quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Agora é Guerra 2, a Missão.

Por Daniel Ricci Araújo


Para chegar ao bi da Libertadores em dois mil e dez, o Inter precisará de bem mais do que grandes contratações, vestiário disciplinado ou um novo treinador. Antes de reformar o time e suas circunstâncias pontuais, o clube precisa resgatar um pouco daquele espírito um tanto adormecido de dois mil e seis.

Neste ano, muitos dos pontos perdidos responsáveis por nos tirar o título de campeão brasileiro vieram por verdadeira falta de indignação com o resultado. Não que o Inter viesse sendo uma equipe de fazer pouco caso ou entregar partidas. Faltava, isso sim, algo além da mediania habitual, do senso comum, até da reles acomodação de cada dia: o Inter precisava tomar um choque e manter-se eletrocutado por uns seis meses. Como isso não ocorreu, do pouco até se fez muito e acabamos com o vice-campeonato, prova de onde esse time pode ir se almejar um título com uma santa, verdadeira e necessária fúria homicida.

Ora, admitamos: foi com a faca entre os dentes que o Inter cavocou sua vaga na Libertadores dentro de um Mineirão lotado há coisa de quinze dias atrás. Foi pensando no título possível que não tomamos conhecimento do Santo André, e fizemos quatro como poderíamos ter feito meia dúzia ou mais. Quando se depara com a necessidade vital de ganhar, de encarar um sim ou sim daqueles que definem vidas e campeonatos, o Inter vira algo como o time que a torcida quer.

E aí está o maior reforço possível para a Libertadores da América, a competição fundamental, ao nosso alcance e que pode cair na vida diária da província com o peso de uma bomba nuclear de fazer correrem em debandada os banheiros químicos que porventura tenham sobrado pelo Pampa afora. A opinião geral aponta e qualquer um sabe: perder ou vencer é do jogo, mas o Inter está na Libertadores para ser campeão. Não há um mísero conhecedor de futebol, por menos que dele saiba, capaz de negar essa nossa condição – e que faz desabar em um pânico convulsivo e mal disfarçado uma parcela importante e receosa da população gaúcha.

Então, voltando. O espírito de querer custe o que custar, se ressuscitado entre nós, será mais importante do que a mais bombástica das contratações.

Não viremos as costas aos defeitos do time, por favor: um zagueiro de velocidade, um lateral-direito e um grande atacante são necessários. Não se faz futebol sem qualidade. Mais fácil seria dar vida a dez clones de Guiñazu, mas mesmo assim, nada pode acudir mais o Colorado rumo a outro Mundial do que um espírito pronto para a luta. Em termos de gana, de vontade de vencer, em matéria de a bola representar um prato de comida, o último e derradeiro prato de comida possível, o Internacional precisa revisitar dois mil e seis. Sejamos cinematográficos: chegou a hora de um “Agora é Guerra 2, a Missão”.

A diretoria do Internacional pode e deve ter pecado em alguns aspectos, mas não se lhe pode retirar uma qualidade indiscutível: ela sabe o caminho. É preciso reinventar-se, rever-se, reavaliar-se e daí extrair as mudanças essenciais que farão do Inter um time pronto para erguer de novo a taça mais importante do continente. Mas nada disso será feito sem uma dose grande de espírito, ou por outras palavras: o Inter precisa de novo apaixonar-se pela Libertadores. O sangue quente e obsessivo de três anos atrás precisa voltar a correr pelas nossas veias famintas de mais e mais glória continental.

O cenário está armado, e o Inter é um de seus grandes protagonistas. Se nos dermos conta de encarnar essa necessidade vital que é a de querer mais do que qualquer um possa querer, tenho fé - o bicampeonato da América há de estar logo ali à frente.

Nenhum comentário: