segunda-feira, 30 de março de 2009

A NOVA CASA DO POVO

Por Andreas Müller


Depois de quase um mês de abstinência, eis que volto a transitar pelas páginas da ala alvirrubra do Final Sports, desta vez com fôlego renovado. Não tratarei, porém, da obra-de-arte esculpida por Nilmar na grande área do Alfredo Jaconi no último sábado, nem da crescente ansiedade que me remexe as entranhas a cada vez que o relógio vira a meia-noite e faz aproximar a data derradeira do Centenário colorado. Não: nesta minha volta irei falar, pura e simplesmente, do Beira Rio.

Pois o nosso querido Gigante está, lenta e obstinadamente, se tornando aquilo que pretende ser: um estádio de Copa do Mundo. Imenso, aterrador, embasbacante como uma versão guasca do coliseu. Mas ao mesmo tempo confortável, limpo e com uns banheiros dignos de shopping-center. A transformação está apenas no início, é claro. O Beira Rio ainda precisa avançar muito para se parecer, de fato, com o que vem sendo idealizado nos croquis que cansamos de ver pela internet. De qualquer forma, é inegável que a “casa do povo” está ganhando novos ares a cada dia.

Neste fim-de-semana, por exemplo: foram-se para o beleléu as grades e arames farpados que separavam as arquibancadas do fosso e do gramado do Beira Rio – mudança que, até agora, estava restrita às sociais. Parece pouco, mas não é. Agora, quem circula pelas inferiores tem a oportunidade de vislumbrar o campo com muito mais clareza e amplitude. A sensação é de quarto arrumado: até parece que há mais espaço para se caminhar entre a cama e o armário – no caso, entre o cinza das arquibancadas e o verde resplandecente do gramado.

E não é só isso. O placar eletrônico do Beira Rio parece ter sido trocado também. Foi-se o velho painel de fliperama. Temos, agora, um telão, um verdadeiro LCD dentro da nossa segunda casa. Já imaginaram? Nilmar marca o gol do título da Sulamericana depois de uma entrevero histórico na pequena área do Estudiantes. A torcida enlouquece, chora, berra, se abraça... Mas ninguém faz a menor ideia de como aquela bola foi entrar, afinal de contas. Pois agora temos a possibilidade – vejam bem, “possibilidade” – de rever o lance ali mesmo, no meio da festa, em nosso próprio home-theater coletivo. Bastará olhar lá para cima, lá no terraço da Popular, e pronto.

O que virá pela frente? Podemos esperar muito. A cobertura do estádio, por exemplo, depende apenas da obtenção das verbas com a venda dos Eucaliptos. O projeto já passou pelo chamado “túnel de vento” há bastante tempo. O terreno já passou pelas medições e pode, sim, comportar a estrutura. Devo admitir: ainda tenho dúvidas se essa “tampa” não transformará o Beira Rio na maior estufa do mundo. Imaginem, por exemplo, um jogo às 16h de um verão tipicamente portoalegrense – tal como aquele que nos açoitava na tarde em que Renteria fez 2 a 1 sobre o Palmeiras, já na reta final do malfadado Brasileirão de 2005. Espero que nossos arquitetos pensem nisso ao projetar a cobertura...

O fato é que o Beira Rio está mudando: está se tornando uma casa digna para um clube como o Internacional. Lenta e obstinadamente. Sem arroubos, sem gritarias e choradeiras – sem se transformar na versão guasca do Extreme Makeover. A seleção brasileira, tenham certeza, estará bem hospedada na próxima quarta-feira.

domingo, 29 de março de 2009

EMPULHA, QUE É FRAUDE

Por Raphael Castro


Atenção: estamos diante de nova "não-questão" sobre o glorioso, vitaminado, idolatrado, e, sobretudo, MORTAL, Inter nosso de cada dia; a nova brincadeira chama-se "pra que serve o Gauchão", e certamente impressionará e ocupará os incautos que derem por válida a sua premissa, a ponto de com ela perderem um segundo que seja de suas felizinhas existências...

Razão

E o porquê da desqualificação acima? Simplíssimo: o problema está totalmente deslocado, já que a questão nada tem a ver com "teste" ou coisa que o valha, e sim com manter o foco e jogar com seriedade (contra quem quer que seja). Pensemos bem: ainda que o Inter ganhe de oito a zero de todos os adversários, dando assim a entender que o Regional é uma enganosa baba de cuia, basta que se encarem todos e quaisquer adversários com o devido respeito e, shazam!, não temos com o que nos preocupar quando dourar o salsichão. A "teoria da utilidade", a rigor, já morreu de morte morrida desde o salto 19 que calçamos com o Rondonópolis, quando então os nossos boleiros viram o preço a pagar pela soberba contra um time de descamisados lá do cerrado goiano (bom, e se não for cerrado lá, azar também...).

Recapitulação

Pois é, foi só achar que tava tudo ganho e "del no que del", ou seja, uma derrota com matizes de vexame pra um time de uma cidade cujo PIB inteiro deve ser a folha de pagamento do Inter. E é evidente que a lição foi aprendida, a ponto de ensejar o milagre da multiplicação dos gols que vimos assistindo – pois, se não estivessem focados e jogando sério, bastaria parar de correr no terceiro gol em cada jogo (o que, cá pra nós, seria postura mui abjeta, certo...?). De forma que a questão sobre a tal "serventia do Gauchão" simplesmente não se coloca: ele não é fácil, nem difícil, ele simplesmente "é", tem que ser ganho, ponto final, e deu. Quem complica ou não os jogos são os próprios atletas e a comissão técnica; e, se ganham fácil, é porque o time vem respeitando os adversários e jogando sério. Portanto, se dá pra dizer que o Gauchão serve pra alguma coisa, é pra treinar o foco e exercer uma atitude que será muito necessária mais pra frente. Tão simples quanto isso. Pra quem duvida: experimentem perder o Estadual, sem em contrapartida ganhar outra competição disputada simultaneamente; pois é...

Então tá

Assim, é óbvio que os mais espertinhos simplesmente não vão cair na esparrela de entrar nessa de campanha "ilusória" do Gauchão. A rigor, devo admitir que são mesmo umas goleadas meio narcóticas, pois, se não gerenciadas devidamente, podem mesmo ser só aqueles resultados que dão um "barato" no torcedor. Só que nem foi isso que aconteceu no ano passado, nem me parece o que está ocorrendo agora: de fato, o balaio no Juventude aconteceu justamente porque o time jogou com a cobra na bombacha, em vez de ter uma postura caprina e traseirona com um adversário que sempre foi, digamos, "não-semelhante" em tradição; em segundo lugar, a tragédia de Recife na CB do ano passado só aconteceu pela concepção carnavalesca de futebol então prestigiada pelo nosso técnico, mal de que não parece padecer o Adenor (que tem lá os seus próprios delíquios – mais raros, é verdade, desde que abandonou a Filosofia para se dedicar integralmente ao futebol...).

Finis

Pra concluir: essa questão de o Estadual ser uma várzea, que não serve pra nada, que é engana-bobo, é uma mentiraça deslavada: se a lógica dessa balela fosse perfeita, então qualquer bom resultado anterior a uma batatada seria também uma empulhação – o que, convenhamos, não é sustentável por quem se pretenda bípede; o que existem são oscilações – normais ou nem tanto – de times de futebol; qualquer coisa diferente disso desloca o foco do problema e, logo, afasta a luminosidade da solução (como diria o meu culinário, vivaldino, churrasqueador e vigilante avô, S.Assis P.Ererê, algo como "se fingir de cusco pra afanar picanha...").

Tópicas: ok, vai, tem que desenhar

Verdade, pode ter sido um arroubo herético colocar aqui as escalações aflitas: que preço não se paga pelo desvelo do FEBEPEÁ (suspiro); desenhemos, pois: o último time foi apontado no jogo com o Zequinha como "o" titular, ou seja, "a" invencível armada. Notaram que oito ou nove jogadores são exatamente os mesmo das duas escalações anteriores, coincidentemente mandadas a campo nos...Gre-Nais?

Tópicas 2: ajudinha

Incrível, e falam em goleada, em ano passado, no escambau a quatro de camargo almeida: por que não admitem logo que querem a todo custo algo para colocar no vestiário do "Ju"...?

Tópicas 3: verdade seja dita...

