quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O que realmente mudou?

Por Daniel Ricci Araújo


A matemática afirma: os resultados de Mário Sérgio são piores que os de Tite. Claro, a comparação é injusta, mas injusto também foi debitar tanto da nossa decepção na conta do ex-treinador.

Tite até tinha que sair pela questão do vestiário, mas não era e nem nunca foi o grande problema do Inter. Os mesmos jogadores que estavam desmotivados em campo com Tite, parece que também estão com MS. D'Ale é o maior exemplo disso: sua atuação de domingo foi somente um terrível "mais do mesmo". Quase todos os mesmos jogadores que rendiam pouco com Tite, rendem pouco com MS. A mesma oscilação de rendimento que tínhamos com Tite, temos com o MS. Tite, ainda por cima, não teve o Giuliano no fim de seu "mandato", e MS vai ter. Fora isso, somando aqui e diminuindo acolá, não há diferenças significativas entre um ou outro, na minha opinião.

Mas a despeito disso, temos de parar com o treinadorismo. O que está acontecendo perante nossos olhos não é o reflexo de uma questão Tite x MS, pastor x malandro. Pelo contrário. É mais abrangente e conclusivo do que isso. Pra mim, a torcida descontou um pouco em Tite o fato de que o grupo não é isso tudo que ela pensa.

Falemos primeiramente dos defensores, que até são bons, mas superestimados. Com MS, houve claras falhas individuais nos gols do Atlético-PR, Fluminense, no gol do SPFC e no de anteontem, do Botafogo. De novo, a questão não é Tite ou MS, a questão é os nossos jogadores de defesa. Eles são tudo isso? Índio e Eller eram fantásticos... em 2006. Eles até podem dar boa resposta ainda, não há nada que impeça, mas estamos quase em 2010, e o tempo passa. O Inter do último domingo marcou mal de novo, desorganizado, e a deficiência do lado direito persiste, seja com Tite ou MS, porque só há um lateral-direito, Daniel, que modéstia à parte não honra o nome de craque que tem. O grupo continua com carências que atrapalham toda a mecânica de jogo. Isso não é culpa de treinador nenhum. Não era do antigo, nem é do atual.

Mas ainda não terminamos. Sorondo é um jogador bom pelo alto. Por baixo, digamos que é modesto. Fabiano Eller está bem, mas falhou domingo, e feio, para um atleta da classe dele. Índio é o que mais oscila e Bolívar, bom, Bolívar é um caso diferente. Uma usina de fazer faltas. Tem momentos de Gamarra e momentos irreconhecíveis, e fora o fato de que faz no mínimo um penal a cada dois jogos, marcado ou não. Impressionante como puxa e dá carrinhos malucos, o Bolívar.

Fora isso, nossos meias são muito bons, talvez aqui sim possamos dizer termos o melhor grupo do Brasil. Mas o auto-elogio deveria parar por aí. Mesmo comparado ao Palmeiras, que talvez tenha o grupo mais modesto entre os disputantes ao título (onde até poderíamos estar, é verdade, com o time que temos), o elenco do Inter mostra suas inconsistências. Diego Souza, hoje, decide num lance, coisa que o Inter deixou de ter sem Nilmar e faz uma grande diferença, decisiva. O ataque do Palmeiras, com Obina e Vágner Love, não é nenhuma maravilha, mas sem sombra de dúvida melhor que o nosso atual. Taison e Alecsandro estão compondo uma das piores duplas de ataque do Brasileirão. Isso para mim está mais claro que o céu de brigadeiro desse calor insuportável que vem da rua. Outro exemplo evidente: comparar nossa dupla de ataque com a atual do Galo chega a ser covardia, quem diria!

Eu não digo que discutir as tais das mazelas causadas por Tite seja perda de tempo. Perda de tempo é essa tremenda e absurda importância que se dá a treinador, como se quase tudo tivesse a ingerência deles, positiva ou não. Acho que precisamos reconhecer que nosso elenco nos possibilitaria vencer o campeonato SE tivesse mais vontade, SE o vestiário fosse menos frouxo, SE não fosse necessária quase um alinhamento de astros pro D'Ale ser o D'Ale que se espera e SE alguns desses caras, quem sabe, fossem menos pra noite. E também se nosso centroavante não fosse o insuportavelmente firuleiro e auto-suficiente Alecsandro.

E é por muitos desses fatores - os quais vão bem além do treinador reinante - que estamos com essa folha de quase 4 milhões por mês e se apertando pra chegar, quem sabe, na PRÉ Libertadores.

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