinos do maior elemento cultural brasileiro e, ainda por cima, faça dele – e com ele – o que bem entenda não encontra séria oposição, a não ser a de um punhado de intelectuais país afora, encarnados numa resistência tão enérgica quanto impotente.

Mas voltando às nossas crianças, registremos que a “governança corporativa” da CBF não se restringe às primeiras faixas etárias da existência. Relembremos: por uma convocação egoísta e irresponsável, o time do Inter foi destroçado na final da Copa do Brasil por um proverbial senhor de meia idade chamado Dunga. Chancelado plenamente por sua madrasta obscura, o treinador pavio curto da Seleção tratou de operar sem anestesia as pernas do Inter na hora mais pontual e importante do ano. Enquanto o roliço atacante decisivo do Corinthians estufava nossas redes, Nilmar passeava na África do Sul, garantindo o seu futuro e o dos seus netos enquanto aqui, do outro lado do Atlântico o seu empregador, verdadeiro palhaço de circo que religiosamente o pagava todo mês chafurdava na lama de mais uma conquista corintiana – cheia de erros de arbitragem, quase sempre coincidentemente a seu favor.

Alguém me cutuca e afirma que este desabafo deveria dar lugar a uma lamúria queixosa contra o mau momento do Inter. Reconheço: as duas derrotas seguidas foram péssimas, mas não dou a mão à palmatória. Dos últimos cinco gols marcados pelo Corinthians, quatro foram ilegais. Semana passada, analisando o único campeonato de futebol da história da civilização que teve onze jogos anulados, os Desembargadores de São Paulo não acharam prova de crime algum. No momento derradeiro no qual não poderia desfalcar ninguém, Dunga levou Nilmar embora e mandou o Inter às favas. E agora, para completar o circo, um ou outro jornalista da imprensa paulista pede ao o Inter que pare de “chorar” e se concentre em jogar futebol. Realmente, por vias tortas a CBF está certa. O mundo virou de cabeça para baixo.

O melhor a fazer é mesmo tirar as crianças da sala.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Parabéns, Rubinho...

Por Thiago Marimon


Para quem ainda sonha em sair da longa fila, já balzaquiana, que nos separa do caneco da maior competição nacional (abraço, Zveiter) este final de semana foi um balde de água fria. Novamente, diante de um adversário mais qualificado, o futebol burocrático e pouco objetivo do time treinado por Tite sucumbiu diante de uma equipe bem armada. Já havia sido assim contra MSI, Flamengo e Recreativo Porto alegrense. Repetiu-se no sábado.

Um time para ser campeão tem que flutuar ali entre sete e nove derrotas, nós emplacamos a sexta neste sábado, contra três do líder Palmeiras, e ainda temos dezenove jogos pela frente. Diria que passar incólume por um turno inteiro é impossível, não fosse o feito insuperável da equipe campeão invicta em 79. Logo, restando provado que não é impossível igualar o feito, atesto ser bastante improvável. Perder apenas duas ou três partidas para um time que almeja o título deveria ser o foco, mas não é uma realidade para o time pastoril e modorrento de Adenor.

Carvalho não está tão incrédulo quanto eu. O homem aposta nos reforços, Edu e Eller, quem sabe Cléber Santana, além dos retornos de D’ale e Magrão. Eu já ando apostando na mega-sena, pois creio que as chances de dar certo são maiores. Falta ímpeto a este time do Inter, e certamente esta ausência não fica explícita quando é lido o nome dos onze titulares. Jogadores qualificados, rodados e de grande capacidade técnica. O inferno é que o locutor teima em desmanchar nossas pretensões ao anunciar em alto e bom som o nome do entregador de coletes. Diante do plantel, estrutura e torcida do Sport Club Internacional, só me resta afirmar que reside ali, na casamata colorada, sob uma camisa cor de vinho, o nosso problema.

O futebol Barricheliano do Inter de Tite não empolga, tem pouco carisma, não tem pinta de campeão. A toalha só não é jogada pois nenhum outro postulante ao título empolga. Tanto é que se a Virgem Maria descer à Terra e o Inter finalmente bater o Santos fora de casa no meio da semana, aliado a uma vitória contra o esquete Rothiano no Beira Rio lotado da outra quarta, novamente vamos para as cabeças, finalmente com o mesmo número de jogos dos outros concorrentes.