Que diferença da "Família Abelão": ninguém dá declaração fora da curva, a concentração parece ter se adonado do vestiário vermelho. Que continue assim...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

sexta-feira, 27 de março de 2009

GANHAR TUDO

Por Marcelo Benvenutti


Em 1990, eu ainda tinha tempo e paciência de sobra para assistir a quase todos os jogos de uma Copa do Mundo. Mesmo sendo aquela a Copa do Lazaroni, que no final das contas antecipou em termos táticos muito do que se viu acontecer depois, só que ele chegou antes do tempo em um país em que era necessário vencer uma Copa de qualquer jeito, desde que fosse jogando o futebol "carioca way of life".

Numa dessas tardes insossas me deparei com um Alemanha, na época ainda Ocidental, e Emirados Árabes Unidos. Pronto para um massacre, que veio a acontecer depois, diante da Alemanha com Matthaus, Klinsmann e Vöeller, nada mais natural, me acomodei para assistir ao jogo. Mas, no fim, o que me fez guardar esta partida na memória foi o Beckenbauer na casamata. Os alemães venciam por dois a zero e tomaram um gol dos árabes, treinados pelo Zagallo. O Franz, que já berrava irado no banco, entrou quase em convulsão, e assim continuou mesmo depois do time aplicar cinco a um no adversário. Sempre admirei a quase estupidez alemã no futebol em sempre seguir em frente mesmo quando tudo está perdido ou, ao contrário, tudo já está definido a favor. Foi assim nesse jogo, tinha sido assim na final de 1986 quando perdendo de dois a zero para a Argentina buscaram um empate e só perderam o jogo porque o adversário tinha Maradona e Burruchaga (aquele mesmo que tinha calado o estádio de um time "copeiro" dois anos antes). Se quiserem outro exemplo, assistam o filme "A Batalha de Berna". Nada a ver com outras batalhas bambas por aí. Uma batalha de campeões.

Fui lembrando dessa história, o Beckenbauer estressado no banco gritando para o time atacar num jogo que já estava definido num jogo da fase de grupos contra um adversário muito fraco, quando assistia ao Internacional na terça-feira diante do Esportivo. Depois de levarmos o gol do time de Bento quando estava três a zero, Tite começou a ficar nervoso. Taison diminuiu seu nervosismo. Mais tarde o Inter enviou outra sacola de gols em mais um saco de pancadas no Gauchão. Mas, mesmo assim, a câmera se fixava em Tite, de pé, gritando com os jogadores. Mexendo os braços. Orientando a equipe. Exasperado. Cansado. Estressado. Finda a partida e ele declara que não está satisfeito com o futebol apresentado. Que não deveríamos ter sofrido os gols que sofremos. Que a equipe tem muito que melhorar. Isso vindo do Tite, um treinador que sempre se definiu por dar entrevistas evasivas, inconclusivas e invariavelmente lotados de um otimismo destrambelhado.

Concordo com as atitudes e com as palavras do treinador colorado. Este é o espírito que deve ter um grupo vencedor. Que eu sempre quero que os times do Inter tenham. Jogar para vencer. Sempre. Se a vitória está concretizada, jogar para fazer mais. Se tomar um gol, partir pra cima. Se o adversário é forte, jogamos além dos limites para vencer. Se o adversário é fraco, idem. O problema é do adversário. Se o Gauchão é um torneio onde não temos inimigos à altura? Azar deles. Que o Rolo Compressor esmague a todos. Sem distinção. Porque, nós todos sabemos, o Gauchão não é parâmetro para nada. Mas é um torneio histórico que devemos conquistar de forma rápida e rasteira.

E que não se repita mais a dormência do time em Rondonópolis. A Copa do Brasil, não se enganem, é traiçoeira, mas os adversários são, na maioria, tão ou mais fracos que no Gauchão. Temos que avançar assim como nesse returno do Regional. Respeitando os adversários jogando os 90 minutos com obsessão castelhana, obediência tática germânica e talento individual brasileiro. Somente assim alcançaremos nosso objetivo. Que é, resumindo, bem simples e direto. Ganhar tudo.

quarta-feira, 25 de março de 2009

O PÉ ESQUERDO DE KLEBER

Por Gustavo FosteR

Provavelmente antes dos 30 minutos do primeiro tempo da goleada (como tem sido recorrente) contra o agora não-acentuado Noia, Pedro Ernesto Denardin sentencia, em ondas médias: "esse Kleber é fantástico, é o melhor passador do Brasil!

"Não tenho acompanhado o futebol do resto do país, admito. Menos ainda os dados sobre número de passes acertados e média de eficácia nos cruzamentos, mas hei de, se não concordar, acreditar na informação dada pelo narrador. Que passador esse Kleber!

É rápido? É. Marca bem? Até que marca. É raçudo? Chega ao fundo de campo com frequência espantosa? Tem habilidade? Sim, sim e sim. Mas o que faz do selecionável ex-santista um jogador, para mim, fora do comum é a qualidade do passe.

Kleber tem nos pés a precisão congelante de John Bonham. Precisão chata, indubitável. Se o canhoto chega perto da linha de fundo e ameaça um cruzamento, o tempo-espaço se esculhamba e dá pra ver a cabeça na bola e a bola no fundo das redes. Assim como ao ver a baqueta do Bonzo sendo levantada: perfeição é o mínimo. Invariavelmete.

A lateral-esquerda é talvez a posição menos decisiva do futebol. Zagueiros são imprescindíveis; volantes resguardam tudo; se não são os meias, quem faz o time andar?; atacantes fazem os gols. Agora, laterais... Tá, cruzam, ocupam os lados do campo, cobrem a subida dos pontas, mas pô...

Só que Kleber é decisivo. Um cruzamento, um lançamento, uma jogada sua podem decidir um jogo. Não é a toa que o colorado é convocado regularmente para a Seleção Brasileira. Seu pé esquerdo é precioso, algo que há muito não se vê no Brasil (e no mundo, vale dizer), que carece de laterais desde Roberto Carlos (não o Rei, mas o do meião de 2006), que é lembrado na Europa como craque e no Brasil como culpado.

Nosso lateral parece não se dar conta de que futebol não é quantificável, não se gasta. Ele só joga o necessário, como que com medo de que um dia a bola se recuse a tomar a direção certa: "Já me usaste demais, agora chega!" Melhor ter cautela. Quatro a zero? Não pede bola, fica na intermediária defensiva, de vez em quando recebe a bola, olha para um lado, olha para o outro, analisa as possibilidades e dá apenas um toque na bola.

Apenas um toque, mas nunca um toque simples, nunca um toque mediano, corriqueiro. Sempre com classe, tal qual um médico renomado, cansado de medicar aspirina. Chega de "minhas juntas tão doendo", "acho que o remédio não tá fazendo efeito", "minha pele tá muito oleosa"... Kleber quer cirurgias cerebrais arriscadas, quer final de campeonato mundial com três expulsos para cada lado. No resto dos jogos, é só ir ao campo adversário três vezes, dar um ou dois cruzamentos, meia dúzia de passes e pronto. Maçante.

E é por isso que o Inter tem nas mãos peça rara. Não existem mais laterais convincentes. Nem aqui nem no exterior. São meias improvisados, zagueiros reservas quebrando galho, volantes que sabem jogar, mas nunca um bom lateral. Assim dito, nos resguardemos a assistir e pensar: "esse Kleber é fantástico, é o melhor passador do Brasil!"

terça-feira, 24 de março de 2009

VINTE E DOIS REAIS POR MÊS

Por Daniel Ricci Araújo

Esta crônica é para quem não faz. É para os inertes, os parados, os descuidados de toda ordem.

Essas porcas e mal traçadas linhas são para você, meu caro colorado não sócio. Para você que não dá ao Inter a quantia módica e singela de vinte e dois reais por mês. Sim, meu caro, que coisa triste: o Inter abarrota as suas coronárias de alegrias mil, mas você, meu caro econômico de mão torta, você acha que o Clube do Povo não vale no mínimo vinte e dois reais por mês. Meu senhor, minha senhora, convenhamos: o seu caso é de análise. Quando você vai curar essa enfermidade lamentável do pão-durismo clubístico? Bom, se depender da minha ajuda, hoje mesmo. Ah, não? Então ora, vejamos só.

Com vinte e dois reais, você vai ao cinema com o amor da sua vida, e falta dinheiro. Você chega ao cinema, compra dois ingressos, um balde de refrigerante, um pacote de gordura saturada em forma de pipoca e vai para dentro da sala, feliz e realizado. Junto com o preço do estacionamento, você já jogou quase duas mensalidades do Inter fora, ou seja: comparando esse gasto com o que o Inter retorna em alegrias, esse precisa ser, no mínimo, o melhor filme que você assistiu na vida. Mas não é. Na verdade, é uma droga. Ou você vê uma comédia na qual se dá uma risadinha caricata a cada quarenta minutos, ou um mamão com açúcar insuportavelmente prolixo – daqueles que só os especialistas veem algum sentido artístico, e ainda assim muito questionável. Veja a tragédia, meu caro: você gastou quase quarenta reais e não obteve um por cento do contentamento trazido pelo Inter à sua vida. A desproporção é evidente.

