quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Mário Sérgio é o Pai do Rock.

Por Marcelo Benvenutti

Mário Sérgio, também conhecido como Vesgo, não é o treinador dos sonhos de ninguém. Assim como não era o jogador dos sonhos de nenhum treinador na sua época dentro das quatro linhas. Era e não era. Mário Sérgio era craque. O apelido vesgo vem de uma de suas principais jogadas: cabeça levantada, marcador à frente, Mário jogava a bola para um lado enquanto olhava para o outro. O marcador invariavelmente caía no embuste, mesmo que já soubesse de antemão que ele iria fazer isso. Infalível.

Mário perambulou pelo mundo, jogou em muitos estados diferentes, outros países, não ganhou muito títulos, é verdade, não tantos quanto o futebol que mostrava dentro de campo. Louco, enfrentou problemas com doping, indisciplina e brigas generalizadas com companheiros dentro e fora do campo. Claramente, é um sujeito polêmico, daqueles que tanto pode anunciar o descobrimento da roda quanto colocar o Titanic de novo no oceano. Quando Raul Seixas cantou que o diabo era o pai do rock, ele deveria ter conhecido Mário Sérgio. Pode-se esperar de tudo. Até mesmo, nada.

Escrevo antes do jogo deste sábado. Se anuncia Bolaños na lateral para substituir o suspenso Kleber. Não se sabe se ele manterá Andrezinho fazendo dupla com o D'Alessandro ou vai colocar Taison ao lado de Alecsandro. Não se sabe como está o astral do ex-filhote do vento, que nos últimos tempos anda mais para sobrinho da brisa. Se o Taison jogar metade do que acha que joga, já vai ser ótimo. Basta ter vontade. A mesma vontade que teve o renascido D'Alessandro. Mário Sérgio entende D'Alessandro. Mário Sérgio guardaria D'Alessandro no bolso da frente da camisa. O portenho, marrento, ótimo jogador, driblador, boa visão de passe à média distância, incisivo, muitas vezes lento na retomada de jogo para os corneteiros das sociais, antipático às perguntas repetitivas e insossas dos repórteres, é a menina dos olhos do time de Mário. É compreensível. Aceitável. Particularmente, pra mim, é o óbvio. Tão óbvio que só o nosso ex-treinador que, bato na madeira três vezes, não ouso repetir o nome aqui, não entendia ou, teimosamente, não queria entender.

Jogasse no Flamengo ou no Corinthians e o gringo já teria sido elevado à condição de semideus brasileiro. Aqui nessa plagas, não passa de um "preguiçoso" que não joga de acordo com "estilo gaúcho" de se jogar futebol. Deveríamos avisar os velhinhos britânicos da International Board. Existe outra modalidade de futebol a ser regulamentada: o futebol gaúcho. Não duvido que qualquer dia desses um deputado estadual faça um projeto de lei estabelecendo as regras de como um time gaúcho deve jogar. É proibido atacar. Centroavante tem que voltar até a intermediária da defesa para marcar. Armador é coisa de carioca. Menos de três volantes é futebol de paulista. Jogar pra frente é coisa de time nordestino estabanado e quando o jogo estiver 2x0 o time que está na frente deve retirar um avante e colocar mais um zagueiro. Qualquer coisa diferente e o sujeito deveria ser exilado em Torres, que é um pedaço de Santa Catarina que nós roubamos.

Resumindo, não interessa qual o esquema, desde que o time jogue, como deve ser no futebol, tanto do Uzbequistão quanto da Alemanha, pra frente. Roubou a bola do adversário? Pra frente. Sobrou uma bola na entrada da área? Pra frente. É simples. É tão óbvio que chega a constrangedor pensar o contrário. Chega a ser patético alguém declarar que "entregamos a posse de bola para o adversário" ou " vamos esperar o momento certo para atacar". Chega a ser tão escancarado que não me interessa se o Mário Sérgio usa papel higiênico dos dois lados, se o D'Alessandro cospe no microfone ou se o Alecsandro toda vez que vai elogiar um jogador chama ele de "inteligente" (os outros então são burros?). Interessa é que devemos vencer. E nada mais natural que para vencer programe-se o time para jogar futebol, simplesmente jogar futebol, e atacar. É o que nos resta para mantermos vivas as esperanças. Atacar. Sempre atacar.

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