quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Não quero Sulamericana.

Por Gustavo Foster

Larguem a Sulamericana. Ponham os reservas do time B.

Ou melhor, poupem os reservas do time B, para que eles possam jogar caso algum volante se machuque ou seja vendido. Para que, depois, não tenhamos que usar o Maycon no time titular. Sendo assim, inventem um Inter C e coloquem-no em campo contra a Universidad de Chile. E contra os próximos times, caso passemos de fase. (E passaremos, todos hão de convir).

Mas não seria muito interessante ter na sala de troféus mais um vindo do exterior? A princípio, sim. Olhando para o passado recente, a resposta fica menos fácil. Uma interpretação pode dar conta do desgaste dos jogadores, da divisão de atenção, das viagens estafantes e do calendário apertado. Meus argumentos não se baseiam muito nesse tipo de reclamação, apesar de consistente. Jogar duas competições por óbvio cansa mais e apresenta mais de um alvo, o que dificulta o foco. Desde o conhecimento popular, tira-se que “é melhor fazer um bem feito do que dois pela metade”. E a probabilidade indica isso.

Meu medo recai menos nisso e mais no discurso ensaiado dos dirigentes. Desde o começo do ano, impulsionados pela empolgação do Centenário, palavras de confiança são gritadas de cima do morro. Fiéis – cem mil deles – respondem positivamente. Todos, em uníssono (diretoria, imprensa e torcida), acreditavam que, cem anos após ser fundado, o Internacional tinha chance de vencer os grandes campeonatos que disputaria.

Não havia singular. Quantos campeonatos vamos disputar? Xis? Ganharemos xis mais um. Tudo é o mínimo. Só que não é bem assim.

Esquecemos de combinar com o Palmeiras, com o Corinthians, com o São Paulo, com o Goiás, com o Tit... Com o Grêmio, com o Atlético Mineiro. Se o time do Inter era bom, os outros não eram desprezíves. E o Inter ganhou Gauchão, Copa Suruga, a Copa do Brasil era só questão de tempo. Perdemos.

“Ah, mas somos o único time brasileiro a ganhar um título internacional no ano”, falaram. Sim, eles se referiam a Copa Suruga: “E ainda temos o Brasileirão, no qual entramos como favoritos!”

De fato, continuamos favoritos, faltando menos de 12 rodadas. Estamos a alguns pontos do primeiro colocado, perto inclusive de sair do G4. Mas somos, ainda sim, um dos principais candidatos. Mas aí surge a Copa Sulamericana. No momento em que não vencemos há alguns jogos, caímos duas posições, o Palmeiras se isola na liderança, surge a Competição Tapa-Buraco da vez.

E já aviso de antemão, dirigentes: eu não quero a Sulamericana. Se vier, legal. Mas não faço a menor questão. O que eu quero mesmo é o título que importa, o do Campeonato Brasileiro.

Aliás, só pra vocês não falarem que ninguém avisou: todos já sabem das desculpas. Cansaço, muitas competições ao mesmo tempo, venda de jogadores, erros da arbitragem. Vão entrar pelo direito e sair pelo ouvido esquerdo.

Temos o campeonato nas mãos (mesmo que já tenhamos estado mais perto), nenhum time da ponta parece ter força para chegar ao final com vantagem considerável.

Nós queremos o Brasileirão. E Sulamericana não é Brasileirão.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Levanta, colorado!

Por Andreas Müller


Ergue a cabeça e respira fundo: chegou a tua vez de ser o elo forte do Internacional.

Chega de lamentações. Elas não têm mais nenhuma serventia. Chega de críticas. O momento de fazê-las já passou. É preciso assumir uma nova postura. A postura da mobilização. Da superação. O Internacional está há pouco mais de dez rodadas de um título difícil, mas alcançável. Ainda temos chances – é preciso aproveitá-las.

O time tem problemas? Sim, tem. E não é só o time. A comissão técnica tem claras limitações. A direção, então, cometeu neste ano os mesmos erros que cometera em 2007 e 2008, especialmente na condução da janela de agosto. Tudo isso é verdade inquestionável.

Mas agora já foi, meu amigo! Já passou! Azar!

Não adianta mais tirar a casca das feridas. É preciso erguer a cabeça e ir à luta com o que temos. Com o que restou. E tu, torcedor colorado, tens um papel fundamental nessa batalha: tu precisas ajudar o Inter a reunir forças na reta final deste Brasileirão.

Guarda tuas críticas, por hora. Se perdermos o título, tu terás todo o tempo do mundo para fazê-las. Deixa o pessimismo em casa. Ninguém jamais conquistou nada pensando no pior. Levanta, colorado! Levanta! Ergue a cabeça, bota a tua camiseta vermelha e vai pro estádio! Grita, cruza os dedos, reza e chora de emoção: faz a tua parte!

Chegou a tua hora de ser forte, colorado. A tua hora de carregar o Inter nas costas. Mantém a fé. Acredita no imponderável. Torce pelo impossível. Dá uma chance ao Inter, colorado! Dá uma chance para o teu sonho. Faz tua parte para voltarmos ao posto que sempre foi nosso: o de campeão brasileiro.