Por hora só nos resta esperar e torcer por uma considerável melhora. Se até o Rubinho vence um GP, quem sabe o Adenor não se empolga. Que venha a maldição do Santos na Vila.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Falta transparência no Inter.

Por Andreas Müller


Agora o boato é de que Sandro será vendido. Dirigentes do Inter e representantes do Grupo Sonda negam tudo. Dizem que o jogador recebeu apenas sondagens. Uma pena. No Inter desta década, negar a contratação ou venda de qualquer jogador é uma espécie de rito oficial que precede a confirmação de boatos. Daí que, se for mantida a escrita, Sandro está oficialmente vendido. Ontem, aliás, ele apareceu no Beira Rio lesionado. Uniram os pontos? Pois é, eu também acho.

Que o Inter precisa vender jogadores, todo mundo sabe, concorda e assina embaixo. A venda de jogadores é e sempre será a principal fonte de renda do clube. E se podemos vender um volante por abissais R$ 37 milhões, então que assim seja, amém. Mas basta analisar o contexto para se chegar a uma indigesta constatação: há, neste Inter, uma estranha e incontida sanha vendedora. O Inter, meus amigos, vende demais. Mais do que precisa. Mais do que deveria.

Desde 2006, o Inter é o clube que mais exporta jogadores em toda a América Latina, segundo este levantamento (clique para abrir). Nesse período, a venda de talentos como Renan, Alex e Nilmar gerou uma receita bruta de 141,4 milhões de dólares. Lógico que nem todo esse dinheiro parou nos cofres colorados. Mas não é preciso colocar na ponta do lápis para saber que esse valor é altíssimo. Para se ter uma ideia: o São Paulo, referência do Inter para quase tudo que diz respeito a gestão de futebol, exportou 62,3 milhões de dólares – menos da metade do exportado pelo Inter – nos últimos três anos.

Se a venda de Sandro for confirmada, o Inter poderá fechar o ano com um superávit de quase R$ 50 milhões, uma enormidade. Eu, como colorado e conselheiro do clube, fico muito feliz. Mas ao mesmo tempo sou acossado por uma maldita pulga atrás do meu lóbulo auricular: o que será feito com todo esse dinheiro? E mais: para quê o Inter precisa de um superávit tão monstruoso? Ninguém sabe – a não ser, é claro, os próprios responsáveis pelas negociações. E aí está o grande problema que acomete o Inter desta década: a falta de transparência.

Se o Inter precisa vender, ótimo, que venda. Mas nós, torcedores colorados, temos o direito de saber os porquês. Estamos poupando para bancar o projeto “Gigante Para Sempre”? Estamos juntando dinheiro para formar um grande time? É certo que a diretoria do Inter tem excelentes motivos para justificar vendas de tão alto quilate. Mas esses motivos precisam chegar ao torcedor. Ou, pelo menos, aos conselheiros. Algo está errado quando um clube obtém um “lucro” milionário e nada é dito sobre o que será feito com o dinheiro.

Aliás, seria de muito bom tom se a diretoria do Inter afinasse melhor seu discurso. Há tempos que o Inter mantém o hábito de vender bem mais do que “um jogador por ano”. Em 2006, logo depois de conquistar a Libertadores, perdemos Sobis, Tinga e Bolivar. Em 2007, Fabiano Eller, Ceará e Alexandre Pato. Em 2008, foram embora Renan, Iarley e Fernandão. Agora, em 2009, já despachamos Edinho, Alex e Nilmar. Será que o Sandro também vai?

A prática é bem diferente da retórica colorada do "um jogador por ano". Está na hora de os dirigentes assumirem que ter 100 mil sócios não alterou em nada a política de vendas do Inter. E que, para manter as contas em dia, o clube precisa se desfazer não de um, mas de três jogadores por ano. Transparência, vocês sabem, sempre cai bem.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O futebol é simples.

Por Daniel Ricci Araújo


O futebol é simples.

Discutiram-se inúmeras hipóteses catastróficas para o desalentado Inter do negro junho/julho. Havíamos alcançado o fim de um ciclo, diziam uns. Faltava raça, bradavam um tanto quanto simploriamente outros tantos. Aqui e acolá, formigavam ideias e teses sobre a falta de pulso do vestiário, as noitadas alheias, as orgias alcoólicas e algo mais. O não retorno de Fernandão, imerso nesse caldo de cultura baixo nível, acabou sendo a senha para o desespero da massa.

