segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Mais do mesmo.

Por Daniel Ricci Araújo


Quando Tite saiu do Inter, a maioria da torcida deu-se por satisfeita. O pastor de fala mansa e discurso ensaboado era o problema, ou o maior de todos eles, dizia convicta a maioria da torcida. Aí, entra Mário Sérgio, um personagem polêmico, sem papas na língua e que poderia, quem sabe, fornecer a reviravolta anímica que tanto o time precisaria. Ilusão: com três jogos sob a batuta do novo comandante, vamos e venhamos, o que mudou de efetivo no futebol do Internacional?

A resposta é uma só: nada. Absolutamente nada.

Nossa última partida, contra o Fluminense, foi um quadro de dor. Jogando contra uma equipe fraquíssima, e com a derrota do mediano líder Palmeiras a tiracolo, em nenhum momento do jogo o Inter teve brios, gana, alma e desprendimento típicos de quem está jogando a possibilidade de ouro – e talvez a última – de entrar para valer na briga pelo campeonato. Não que o time tenha sido indolente, porque não foi, mas convenhamos: a raça ia no máximo até a esquina. Somos uma equipe que joga quase por jogar. Se der, deu, se não der, não deu. A única exceção foi e é Guiñazu, e reconheçamos: com onze argentinos iguais teríamos um esquadrão à prova de quaisquer Real Madris e Milans.

Praticamente todos os jogadores do Inter passam a impressão não de que sejam displicentes ou coisa que o valha, mas que não deixam tudo em campo. Quando vejo Sandro errar passes fáceis, acho que falta algo. Quando Alecsandro, livre na área, tenta um toque por cima do goleiro em vez de bater rasteiro e com força, falta algo. Quando D’Alessandro e Andrezinho não conseguem desafogar o time porque não estão por perto da jogada, falta algo. E o que é que falta, afinal de contas? Falta motivação. O Inter é um time que joga à meia máquina.

Podemos falar do esquema tático, dos treinadores, das individualidades, mas nada nos daria uma resposta conclusiva. O grupo é, sim, superestimado, mas bom o suficiente para brigar pelo título. Os treinadores se sucedem e não conseguem extrair nada de diferente deste grupo. E a tática... Bem, a tática é um caso a parte. O Inter, em 2009, já jogou em diversos esquemas, do 3-5-2 ao 4-4-2, e a verdade é que fora o Gauchão, praticamente não houve futebol convincente.

Chegamos à final da Copa do Brasil, passamos 99% do Brasileirão na zona da Libertadores, temos jogadores reconhecidos e – espero – muito dinheiro em caixa. Mesmo assim, a torcida do Inter está desanimada com o time porque falta algo. Um “algo” que não se pode comprar nem fazer surgir com duas linhas de quatro, losangos, triângulos ou quadrados de esquema tático. Um algo o qual todas as equipes campeãs têm, algo que não se fabrica e nem brota com mais “trabalho” ou “foco”, para citar duas palavras da moda no futebolês. O Inter, mais do que nunca, precisa querer mais. Na vida e no futebol, é preciso ver a bola como um prato de comida. Só assim os homens e as equipes podem ser bem sucedidos.

Talvez o discurso ufanista e o oba-oba inconsciente (ou nem tanto) da própria torcida tenham contaminado a opinião do Inter sobre si mesmo. Toda glória é efêmera, diz o ditado, e é possível, bem possível, que todos nós, time e torcida, tenhamos acreditado sermos melhores do que realmente somos. Mas mesmo assim, ainda há tempo de reverter esse quadro. O título está difícil, e a vaga na Libertadores periga concretamente pela aproximação perigosa do bom time do Flamengo. Temos um clássico pela frente, situação que sempre pode arrumar a casa e dar aquela sacudida no ânimo que o time tanto precisa.

Mais do que nunca, o Inter vai precisar querer mais.

Muito mais.

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