Levanta, colorado! Levanta contigo o teu pai, os teus irmãos e os teus amigos. Levanta contigo uma nação colorada. É hora de tu começares a reação que marcará para sempre a centenária história do Sport Club Internacional. Só assim conseguiremos chegar lá. Só assim! Ergue a cabeça e respeira fundo: é a tua hora de ser o responsável pela glória maior do teu clube. Só tua e de mais ninguém.

Domingo, às 16h, no Beira Rio: a TUA reação começa lá.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Vamos confiar no imponderável.

Por Daniel Ricci Araújo


Convenhamos: sábado, quando Tite substitui o apático D’Alessandro para colocar o menino Vagner Líbano no time, pouco nos restava a não ser levantar-nos da poltrona e ir procurar outra coisa para fazer. Nada contra o jovem atleta, que um dia pode tornar-se um jogadoraço, mas esse é o tipo de medida a qual, na hora da maior gravidade do jogo, o treinador do time grande não pode tomar.

Assim, no sábado à noite restava-nos somente beber e assimilar a fria certeza de que o treinador do Inter, na hora de reverter o terrível resultado negativo, na hora de lançar à frente um possante candidato ao título havia feito de um jovem e desconhecido a primeira opção para começar desfazer o escore adverso. É preciso marcar gols, lançar-se ao ataque? Calma. Só depois a promessa Marquinhos, só depois Edu. Primeiro, Vagner Líbano.

Mas aí vem o domingo e, no meio do desânimo, acontece o imponderável. Ou melhor, o mesmo se repete.

Em primeiro lugar, vamos e venhamos: mês passado, ninguém em sã consciência imaginaria que o Inter iria até o outro lado do mundo para jogar a Copa Suruga e voltaria dela ainda na zona da Libertadores. A crítica especializada bramia: ”sexto! Nono! Cinco pontos atrás, no mínimo! Cinco pontos!!”. Ah, meus caros, a crônica especializada babava – e se estrebuchava lamuriosa como a vaca a ser servida no churrasco de domingo.

Dos mais comuns aos menos esperados, resultados favoráveis empilhavam-se como contêineres no porto de Santos para manter o Inter no grupo dos quatro primeiros, e dali não saíamos. Era algo notável, o que ocorria. Tamanha coincidência de escores chegava a ser empolgante, e depois de percorrer o globo inteiro na ida e na volta, o Inter retornava ao solo pátrio ainda dentro da faixa da Libertadores. O imponderável atacava. Observem: atualmente, não há time que perca três, quatro jogos e não despenque na tabela como um meteoro desgovernado. O Inter, não. O Inter foi ao extremo oriente, voltou e, mesmo sem pontuar, sua situação quase não mudara. É um grande discreto, esse imponderável.

Mas voltemos, como eu dizia, ao domingo. Então, para completar o justo pessimismo instalado na véspera, não havia colorado que não pressentisse um massacre do São Paulo no pobre Santo André. O jogo era tão escandalosamente propício ao tricolor paulista que o adversário mudara o local da surra já anunciada para Ribeirão Preto, e não se lhe importava jogar, na prática, como visitante em um campo repleto de são-paulinos. O Santo André queria mesmo era encher os bolsos com a renda, e de fato os deve ter repleto. De brinde, empatou o jogo e levou um ponto na tabela.

O resultado de igualdade surpreendeu a todos, e pior: no segundo tempo, o São Paulo parece que jogava com as pernas amarradas umas nas outras. Por muito pouco não perde. E aí eu lhes pergunto: como não acreditar no título quando o São Paulo, ora, o temido São Paulo não consegue ganhar do Santo André para tornar-se líder e nunca mais sair da ponta, nunca mais, nem que o mundo acabasse, como novamente repetia e bocejava toda a massa pensante da crônica especializada? Como não resistir à tentação de seguir acreditando se temos algo como a milésima pior campanha do returno e, mesmo assim, continuamos somente um ponto atrás do líder, que na quarta-feira encara uma pedreira das piores no Mineirão?

Por isso, meus caros, eu digo: o futebol do time está ruim, mas a mística vai a pleno vapor. Vamos confiar no imponderável.

Na próxima vez que Tite sacar D’Alessandro para pôr um Vagner Líbano, talvez só ele possa de novo nos salvar.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Que não me façam torcer pelo Mano...

Por Thiago Marimon


Seria mais um ano de remake. Mais um 2006, 2007, 2008... como queiram. Mais um ano de um bom time Colorado deixando escorrer por entre os dedos o caneco do Brasileirinhas, assistindo a um time despontar na tabela. Seria, talvez, não fosse a fragilidade dos atuais ponteiros da tabela. Palmeiras, São Paulo e Inter não animam. Fosse algum deles mais atinado, já teria aberto dois meses de vantagem na ponta e estaria disputando a 26ª rodada com os juvenis. Mas não, os principais favoritos ao caneco patinam, derrapam, ao ponto de, após golear o lanterna, qualquer time mais ou menos já enche a boca para falar em título, liderança e quetais. Bem feito, culpa do triunvirato inconstante da ponta da tabela.