Mas a verdade, pelo menos a minha verdade, é que o Inter começou a aprumar-se de volta na coletiva pós-jogo contra o Botafogo. Lembram?

Ora, convenhamos: Fernando Carvalho não é um homem de meias medidas, muito menos de meias palavras. Apesar de transparecer uma intrínseca afabilidade de advogado matreiro, o que o Presidente diz está mais dito que numa Convenção da ONU, registre-se e cumpra-se. E foi ali, naquele momento, após a derrota soturna no Rio de Janeiro, que se sentiu pela primeira vez a voz da ebulição saindo de sua garganta com o poder revolucionário das grandes decisões. Ora bolas, dramatizemos o grande presidente ainda mais: após perder para o Botafogo, Fernando Carvalho, anunciando dois ou três decretos, bradou a primeira estrofe do hino do tetracampeonato.

E então imaginamos que após a cólera dirigencial viriam medidas inéditas, desconhecidas e bombásticas, inimaginadas até pelo mais atilado expert futebolístico? Não, por favor. Seguiu-se, dali em diante, uma romaria de mudanças preconizadas por quase todos os colorados, desde os mais tenros habitantes do berçário do Mãe de Deus até o s residentes no João XXIII. A massa pedia quase sempre a mesma coisa, porque os fatos do campo são claros e, fora uma ou outra opinião mais enfeitada, o torcedor é inteligente e vê o mesmo.

Primeiro de tudo: o Inter adotou um centroavante. No Gauchão, Taison e Nilmar faziam o que bem entendiam com as defesas a golpes agudos de velocidade. Mas no Brasileirão, Guinãzu e Magrão não conseguiam apoiá-los com a mesma força, e os dois mais se desencontravam pela vastidão do campo do que se reuniam para estufar as redes adversárias. O Inter atacava pouco, e mal. A fixação de Alecsandro no time devolveu-nos a estatura, a força, o enfrentamento de área: o Inter agora faz gol de cabeça e de bola parada.

Continuando a catalogar as mudanças, sejamos francos: estava na hora de o bravo Magrão ceder seu lugar no time. Fisicamente mal, lento e sem o mesmo poder de marcação, o necessário vai-e-vem frenético do meio-campo estava prejudicado. Na altura de seus pueris dezenove anos, Giuliano tem disposição, bom jogo e com confiança em alta dará cada vez mais resultado. A nova dinâmica do Inter está mais fluída com sua presença, e Cléber Santana, se vier, já tem no mínimo uma sombra, senão um grande concorrente no grupo.

E para finalizar, falemos de Kleber. Por favor, reconheçamos: nos últimos vinte dias, Kleber estreou no Inter. O lateral de Seleção, ao fim e ao cabo, está em Porto Alegre, e vai à linha de fundo, e cruza, e mete lançamentos de cinquenta metros à la Gérson, da nossa intermediária, uma coisa de louco. Por fim, aí está o grande jogador, o investimento de três dígitos por mês justificando-se plenamente. Aí está a qualidade esperada do boleiro diferenciado, e que sabe ser necessário jogar mais e melhor, pertinho de Dunga, para ir à África do Sul. O Inter ganha e muito com essa inesperada aterrissagem nos pagos, com quatro meses de atraso.

Então, somando e diminuindo, o que fez o Inter? Sem falar na fixação de Bolívar onde ele é ótimo, na zaga (não é, Tite?), somente investiu em uma formação de ataque mais tradicional, deu espaço a um jovem jogador e reabilitou algo tão necessário quanto antes esquecido: a jogada pela linha de fundo. Três coisas comuns, mas essenciais, três tipos de medida que vários treinadores do mundo tomam, todos os dias, seja no Real Madrid ou no Arimateia FC. Não foi necessário criar um seminário internacional para debater a crise. O convencional funciona, e como.

E agora lá vai o Inter, rumo ao Tetra. Camisa nove na área, cruzamento, pegada no meio e taça no armário. Essas coisas simples e boas do futebol.

Mas que cobram um tremendo preço quando são esquecidas.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O 3-5-2 é o caminho (mesmo fingindo que não).

Por Gustavo Foster


Escrevo esse texto com certo receio. Não tenho certeza se devo dedicar uma coluna diária ao maior segredo do Beira-Rio. Segredo guardado por trás de entrevistas, escalações, Bolívar com a camisa 2: o Internacional joga num 3-5-2. Como aquele primo que foi preso por posse de drogas e hoje senta na ponta da mesa, na ceia de Natal, o assunto não é abordado.

