segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Eller de verdade, só no Inter.

Por Daniel Ricci Araújo


Na minha maneira de ver, a derradeira arrancada que oxalá fará do Inter tetracampeão brasileiro possui nome e sobrenome: Fabiano Eller.

Ora, algumas pessoas nascem para situações e lugares específicos, reconheçamos. As pirâmides do Egito seriam uma excentricidade se não estivessem perdidas na imensidão do Saara, por exemplo. Existem homens que dão voltas e voltas ao mundo e conhecem todas as belezas possíveis do globo, mas só acham a paz de espírito nos braços da mesma mulher. Igualmente, há jogadores feitos e moldados para serem quase craques em determinado time, e no máximo bons jogadores em outros. Fabiano Eller está inscrito nessa espécie invulgar de jogador. Os ares do Inter o fazem um bem indescritível, está claro. Eller de verdade, só no Inter.

Na baixada santista, o ídolo repatriado nunca fora mais do que um bom zagueiro, e olhe lá. Jogou relativamente pouco tempo, chegou às raias da dispensa e não foi nem sombra do verdadeiro titã nipônico de 2006, quando jogou, contra o Barcelona, com a categoria de um Passarella ou a fleuma de um Beckenbauer. Verdade seja dita: Eller, fora do Inter, nunca foi o mesmo. Mas no nosso time, ele se torna um daqueles zagueiros exponenciais, que chega a melhorar a atuação dos seus companheiros logo ao lado. Aqui, na beira do Guaíba, Fabiano pode muito bem bater no peito e dizer ser uma espécie de Gamarra em português.

Já na sua reestreia em casa, contra o Goiás, pudemos notar a classe diferenciada do grande jogador. Achando pouco somente desarmar e impor-se com serenidade na defesa, ainda insatisfeito em ter humildemente melhorado a saída de bola do time em doses cavalares, Eller ainda desferiu, na jogada do quarto gol, um cruzamento de deixar um Riquelme da vida até com certa ponta de inveja. Uma bola rasante, veloz, forte, que só podia mesmo ter milimetricamente encontrado a cabeça do atacante. Por pouco não sai o gol.

A volta de mais um ícone de dois mil e seis traz à torcida um doce sabor de revival, e não são poucos os colorados a dizerem que essas circunstâncias são ótimas - afinal de contas, os personagens de uma taça acabam por chamar as outras, e essa atmosfera vitoriosa é tudo e mais um pouco. O Inter remontou seu sistema defensivo com personagens carimbados e vencedores. Soma-se agora apenas Sorondo às presenças de Índio, Bolívar e Fabiano. O resultado começa a aparecer.

Alguém dirá ser uma coincidência o fato de Fabiano Eller ter entrado na nossa zaga e subitamente não tenhamos sofrido mais nenhum gol. É isso mesmo, leitor: nenhum gol, nem uma mísera bola na nossa rede. Fato: o Inter como um todo melhorou, Kléber aterrissou em Porto Alegre e D'Alessandro voltou do exílio involuntário com uma fome de bola secular. Mas é inegável que a organização da retaguarda está contribuindo muito. Se o Inter não toma gols, ganha o jogo, porque fazer, sempre faz. Fernando Carvalho tem razão, e os últimos jogos são prova disso.

Altos e baixos à parte, o Inter lutará até o fim pelo tetra, isso me parece claro. Quando a equipe estava afundando, poucos imaginariam que em um mês estaríamos a um ponto do líder. Mas o futebol é assim mesmo. As boas receitas são sempre as mesmas, e os resultados dificilmente discrepam disso quando a coisa é bem pensada. O Inter mudou, agregou qualidade, melhorou muito fisicamente e assusta os rivais com isso. Agora, para completar, o grande zagueiro de dois mil e seis está de volta, como que emprestando à torcida um pressentimento de quem sabe que algo grandioso está por surgir ali na frente. O Inter encaixou, e vamos ver quem nos tira esse caneco.

Se é que alguém vai conseguir.

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