O Inter vai pra Salvador e dá o título do Gauchão pro Vitória. São Paulo sem força pra bater o velho conhecido e louco para cair Santo André, jogando praticamente em casa. E o Palmeiras, que ainda não jogou, eu duvido que bata o Cruzeiro em Minas no jogo que a Globo mudou para quarta. Quem gosta disso são os mortos vivos da parte debaixo. Enquanto os da frente trupicam, eles vêm chegando. No embalo que vai, se bobear, terminamos o ano torcendo pelo MSI do Mano ficar entre os quatro e nos dar uma beira na Libertadores de 2010. Inadmissível. É tão bom ver o MSI perder.

Zagueiros lamentam gols de bola parada, Fernando Carvalho fala que a projeção de pontos necessários para erguer o caneco vai cair, Piffero brada aos alto-falantes que altos e baixos são normais, e nesta toada vamos jogando pontos pelo ralo. Quarta feira já tem Sulamiranda novamente, mais um jogo valendo bananas contra um velho ilustre desconhecido. Quando esta competição finalmente esquentar, a partir das semifinais, eu quero estar tão animado com o título do nacional para poder me dar ao luxo de entrar com os reservas.

Mas para isso precisamos acertar alguns, se não todos, os ponteiros. Já desisti de ver o Pastor cair. Para isso acontecer, só com um grande desastre na Padre Cacique. Mas minha vontade de ver o Pastor fora não é tão grande a ponto de desejar isso. Só quero um time que faça o simples. D’alessandro e Andrezinho juntos vem dando errado desde nossa primeira derrota no ano, lá nos confins, contra o poderoso Rondon United, pela primeira rodada da Copa do Brasil. Quando parece que a equipe encaixou no famigerado 3-5-2, Adenor muda tudo. Perde uma peça para a maldita seleção da CBF e resolve mudar todo esquema que até então vinha dando certo. Trava o futebol de Kleber na ponta esquerda, embola o meio campo e finge acreditar que Alecsandro pode ser Nilmar.

A torcida não entende, a diretoria também não, a imprensa muito menos. A solução não poderia estar mais na moda. Percebendo a desconfiança geral em cima de seu trabalho, Tite, o Adenor, lança um DVD para esclarecer a todos, inclusive, pasmem, aos adversários, a forma com que o SEU time joga. Para ser um completo palhaço, só falta voar.

Alex, aquele traste, que faz falta, vai embora. Nilmar, e por último Magrão também pegam seu rumo. Enquanto isso, não temos um lateral direito no time. Danilo Silva é esforçado, nada mais que isso. Corre bem, tenta apoiar, sem a bola é um Garrincha, com ela é um, um... Danilo Silva. A zaga vira, mexe, muda, e segue furando. Lá se vão nove derrotas, onde o normal é o campeão ter quatro, cinco, em todo o campeonato.

E o mais é incrível é que, apesar de tudo isso, não está difícil de levar este caneco. Na pior, mas bem pior mesmo, das hipóteses, classificar para a Libertadores, mas, para isso, por favor, não me façam torcer pelo time do Mano...

Saudações Coloradas...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Naipe de metais.

Por Marcelo Benvenutti

Eu entendo tanto de jogar futebol quanto tocar um instrumento musical. Se tivesse fôlego e paciência teria sido um pouco mais que esforçado zagueiro que se perderia em um campo de interior qualquer. Se tivesse paciência tentaria aprender a tocar bateria como se deve e pelo menos poderia me divertir sem destruir os ouvidos alheios fazendo isso. Tanto em uma atividade quanto na outra não seria mais que mediano. Mas nada me impede de divagar tanto sobre música quanto sobre futebol.

Numa equipe de futebol os volantes e os zagueiros funcionam como a bateria. Os zagueiros fazem a parede por trás para que os volantes estabeleçam o ritmo. O ritmo é importante, óbvio, e quando o baterista atrasa ou adianta a música até mesmo os ouvidos menos sensíveis notam a diferença. Se atravessarem a música, o erro é escancarado, todos gritam. O baterista não é de nada. O volante saiu na hora errada. O zagueiro estava atrasado. Adiantado. Deu o lado. Marcou a bola e esqueceu o avante adversário. Todos sentem o ritmo. Todos dançam. Mas se o baterista, o zagueiro ou os volantes errarem, a falha é evidente e grotesca.

O goleiro e os atacantes, tanto um quanto os outros, trabalham como vocalistas, ensimesmados com suas entonações próprias, trejeitos e loucuras. Atacante e goleiro são o começo e o fim. Não existe meio termo. São heróis ou bandidos. O resto da banda pode dar um instrumental de fundo maravilhoso, mas se o vocalista sair com uma vozinha esganiçada, fora de ritmo, desafinada, todos irão notar. Ao contrário, se o vocalista conquista o público, nem mesmo as desafinadas são notadas. Ele é o herói. o que faz o gol decisivo aos 45 do segundo tempo depois de ficar a partida inteira sem tocar na bola ou defende a bola indefensável que salva o time mesmo depois de levar dois perus.

O guitarrista, assim como o armador, ou o meia de ligação, que pode ser o guitarra-base, esse nem tão notado, mas muitas vezes essencial, são os que floreiam o meio campo. Os que conduzem o ritmo, dão a deixa para as entradas do vocal e quando sobra uma brecha inserem seus solos que podem ser intermináveis e brochantes como também épicos e virtuosos. Uma equipe pode muito bem atuar sem um guitarrista solo de grandes virtudes. Pode se contentar apenas coma base pesada e determinada para dar sustentação à música. É o de menos. O erro do guitarrista só é explícito quando ele sola. Se ele não se arrisca, não erra. Por isso muitas vezes é mais fácil admirar aquele que só toca pros lados.