Mas continuemos. Agora é a vez de sair para jantar. De novo, você e o par perfeito. A churrascaria está lotada, muito bem. Vem o primeiro pedaço de costela com espuma grudada no osso: pimba, a carne é de ontem. O garçom ouve a reclamação e solta um protocolar e quase desaforado "o senhor quer visitar nossa cozinha?". Surge-lhe aquela indignação inútil de quem sabe estar falando com as paredes. A picanha está com a ponta queimada, a salada de maionese não tem cenoura nem ovo, a Coca-Cola está um pouco morna, mas todo o resto está ótimo. Você gastou cinquenta reais, por aí, e, desiludido, saiu do restaurante cogitando a titularidade de Alecsandro. Você pensou no Inter, mas não pôs as mãos no bolso para ajudá-lo. Valeu a pena? Eu acho que não.

Para completar a travessia, agora é a hora de pagar a conta do bar na Cidade Baixa. Você e seus amigos tomaram uma quantidade, digamos, entre algumas e todas e, claro, a discussão principal é o futebol. Você riu com alguns amigos e zoou outros. Ah, sim: agora você se comporta como um torcedor vitorioso, ou seja, um fanático colorado. Você dá risada, e nosso time é isso, e nosso time é aquilo, e que imortal é esse que só morre, e esse ano é tudo nosso, e por aí vai. Agora, meu adorável colorado, você chega às raias do cinismo involuntário: nosso time só contrata craques! Mas como assim, cara-pálida? Nós pagamos a folha e você é quem conta vantagem no bar? Onde está seu pingo de suor, sua cota de sacrifício? Que coisa: você gastou vinte e cinco reais, deu uma risada atrás da outra mas ajudar o Inter que é bom, necas. E a consciência, como vai? Assim não pode ser, meu caro.

Aí você me responde a frase categórica e estúpida: o Inter não paga as minhas contas. Ora, o seu filho paga as suas contas? O seu sogro paga as suas contas? Não, de regra não pagam. Mas você não gosta deles menos por causa disso (nem do sogro), e mesmo assim, claro, nunca deixaria de acudir seu amado parente caso ele precisasse. Assim, sejamos claros: o que lhe falta não é afeto. Não. O que você precisa é de consciência de classe. De ver que sua parte, no Inter, é imprescindível. O sujeito pode até não ajudar, pode não pegar junto, mas nesse caso será cobrado, mais cedo ou mais tarde, pela pessoa mais chata de todas: ele mesmo. E essa dívida, meu caro, é tão inevitável como o gol do Gabiru. Estará sempre lá, escondida em algum canto da caixola, para você lembrar dela e dizer em voz baixa e lamentavelmente "ah, outra hora vejo isso".

O que um cinema, um restaurante e um punhado de cervejas têm em comum? São coisas divertidas mas que não fazem parte de você. Quer um investimento duradouro? Ajude o Inter. Nada melhor do que sair do Beira-Rio sabendo que, mais do que nunca, você tem parte naquilo. E esse sentimento é barato, não precisa arcar com consumação nem dez por cento de serviço de mesa. É como se você pagasse por uma perninha, um fio de cabelo, por uma unha da sua própria paz de espírito. Trata-se, sem dúvida, do melhor investimento do mundo. E sabe qual o preço simbólico disso? No meio de tantas besteiras a poluir a fatura do seu cartão de crédito, pedimos por uma mixaria que você tem a coragem de não pagar. Míseros e malditos vinte e dois reais por mês.

Pois então, lembra da primeira frase dessa crônica? Espero sinceramente que, daqui em diante, ela já não sirva mais para você.

sábado, 21 de março de 2009

AINDA O DESMERECIMENTO

Por Raphael Castro


Bem, e dá-lhe retomar um assunto polêmico. Não dá nada, pois quem ganha com isso é o(a) caro(a) leitor(a) – mesmo que com certa dose de veemência, como a destilada aqui na semana passada (volto nesse ponto adiante, prometo). A bola da vez, como em outros carnavais, é o Gauchão: num toque de mágica, o que era grande feito há dois anos agora se volve a pó de traque da pulga da mosca do cocô do cavalo do bandido. Normal.

...Em frente

Normal, mas com um porém: não sei quanto aos que estão lendo agora, mas, pessoalmente, eu sempre quis o Inter ganhando até par ou ímpar de cego. E acho sinceramente que priorizar um em detrimento de outro é coisa de medíocre ou de pai injusto. Se o clube de fato é grande e organizado, é perfeitamente possível disputar o que for ao mesmo tempo, e pra ganhar, repito. Nem entro na armadilha da discussão sobre "titulares vs. reservas"; trata-se, esta, da mais cabal "tertúlia para entorpecer bovinos" como diria o parnaso. Sim, porque é possível formar TIMES – eu disse TIMES, no plural mesmo, hein – competitivos o suficiente para almejar grandes vôos em qualquer instância ou campeonato (até, eureka, simultaneamente). E me recuso a pensar de outro jeito, pois admitir o contrário me parece ser um autêntico recibo de nanismo mental e futebolístico.

Atualmente

Vejamos o exemplo do próprio Inter: ao passo que uns mais iluminados consideram "ruim" ter a nossa fartura de alternativas, agora podemos estar com o D’Alessandro no estaleiro e o Nilmar nos lençóis sem nenhum percalço. O porquê? Planejamento, competência e seriedade. Ou alguém aí não sabe qual é o nosso time "titular"? Ou alguém acha que se sai o argentino e entra o Andrezinho – e se sai o Andrezinho e entra o Giuliano – ficamos pendurados no pincel? Pra mim, o rachão do Inter deve ser melhor que muito jogo oficial da Série A. Tem um timaço de um lado, e outro quase tão bom como adversário. Só que tem gente que não gosta de opção, fazer o quê? Por esses, a gente ‘tava declarando linha de telefone no imposto de renda até hoje...

Deslize

Portanto, pra mim tem que jogar "às ganha" em qualquer lugar e/ou situação. E nem se diga que quando fomos mal em 2007 e em 2008 priorizamos ou menosprezamos o que quer que fosse. Pessoalmente, espero que o Abel tenha uma nova pedra no rim a cada vez que ouço falar da Libertadores desse ano (concedamos, por caridade, um momento de gáudio e riso ao(à) leitor(a) aflito(a) ); mas não se diga que foi por priorizar, menosprezar, desfazer ou essas coisas que alguns adoram fazer para esconder os próprios fracassos (como diria o meu antropólogo, sociólogo, psicólogo e sagaz avô, S.Assis P.Ererê, "assim, como quem tira a capota justamente pra esconder as guampa’...").

Tópicas: the "FEBEPE..." word

Pô, que preguiça. Mas, para os veementes da semana passada, vamos lá (suspiro):
1) Victor; Léo, Réver e Rafael Marques; Ruy, Diogo (Jonas), Willian Magrão (Adilson), Tcheco, Souza e Fábio Santos; Alex Mineiro (Reinaldo);

2) Victor; Léo (Fábio Santos), Réver e Rafael Marques; Ruy, Diogo (Jonas), Adilson, Tcheco, Souza e Jadilson (Héverton); Alex Mineiro;

3) Victor; Léo (Willian Thiego), Réver e Rafael Marques; Ruy (Maxi López), Adilson, Tcheco, Souza e Fábio Santos; Jonas (Maxi López) e Alex Mineiro.

Entenderam, ou querem que desenhe...?

Tópicas 2: tripudiando?

Nunca pensei que pudesse chegar a pensar isso, mas quem em sã consciência pode dizer que a lesão de um jogador como D’Alessandro foi assim, digamos, "providencial"? Em tempo: que volte logo o gringo...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

sexta-feira, 20 de março de 2009

AS BENESSES DO CASAMENTO

Por Thiago Marimon


Todos já ouvimos que o casamento é uma instituição falida. Eu discordo. Talvez por ser casado há pouco tempo, ou, provavelmente, por concordar que, como já dizia Tom Jobim, "é impossível ser feliz sozinho". Ao que tudo indica, Nilmar também pensa assim. Ele que, logo mais, fará um trato de comunhão de bens (salve Jorge) e, por este motivo, está liberado do clássico contra o poderoso Nóia, amanhã à tarde, no Gigante.

