segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Culpem o Gum!

Por Thiago Marimon


A data é treze de junho de 2009, sexta rodada do Brasileirinhas 09. Um Inter recheado de reservas, em meio à decisão do título da Copa do Brasil, recebe o Vitória. O placar não sai do zero. Ingênuos, não sabíamos. Mas naquela tarde fria de domingo, o Colorado, que dias após perderia a decisão da Copa para o MSI, também deixava escapar os DOIS PONTOS que nos separam do campeonato nacional.

Uma luta árdua esta de não sagrar-se Campeão, é bem verdade. Face à inaptidão para a glória de nossos adversários, tivemos que nos esforçar deveras para não trazer para Porto Alegre este caneco que ninguém queria. Mas o colorado persistiu e, quase quarenta e cinco dias depois de empatar em casa contra o rubro-negro baiano, novamente no Gigante da Beira Rio, este mesmo Inter, agora completo, após terminar o primeiro tempo vencendo por 2 x 0, permitiu que o São Paulo de Hernanes e Jorge Wagner chegasse ao empate. Assim como permitiria dias depois que o Santos, na Vila Belmiro, igualasse o placar, apesar da noite inspirada de Alecsandro. Deixando pares de pontos pelo caminho.

Nesta luta inglória nem as entidades ficaram incólumes. São Pedro, este herege, tem também sua parcela de culpa. Justo ele que, enquanto setembro se aproximava do fim, fez Porto Alegre emular um Arroio Dilúvio gigante, impedindo, juntamente com os interesses televisivos globais, que Inter e Flamengo jogassem algo parecido com futebol naquela tarde chuvosa de domingo, onde o placar também não saiu do zero. E nem poderia.

Já era outubro, o campeonato se aproximava do fim, mas o rol de culpados não parava de crescer. A bola da vez o Atlético-PR que, lutando para sair do Z4, veio ao Rio Grande e nos tomou mais DOIS IMPORTANTES PONTOS, em dia de muita transpiração e pouca inspiração para o pebolim.

E assim chegamos na cereja do bolo (Pelaipe:2008). Já passa da metade do mês de outubro e o Inter vai ao Rio de Janeiro enfrentar um desacreditado Fluminense, então candidato de onze em cada dez torcedores ao descenso à divisão azul no final da temporada. Tudo segue conforme o combinado. Os vermelhos dominam e vencem até os quarenta e um minutos da etapa final. Momento no qual Diguinho arma a jogada, Sorondo espana o taco e GUM, aquele mesmo que outrora fora escorraçado da Padre Cacique por completa inaptidão para o ludopédio, marca o gol de empate. O gol que desacreditou a torcida e nos tomou os DOIS PONTOS que, com a chegada do natal, tanta falta fazem.

Depois disso, ainda deixamos mais alguns pelo caminho. Como em Barueri, quando naquela tarde de pataquadas de Lauro e falta de pontaria de Andrezinho, ficamos no um a um. Mas àquela altura tudo não passava de encenação, o crime já estava feito e atendia pela onomatopéica alcunha de Gum!. A esperada quarta estrela não viria mais para Porto Alegre. O Inter deixava, abdicava deste caneco que por tantas rodadas buscou um time para chamar de seu. Naquele momento estava cumprida a missão de não encerrar o ano como Campeão Nacional.

E aí está a última rodada deste interminável certame que não me deixa mentir sozinho.

Agora as notícias dizem que estamos na mão do nosso maior rival. Que tudo depende do tricolor, alguns chegam ao ponto de falar em dignidade do Grêmio. Que dignidade, cara pálida?! Por que falar em dignidade quando tratamos de um time que passa o ano inteiro amarelando fora de casa, que com a vitória de hoje recebeu o título de maior time caseiro da história dos pontos corridos? Que tem parcela de sua torcida torcendo contra há algumas rodadas, que canta “Meeeengo!” na saída do jogo e tem Souza bradando aos microfones que entregará o jogo no Rio de Janeiro. Que dignidade, meus caros?!

Reclamem do GUM, culpem a direção que, mais preocupada com os cofres do que com a tabela, vendeu o time com o bonde andando e bancou a permanência de Tite por infindáveis rodadas. Reclamemos de D’alessandro, que jogou com vontade apenas dez por cento do campeonato, de Alecsandro, que ainda acha que é Nilmar. Reclamemos do juiz, de Fernando Carvalho, do Corinthians, do Papa, mas não do Grêmio. Pois este não ganharia do Flamengo, que vem de uma sequência de vitórias contra Palmeiras, São Paulo e Atlético MG, no Maracanã lotado, no jogo do título, nem se quisesse ou precisasse, nem se tivesse três goleiros. Nem parindo um elefante!