Pensei sobre quem seria o baixista e notadamente o baixista é aquele sujeito esquisito que fica perto do baterista e nem aparece. Aliás, a maioria das pessoas nem nota que ele toca. Ou nem nota que existe o som contrabaixo. Mas existe. O jogador que faz a ligação, seja ele lateral, meio campo ou atacante. Ele não erra. Parece fácil o que ele faz. Só parece. Assim como parece ser fácil ser o Paul McCartney. Só parece. Talvez seja a função fácil mais difícil de todas. A mais inglória e menos glamourosa. E o baixista se perde nas funções emparedado entre os agudos da guitarra e o peso das baquetas nos ouvidos alheios.

Claro que estamos falando de uma formação clássica de um conjunto musical de rock. Mas quando a formação torna-se extra-classe, quando ela necessita de algo a mais. Quando ela precisa de uma evidente alteração em suas bases e aceleração nos batimentos cardíacos e dançantes de seus ouvintes, ela necessita de um naipe de metais. Trompete, sax e trombone. Aquela quebrada certa no momento certo que faz o povo se levantar. Que abre as defesas mais fechadas. Introduza um naipe na maioria das bandas, as que tocam algo que preste, obviamente, e escutarão o salto de qualidade em seus ouvidos. Ao vivo, então, torna-se covardia. O público, embasbacado, muitas vezes até paralisa, vidrado, com o som que dança em volta dos cabelos, da cabeça, das pernas. Um naipe de metais, me arrisco, é capaz de salvar uma música ruim. Basta que seja bem executado.

O Internacional se descobriu nos últimos jogos exatamente porque abriu a caixa de instrumentos e liberou o naipe. O naipe estava fechado, guardado na lateral-esquerda, sem chances de entrar em qualquer brecha das músicas, até que o compositor vislumbrou que ali, naquela brecha, cabia um som. Naquela brecha, também conhecida como lateral do campo, linha de fundo ou infiltração pelas pontas, cabia um naipe de metais. O naipe libera os outros setores e faz a música engrenar. O compositor, ou maestro, que seja aquele que concebeu a música, também conhecido como o treinador, tem o crédito de ter melhorado o desempenho do show e agradado a platéia. Portanto, não é lógico que depois de lançado o single ele nos prive de escutar o álbum completo. Tite, libera o Kleber!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Quem não sabe por que ganha, não sabe por que perde.

Por Gustavo Foster


O jogo já estava nos seus últimos 15, 20 minutos. O Inter perdia por 3x2, após sair ganhando, tomar a virada e empatar novamente. A torcida equilibrava-se em um mútuo de apoio incondiocional e irritação profunda. Tite observa atônito à beira do campo seu time perder a chance de chegar à liderança. Havia ainda uma substituição, a cartada final, o último suspiro de esparança naquele entrave de noventa minutos. Nossa última chance. Glaydson. Tite olha para o grupo de jogadores e chama o volante Glaydson.

O Inter da retomada jogava num esquema que parecia funcionar. E Tite parece não ter percebido isso. Ao substituir o selecionável Giuliano por Magrão, mantendo dois volantes à frente de Sandro, liberando Danilo e ilhando D’Alessandro em meio a uma horda de volantes, nosso treinador modificou tudo que vinha dando certo. Ou ele não entendeu o que vinha dando certo ou não quis ganhar.

As peças mais importantes no time, hoje, são os alas, mesmo que eles sejam falsos alas. Kleber pela esquerda e Giuliano fazem o time jogar. Contra o Cruzeiro, jogamos sem metade dessa dupla. Sem jogadas pela direita, foi mais fácil anular o lado esquerdo. E D’Alessandro zanzava no samba do crioulo doido, tentando encontrar alguém para jogar com ele.

A solução? Bolaños é o jogador que mais se assemelha à função exercida por Giuliano. Pode atuar no flanco, fazendo a ligação entre os volantes e o ataque, sem sobrecarregar o camisa 10, seja ele quem for. Magrão até pode fazer isso, mas precariamente. Andrezinho é um meio campista central. Não tem velocidade para jogar pelo lado.

No último jogo, Tite poderia ter usado da criatividade. D’Alessandro tem a característica de cair para as laterais. Sua la boba, rente à linha de fundo, já rendeu centenas de gols de cabeça. O um-dois com Alecsandro, caindo para a quina da área, é mortal. Sendo assim, por que não passar D’Alessandro para o lado do campo, com Kleber do outro lado, e tirar Sandro para a entrada de Andrezinho, no meio, como camisa 10? Seria ousado? Seria. Provavelmente Tite ouviria críticas, havia a chance de dar errado. Era uma aposta.

E Tite tem medo de apostar. Prefere um empate maçante do que uma vitória perigosa.

Mas, óquei, estamos na reta final do Campeonato. Críticas agora são pouco úteis. Temos que ganhar, de qualquer forma. Nem que seja com um treinador que destroi um esquema vencedor como quem chuta um castelo de areia e muda de opinião após dois gritos de “Marquinhos, Marquinhos".

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Gilberto fez o que quis.