O presente casório vem em boa hora. Tite é realmente um homem de sorte. A sagração nupcial abre caminho para que, sem que seja necessário administrar o ego de um eventual reserva descontente, ele possa atender aos pedidos de uma grande parcela da torcida, na qual eu me incluo, que deseja ver em campo um centroavante de referência, acompanhado de um atacante veloz.

Nilmar e Taison são, de fato, ótimos jogadores. Porém, já percebemos que contra ferrolhos, como o armado pelo falecido Rondon United, nem sempre velocidade e técnica são o caminho mais curto para as redes. Muitas vezes se faz necessário um gol de canela, de barriga, um gol de centroavante. Aí que entra Alecsandro, o homem de área, o legítimo jogador aipim. O ingresso dele no time titular pode ser o complemento ideal para dar liga ao ataque rubro. Se para o nubente sobra velocidade, mas falta poder de finalização, e um bocado de força no chute, o matador tem demonstrado compensar sua pouca mobilidade com oportunismo e faro de gol.

Logo, Nilmar e Alecsandro formariam minha dupla de ataque ideal, ficando Taison como uma excelente alternativa para o segundo tempo. Amanhã, enquanto o recém casado aproveitar sua lua-de-mel relâmpago, o Gigante verá a diferença que faz um homem de referência, plantando um enorme ponto de interrogação na cabeça de Tite. Alguém terá que sair para o ingresso de Alecsandro. Até aí não veria problema, haja vista que temos pela frente um campeonato de trinta e oito rodadas, com muitos cartões e contusões. Porém, explicar isto para aquele que ficar no banco, não será tarefa nada fácil.

Se o casamento será bom para Nilmar eu não sei, mas certamente, será interessante para o Adenor.

Saudações Coloradas...

quinta-feira, 19 de março de 2009

A QUEDA DO MURO

Por Marcelo Benvenutti

Não lembro desde quando existem a grade e os arames farpados na mureta das arquibancadas e das sociais do Beira-Rio. Desde criança recordo de, quando nem alcançava direito a altura da mureta, me agarrar na grade para me apoiar e enxergar o campo dali de perto, em cima da lateral. Dali de onde dá pra ver até a expressão dos jogadores quando de uma jogada, uma falta, um gol.

Mais longe que de quando existia a coréia, claro. Junto com a extinção da coréia, já alguns muitos anos atrás, foram extintas diversas espécies de torcedores. O fiel de guarda-chuva, aquele que não saía da coréia nem abaixo de chuva de pedra. O torcedor da mudada da coréia, aquele que ficava só no ouvido do treinador colorado, do treinador adversário, do bandeirinha, dos brigadianos, do repórter, xingava tudo e todos. O fim da coréia decretou o fim do setor mais popular e barato do estádio. Com meia dúzia de pilas o sujeito torcia, bebia uma cachaça e ainda pagava a passagem ida e volta, nem que pra isso passasse por baixo da roleta. Mas a coréia se foi e hoje os fantasmas do passado coabitam com a torcida contemporânea em meio aos cantos da popular, nome que rivaliza com a história de seu próprio significado. A popular original, morreu.

Em meio aos preparativos para receber um jogo de eliminatórias, celebridades, gente importante, Ricardo Teixeira, o escambau, a modernização chegou aos muros das arquibancadas. Das sociais já saíram. Das inferiores também sairão. Basta visitar o Beira-Rio e observar a maquete do futuro estádio reformulado. Não existe nem mesmo a mureta. Apenas um fosso, por segurança, entre o gramado e as arquibancadas. Com o fim das grades e do arame farpado muitas outras espécies de torcedores serão extintos, de forma abrupta e rasteira. Não que eu seja contra o progresso, mas me permito um certo saudosismo antecipado.

Inúmeras vezes cheguei em cima da hora do jogo e, sem paciência para procurar um lugar, ficava de pé, as mãos coladas nas grades, perto do bar do meio de campo nas inferiores, e torcia por entre os metais, levantando ou abaixando a cabeça para enquadrar melhor a jogada de acordo com o ângulo que favorecia a observação. Nas grades nada me tirava atenção. O campo estava ali na frente. Não precisava me abaixar, sentar, o placar eletrônico na minha visão, a cerveja à mão. Uma ou outra vez, alegre e bêbado, subi a mureta e fiquei de pé, me segurando no arame farpado mesmo, cantando qualquer bobagem, vibrando com uma grande vitória, um título. Um pano qualquer aparecia e ficava lá gritando. O apogeu da insanidade colorada. Outras vezes vi os torcedores exibicionistas chamando os fotógrafos. Queriam sair na capa do caderno de esportes. Subiam na mureta e faziam poses. Tudo muito prosaico, engraçado, mesmo provinciano.

Agora, a Copa do Mundo é nossa, ordenadamente sentaremos em nossas cadeiras, numeradas, e assistiremos como verdadeiros cavalheiros ingleses do século XVIII ao desenrolar dos jogos bebericando nossos cafés com adoçantes ou sucos de caixinhas. As mulheres desfilarão modelos fashions das camisetas rubras. As crianças brincarão nos vãos de acesso ou perto da muretas e abanarão para os jogadores quando estes forem fazer o aquecimento. Ao torcedor que não for possível o acesso, restará ficar em casa, como sempre foi, só que agora com o payperview em dia, vários ângulos disponíveis no controle remoto e latinhas de cerveja na geladeira. Os menos favorecidos escutarão a rádio no celular ou acompanharão os jogos na tv a cabo popular, mais conhecida como gatonet, restando a uns mais resistentes os canais piratas de sites itinerantes. Uma vez ou outra o animador de torcidas dos altofalantes do estádio fará com que a torcida inicie uma ola. Será assim. Será assim, dizem as profecias.

Os torcedores do passado, nós, não passaremos de vagas lembranças em fundos de imagens de vídeos históricos. Seremos tão anacrônicos quanto o Muro de Berlim.

terça-feira, 17 de março de 2009

UM NOVE NA FRENTE, POR FAVOR!

Por Daniel Ricci Araújo


Se esse time do Inter tem um defeito, este para mim já está claro e descoberto: o ataque é leve demais.

Vejam o jogo do último domingo, contra o Inter de Santa Maria. As discussões acadêmicas, até ali, quase se restringiam tão-somente à necessidade ou não da escalação de Sandro como muleta dos tais “volantes-móveis” Guiñazu e Magrão. Quase ocorriam seminários e conferências na Suíça para debater a elevada questão, mas o ataque, ah não, essa ainda era uma certeza inexpugnável: Nilmar e Taison estavam mais irremovíveis do onze inicial do que a família Sarney está do Maranhão. Mas a vitória de domingo, meus caros, há de ter mudado isso.

O Inter do primeiro tempo, com Sandro, continuava praticando o irritante estilo de jogo “Copa de 70”, cheio de tentativas fantásticas de linhas de passe pelo meio da zaga inimiga. Uma atrás da outra, as tabelinhas afunilavam-se pelo meio do campo como um engarrafamento da Terceira Perimetral e suas cinco mil sinaleiras. A torcida já se desesperava quando Taison, o romântico secreto da noite, faz por achar um tiro fabuloso da intermediária e assim inaugura o placar com direito a corações pela metade e a frase clássica: “ela sabe quem ela é”. Mazá, Taison!

Mas voltemos ao jogo. Vem o segundo tempo e a equipe continua sustentando o magro 1 a 0. E aí surge Tite com a idéia tão correta e definitiva quanto atrasada no tempo. Entram Giuliano e Alecsandro, e o Inter, a partir daí, voa. A equipe, com os dois, ganha uma nova mecânica de jogo, recebe impetuosidade, gana, jogo vertical e imprevisível para o adversário. Giuliano tem em velocidade e habilidade o que Alecsandro possui em imposição física, envergadura, massa - enfim, essas coisas que distinguem os centroavantes do resto do mundo de pessoas normais.

Meus caros, o que se vê a partir daí, mesmo não tendo ocorrido mais nenhum gol, é nada menos do que uma exibição de luxo. Quando o Inter acrescenta peso em seu ataque ele não está tornando-o lento, pelo contrário. Está, isto sim, pondo-o de pé. Não se pode jogar pelo chão o tempo todo. Não se pode tabelar o tempo todo. Não se pode almejar o gol de placa o tempo todo. Não, não e não. Dando a si mesmo de presente um centroavante, o Inter corta o excesso de velocidade e põe a pique a instabilidade ofensiva do time.

Futebol é um jogo no qual o maior planejamento possível deve desembocar na mais bem acabada das casualidades: é pensando em um centroavante e desejando-o que chega a nós a bola mascada da linha de fundo e que fuzila a zaga adversária, ou que pulula dentro da área até achar um pé salvador para estufar as redes. Senhoras e senhores, convenhamos: para o seu próprio bem, é melhor deixar a Copa de 70 nos vídeos de arquivo.

