segunda-feira, 17 de novembro de 2008

PRA COLORADOS DE ESPÍRITO

Por Andreas MülleR


Se o Inter é uma religião, é provável que Emanuel Neves tenha forjado um dos mais belos evangelhos da Bíblia alvi-rubra. Pois assim é o seu “A Noite das Asas Vermelhas”: um livro mítico, quase profético, que carrega o leitor pelo espírito a um mundo além deste – um mundo onde o Beira Rio é nada mais do que o reino do Alfa e do Ômega, do início e do fim de todas as coisas: do Sport Club Internacional.

Verdade seja dita: o livro que acaba de chegar às bancas pela Editora BesouroBox não é feito para qualquer leitor. Quem o folheia precisa ter capacidade de se entregar ao coração; precisa se deixar levar por cada palavra, levitar junto com o autor e enxergar o lado divino daquilo que, à primeira vista, parece meramente mundano. Sob o olhar de Emanuel, o Gigante lotado tem vida e voz própria – uma voz que é mais assustadora e bela do que a soma das 50 mil vozes que emanam de suas arquibancadas. Sob o olhar de Emanuel, o Internacional é a força que move todas as coisas, o céu e a terra, a água e o fogo, os homens, as plantas e os animais.

O ponto alto é a crônica que dá título à obra. “A Noite das Asas Vermelhas” não é apenas uma ode ao Internacional; é parte da história da conquista da América em 2006. Publicado inicialmente na internet, em uma comunidade do Orkut, o texto descreve à perfeição um sentimento que, até hoje, poucos colorados conseguem compreender. Ao falar da grande decisão na noite de 16 de agosto de 2006, Emanuel sequer menciona escalações, táticas, expulsões e público ou renda. Tudo isso é irrelevante ante a história, os heróis e as almas que estendem suas asas sobre o Beira Rio na noite em que o Internacional finalmente conquista o título que sempre foi seu.

“A Noite das Asas Vermelhas” é uma leitura obrigatória para todos os colorados de espírito. Seus textos devem ser lidos e relidos, copiados e guardados para diferentes ocasiões. Eu mesmo tomei a liberdade de copiar o texto abaixo e publicá-lo aqui. Para quem, como eu, costuma ir caminhando ao Beira Rio nas noites de quarta-feira, sentindo a vibração do estádio se aproximar lentamente pelas ruas, a pequena crônica abaixo é uma genuína poesia do cotidiano.

Ecos

Ouça os ecos do Gigante. Há milhões de gritos nessa noite. Eles voam e reverberam no céu, criando os relâmpagos, iluminando os caminhos. Siga os ecos do Gigante. Deixe que eles te enlevem, que te carreguem de súbito, golpeando-te a alma, arrematando-lhe o espírito. Jamais resista ao chamado. Apenas consinta, sinta os ecos do Gigante. Entenda o que eles te dizem em cada pulsar, em cada onda vermelha que se segue, filha mais forte da primeira, num tropel que te busca e te envolve e te vibra e te arranca da apatia, irrompendo-te as veias, rasgando e rasgando em batidas de bumbo e coração.

Una-te aos ecos do Gigante. Vista-te com sua roupa ruidosa, encarnada e santa. Torna-te eco vivo do Gigante e reflita suas treze letras pelo infinito, uma a uma, mundo em mundo, área em área, tímpano em tímpano, sempre e sempre. Repercuta-te até não mais ouvir-te, até não mais te diferenciar, até, enfim, saber-te tão-somente um dos milhões de gritos dessa noite, tremulando entre as nuvens, trovejando no horizonte.

Para que outro, então, ouça os ecos do Gigante.

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