Por Daniel Ricci Araújo


Na semana passada, mais precisamente no domingo, o bom time do Cruzeiro já tinha sofrido uma derrota imerecida para o São Paulo, nosso inimigo número um na briga pelo título. Para mim, que vi praticamente o jogo inteiro, uma coisa tinha ficado clara, límpida e incontestável quanto a beleza estonteante da Megan Fox: para jogar contra o Cruzeiro, era preciso marcar Gilberto. Fazendo isso, metade dos nosso problemas estariam resolvidos.

Mas se há uma coisa a qual o Inter não fez, ontem, na derrota para o Cruzeiro, foi marcar o bendito Gilberto.

Já tinha sido assim na derrota para o Corinthians, coisa de uns vinte, trinta dias atrás. Lembram de Jorge Henrique, o inconfundível baixinho bom de bola do meio-campo alvinegro? Pintou e bordou a noite toda, livre, leve e solto pelo campo. Até gol fez – impedido, é verdade, no melhor estilo corintiano de ganhar um jogo -, mas pior do que isso foi a liberdade que lhe foi dada durante os noventa minutos.

Quando o Inter vai encarar um bom time de futebol, em seus domínios, parece que se toma de uma soberba inconsciente: é simplesmente inadmissível que o treinador do Inter – de novo – tenha assistido de braços cruzados a um jogador adversário ser o grande protagonista do jogo e não fazer nada a respeito. Antes, foi Jorge Henrique; ontem, Gilberto. Jogaram mais à vontade do que china em galpão de peão, como se diz no interior. E foram os principais responsáveis por seus times terem saído do Beira-Rio com três pontos. Só Tite não viu.

Alguém lerá essas linhas e provavelmente me chamará de simplista, querendo imputar a derrota a um fato isolado. Não é o caso. O Cruzeiro mereceu a vitória porque se portou como um time grande deve sempre se portar fora de casa: jogando, “metiendo y metiendo”, como diriam os argentinos, e não engalfinhado atrás, esperando a sorte grande que invariavelmente não vem.

Mas pelo menos ofensivamente, não nos enganemos: o Inter fez muito boa partida ontem. Especialmente no primeiro tempo a equipe fluiu, teve contundência, um pênalti escandaloso não marcado e jogadas de “dois-um” por ambos os lados do campo. Se contabilizarmos isso tudo aos dois gols que fizemos, mais as chances de gols e a bola na trave, ninguém poderá dizer que o time não teve alternativas. Teve, e não foram poucas. O que faltou foi tentar podar a melhor coisa do Cruzeiro, o que o Inter sequer tentou. Gilberto fez o que quis.

E por isso, quase que somente por isso, o Inter não acordou líder nesta segunda-feira.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Eu sou a lenda.

Por Marcelo Benvenutti


"Miserável país aquele que não tem heróis. Miserável país aquele que precisa de heróis."
Bertolt Brecht

Desde quando chegou ao Beira-Rio, depois de muita luta pela direçãocolorada em trazê-lo a Porto Alegre, Guiñazu já se destacava nostreinamentos. Por conta da injuriada janela de agosto, o gringo destruía no campo suplementar e a torcida, inquieta, se aglomerava para antever o que seria aquele sujeito com cara de índio que tanto tinha chamado a atenção quando os colorados tinham enfrentado, e vencido, o Libertad um ano antes.

As histórias de Guiñazu no Inter já servem para balizar um romance. Desde jogar com um furo no joelho, fechado a tempo pelo departamento médico colorado, até tenta continuar em campo com o braço quebrado, Guiñazu só supera a um mesmo jogador: Guiñazu. Quando tudo está no chão, o time cabisbaixo, os olhares reduzidos a bolitas escuras no breu da desesperança, Guiñazu mexe os braços pra cima, gesticula escandolamente, se irrita, corre para uma bola inalcançável, rouba ou perde, não interessa, reflete alguns centésimos de segundos, o necessário para buscar oxigênio em Marte, que seja, e sai correndo para o embate a outro adversário.

Quando os outros jogadores se lesionam e o médico dá o diagnóstico de "recuperação em um mês", etc. Guiñazu se revolta ao ouvir o seu e responde, limpidamente: "Semana que vem já vou jogar", com seu sotaque carregado do interior da Argentina. E volta mesmo. Os preparadores físicos não sabem o que dizer. O que dizer de alguém que treina de moletom sob o sol inclemente de fevereiro em Porto Alegre? Nada. Fenômeno, diria o próprio, usando uma de suas expressões características.

Quando uma proposta miliardária dos príncipes arábes adentrou o fax do Píffero, a torcida inteira entrou em pane. Guiñazu não poderai ir embora. El Cholo tremeu na base. Era muito dinheiro até mesmo para suas convicções. O estádio em pé ovacionou o jogador. Seu filho pediu para ficar. Desde D.Pedro I não foi tão esperado o Dia do Fico de alguém. E Guiñazu ficou. Músicas em seu louvor são cantadas por todos no Gigante. Quando Guiñazu desembarca no aeroporto, hordas de fãs o seguem, à distância, com reverência, aplaudindo o ídolo.