Alecsandro – e também Giuliano, mais atrás – estão prontos para entrar no time do Inter. Nada contra Taison ou Nilmar, dois ótimos jogadores. A questão não é individual, é tática. Com um atacante de referência, mais perto da área, qualquer velocista crescerá de produção tendo de jogar menos de costas para o gol e com mais espaço pelos lados do campo. Anotem aí: Alecsandro (ou Walter, não esqueçam desse nome, eu lhes afirmo) darão ao Inter a consistência que falta para tornar-nos o melhor time do Brasil.

Meu caro Tite, faça-nos o favor: escale um centroavante. Jogos como o de ontem ou contra o União Rondonópolis mostram que um time técnico e leve em demasia está obrigado a correr duas vezes mais para fazer um gol. Deixe o Inter cabecear bolas na área, trombar com zagueiros, fazer abafa no goleiro, deixe o Inter jogar com um artilheiro. Um nove na frente, por favor.

Se isso ocorrer, o Inter tem tudo para ter um Centenário ainda mais inesquecível.

domingo, 15 de março de 2009

SEMPRE O FEBEPEÁ.

Por Raphael Castro

Os(as) caros(as) leitores(as) que me desculpem, mas hoje temos que derivar para um assunto não exatamente afeto aos lindes (com ”e” mesmo) colorados; sim, trata-se dele, o inefável, o irrefreável, o inevitável FEBEPEÁ (de “FBPA”, ali, logo abaixo, no mimoso escudo azulado). Pra quem não se lembra, esta é a sigla - talvez melhor dizendo, “acrônimo” - para “Festival de Balelas que Popotiza os Aflitos”. Sim, creio mesmo que é dever deste nobre e independente veículo ter a boa vontade de explicar algumas enormidades por vezes veiculadas pela imprensa lida, escrita, falada e/ou por mímica, sendo a mais recente delas o propalado “desinteresse” de nossos empijamados amigos pelo Gauchão. Ah, pois é...

Adiante

O mais fácil, por evidente, seria denunciar o falso argumento de que é impossível disputar duas ou mais competições com igual determinação. Não é, e, como visto, seriam os próprios aflitos os primeiros a nos fornecer exemplo prático para demolir esta inocente empulhaçãozinha. Só que isto, então, estimados(as) leitores(as), apenas serve para desligar as mentes mais vagais da encheção de saco que é o raciocínio crítico: ora, pergunto eu, como é possível denunciar a total possibilidade, sim, de duas ou mais competições simultâneas, sem igualmente esculhambar esse discursinho blasé do “não entramos com o mesmo espírito no Gauchão”, ou, pior ainda, do “queremos jogar o Gauchão com os titulares”? Como se vê, é tanto vai-e-vem e reme-reme, que, das três, uma: ou esperam enganar os espíritos mais rasinhos com esse conversê gelatinoso, ou acham que os prosélitos de Papai Noel compram jornal, ou devem todos, direção, comissão técnica e diretoria, padecer de certa esquizofrenia galopante mesmo...

Adiante 2

Pois bem, é tão primária e evidente a presença do FEBEPEÁ nos últimos dias, que chega a ser risível essa tentativa de, “só agora”, dar “a devida importância” para o Estadual. Só que a verdade, pra quem não tem dente verde, é, nua e crua, una e indivisível, esta aqui: a manobrinha marota do noticiário recente busca apenas ressignificar o fiascão da Taça Fernando Carvalho, e o calor do ferro ainda quente de dois Gre-Nais gravados nos fundilhos. Daí o tema de hoje, estimados(as) leitores(as): não se trata aqui de esculhambar nossos colegas aflitos ou a “mídia”, mas de defender o feito conquistado pelo Inter até aqui, sem prestidigitação ou chorumelas; quererem me convencer de que “ok, agora vamos jogar sério” é equivalente a tentar diminuir, por tabela e mui perniciosamente, o nosso amado Colorado e o seu turno já vencido. E isto, meus(minhas) amigos(as), este que vos escreve não pode admitir ou permitir. Ah, não, mas não mesminho: se querem passar cheque sem fundo, procurem outra quitanda, que esta aqui tem tutano e é vermelha até “os gurgumilho’ ” (como diria o meu filosófico, ortopédico, neurológico e futebolístico avô, S.Assis P.Ererê, “não adianta chutar bem se a cabeça só serve pra escanteio...”).

Finis

Então é preciso que não se assustem os(as) diletos(as) leitores(as) com manifestações febepeazísticas: elas, como já dissemos, continuarão a existir, tão certo quanto dois mais dois podem dar cinco de vez em quando; é preciso que estejamos atentos, e que as denúncias pertinentes sejam feitas caudalosamente nas caixas de entrada dos “ombudsmen” dos jornais: ajam, mobilizem-se, façam camisetas, batam panelas - já lancei a campanha aqui mesmo, mas não custa nada reforçar: “Diga Não ao FEBEPEÁ”...

Tópicas:

La Vicki Enfim, tentaram com a “Deboráh” (com ênfase no “ah”...), mas ela foi embora; ainda bem que agora já se encontra em andamento outra tentativa de termos a nossa “Victoria Beckham” no Sul, pois não?

Tópicas 2:

colorsLa U mostrou que não tinha nada de boba e jogou de vermelho: tivessem os colombianos a mesma presença de espírito, provavelmente não perderiam no meio da semana. Incautos...

Tópicas 3:

nada ganhoÉ claro que foi bacana ganhar o turno, principalmente da forma como foi; só que com o FEBEPEÁ agora “levantando a sua feia cabeça”, após bravamente triunfar sobre um time chamado Chicó, só nos resta uma alternativa: eu quero, demando, exijo, que ganhemos também a Taça do Dr. Koff. É, no mínimo, depois de tudo isso, obrigação. E tenho dito...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

sexta-feira, 13 de março de 2009

PRÉ-LIBERTADORES.

Por Thiago Marimon

Pré-Libertadores, assim deve ser chamada a Copa do Brasil. Exijo cartazes colados às paredes do vestiário colorado. Ao lado, por favor, colem outros, escritos, em letras garrafais, MOTIVAÇÃO. Pois, até o mais ferrenho secador aflito sabe que temos infinitamente mais time que o Rondon United, e que não tem fundamento um clube do tamanho do Inter sofrer do jeito que sofreu para passar da primeira fase desta Copa do Brasil. A única explicação possível? Ausência de holofotes, falta de motivação.

Sim, eu sei que a Copa do Brasil é uma competição menor. Times de pouca importância no cenário nacional já ergueram este caneco, ou, pelo menos, disputaram finais. Há quem diga que se trata de um assistencialismo do futebol nacional com equipes de pouco planejamento, times de empresários, montados apenas para esta competição. Em parte eu concordo. Entretanto, embora seja menos importante, ela ainda garante vaga à Libertadores. E, enquanto assim continuar, EU QUERO ESTE TÍTULO.

Qualquer cabeça pensante sabe que um Clube com a estrutura, elenco e FOLHA SALARIAL equiparada à Colorada tem a OBRIGAÇÃO de disputar a maior competição continental. Nem que seja para manter a folha em dia. Pois, apesar de atualmente a Libertadores contar com equipes do nível de Boyaca’s, Aurora’s e Guarany’s, ela ainda reserva fortes emoções para aqueles que chegarem à fase de mata-mata – ou morre-morre, para alguns - garantindo assim uma grande exposição internacional da marca, retorno em sócios, torcida, prestígio e receita. É desta competição que nós, por decorrência de falta de planejamento, uma forte ajuda de Abel Braga e uma pitada de falta de comando técnico, estamos fora.

Sim, eu também conheço o péssimo histórico colorado. Se soubesse que na próxima fase teríamos um clássico Fre-NAL, ou ainda, uma disputa contra o Barcelona, eu estaria mais tranqüilo. Pelo contrário, encararemos o poderoso Bugre Campinense, forte candidato a divisão azul do Paulistão 2010. É aí que mora o perigo. De adversários minimamente preparados, enfrentaremos somente Fluminense, MSI, Flamengo e, forçando a amizade, Santos. Contudo, até chegarmos à fase quente desta competição, temos ainda muitos medíocres para bater, tal qual acontece com os hoje mais afortunados, que disputam o torneio continental.