A glória de nos tirar o caneco não é do Grêmio.

Nem esta glória é do Grêmio.

Saudações Coloradas...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Telemarketing.

Por Marcelo Benvenutti


- Alô?- Bom dia. O senhor Internacional, por favor?

- Quem é?

- É o Sport Club Internacional?

- Sim. É ele mesmo. Quem é?

- Bom dia, senhor Internacional. Estamos apresentando um produto para o senhor. É o Campeonato Brasileiro. É um modelo novo. Pontos corridos.

- Campeonato Brasileiro? Não preciso. Já tenho três.

- O senhor já tem três?

- Sim, senhora. Temos três. 1975. 76 e 79. Tu deve ser muito nova. Não lembra.

- Pois bem. Só que este campeonato que estamos oferecendo agora para o senhor é um novo modelo. Como já falei, é por pontos corridos. Um turno de ida e outro de volta. A equipe que mais pontuar ao final dos turnos é considerada campeã.

- Campeã? Assim, sem jogo extra? Sem mata-mata? Sem pênaltis?

- Não. O senhor tem que ver que este produto é inigualável no mercado. O Argentino, por exemplo, se por acaso o senhor estivesse interessado, custa a metade. Mas não é a mesma coisa. A verba da TV é menor. Os craques vão para a Europa ...

- Mas aqui também vão.

- Bom, o senhor tem que ver que para adquirir o nosso produto uma das condições é manter os craques. O senhor tem craques?

- Tenho. O D'Alessandro ...

- D'Alessandro. D'Alessandro, D'Ale ... não consta no nosso catálogo. O senhor tem certeza que é craque?- Comprei como se fosse um.

- Bom, o senhor é que sabe. Para adquirir nosso produto um craque que seja é necessário.

Oferecemos ao Palmeiras, ao Atlético Mineiro, São Paulo e Flamengo. O Flamengo tem craque. Nos fez uma proposta irrecusável. O Palmeiras não retornou as chamadas. E o Atlético desistiu na última hora.

- E o São Paulo?

- Não tem craque, mas também não está no Serasa como o Flamengo.

- Nós também não estamos.

- Não consta do seu cadastro.

- Eu sei. Bom, se é para ter craque, garanto que o D'Alessandro é craque. O Giuliano também. E ainda tem o Sandro.

- O senhor tem que convir que nenhum destes consta de nosso catálogo. Mas vamos confiar na sua palavra. Então, podemos contar com o senhor para adquirir o nosso produto?

- Quem nos indicou?

- O Sobrenatural de Almeida. da parte do senhor Nelson Rodrigues.

- O Nelson? Rodrigues? Torcedor do Fluminense?

- Esse mesmo. Tem nos consultado muito ultimamente. Mas por outro produto. De segunda, diga-se de passagem.

- Hmmm. Sempre foi um bom freguês. Vamos pensar no assunto.

- O senhor não pense muito. O produto está acabando e novas ofertas só serão aceitas em agosto do ano que vem.

- Agosto, é? Não é um bom mês para fechar negócios. Pode me ligar na segunda? Na segunda nós não trabalhamos.

- Pode ser domingo? Por volta das cinco da tarde?

- Cinco da tarde? Vou estar ocupado. Mas ligue assim mesmo. Talvez até lá eu tenha decidido.

- O senhor é que sabe. O produto é bom e damos garantia.

- Garantia? Por quanto tempo?

- Praticamente uma eternidade.

- Eternidade, é? Bom. Nós somos eternos. Ligue domingo.

- Obrigado pela atenção, informamos que esta ligação foi gravada e quaisquer dúvidas o senhor pode nos direcionar depois pelo nosso site www.impossível.com.br. Até mais!

- Até!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Inter sendo o Inter.

Por Daniel Ricci Araújo

Meus amigos, que maravilha!

Muitas vezes, os jogadores e dirigentes subestimam a experiência do torcedor no futebol. “O torcedor é passional”, bradam alguns. “Injusto”, falam outros. “A arquibancada só vê o lado ruim da coisa”, ainda completam certos arautos. Vamos e venhamos: que sacrilégio. Mesmo com seus defeitos endêmicos, com sua visão de apaixonado delirante, o torcedor é o rei do espetáculo. Mais do que ver, ele dramatiza o jogo e sente-o como uma fratura exposta, ainda mais quando está à frente de uma partida decisiva como a do último domingo, no Mineirão.