Dentro de campo, para ele, nada muda. Não interessa o campeonato ou o adversário. A disposição é a mesma. Sempre. Muitas vezes sobra disposição. A chegada é mais ríspida, como naquela entrada no Verón na final contra o Estudiantes ano passado. Outras vezes Guiñazu sai tanto pra marcar que termina o campo e ele tem que voltar correndo para cobrir o rastro que deixou pelo caminho. Guiñazu é assim. Quando entra em campo deixa um rastro de embatedores por onde passa. Uns vencem, outros sucumbem. Guiñazu, hoje, é o maior ladrão de bolas do futebol brasileiro. Não sou eu quem diz. São os números. Ainda por cima começou a chutar em gol. E fazer gols.

O Internacional de hoje não tem um herói. Não tem um salvador da pátria. Não tem um homem que decide tudo sozinho. o Internacional não precisa de heróis. Como a frase de Brecht nos diz. Miserável o povo que precisa de heróis. Os heróis nascem na adversidade, que também muitos chamam de injustiça. Ou desorganização. Ou caos. Guiñazu não é um herói. É um jogador comum, que sabe roubar bolas e sair tabelando com quem joga à frente. Tem a resistência de um camelo no Saara e a disposição selvagem de uma leoa faminta em torno dos filhotres. Mas não é um herói.

É uma lenda.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Gioconda.

Por Gustavo Foster


Em 1503, ou seja, apenas três anos após o descobrimento do Brasil e cerca de 406 anos antes da maior invenção dos irmãos Poppe, um já venerado Da Vinci recebia, em Florença, a encomenda de um retrato que o ocuparia pelos próximas três anos. Em 1506, o criador renascentista acabava seu maior feito, aquele que o marcaria para sempre. A Monalisa é, até hoje, estudada, analisada, celebrada, visitada e, principalmente, conhecida por numerosa parte da população. Há quem diga que esta não é sequer a maior obra do pintor italiano. Há quem veja nela símbolos conspiratórios. Freud considera o sorriso da modelo “sinal de atração erótica de Leonardo para com sua mãe”. Professores de Harvard estudaram e chegaram à conclusão de que “a percepção do sorriso é adquirida através de frequências visuais baixas, o que o torna visível através da visão periférica”, fato que explicaria o mistério sobre o retrato.

Quatrocentos anos depois, no mesmo Japão que se acostumaria a receber um time brasileiro em seus territórios, Akira Kurosawa apresentou ao Ocidente, em menos de uma hora e meia, o desconhecido cinema japonês. Rushomon, maior obra na vasta produção do escritor e diretor japonês, bifurca-se nos resultados e respinga suas conclusões a áreas tão distintas quanto a psicologia e o direito penal. Com técnicas do jornalismo, como apresentar o máximo de versões do fato e contrapor declarações, o filme chega a dar nome para teorias da Psicologia: o “Efeito Rashomon” aborda o caráter reconstrutivo da memória, na qual é possível que nossas lembranças não sejam realmente o que aconteceu, em sua totalidade.

Na semana passada, Magrão apresentou em casa adversária sua obra-prima, seu auge. Em um jogo que começou tenso e terminou pior, o Internacional enfrentava um adversário invicto há um não-sei-quanto de jogos, patrolando desde a metade do primeiro turno, treinado pela sensação Silas, apontado por alguns comentaristas como provável ocupante do G-4 e, por alguns lunáticos, como candidato ao título.

Mas no time colorado, estava voltando Magrão, o ambíguo volante, adorado por sua raça mas quase nunca presente nas escalações ideais. Jogou muito. Vontade, habilidade, força, importantes investidas ao ataque, velocidade na saída para os contra-ataques, ajuda fundamental a Giuliano e Bolívar, pelo lado direito, e gol, ao final, como consagração. O camisa 11 não suportava mais. Há muito tempo. Ele nunca teve fôlego para jogar mais de um tempo e meio. O ar que entrava nos pulmões após os vinte minutos do segundo tempo vinham do nada, apenas da vontade. E a arrancada para o gol é a pura vontade. Correndo enlouquecido, na chuva, batendo nos braços tatuados com os nomes dos filhos, Magrão como que comemorava a chegada ao topo da montanha. Nesse jogo, mostrou em que patamar pode chegar, mesmo que nunca mais chegue ali.

Todo título tem um momento marcante, uma imagem que simboliza, uma jogada que resume tudo. Na Libertadores, foi a bola na trave, nas costas, pra fora contra o Libertad. No Mundial, Iarley na bandeirinha de escanteio, cercado por toda a população catalã ensandecida atrás da bola, aos 43 do segundo tempo. Na Copa do Brasil, o naco de grama retirado sutilmente pelo bico da chuteira de Célio Silva, na cobrança de pênalti.

Resta saber se a arrancada de um Magrão desesperado, buscando ar no impossível, será lembrada daqui há dez, cinqüenta, cem anos.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Eller de verdade, só no Inter.

Por Daniel Ricci Araújo


Na minha maneira de ver, a derradeira arrancada que oxalá fará do Inter tetracampeão brasileiro possui nome e sobrenome: Fabiano Eller.