Como que por medo do "esquema chama-derrota", no papel o time de Tite joga com Kleber na mesma linha de Bolívar, com Giuliano e Andrezinho compartilhando a armação de jogadas. Mas, ao apito do juiz, fica claro que não há dois zagueiros apenas. Giuliano não é um meia armador. Kleber está, no mínimo, 30 metros à frente dos zagueiros.

Dessa maneira (e, por favor, não "por consequência do título no Japão"), o grupo organiza-se, e Tite (que pode ser tudo – e é, sim, muita coisa – , menos burro) monta, às escondidas, um time que joga no esquema detestado por todos, desde todo o sempre. Mas não conta pra ninguém.

Bolívar sempre foi zagueiro. Fala isso seguidamente, em entrevistas (sempre que tem a chance, na realidade) e demonstra em campo. Como lateral, é fraco. Atuando na zaga, é excelente. Ponto para o 3-5-2, que levou o General para o lado de Índio e Sorondo. Dois stoppers e um zagueiro de sobra, e o problema da zaga, se não foi sanado, está demonstrando melhoras.

No meio de campo, vemos Sandro salvaguardando a zaga como ninguém. Diz-se por aí que é o melhor volante desde Falcão / Batista. Não vi eles jogarem, me desculpem. Mas vi Sandro. Guinazu atua mais avançado (ou, se preferirem, em todos os lugares do campo) e Andrezinho é o 10 clássico. Pelos lados, a maior e mais eficiente mudança do time. Pela esquerda, Kleber comprova o que já se sabia, mas muitos duvidavam: é um exímio ala. Com lançamentos preciosos, ajuda muito o ataque quando não precisa se preocupar tanto com a defesa. É o pé esquerdo mais preciso do grupo colorado.

E, pela direita, há o ala-direito, vejam só. Quem ocupa essa função? Giuliano afirma que nunca tinha jogado assim. Mas, em contrapartida, foi escolhido o craque do último jogo. Jogando ali, como ala-direito. Bolívar perde grande parte de sua angústia, ao não ter que ir à linha de fundo. Giuliano utiliza seu passe qualificado, sua velocidade, seu folêgo e sua habilidade para produzir todas as jogadas pelo lado direito.

Na frente, Taison e Alecsandro entram e deixam a grande área, numa movimentação intensa, o que confere mais oportunidades de lançamento. Além disso, por almejar os lados, o time tende a lançar bolas altas na área. E lá há Alecsandro, um ótimo cabeceador e finalizador. De fora, há um Taison em má fase, mas que certamente não desaprendeu a chutar.

Em resumo, o Internacional joga, hoje – e pode-se perceber isso no jogo contra o fraco Sport – , num 3-5-2 muito bem armado. Os grandes problemas (como falta de segurança na zaga, ausência de jogadas pelo lado direito, o abismo entre zaga e ataque, a solidão dos três da frente) parecem ter suas resoluções no novo esquema colorado. E ele é três-cinco-dois.

Mas não contem pra ninguém.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Atualidades Coloradas.

Por Daniel Ricci Araújo


Como diria Jack, o Estripador (e sem contar o resultado de ontem, seja ele qual tenha sido), hoje vamos por partes.

Fernandão enlouqueceu – No bom sentido, é claro. O eterno Capitão América, vendo frustrada sua legítima pretensão de voltar ao Inter, disparou verbalmente com a fúria de uma de suas antigas cabeçadas letais contra a direção colorada. O grande ídolo errou, mas Fernandão poderia cometer mais um milhão de equívocos e tudo estaria bem. A sua volta ao Inter ocorrerá, mas não mais com calção e chuteiras. Para completar sua trajetória no clube, Fernando Lúcio da Costa será nosso presidente, assim como Beckenbauer foi do Bayern. Quem viver, verá.

Walter vem aí – Abro o jornal de ontem e deparo-me com a grande notícia: falta pouco para a maior promessa das categorias de base do Inter desde Alexandre Pato voltar a treinar com bola. A explosão muscular, o arranque felino, o chute feroz, mortal, encorpado, tudo isso são atributos inatos de Walter como a beleza está inscrita na genética da aspirante a misse. Quando estiver pronto, as únicas coisas que o separarão da titularidade serão quatro ou cinco jogos de sequência, e mais ele não precisará. O Inter tem um diamante bruto nas mãos. Poli-lo é sua obrigação.