Fato: durante uma parte do campeonato, o Inter vinha jogando miseravelmente sem ser o Inter. Perdemos certas partidas por adotar a postura de um time medroso, manhoso, acabrunhado, mais cheio de pudores do que um colegial ardendo de puberdade ao encarar a vizinha pela fresta da janela. Era terrível: o Inter vinha num medo convulsivo de ser feliz. Mesmo quando ganhava ou empatava, tinha ares de uma acomodação interminável. Até que um dia, do nada, no momento mais necessário do campeonato, a letargia some, ou melhor: a letargia vai plantar batatas na esquina.

Chega o momento de ir ao Mineirão lotado para praticamente decidir uma vaga à Libertadores. Durante a semana a torcida expunha o medo de que o time se retraísse, se desgovernasse e periclitasse morrendo à míngua na grama alta das alterosas mineiras. O próprio Mário Sérgio falava em jogar na defesa. Mas então se inicia o primeiro tempo, e o blefe monumental está maravilhosamente configurado: o Inter vai à frente, toca a bola no campo do Atlético, comporta-se claramente como o time dono das ações, que joga e faz jogar. Qualquer leigo, ao assistir aquele primeiros lances esparsos, diria sem hesitar: o time de vermelho é o melhor. Até que enfim, habemus equipe: o Inter estava sendo o Inter de novo.

Conduzido por Guiñazu, Sandro, D’Alessandro e Giuliano (que quarteto!, que quarteto!), o Colorado vence o jogo, dita ritmo e dá cátedra. Temos uma equipe claramente superior em campo: não há torcedor colorado que, agora, não enxergue isso e aplauda o time. Naquele momento, o torcedor indignado com a covardia de outros momentos está seguro: o Colorado repetia contra o Galo uma atuação muito parecida a da derrota injusta contra o São Paulo – e por falar nisso, já naquele tremendo azar no Morumbi o time fora mais aplaudido do que em muitas outras vitórias duvidosas.

O Atlético-MG está empurrado por uma massa fanática e interminável, e pressiona: o Inter mantém-se seguro e continua com a bola. Não há a menor dúvida de que, nas arquibancadas lotadas do Mineirão, todos sentem a enrascada na qual se metera o time da casa. Grande Inter! Inter de força, de tradição, Inter de calar grandes estádios em jogos decisivos e de grandes consagrações, como a de anteontem! Joguem fora as pranchetas: o futebol da arquibancada é um jogo empírico e emocional. E esse é o time o qual a torcida quer ver e ter de volta.

Os analistas talvez dirão o seguinte: Mário Sérgio teve uma recaída e mexeu errado ao tirar D’Alessandro, e com isso condenou o time a muitas dificuldades no segundo tempo. Estão certos, penso eu. Mas na dificuldade do jogo ainda mais sobressaltada, aí o Inter pode ensaiar uma ponta da consistência defensiva que se espera dos projetos de grandes equipes. Abaixo o mais do mesmo, a retranca feia, insossa e manca praticada por mais de metade do campeonato como medíocre filosofia de vida!

Atrapalhado pelo equívoco do comandante, o Inter teve então a brecha para tornar-se heróico. Há bicos e bicos na bola - a torcida, que sente o jogo, sabe disso. E depois de terminado o sufoco, nunca se vira um acidental ferrolho ao Deus-dará ser tão saudado numa segunda feira adentro como estratégia perfeita e acabada. Vencedor da partida improvável e terminal, o Inter fora de novo o Inter. Meus caros, eis a verdade: o torcedor conhece o jogo e aplaude o que viu.

É isso é tudo o que ele precisa saber.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

No creo en las brujas, pero...

Por Marcelo Benvenutti


O Internacional de 2009, do segundo semestre, um dos times mais brochantes dos últimos anos que passou pelo Beira-Rio, não pela qualidade intrínseca de seu grupo, mas pela falta de aplicação dentro do campo como deveria ter a de um clube como o Inter, corre o seríssimo risco de, acreditem, ainda terminar o ano em alta com a torcida.

Não que eu acredite que terminar o ano com a vaga (valeu aí, Rospide) seja um grande objetivo. Ainda mais se a vaga for a da repescagem da Libertadores, mas, mesmo assim, é bem menos pior que aguardar o sorteio da CBF pra ver se viajaremos à Rondonópolis, Ji-Paraná ou Campina Grande. E o campeonato de 2009 está tão absurdamente descontrolado que se a pedra cair no Papa-Léguas é capaz de o Coiote comer frango com polenta na janta.