Ora, algumas pessoas nascem para situações e lugares específicos, reconheçamos. As pirâmides do Egito seriam uma excentricidade se não estivessem perdidas na imensidão do Saara, por exemplo. Existem homens que dão voltas e voltas ao mundo e conhecem todas as belezas possíveis do globo, mas só acham a paz de espírito nos braços da mesma mulher. Igualmente, há jogadores feitos e moldados para serem quase craques em determinado time, e no máximo bons jogadores em outros. Fabiano Eller está inscrito nessa espécie invulgar de jogador. Os ares do Inter o fazem um bem indescritível, está claro. Eller de verdade, só no Inter.

Na baixada santista, o ídolo repatriado nunca fora mais do que um bom zagueiro, e olhe lá. Jogou relativamente pouco tempo, chegou às raias da dispensa e não foi nem sombra do verdadeiro titã nipônico de 2006, quando jogou, contra o Barcelona, com a categoria de um Passarella ou a fleuma de um Beckenbauer. Verdade seja dita: Eller, fora do Inter, nunca foi o mesmo. Mas no nosso time, ele se torna um daqueles zagueiros exponenciais, que chega a melhorar a atuação dos seus companheiros logo ao lado. Aqui, na beira do Guaíba, Fabiano pode muito bem bater no peito e dizer ser uma espécie de Gamarra em português.

Já na sua reestreia em casa, contra o Goiás, pudemos notar a classe diferenciada do grande jogador. Achando pouco somente desarmar e impor-se com serenidade na defesa, ainda insatisfeito em ter humildemente melhorado a saída de bola do time em doses cavalares, Eller ainda desferiu, na jogada do quarto gol, um cruzamento de deixar um Riquelme da vida até com certa ponta de inveja. Uma bola rasante, veloz, forte, que só podia mesmo ter milimetricamente encontrado a cabeça do atacante. Por pouco não sai o gol.

A volta de mais um ícone de dois mil e seis traz à torcida um doce sabor de revival, e não são poucos os colorados a dizerem que essas circunstâncias são ótimas - afinal de contas, os personagens de uma taça acabam por chamar as outras, e essa atmosfera vitoriosa é tudo e mais um pouco. O Inter remontou seu sistema defensivo com personagens carimbados e vencedores. Soma-se agora apenas Sorondo às presenças de Índio, Bolívar e Fabiano. O resultado começa a aparecer.

Alguém dirá ser uma coincidência o fato de Fabiano Eller ter entrado na nossa zaga e subitamente não tenhamos sofrido mais nenhum gol. É isso mesmo, leitor: nenhum gol, nem uma mísera bola na nossa rede. Fato: o Inter como um todo melhorou, Kléber aterrissou em Porto Alegre e D'Alessandro voltou do exílio involuntário com uma fome de bola secular. Mas é inegável que a organização da retaguarda está contribuindo muito. Se o Inter não toma gols, ganha o jogo, porque fazer, sempre faz. Fernando Carvalho tem razão, e os últimos jogos são prova disso.

Altos e baixos à parte, o Inter lutará até o fim pelo tetra, isso me parece claro. Quando a equipe estava afundando, poucos imaginariam que em um mês estaríamos a um ponto do líder. Mas o futebol é assim mesmo. As boas receitas são sempre as mesmas, e os resultados dificilmente discrepam disso quando a coisa é bem pensada. O Inter mudou, agregou qualidade, melhorou muito fisicamente e assusta os rivais com isso. Agora, para completar, o grande zagueiro de dois mil e seis está de volta, como que emprestando à torcida um pressentimento de quem sabe que algo grandioso está por surgir ali na frente. O Inter encaixou, e vamos ver quem nos tira esse caneco.

Se é que alguém vai conseguir.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Por un Cabezón.

Por Marcelo Benvenutti


Em 1935, Carlos Gardel e Alfredo Le Pera produziram uma obra-prima do tango chamada “Por una Cabeza”. A maioria de vocês deve conhecer por ser a cena de dança do Al Pacino cego com a Gabrielle Anwar no filme Perfume de Mulher. Entre a melodia reconhecível em qualquer tempo e espaço e a cadência de seus altos e baixos, a letra vai nos contando sobre um sujeito viciado em apostar em cavalos de corridas que parecem vencedores, que também costuma se apaixonar por mulheres que parecem ser de boa índole.

No primeiro tempo, amarrados pelo Atlético do Roth, os colorados enxergaram o fantasma da impotência se aproximando novamente do Beira-Rio. Contra-ataques rápidos e más pontarias quase nos tiram a virgindade nos primeiros 45 minutos. Renteria, nosso eterno Saci, quis fazer um de seus típicos golaços, intercalados sempre com algumas tosquices próprias do dançarino de ruque-raque. Por uma cabeça, Renteria não fez. Por outra, Tardelli não acertou o gol de Lauro. A torcida, apreensiva, não sabia em quem apostar. A bela mulher de domingo se aproximava das maiores vadias da parada. Um tango trágico e patético se desenhava sob os holofotes do Gigante.

No intervalo, sabe-se lá como, e nem me interessa saber, Tite mudou. Tite mudou o esquema. Tite tirou Danilo e mandou D'Alessandro entrar em campo. Preencheu o espaço que faltava no meio campo e soltou as rédeas do gringo. Apostou no cavalo nobre. Por una cabeza de un noble potrillo, canta Gardel de sua tumba no cemitério de La Chacarita em Buenos Aires. Por uma cabeça, Tite apostou. Como o apaixonado que não esquece o beijo e o sorriso daquela mulher, mesmo que depois ela acabe o traindo, o enganando com um outro qualquer, como bem escreveria o compositor do hino deles, a quem humildemente também admiro. Tite não teve medo de ser feliz. E como é bom não ter medo, Tite. Como é bom!