E falando neles, há quem diga que a Copa do Brasil é a porta dos fundos da Libertadores. Coitados, esquecem que, não fosse esta passagem nada secreta, no milênio passado não haveria Ajax pelo caminho, pois também não haveria o poderoso Ceará de Nilson. Já dizia Maquiavel que os fins justificam os meios. Logo, o Fluminense, não fosse pela diarréia típica carioca e a velocidade dos equatorianos da Liga, seria menos Campeão Continental porque entrou pelo atalho mais curto?!

Existe ainda o argumento que a copa atrapalha o nacional, pois parte dos torneios são disputados simultaneamente. Meia verdade. Para comprovar, um pouco de estatísticas. Comparando as campanhas de Inter e Sport ano passado, nota-se que, enquanto disputávamos somente o nacional e o time do nordeste as duas competições, o que perdurou por apenas cinco rodadas, conquistamos somente quatro pontos (1V; 1E; 3D), enquanto que o Sport somou oito (2v; 2E; 1D). Terminando o Nacional com apenas dois pontos menos que nós (um empate a mais), com maior número de gols marcados e maior saldo de gols. Claro que, assim como toda estatística, estes números não servem de fundamento indiscutível, todavia, apesar de nesta época nosso técnico estar com a cabeça nos petrodólares, já é um bom parâmetro.

E, finalizando, justifico com um bocado de história, a qual demonstra que nos damos melhor em competições estilo play-off. As inúmeras finais da década de 70, a Libertadores, Sula, Recopa, Dubai e Mundial estão aí para fortalecerem minha crença.

Entretanto, se tudo isso não for suficiente para convencê-los que temos a OBRIGAÇÃO de vencer esta Copa, eu APELO, na lata.

Lembrem-se, é o ano do CENTENÁRIO.

Saudações Coloradas...

quinta-feira, 12 de março de 2009

O HOMEM QUE SABIA SEUS LIMITES.

Por Gustavo Foster


Coreano é uma língua muito feia. Que me desculpe o oriental que, por um acaso, me lê. Mas não é bonita a língua sul-coreana: trancada, rápida demais, repetitiva. Por vezes, irritante. Falo com tanta certeza por ter trabalhado, durante três meses, com dezenas de coreanos. Não imagino o que acham do português do Brasil por lá (dizem que o nosso é um dos mais difíceis idiomas), mas eu prefiro mil vezes ouvir alguém falando francês, italiano – até mesmo inglês – do que o coreano.

E é do Pohang Steelers, time sul-coreano, que veio Andrezinho. E feio também parecia seu futebol, ao chegar. Impossível não lembrar do impressionante preconceito que a torcida colorada tinha contra o meio-campo: "Ah, nunca que esse coxa colada vai dar certo!", " Pra que contratar esse cara?, nem correr sabe!", "Melhor jogador do campeonato sul-coreano até o Michel é!" e impropérios afins.

Andrezinho ficou na dele, inteligente que é (aliás, a inteligência do negro de cabelo trançado merece algumas linhas: nunca reclamou de nada, nunca colocou-se contra a torcida, sempre valorizou o time em que estava e jamais provocou desavenças com qualquer pessoa relacionada ao Inter. Esperto). Como quem sabe o lugar que ocupa e o lugar em que deve estar, o carioca esperou. Esperou sentado, vendo Dalessandro, Alex, Guiliano, mais um pouco de Alex...Até que alguém se machucava, ou tomava um cartão vermelho, ou pedia folga para negociar com a Europa, ou alegava problemas familiares (para negociar com a Europa). E lá chamavam Andrezinho, o tapa-buraco. Falta volante? Andrezinho. Não temos meio-campo pra por? Andrezinho. O atacante não apareceu? Chama o Andrezinho. Do meio pra frente, ele fez todas.

E é ai que entra o ponto forte desse jogador: do meio pra frente, ele fez todas. E fez bem.

Andrezinho fez tantas improvisações – e tão bem – que chegou a hora de vê-lo desde o início, com seqüência e no lugar de origem. Como que combinado, saiu Alex. A imprensa, que já não gosta de defensivismo, praticamente obrigou um esquema com dois armadores. E quem seria o armador? Logicamente, o já considerado 12º jogador colorado. E, tal qual um formigueiro que é pisoteado por um tranqüilo elefante, Taison – até então o destaque incomparável do time de verão colorado – foi posto à sombra por um rápido, passador, centralizador, armador e, vejam só, chutador Andrezinho.

Ele já disse que, ao vir para o futebol gaúcho, aprendeu "a marcar e a atacar melhor", e é inegável a afirmação. Quando jogou com a camisa 5, na função de Magrão (que, se não sente, deveria sentir-se ameaçado), não só não comprometeu, mas jogou muito bem, marcando e chegando ao ataque como se aquela fosse sua função desde a concepção. E assim foi quando jogou substituindo Dalessandro, Alex, Taison e quem mais ele tenha substituído.

A dúvida que fica é se tudo isso é justificativa suficiente para tirá-lo do banco e afirmá-lo de vez como titular ou mantém-se a ideia de que o time é mesmo forte o bastante para ter um jogador do nível de Andrezinho no banco de reservas. Minha opinião ainda passa mais perto da segunda, mas não é difícil para mim imaginar um jogador de pernas tortas, coxas coladas, cabelo rastafari e andar desajeitado entrando em campo com a camisa 10 vermelha e tornando-se, discretamente, um dos jogadores mais importantes do elenco.

terça-feira, 10 de março de 2009

HABEMUS CENTROAVANTE.

Por Daniel Ricci Araújo


Qual a diferença entra a equipe que sofreu tremendamente para eliminar o União Rondonópolis e a do último sábado, responsável por um atropelamento brutal ao bom time do Veranópolis? Claro, uma diferença só não há – como diria o filósofo, tudo é uma série de coisas. Mas se pudéssemos falar de uma única mudança, qual seria? Para mim, é fácil.

No sábado, o Inter jogou com centroavante, e aí está a verdade e mais um pouco. Sim, meus nobres leitores, aqui lhes fala um “centroavantista” de carteirinha. E agora sim, habemus centroavante! No sábado, o melhor elenco do Brasil foi, pela primeira vez, um time de futebol completo. Pela primeira vez, um cruzamento encontrou um camisa nove pronto para cabecear a bola rede adentro. Pela primeira vez, um atacante colorado deu as costas para o marcador, girou e chutou a gol com mínima força e possibilidade de marcar. Pela primeira vez, o zagueiro teve de preocupar-se com um matador que não saía quase nunca de dentro de sua própria casa, como diria Figueroa. E não querendo ser repetitivo mas já o sendo, só assim, pela primeira vez, o Inter jogou um futebol à altura do que esse maravilhoso elenco pode nos proporcionar.

Sim, é claro, nos entendamos: Taison e Nilmar são muito bons jogadores, nada contra. Avaliados por si só, qualquer um dos dois têm voz e vez em praticamente todos os times do Brasil e da América Latina. Mas juntos, e ainda mais se somarmos a eles D'Alessandro, o que temos é uma reunião de compleições de jogador de pife, magrinhos, habilidosos mas sem força física. Assim sobra velocidade mas falta torque, e o equilíbrio “titeano” esvai-se pelos ares. Alecsandro e Walter trazem ao time justamente o inverso disso, e a escalação de um deles ao lado de um velocista parece ser a medida mais correta a ser tomada.

Além do mais é um direito canônico, quase sagrado do futebol que o time com centroavante faça gols abençoados de uma pura casualidade. E claro, aqui façamos uma observação necessária: o gol de rebotalho! Ah, feliz é o torcedor que já gritou um gol de rebotalho. Existe algo de muito futebolístico nos entreveros de uma área lotada, aquele bate e rebate empolgante, a bola vai e volta, sobe e desce, ricocheteia na canela, desvia no umbigo, bate no joelho, no nariz, na sobrancelha ou na unha do pé e morre no fundo do gol. Com dois jogadores velozes que só entram a dribles na área, todo gol ou é uma pequena obra de arte, ou não é nada. E aí se acomete o espetáculo de uma pobreza lírica e indisfarçável. É o tédio da virtude, como diria Nelson Rodrigues.

Lembrem do gol do título da Sul-Americana, aqueles segundos fenomenais de bate-rebate, lágrimas e prenúncios de desmaios pelo Rio Grande afora. E no último sábado, recordemos o seguinte lance: vem um cruzamento da esquerda e Alecsandro, mortalmente postado entre a marca da cal e o risca da grande área, prepara o bote. A bola ziguezagueia, ricocheteia, vai e vem – Alecsandro sobe o mais alto possível, e nada. A bola passa. Então, traído pelo próprio reflexo, o defensor do Veranópolis mete os pés pelas mãos, ou melhor, mete mesmo é o pé na bola para tirá-la dali. O que faz a danada em resposta? Ora, em um mísero instante comete uma obra-prima, não menos do que isso.