Sonda pra cá, Sonda pra lá – Delcyr Sonda, o famoso capitalista colorado, virou o argumento delirante dos despossuídos de investidor. Com Sonda é mais fácil, nos falta um Sonda, babam os desmemoriados ex-beneficiados do seu patriarca Gerdau. É evidente que atualmente a importância do especulador futebolístico aumentou, mas também não é menos verdade ser o Inter, talvez junto com o São Paulo, o clube brasileiro mais atraente para esse tipo de negócio. Além do mais, nossas categorias de base continuam criando mercadorias de primeiro mundo, que despejam dinheiro a rodo nos nossos cofres. Vejam o caso de Nilmar: o Inter conseguiu lucrar duas vezes com ele, em 2004 e agora. É de se tirar o chapeu.

Contratação arrasa-quarteirão – Está faltando, mas talvez nem necessitemos dela. Considero Edu e Fabiano Eller bons negócios, mas eles não são, por exemplo, um Ricardo Oliveira, um Lúcio, um Riquelme, vá lá. Mas confesso que o sequestro de Nilmar para a Copa das Confederações abriu-me a seguinte certeza: estar dependente de jogadores convocáveis – já que a CBF anda para os clubes – pode ocasionar uma tragédia como a ocorrida com o Inter. Há outras razões, claro, mas se Nilmar não fosse fazer hora na África do Sul, seríamos agora campeões da Copa do Brasil. O ótimo jogador sem chances na Seleção pode, no momento decisivo, fazer os gols que o craque famoso não poderá marcar.

É Suruga neles – Por que fazer beicinho para a Taça Suruga? É caça-níquel? É. Não tem muito sentido técnico? Não tem. Mas é competição internacional, referendada pela Conmebol, e vale taça. Só de levantar cedinho da manhã para ver o Inter jogar no Japão já valeu, e muito. Vai ver a carranca alheia se deu por causa disso... Secar às sete horas da manhã? Haja paciência.

Alguém vai nos derrubar? – Por último, o fato é impressionante. Três rodadas parados e só perdemos duas posições na última delas, e ainda assim após muito esforço alheio. Os pessimistas alertavam que voltaríamos a território brasileiro em décimo lugar. Muito bem, aí está o Inter sendo mantido em cima da tabela por alguma força oculta, imaginemos nós. Quem será que nos tira dali? Pelo que tenho visto dos outros times desse campeonato, se bobear, só nós mesmos.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Tempo de despertar.

Por Thiago Marimon


Uma desgastante viagem ao outro lado do mundo para disputar uma Copa de menor expressão é ruim. Pior que isso só voltar de mãos, e bolsos, vazios. Não foi o caso. Atravessamos o mundo e faturamos o caneco da suruga nipônica, além de uns preciosos níqueis. Pois bem, agora bola para frente, é tempo de despertar.

Hoje à noite temos a chance de soterrar os alardados efeitos negativos desta pausa e mostrar que ela pode sim ser usada como trunfo. Como se alguém apertasse o botão vermelho e impusesse uma parada emergencial, capaz de fazer emergir do fundo do poço o esquecido futebol e o irritante estado anímico do vestiário colorado. Quando da ida para o Japão a equipe como em um passe de mágica havia desaprendido, do dia para a noite, a jogar aquele futebol que encantou torcida e imprensa no primeiro semestre. Magrão estava de saída, D’alessandro afastado do grupo principal e Tite e seu discurso sustentado por um fio de cabelo de Fernando Carvalho.

Quase quinze dias se passaram desde nosso último embate pelo Brasileirinhas 2009, naquela chorada vitória contra o tradicionalíssimo time do Barueri, o highlander tupiniquim da rodada. De lá para cá, muita coisa aconteceu, principalmente nos bastidores do futebol. Carvalho berra aos quatro cantos que chacoalhou o vestiário, Edu, o ilustre desconhecido, desembarcou na Padre Cacique afirmando jogar em todas as posições do meio para a frente sob o aval daqueles que acompanham o futebol espanhol. O que não é meu caso. Eller provavelmente desembarca amanhã para concretizar o retorno ao clube que lhe elevou ao grau de Campeão Mundial. Torço para que ele traga de volta o mesmo futebol que apresentou na sua última visita ao Beira Rio, ano passado, quando o seu Santos venceu o Inter pelo placar mínimo e Eller foi o dono da zaga paulista. Veremos. Há ainda, entre os mais cotados, o flerte com Cléber Santana e um lateral direito minimamente descente e não improvisado, além do garoto Caíque, destaque do bugre campineiro pela série B. Soma-se a isso as desejadas saídas de Álvaro, ainda sem destino certo, e de Leandrão que vai desfilar todo seu garbo e elegância na terra de Caê. Que vão pela sombra estes dois, assim como Fernandão, que após um ataque de guri mimado assinou com o Goiás, alegando não ter sido “tratado como merecia”. Ah pára, tchê.