O sempre vivo São Paulo se mantém, mesmo que não jogando lá essas coisas, na ponta. O Flamengo, que vem atropelando com a simplicidade do Andrade e a genialidade de Adriano e Petkovic, tem "sustança" pra atropelar também os tricolores paulistanos. O Palmeiras do Muricy deu uma ré e atropelou ele mesmo, os amigos, a família e o doguinho do vizinho. O Galo do Roth vem cambaleando mais que galo de rinha detonado de esteróides, levando lambada e bicada de tudo quanto é lado. O Cruzeiro segue tropicando nos jogos mais improváveis e orbitando às margens do G4. Restam o Inter e o Avaí.

O Avaí? Sim, o Avaí. Três compromissos relativamente mais fáceis e o Avaí chega a 62 pontos. Parece improvável, mas não impossível. O Avaí ainda está vivo para terminar o campeonato no G4. Os outros abaixo ou jogam pela camiseta ou pela mala branca. Grêmio e Goiás ainda podem cometer alguns crimes. Daí pra baixo só o "imortal" Fluminense é que pode incomodar os outros jogando futebol além do óbvio daquele que esperam pelo décimo quarto salário de jogador desesperado.

E ... o Internacional. O Internacional! O que poderemos esperar do nosso Internacional? Tudo! E nada! Poderemos esperar ganhar as 3 e beliscar as primeiras posições? Poderemos ser campeões numa inusitada combinação estapafúrdia de resultados paralelos? Poderemos virar cabeça de chave no sorteio da Libertadores? Poderemos, enfim, vislumbrar alguns jogadores, figurões ou promessas, mostrando para que vieram e suando, sangrando e lacrimejando de dores para que o Inter vença? Sim! Poderemos!

Assim como poderemos não jogar nada, entregarmos partidas contra equipes rebaixadas, fazer fiasco, enterrar promessas, sepultar nomes e sobrenomes de beladonas do grupo e escutar as mais notáveis desculpas esfarrapadas da história que depois serão publicadas em um compêndio autografado pelo Píffero e o Fernando Carvalho depois de sustentarmos um glorioso sexto lugar ao final de tudo. Sim! Também é provável que isso aconteça. Ou, como diriam os gênios Cleber Machado e Caetano Veloso, não.

Sem nada a acrescentar, digo que minha mente racional me ensina que podemos nos classificar para a Libertadores e gremistamente comemorar com volta olímpica dia 6 de dezembro esta gloriosa conquista ou terminarmos em um inodoro quinto lugar. Minha mente ilógica de torcedor me diz que tudo pode acontecer, inclusive jogarmos bem e a torcida voltar a lotar o estádio e aplaudir os jogadores ao final dos 90 minutos, reavivando nossas esperanças abortadas para 2010.

No creo en las brujas, pero...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Que não falte coragem no Mineirão.

Por Daniel Ricci Araújo


O maior problema do Inter para o próximo domingo, nessa autêntica final de campeonato que nos aguarda no Mineirão, é que um empate pode acabar sendo bom resultado. Sim, meus caros, quem diria: uma crespa igualdade no placar pode manter o Inter na zona da Libertadores antes de dois jogos com times já rebaixados. Basta o Cruzeiro não vencer o Atlético-PR em Curitiba. Esse, talvez, seja o nosso maior empecilho.

É simples. A busca do empate é o maior convite à mediocridade do futebol atual. Aí está o meu receio.

Convenhamos: Mário Sérgio já demonstrou que é muito mais afeito a retrancar o time em vez de fazê-lo buscar o resultado. Contra o Santos, foi o Inter sofrer o gol de Neymar e pimba: o homem tascou Glaydson no time pouco tempo depois. Em outras partidas a mesma postura cautelosa em excesso nos prejudicou, e contra o Fluminense, no Maracanã, o Inter só começou a jogar algo parecido com futebol após a entrada de Marquinhos. Pena que havia um Gum pelo caminho. Ou melhor, dois.

Agora, no Mineirão, o Inter precisará ser o time que se espera ele seja desde janeiro. Está na hora de botar a artilharia em campo. Chegou o momento de D’Alessandro, Kleber, Índio, Bolívar e Sandro – todos ou badalados, ou históricos no clube – mostrarem que estamos no momento de separar as crianças dos homens. É decisão. Vale muito, vale vaga na Libertadores, e com o poderio atual deste imenso clube, nós somos sempre time que se entra na Libertadores é para ganhá-la ou beliscar a taça, e ponto final. A coisa é séria, jogadores. Chegou a hora de decidir. No próximo domingo, faca entre os dentes é pouco.