Vai a bola, rasteira e devagar, anda um ou dois metros, no máximo. Oferece-se para um toquezinho maroto no pé do adversário e, então, envenenada, rola com uma fluidez queridinha e assassina rumo ao seu grande mérito dramático, o gol contra do desafortunado zagueiro. No meio do caminho, entretanto, muda de idéia: resvala num tacho de grama e agora decide sair mansa pela linha de fundo. Alívio para o defensor, que no afã de salvar a própria zaga quase é vítima do insubstituível lance de rebotalho. A emoção súbita do lance, meus caros, é intrínseca. O abafa, o ai-meu-Deus, o tira-daí-duma-vez, como viver sem essa verdadeira instituição do futebol? Para mim, impossível. E tudo isso começou por uma cabeçada furada de Alecsandro. É a beleza desajeitada do gol de rebotalho a enfeitar o futebol.

E é por essas e por outras que quero saudar os centroavantes colorados e esperar que Tite dê a eles muito mais chances. De vez em quando, eu gosto de um bico pra dentro da área, um chuta-pra-cima-que-dá, uma vez que outra admiro mais o lance torto e feio resultante em gol do que a bicicleta certeira no ângulo. E com um nove de origem plantado na área, o rebotalho está sempre à espreita para atacar com seu veneno. E é muito bom que seja assim.

Nada contra os gols de placa, mas convenhamos: uma bucha daquelas bem suadas tem o seu valor.

E como!

quinta-feira, 5 de março de 2009

A FACA E O QUEIJO.

Por Marcelo Benvenutti


Quem assiste aos jogos do Inter muitas vezes deve acreditar que está vendo algum vídeo do antigo Canal 100, um noticioso que passava até 30, 40 anos atrás e que mostrava em tomadas detalhadas os dribles e passes dos jogadores de então. A câmera passeava lentamente pela jogada, cadenciada, a chuteira bailando de um lado ao outro, um drible, um passe, outro passe, vez em quando, um gol.

Semana passada, contra o Novo Hamburgo, Lauro passou para Kleber. Kleber para Álvaro. Álvaro para Índio. Índio para Bolívar. Bolívar para Magrão. Magrão para Guiñazu. Guiñazu para Kleber. Kleber para D'Alessandro. D'Alessandro para Guiñazu. Guiñazu para Sandro. Sandro para D'Alessandro. D'Alessandro para Magrão. Magrão para Bolívar. Bolívar para Guiñazu. Guiñazu para Kleber. Kleber para...

Peraí, antes que vocês durmam lendo o parágrafo acima. Nos outros jogos não têm sido muito diferente. A troca interminável de passes torna-se o modo de jogar colorado um cozimento em banho-maria. Um jogo de nervos com a própria torcida, que anseia por objetividade diante das retrancas dos times pequenos. E também contra os clubes grandes que jogam como pequenos por certos temores desmedidos de alguns treinadores privilegiados.

A parcela da torcida que sempre enxerga o copo pela metade como vazio, já pragueja. Time burocrático. Timezinho carioca. Tico-tico. D'Alessandro balaqueiro. Nilmar pipoqueiro. Taison deslumbrado. Kleber mascarado. Até mesmo Guiñazu, o Gengis Khan do Beira-Rio, vira um Hugo Chavez qualquer. D'Alessandro pede uma bola em diagonal na área. A bola demora a sair do toque-toque. Quando, então, alguém vislumbra o gringo livre, mete uma bola mais enforcada que o Saddam Hussein. Dois corneteiros atrás de mim nas inferiores esbravejam: Tu pediu, sem-vergonha! Tu pediu, agora vai buscar!Um deles, rádio ligado no ouvido, insuflado por um Haroldo de Souza da vida, ecoa tal qual um papagaio: Esse gringo é um fazido! Baita marginal!

A má vontade contra D'Alessandro explode quando o time entra no passe lateral generalizado. Uns culpam o argentino pela teimosia na lenga-lenga flamenguística no meio-campo. Tite montou o que ele chamou de "Operação D'Alessandro". Daí a imaginar que o time joga "enrolando" por culpa do portenho é uma distância menor que a do Rui dando condição com sua cabeçorra de ET Phone Home. É um abraço!

De outro lado, a torcida que vê o copo sempre cheio, maravilha-se com o futebol do argentino, sua malandragem, suas passagens entre a marcação, até mesmo de suas tabelas inconclusas por falta de uma parceria que compreenda o que ele tentou fazer. O argentino tem visão. Taison é um novo Jesse Owen. Nilmar engana e confunde as zagas. Até Bolívar começa a ser apludido por cobrir as descidas dos zagueiros e não ficar se espanando na ponta-direita. O Inter do Canal 100 se assemelha a um Botafogo do Garrincha. Armando Nogueira se masturba com poemas épicos narrados pelo Pedro Bial no SportTv. É o ápice da civilização ocidental. O futebol arte está revivido no toque-toque fluminense de nossa meia-cancha.

Mas nem tudo é assim. Nem terra, nem ar. Nem fogo, nem água. O time colorado, que sofre para passar de fase em cima de Uniãos da vida, que atropela imortais pelo mundo, que encanta a América Latina ao vivo pela Fox Sports, que se sente acuado por Ulbras, esse Internacional ainda é um time inconcluso. O caminho óbvio indica que Sandro deva permanecer e liberar Guiñazu e Magrão. D'Alessandro deve preocupar-se em criar, não em marcar. Dependendo do desenrolar da partida, tanto Taison quanto Alecsandro podem desempenhar o papel de companheiros de Nilmar. Na zaga Índio cada vez mais inscreve seu nome na história do clube e Álvaro terá a sombra de Sorondo (será que desta vez ele joga mais de 3 seguidas?). Bolívar, se não sobe como deveria, pelo menos que se controle atrás. Arílton pode fazer sombra a ele assim como Cordeiro faz sombra ao Kleber. Ambos devem conter as vaidades e mostrarem-se solidários ao esquema. Lauro já tem quem lhe marque de perto. Se ficar lesionado, Michel Alves pode muito bem entrar e não sair mais.

Mas, para que não digam, tanto os pessimistas, quanto os otimistas, que estou sendo evasivo, eu afirmo que continuo acreditando no atual grupo. O fiasco de Rondonópolis me irritou demais, óbvio. Cair na primeira fase da Copa do Brasil seria uma hecatombe. Menos mal que temos o returno do Gauchão para que Tite tente ajustar a equipe. Sem inventar. Sem "abelar". Sem testar. Sem "rothear". Tite tem a faca quente e afiada em uma das mãos e um queijo de colônia da melhor qualidade na outra. Se não for afobado ou burro, pode muito bem deliciar-se com a iguaria e ganhar muitos títulos. Ou bobear e queimar a mãos e cortar os dedos. O futuro do Inter passa pela mente de nosso filósofo. Ele que dê suas mateadas no amanhecer do Guaíba e decida se quer entrar para a história colorada por muito mais que um título de Sul-Americana.

terça-feira, 3 de março de 2009

E SE TUDO ISSO ACABAR?

Por Andreas Müller


Confesso: sou um cara meio fatalista. Vivo com essa mania de ver as coisas como se elas tivessem, sempre, um destino inexorável, pré-determinado e irremediavelmente triste. Agorinha mesmo, enquanto afagava a cabeça do meu cachorro, o Franz, me flagrei pensando no que será de mim no dia em que ele morrer. Pois é certo que ele morrerá antes do que eu. A não ser, é claro, que eu me torne vítima de um desses acidentes estúpidos que acontecem na Estrada do Mar, ou de um latrocínio – que provavelmente aconteceria em uma das minhas caminhadas noturnas pela Cidade Baixa – ou, ainda, de uma maionese estragada. A morte, surda, anda ao meu lado e eu não sei em que esquina ela vai me beijar, diria Raul Seixas. Mas o fato é que são grandes as chances de eu estar vivo no dia em que morrer o Franz, meu mais fiel e dileto amigo. Até porque eu não como maionese.

Pensei nisso depois do Gre-Nal do último domingo, enquanto voltava para casa metido em mais um buzinaço colorado na Padre Cacique. O que será do Inter no dia em que a atual fase de vitórias, conquistas e contratações milionárias tiver acabado? No dia em que esse negócio de vencer o Grêmio deixar de ser uma rotina?