Chegadas e despedidas feitas, novamente o foco volta-se para a competição que realmente importa, a qual aguardamos na fila há trinta anos. A posição que nos encontramos na tabela, mesmo com duas rodadas de atraso, corrobora a impressão que tenho deste campeonato. O equilíbrio é evidente. Porém, equilíbrio não quer dizer necessariamente dificuldade. Ao acompanhar o desenrolar das rodadas nota-se que uma equipe organizada, com um algo mais que lhe destaque dos demais, leva este caneco sem fazer muita força. E hoje vejo apenas duas equipes com este algo mais. O Inter, pela amostragem do primeiro semestre, APESAR do entregador de coletes e o Palmeiras, justamente EM FUNÇÃO do entregador de coletes. Uma pitada de devaneios, esperança, e um simulador nas mãos demonstram que uma vitória do galo mineiro contra o Palmeiras, em Minas, aliada à uma embalada colorada neste jogos que restam para o fim do turno nos colocam novamente na ponta da tabela, vivos na luta por este caneco. Duas rodadas atrás da maioria dos adversários, mas ainda assim flertando com o topo da tabela.

O campeonato nacional (re)começa logo mais, às 21h no Gigante. O despertador soa seu irritante tom repetitivo. Que o Colorado erga-se de seu sono em berço esplêndido. Pois é, da fato, tempo de despertar.

Saudações Coloradas...

Chocha – mas necessária...

Por Raphael Castro


A metade do Centenário já é história e o que temos para mostrar até agora são o Gauchão e a Copa-De-Nome-Engraçado. Aliás, que fique claro: pessoalmente, acho que o Inter tem que entrar para ganhar em todas as competições de que participa; não me importa se é palitinho, par ou ímpar, jogo do osso, Brasileirão ou Mundial FIFA. Entrou, tem que vencer. Nesse aspecto, já que havia um joguinho “ganha-pataca” do outro lado do mundo em plena disputa do Brasileirão, o mínimo que nos cabia era a vitória. E ganhamos. Gostei? Óbvio. Comemorei? Não. Tão simples quanto isso...

Segue-se

O esclarecimento acima tem razão de ser porque houve uma certa confusão entre a conveniência da disputa da Suruga (nenhuma) com a seriedade com que esta deveria ter sido encarada (total – v. acima); é meio chato ter que explicar, mas vá lá: este escriba disse – e mantém! – que queria mesmo ganhar essa Copa-de-Japonês; ora, se inventam coisa pra disputar e nos botam numa dessa, é evidente, tem que ir lá pra vencer. Agora, achar que isso é uma grande coisa já são outros quinhentos – tanto que não vi nenhum colorado exatamente “emocionado” com a “conquista” (que valeu mais pela grana, pela divulgação do nome do Inter lá fora e pela prova de profissionalismo). Mas ok, entendo que isto possa atiçar os instintos mais primitivos de gente que gosta de comemorar vaga, passagem de fase, liderança de turno, vitória em jogo, desobstrução de intestino e por aí afora...

Daqui em diante...

Assim, descontada a diverticulite mental do pessoal do parágrafo anterior, agora temos que nos concentrar só no Brasileiro, quase comprometido que está em função do tsunami de junho e julho; desta vez, parece que a direção se antecipou e foi buscar reposições interessantes ainda antes da janela do meio do ano – salvo pelo lateral-direito, cáspita, que ninguém consegue achar. Outro aspecto interessante é ver o encaminhamento dado para resolver de uma vez por todas os problemas que nos ferraram há dois meses: aparentemente, quem não tem mais clima se vai, e quem fica se enquadrou. Melhor assim; tivemos a inominável oportunidade de ainda ficar entre os quatro primeiros mesmo com dois jogos de atraso, de guaiaca forrada e o ambiente, ao que tudo indica, devidamente esterilizado. Agora não tem mais desculpa, temos que correr atrás desse Brasileiro de qualquer jeito (como diria o meu estilista, estilizado, arrojado e prático avô, S.Assis P.Ererê, “com chiripá costurado, chega de poncho improvisado...”).