O nosso cavalo de raça, de paraguaio não tem nada, entrou e simplesmente aniquilou com o Atlético. O Galo virou uma galinha depenada e sem cabeça. Os pintos fugiram pra baixo da asa do morcego. Dentro daquela galinha não saía mais ovo. D'Alessandro disparou, rodeou, driblou, lançou, chutou e vibrou. Kleber, como um Mustang selvagem, ignorou as porteiras da defesa mineira e deixou duas vezes Edu à vontade para, de novo, por uma cabeça, nos colocar mais à frente. À frente de quase todos.

Tite, tal qual Gardel, cantarola sozinho, em seu carro, dando voltas na Beira-Rio: Cuantos desengaños, por una cabeza, yo jure mil veces no vuelvo a insistir, pero si un mirar me hiere al pasar, su boca de fuego, otra vez, quiero besar. Sim, ele está feliz. Apostou. Apostou como os grandes, tanto nas derrotas quanto nas vitórias, devem apostar. Apostou e venceu. E continuará vencendo. Basta acreditar, mesmo que tudo diga o contrário. Mesmo que o cavalo vencedor tenha nos enganado em outro domingo no prado. Um cavalo de raça sempre é uma esperança. É melhor perder-se por aquella coqueta y risueña mujer , que al jurar sonriendo, el amor que esta mintiendo quema en una hoguera todo mi querer, do que viver enfastiado junto a um par burocrático.

Venceremos, Tite. Venceremos este campeonato disputado, ponto a ponto. Não será fácil, mas venceremos. Por un Cabezón.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A doce covardia da massa.

Por Daniel Ricci Araújo


No último domingo, a torcida do Inter demonstrou que a covardia pode ser de uma beleza sublime.

Fernandão voltava ao Beira-Rio e, ora, lembremos o episódio. Entra o vulto vivo em campo junto com o Goiás, perfila-se para cumprimentar a sua escassa torcida presente ao Gigante, ergue os braços para saudá-la e trota pelo meio do campo, aparentando um anonimato insuportável e falso. Aos primeiros movimentos do alviverde, ouve-se aquela protocolar e uníssona vaia utilizada para melhor receber o visitante.

A bola está no centro do gramado e a partida vai começar. Do outro lado do campo está Fernandão, escandalosamente vestido de verde. O juiz apita e o jogo inicia. O visitante maneja a bola com alguma clareza, nada desconfiado do proverbial banho de bola do qual terá sido vítima ao final dos noventa minutos. Ainda se escutam as vaias normais ao jogo do adversário: um passe cá, outro acolá e a bola, até que a sensitiva bola sobra nos pés de Fernandão. O grande ídolo a conduz sem sucesso, com algum alívio interno, sem dúvidas. Pobre dele. Está prestes a dar-se o grande momento.

De um instante para outro, questão de segundos, talvez milésimos, a voz crítica da torcida cala. Estava para iniciar o maior constrangimento em forma de carinho, a machadada canina e irreversível nos nervos de Fernandão, o golpe certo para sua morte anímica no jogo. O coro agora é alto e claro, e mudara repentinamente de tom como a direção das ondas em um dia de tempestade, rompendo limites em uma só voz: “Uh, terror, Fernandão é matador”. Uma bomba moral, sem dúvidas. Emocionado, comovido, Fernandão está agora mais prostrado perante a massa do que o presidente do Senado Federal.

A torcida foi fria, calculista. Esperou a bola rolar para aplicar o definitivo golpe anímico de misericórdia. Desorientado com essa torrente de amor que emanava das arquibancadas, o grande referente da nossa história, sem meias medidas, acertou no primeiro jogador do Inter que pressentiu chegar perto de si um tabefe explícito. Somado ao fato algum rigor excessivo do juiz, voilá: tivemos a expulsão mais apaixonada da história do Gigante. O grande Fernandão das duras jornadas, das taças ao alto, o símbolo maior da época dourada do clube desapareceu pelo túnel como um agressor inesperado, porém sentindo cinco oceanos de afeto pelo caminho. Uma cena memorável.

Mas mesmo assim, vejam só, a incompreensão peçonhenta deu jeito de vicejar pela crítica especializada que se debruçou sobre o fato. Nesta segunda-feira, por exemplo, o aborrecido colunista da contracapa de Zero Hora, dotado de um senso de humor peculiar, já resfolegava sua chatice endêmica sobre a situação, sem nada entender. O homem não vê o caráter lírico da coisa e delineia, com pouca ou nenhuma capacidade de persuasão, uma incompreensível negociata de gols, animado talvez pelo conhecido caráter de perseguição que sua origem clubística tem inscrita no próprio DNA. Quanto revanchismo e recalque: aí está a sua verdadeira “pilastra dialética”, que no seu caso não é pilastra, e sim uma coluna da altura da hipotética Torre de babel. Pena, pena. Que pena! Mas pior para ele.

Não é qualquer um que entende um ídolo desses, e muito menos consegue vibrar com sua expulsão em um jogo de futebol.