O futebol é feito de ciclos alternados de sucessos e fracassos. No caso da dupla Gre-Nal, essa alternância é ainda mais evidente: não houve, até hoje, uma única década em que ambos os clubes tenham conquistado grandes títulos. Os sucessos vêm em fases distintas que apenas reforçam o famoso mito da gangorra. Vejamos: desde a criação do Brasileirão, o Inter foi o representante máximo do futebol gaúcho em pelo menos duas décadas – a de 70 e a atual. Já o Grêmio foi expoente do Rio Grande do Sul nas décadas de 80 e 90. Repararam no empate? Neste momento, o Gre-Nal das décadas está dois a dois. Quem será o líder da próxima década? De quem será o próximo ciclo de sucessos?

Hoje, o Grêmio tem o privilégio de disputar a Libertadores. E com um time bastante qualificado, capaz até de almejar o título – sinceramente, ainda não entendi como eles conseguiram perder o Brasileirão do ano passado. Se vencer a Libertadores, o Grêmio tem tudo para engatar uma nova fase de conquistas. Se perdê-la, o Inter é que entrará como favorito na disputa pelo “ciclo de sucessos” da próxima década, se é que isso existe de fato. E a razão é muito simples: competência. A gestão de futebol do Inter pode ter muitas falhas mas, em última análise, é melhor do que a do Grêmio. Isto é: mais profissional, mais séria, mais ampla e, consequentemente, mais rica. A maneira como estão sendo gestados os projetos dos estádios mostra claramente essas diferenças.

Pode-se argumentar que o Grêmio também tinha dinheiro e fazia contratações caras no final da década de 90, época da famigerada parceria com a ISL. Nesse sentido, porém, o Inter tem uma vantagem: utilizou a experiência do Grêmio como lição. Nossas contratações são caras, mas dão resultado; nossos craques custam muito dinheiro, mas não são velhos e não estão no final da carreira; nossas estrelas têm salários astronômicos, mas dividem espaço com revelações da casa. Às vezes, como se vê, não vale a pena ser pioneiro...

Sei que não tenho nenhuma vocação para predizer o futuro. Mas o leitor há de convir que o horizonte do Inter é promissor. Temos totais condições de continuar ocupando o posto de principal clube de futebol do sul do país. O trabalho de Vitório Piffero não é brilhante, mas está nitidamente evoluindo em vez de retroceder. Não há como ser pessimista nesse cenário. O importante, agora, é secar bastante o Grêmio na Libertadores (há outro remédio?) e continuar com a receita que levou o Inter a seus maiores títulos nesta década. Assim, quem sabe, poderemos emendar o atual ciclo de sucessos em outro, renovado. Um ciclo que me permita comemorar novos títulos internacionais ao lado do Franz, meu mais fiel e dileto amigo.

Agradeço ao amigo Raphael Castro por ter cobrido a minha ausência nesta segunda-feira com um texto nada menos do que brilhante. E aproveito para parabenizar o Daniel Ricci Araújo, dono deste espaço nas terças-feiras – e que hoje está completando, nas palavras dele mesmo, "27 Gauchões".

segunda-feira, 2 de março de 2009

IMPOSSÍVEL ENTENDER.

Por Raphael Castro


Numa conversa deste fim de semana, disse a um interlocutor que futebol era realmente uma praga: fosse onde fosse, a necessidade de obter informações, quaisquer informações, sobre o Inter lentamente começava a me atormentar e obcecar por completo. Digo isso pois a conversa foi mantida no hospital onde venho passando os dias desde a última terça-feira, em função de uma porcaria de um pneumotórax que rebentou em minha "senhoura". Ok, as mais sensíveis dirão, horrorizadas, que não passo de um desnaturado, e que, fossem elas a minha hospitalizada noiva, prontamente premiariam as minhas fofas nádegas com um negativo das solas de suas sandalinhas.

Mas, voltando ao ponto, o fato é que deve haver algo que cause esta reação tão maluca, a ponto da leve neblina mental que me fez pedir permissão à minha combalida amada para poder acompanhar as notícias do jogo no único terminal de computador que existia no sexto andar daquele hospital (em tempo: aos espertinhos, alerto que o tal interlocutor na verdade se tratava de minha santa mamãe, que nos estava acompanhando ontem...).

Segue...

A conexão estava péssima e caía a toda hora - não é fácil (nem merchandising) tentar acompanhar uma partida pelo "Minuto a Minuto" do ClicRBS num terminal de hospital. O jogo começava, eu suando em bicas pelo calor e pelo nervoso, e a maldita página não carregava - os queridos(as) leitores(as) provavelmente hão de desconhecer os efeitos neurológicos da interrupção de frases como "Guiñazu lança Taison que domina na entrada da áre..."; pois é, não façam isto em casa (nem muito menos em hospitais, senhores(as) leitores(as)...).

Indiada

Outra coisa que certamente não é recomendada pelos manuais de boa saúde é abafar um grito de gol: provavelmente no único momento em que a página não deu um "delay" de uns dois minutos no que rolava no jogo, tive a dádiva inominável de saber, em "tempo real", que o Sr. Índio havia aberto o placar no Beira-Rio. Não sei bem explicar fisiologicamente o que me aconteceu naquele momento: costumo declamar a palavra "gol" a plenos pulmões quando o dito cujo acontece, mas não seria de bom tom acordar o velhinho vegetativo do 604 naquela hora (pensando bem, acho que não, até ele teria saído do coma com um de meus mimosos guinchos quanto o Inter carimba os aflitos). Suspeitei imediatamente de que também eu pudesse ter gerado bolhas em meus pulmões àquela altura (ou isso ou um mega arroto-soluço-galopante começava a se formar no meu "eu interior"...).

Empate

Ok, agora vem a nota inferior da tarde: no anúncio (atrasado) me dei conta de que Alex Mineiro havia empatado - e pior, de forma bem tramada, me dizia o maldito computador (juro que contei mais letras "O" no "GOOOOLLL" escrito pelo sujeito da RBS que fazia o jogo àquela altura, numa clara demonstração de aflitismo doentio, tendencioso, enviesado e absolutamente pessoal contra este servo que vos escreve...). Ermengarda, a enfermeira do turno, me olhou em pânico total quando ameacei abordá-la para roubar a Dipirona e o Profenid do 611 para aplacar as minhas indizíveis ira e dor naquele momento. Por pouco, não fui eu mesmo encaminhado a ocupar um daqueles quartos (o que só consegui após muita conversa e lábia com o chefe da Psiquiatria, que àquela altura sinalizava para ir um enfermeiro pelaesquerda e outro pela direita...).

Redemption

Foi nessa toada até Magrão dar números definitivos ao jogo. Aí, caros(as) leitores(as), não deu pra segurar: eu chorava baixinho, balbuciando incompreensíveis agradecimentos em transe a Deus, Buda, Hare Baba, e toda esta espécie de coisas, em ritmo mais veloz do que uma narração de páreo no Cristal, para espanto absoluto do tiozinho que eu havia amordaçado na cadeira ao lado para me deixar acompanhar em paz o jogo todo. Cheguei de volta no quarto moído, a imagem do próprio combatente voltando da refrega, quando notei o olhar de minha noiva diretamente para mim: ela, só com os olhos, me sorriu lindamente, entendendo a minha completa loucura, e indicando, feliz pelo seu tresloucado amado, que, sim, sabia que havíamos ganho mais aquela...

Conclusão

Claro, descontado o exagero, o fato é que acompanhei, sim, o jogo do hospital e sofri como todo colorado longe de seu time. E, depois de tudo isso - e de conseguir ver as imagens pela TV -, me arrisco a lançar o seguinte questionamento: como, meu Deus, como alguém em (pretensa) sã consciência NÃO TORCE para o Inter? Como é que alguém se submete a não sentir o que eu senti ontem, como alguém consegue se privar de vestir vermelho e dizer que...é colorado desde criancinha...? (como dizia o meu bíblico, profético, ecumênico, e espiritual avô, S.Assis P.Ererê, "perdoai aqueles outros, Pai, pois ainda acham que sabem o que fazem...").

Tópicas: crânios

Sem maldade, mas D'Ale e Ruy...enfim, cada um com seu "cabeção", certo?

Tópicas 2: crânios 2

Na boa, mas sendo o Ruy que dava condição no gol do Índio, é possível que o lateral estivesse em Bagé e ainda assim o Índio não ficaria impedido...

Tópicas 3: constatação

E olha que dessa vez estávamos desfalcados: William Magrão não jogou...

Tópicas 4: chavista

Não custa perguntar: por que não desistem?

Tópicas 5: metempsicose

Não adianta, eu devo ter sido colorado desde a outra encarnação, só pode...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso - e ponto final.

Fui (e não a pé).