quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Teimosinha.

Por Marcelo Benvenutti

Na falta de jogo melhor para assistir, perder meu tempo com Brasil versus Venezuela é que eu não iria, me acomodei para assistir a Uruguai contra Argentina. Maradona retrancou o time com 670 zagueiros, embolou o meio com jogadinhas laterais do Verón e na hora do pega pra capar, lascou um homem da frente e tascou em campo o zagueiro que fez o gol da glória do lado de lá do Rio Uruguai. Lógica? Nenhuma.

Futebol em boa parte das partidas não existe lógica. É natural aceitar essa afirmação. Desde que a afirmação não se torne regra e se aceite que a ilógica ou o intangível decida campeonatos. O Brasileiro desse ano é um exemplo. O Palmeiras toma três ao natural do Náutico, da turma de baixo da tabela, e muitos dirão: Que doideira! Mas é lógico que um grupo que mantém Marcão como titular por tanto tempo não merece a credibilidade que os campeões merecem. Diz a lógica do futebol que em campeonatos longos de pontos corridos, a melhor equipe, a mais regular, aquela que manteve uma base constante, um padrão de jogo e todas essas expressões que estamos cansados de escutar os comentaristas jogarem ao vento, tornar-se-á campeã.

Será?

O Palmeiras mandou seu primeiro treinador procurar manicures em litoral paulista abaixo, o Inter mandou o seu cuidar das ovelhas no deserto e o São Paulo pegou o dono do armazém pra entrar no lugar do Muttley, o tarado das medalhas. O Atlético Mineiro continua investindo no sonho de consumo da direção colorada: Celso Roth. Qualquer equipe próxima ainda tem chances de comemorar vaga como os argentinos no Centenário ontem de noite. Quem gosta de vaga é guardador de carros, obviamente. Quem entra em um campeonato, não interessa qual, entra pra vencer.

O Internacional que, pasmem, ainda tem chances de "sair campeão", como me ensinam alguns estudiosos da nova ortografia de Porto Alegre, já jogou no 4-4-2, 3-5-2, 3-6-1 e no melhor dos esquemas adotados durante a temporada; o famoso 7-0-3, que se baseava em colocar 4 defensores atulhados com 3 volantes na frentes a darem chutões para que um armador e dois velocistas fizessem "a sua parte". Inevitavelmente o esquema se transformava em 7-0-2-0-1. Os "zeros" são as vastidões lunares que existiam entre um e outro setor. São Nilmar resolvia tudo.

Dentro do seu planejamento, a diretoria vendeu o 115º jogador da temporada, sem contar o craque búlgaro e o filho do príncipe que vieram como reforço, e ficamos à mercê de Tite e suas convicções. Um Maradona passou voando agora, sei, devo estar delirando, e me disse no ouvido que estas convicções também podem ser as da direção, leia-se Fernando "Fábio Koff" Carvalho. Como as convicções, as mesmas que trouxeram Joel Santana alguns anos atrás, são maleáveis, imagino que Mário Sérgio deva fazer parte do rol de "perfis" que existem nos laptops dos assessores do departamento de futebol.

Nada contra convicções, eu não sou e nem quero ser treinador. Outro dia, inclusive, li algumas declarações do Menotti, campeão treinando a Argentina em 1978, e entre elas se destacava a seguinte:

“La táctica es programática. Por lo tanto, todo lo que sea programático en el mundo de la acción, donde aparece lo inesperado, no tiene mucho sentido. Vos elaborás una táctica para tu día, pero te aparece algo imprevisto y a la mierda la táctica.”

Não digo que devemos adotar à risca tal mandamento, mas que não deixa de ser verdadeiro dentro da falta de lógica que domina nosso futebol atual, particularmente o campeonato brasileiro e, especificamente o Internacional, isto lá não deixa.

O que me leva, dentro dessa falta de lógica no raciocínio em sequência desta coluna, a pensar que não devemos perder nosso tempo esquentando a cabeça se o Mário Sérgio vai esquematizar o time no 3-5-2 ou vai jogar a escalação de acordo com o páreo do Cristal. Eu, por mim, jogava as camisetas pra cima e quem pegasse primeiro, vestia. Garanto pra vocês que nem assim o Taison entrava.

Resumindo, é mais fácil apostar no escuro.

Na Teimosinha.

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