quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Minha vó já dizia.

Por Marcelo Benvenutti


Minha vó que não conheci, e minha mãe me passou muitas de suas crendices e máximas, dizia que "quando mais o sujeito se abaixa, mais o cu aparece". Sempre recordo dessa afirmação quando em situações de confronto me deparo, ou deparo as pessoas que convivo ou gosto, com decisões rápidas e rasteiras. Nesses momentos é que vemos onde termina o orgulho vaidoso e começam as definições de caráter.

O Inter ontem teve uma definição de caráter. Ao contrário do que eu e muitos imaginavam, o Internacional entrou em campo avançando o meio de campo, impondo seus zagueiros e forçando o São Paulo a apelar para o chutão. O time colorado amarrou o tricolor paulista, como canta um sãopaulino de última hora aqui no prédio ao lado, e não deixou iniciativa nenhuma para o time do dono da padaria. Num único lance, numa bobeira na marcação, como são definidos muitos jogos, levamos o gol que o cardíaco chorão não deixou escapar.

No segundo tempo voltamos ainda com o gol deles na cabeça. Paulada em nossas esperanças. A gremistinha dona do cachorro barulhento do outro prédio ao lado vibrando em gozos histéricos. Goza, safadinha. Goza! É o que te resta! Mário Sérgio falha somente ao demorar em tirar o risonho Taison. Do que ri tanto o Taison? Da nossa cara, deve ser. Alecsandro perde um gol que até a avó do xarope do Paulo Brito faria. Mas o Alecsandro não pode deixar de ser Alecsandro. Quinze gols no campeonato. Quase goleador. Mas não é o Nilmar, Píffero. Não amarra as chuteiras do mascote do Nilmar. Tudo bem, nosso estádio está na Copa 2014. Os Eucaliptos valem o que ninguém quer pagar. O Lula abriu crédito no BNDES, Píffero. E pra quem souber analisar balancetes, podem conferir no seguinte endereço:

http://www.internacional.com.br/extra/BALANCETE_ANALITICO_JANEIRO_A_AGOSTO_2009_150909.pdf


Com um pouco de paciência e o básico da matemática poderão concluir, como eu concluí, que 100 mil sócios não mantêm a atual estrutura do Inter e que somos dependentes da venda de mais de um Nilmar por ano. É louvável a abertura da direção colorada ao abrir suas contas aos sócios e ao público em geral. Mas, infelizmente, a constatação é cruel. Vendemos Nilmar para bancar o resto do clube. E jogamos fora o Campeonato Brasileiro de 2009.

Simplesmente um ataque com Alecsandro e Taison não tem condições de vencer nada. O Alecsandro porque, apesar de ser o goleador colorado na temporada, lhe falta o básico: qualidade. E Taison porque, infelizmente pra mim e grande parte dos colorados que admiravam sua entrega e vontade até meses atrás, não dá mais para aguentar. Nem Mário Sérgio suportou. E tirou Taison. Jogou o Inter pra cima. Não se pode dizer que faltou valentia ao treinador e ao grupo. Mas perdemos no detalhe.

E o detalhe, o detalhe, como diriam os ululantes da obviedade, o detalhe é tudo. O detalhe que faltou e ainda falta no ano de 2009 é a vontade de não ter medo de ser feliz. O Inter, a instituição Inter, dentro das perspectivas criadas pela administração colorada dentro das quatro linhas, fora não tenho o que contestar a não ser a falácia da auto-suficiência com 100 mil sócios, tem medo de ser feliz. O Inter entrava em campo resmungando. O Inter entrava em campo com DVDs embaixo do braço. Com denúncias. O Inter era a Escrava Isaura do futebol brasileiro. Coitado do Inter.

Ontem, 28 de outubro de 2009, o Inter perdeu. Mas perdeu sem medo de ser feliz. Com os erros que poderiam acontecer, não desistiu. Brigou. Lutou. Não deu. Mas não teve medo. E, admito, prefiro um time que enfrente as adversidades de peito aberto. Que apanhe mas não tenha medo de ser autêntico. Prefiro um time, como dizia minha vó lá no primeiro parágrafo, que não se abaixe. Este é o Inter que todos queremos em 2010.

De preferência, obviamente, vencendo.

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