Tópicas: Fernando(s)

Parece-me que houve neste episódio o popular “passa lá em casa um dia desses...”; mas daí a gerar o chilique e a repercussão vistos durante a semana, há uma oceânica diferença...

Tópicas 2: ironia

Podíamos fazer camisetas com a frase “não, não gostamos de ídolos” – aí quem sabe os patrulheiros de plantão nos deixassem em paz...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sete razões para acreditar no Tetra.

Por Daniel Ricci Araújo

No último mês de julho, a torcida colorada viveu sua via-crúcis. Após um primeiro semestre de euforia mas com final decepcionante, a tempestade do meio do ano abateu-se perante a massa, e não era para menos. Agora, no entanto, já há motivos para ser otimista. O Inter não está atrás de nenhum time brasileiro, e o tetra é uma realidade possível. Vamos aos porquês.

1) O Inter sobreviveu ao junho/julho nefasto – Claro que não foi como nós queríamos, pois a Recopa e a Copa do Brasil escaparam. Claro que experimentamos o menu completo a ser servido após derrotas como essas: indignação, frustração, comentários de bastidores a rodo e pedidos de demissão. Mas o fato é que o Inter resistiu à intempérie, e dá sinais de ter sobrevivido à blitz que sobre ele se abateu. A letargia está sendo espanada para fora de casa e, mais cedo ou mais tarde, vai embora definitivamente.

2) O Inter revisou alguns conceitos – A saída de Nilmar, a tortos caminhos, fez o Inter jogar com centroavante, e isso é ótimo, quase imprescindível. Ainda, Magrão perdeu lugar cativo, Taison não é mais titular absoluto, D’Alessandro está passando por uma providencial reciclagem e Kleber agora, vejam só, até vai à linha de fundo fazer cruzamentos. As peças defeituosas da equipe começaram sim a sofrer algumas revisões.

3) Fernando Carvalho assumiu – Mais do que nunca, e talvez com algum atraso, Fernando Carvalho demonstrou a todos sua atuação forte e enérgica, reparando arestas e tomando providências as quais ache necessárias. No meio da semana passada, o Inter já tinha ido a campo com outra cara, mais disposição, mesmo ainda faltando um melhor futebol. O vestiário começa a fazer efeito. Fernando Carvalho, sem dúvida, é um de seus maiores protagonistas dessa mudança nascente.

4) Não vamos despencar na tabela – Apesar de estar com um jogo a menos, continuamos dentro da zona da Libertadores, e na volta do Japão faremos dois jogos em casa. Temos tudo para continuar a poucos pontos do líder.

5) Todos têm seus problemas – O SPFC só agora começa a recuperar-se. O Palmeiras não é uma grande equipe e corre o risco de ser trucidado pela janela de agosto. Grêmio e Cruzeiro possuem bons times, mas nenhum superior ao Inter, e com deficiências pontuais definidas, tanto como nós. Atlético-MG, Vitória e Goiás terão fôlego para acompanhar os ponteiros? O Inter, nesse campeonato, não deve nada a ninguém.

6) Contratações, por que não? – Píffero pode estar fechando com Cléber Santana, um excelente jogador. Noticia-se a especulação de Ricardo Oliveira, e o Inter, com dinheiro no bolso, certamente está engatilhando contratações que representem acréscimo de qualidade ao time. Apesar de ter perdido o grande Nilmar (ai de ti que não o convoque agora, Dunga, ai de ti!), não há time, nesse país, tão apto a contratar mais e melhor durante a malfadada janela.

7) Torcida semper fi – A massa colorada briga quando tem que brigar, mas já está recompondo-se e pronta para jogar junto de novo. O campeonato é longo, muito longo, e com o passar do tempo o clima melhorará – é questão de dias para que o Beira-Rio volte a rugir. A torcida cobra porque sabe do que esse grupo é capaz. Mostrando raça e um mínimo padrão de jogo, o Gigante virará, como sempre, um inferno para os adversários.

Como se vê, ainda há tempo e razões de sobra para, mais uma vez, acreditar piamente no Inter.