segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O futebol é simples.

Por Daniel Ricci Araújo


O futebol é simples.

Discutiram-se inúmeras hipóteses catastróficas para o desalentado Inter do negro junho/julho. Havíamos alcançado o fim de um ciclo, diziam uns. Faltava raça, bradavam um tanto quanto simploriamente outros tantos. Aqui e acolá, formigavam ideias e teses sobre a falta de pulso do vestiário, as noitadas alheias, as orgias alcoólicas e algo mais. O não retorno de Fernandão, imerso nesse caldo de cultura baixo nível, acabou sendo a senha para o desespero da massa.

Mas a verdade, pelo menos a minha verdade, é que o Inter começou a aprumar-se de volta na coletiva pós-jogo contra o Botafogo. Lembram?

Ora, convenhamos: Fernando Carvalho não é um homem de meias medidas, muito menos de meias palavras. Apesar de transparecer uma intrínseca afabilidade de advogado matreiro, o que o Presidente diz está mais dito que numa Convenção da ONU, registre-se e cumpra-se. E foi ali, naquele momento, após a derrota soturna no Rio de Janeiro, que se sentiu pela primeira vez a voz da ebulição saindo de sua garganta com o poder revolucionário das grandes decisões. Ora bolas, dramatizemos o grande presidente ainda mais: após perder para o Botafogo, Fernando Carvalho, anunciando dois ou três decretos, bradou a primeira estrofe do hino do tetracampeonato.

E então imaginamos que após a cólera dirigencial viriam medidas inéditas, desconhecidas e bombásticas, inimaginadas até pelo mais atilado expert futebolístico? Não, por favor. Seguiu-se, dali em diante, uma romaria de mudanças preconizadas por quase todos os colorados, desde os mais tenros habitantes do berçário do Mãe de Deus até o s residentes no João XXIII. A massa pedia quase sempre a mesma coisa, porque os fatos do campo são claros e, fora uma ou outra opinião mais enfeitada, o torcedor é inteligente e vê o mesmo.

Primeiro de tudo: o Inter adotou um centroavante. No Gauchão, Taison e Nilmar faziam o que bem entendiam com as defesas a golpes agudos de velocidade. Mas no Brasileirão, Guinãzu e Magrão não conseguiam apoiá-los com a mesma força, e os dois mais se desencontravam pela vastidão do campo do que se reuniam para estufar as redes adversárias. O Inter atacava pouco, e mal. A fixação de Alecsandro no time devolveu-nos a estatura, a força, o enfrentamento de área: o Inter agora faz gol de cabeça e de bola parada.

Continuando a catalogar as mudanças, sejamos francos: estava na hora de o bravo Magrão ceder seu lugar no time. Fisicamente mal, lento e sem o mesmo poder de marcação, o necessário vai-e-vem frenético do meio-campo estava prejudicado. Na altura de seus pueris dezenove anos, Giuliano tem disposição, bom jogo e com confiança em alta dará cada vez mais resultado. A nova dinâmica do Inter está mais fluída com sua presença, e Cléber Santana, se vier, já tem no mínimo uma sombra, senão um grande concorrente no grupo.

E para finalizar, falemos de Kleber. Por favor, reconheçamos: nos últimos vinte dias, Kleber estreou no Inter. O lateral de Seleção, ao fim e ao cabo, está em Porto Alegre, e vai à linha de fundo, e cruza, e mete lançamentos de cinquenta metros à la Gérson, da nossa intermediária, uma coisa de louco. Por fim, aí está o grande jogador, o investimento de três dígitos por mês justificando-se plenamente. Aí está a qualidade esperada do boleiro diferenciado, e que sabe ser necessário jogar mais e melhor, pertinho de Dunga, para ir à África do Sul. O Inter ganha e muito com essa inesperada aterrissagem nos pagos, com quatro meses de atraso.

Então, somando e diminuindo, o que fez o Inter? Sem falar na fixação de Bolívar onde ele é ótimo, na zaga (não é, Tite?), somente investiu em uma formação de ataque mais tradicional, deu espaço a um jovem jogador e reabilitou algo tão necessário quanto antes esquecido: a jogada pela linha de fundo. Três coisas comuns, mas essenciais, três tipos de medida que vários treinadores do mundo tomam, todos os dias, seja no Real Madrid ou no Arimateia FC. Não foi necessário criar um seminário internacional para debater a crise. O convencional funciona, e como.

E agora lá vai o Inter, rumo ao Tetra. Camisa nove na área, cruzamento, pegada no meio e taça no armário. Essas coisas simples e boas do futebol.

Mas que cobram um tremendo preço quando são esquecidas.

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