No entanto, palavras ao vento não vão mudar muita coisa. O Inter tem de ir a campo com uma formação racional e que ataque, e não pouco. Qualquer chance de sucesso, na minha opinião, passa necessariamente pela presença de dois meias e dois atacantes. Nada de Alecsandros isolados (até porque mesmo acompanhado a coisa já é complicada...), nada de “aproximações” virtuais dos “volantes-meias”, nada de apostar nas subidas de laterais constantes porque, até agora, o Inter de 2009 não conseguiu isso com regularidade. O colorado tem de ir para a frente com a bola, e ir para valer. Temos time para ganhar, e temos que jogar para ganhar!

Sejamos claros e didáticos: D’Alessandro, Giuliano, Marquinhos e Alecsandro precisam sair jogando, e Edu deve ser guardado para o segundo tempo se for necessária uma jogada extra de velocidade. Não quero ver o Inter precisar marcar gols sem atacantes em campo. Aliás, sobre Marquinhos, uma coisa é evidente: o titular agora é ele, e Taison é seu reserva. Ponto. Será inadmissível se Mário Sérgio optar pelo segundo em detrimento do primeiro. Até acho que não o fará, porque seria algo perto do inexplicável.

Qualquer torcida de qualquer clube de futebol sabe o que ocorre em noventa e cinco por cento das oportunidades nas quais seu time entra em campo para empatar. Posso admitir uma derrota no Mineirão lotado, para o bom time do Atlético? Claro que posso. Mas não terei compaixão na análise se perdermos de maneira covarde, com trinta volantes em campo e dando bicos para o alto, esperando o jogo acabar. Está na hora de querer mais, bem mais do que o adversário, queira ele o quanto quiser.

O Inter tem que se fazer forte em Belo Horizonte. Forte, cascudo e pronto para tudo. Precisa estar atento atrás, óbvio, mas também tem de sair para o jogo para que os mineiros tenham medo e não se joguem com tudo para a frente. Sim, o filósofo estava certo: a melhor defesa é o ataque. Acomodar-se atrás perante oitenta mil atleticanos será algo como esperar um empate convencional que só por milagre virá. O Inter tem que se defender austeramente, quase de bombachas, e atacar veloz, montado em esporas, cortando o vento. Com a bola, para a frente! O resto é consequência.

O Inter está diante da sua final particular. Por isso, que não falte coragem no Mineirão.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Onde surge o amanhã...?

Por Raphael Castro


A esta altura do apocalipse, os(as) caros(as) leitores já devem ter se dado conta de que há pelo menos dois clubes que estão literalmente implorando para não ficar com o caneco de 2009: o Palmeiras e o...Inter. Melhor seria dizer que ambos parecem ter verdadeiro horror ao título, a julgar pelo que têm feito nas últimas rodadas. De fato, o morde-assopra colorado poderia até dar nome a filme pornô (já pensaram? “G4: entra-e-sai...”).

Necas

Bem, a despeito das boas administrações e de uma já identificável “forma de pensar o futebol”, a verdade é que não temos muito o que mostrar ao mundo desde o paraíso de Yokohama. Não sei quanto aos(às) que lêem, mas o que me ficou daquela época foi a cara inchadona e vermelha do Abel desembarcando no Salgado Filho: o futebol empachado que o Inter praticou em 2007 foi o retrato fiel da expressão do nosso treinador ao descer do avião. Resultado: “agora sim, vou poder trabalhar” – seguramente, uma das frases mais infelizes já proferidas por um dirigente do Internacional -, e um técnico aprendiz de feiticeiro, que, talvez influenciado pelo próprio nome, nos deixou com um futebol meio “galináceo”...

Necas – parte II

Mas, mostrando toda a convicção dos nossos timoneiros, Abelão, o Terrível, foi chamado de volta, ainda que (1) tenha jogado pela janela uma Libertadores a golpes de goleada em Buenos Aires e de Michel em campo, e que (2) tenha regressado apenas para nos deixar (novamente) pendurados no pincel em Recife, na Copa do Brasil, ensurdecido pela melodia ruidosa (e mal explicada) dos petrodólares. Começava ali a “Era Adenor”...

(Triste) Epílogo

O resto está demasiadamente fresco na memória para necessitar um relato mais detalhado aqui: nas únicas vezes em que quiseram realmente demonstrar “atitude”, os homens do futebol colorado erraram ao manter o Sr. Bacchi (claramente desgastado) no cargo após a final da CB de 2009, e também ao ceder a seus dilemas existenciais com o Corinthians. Ao que tudo indica, após os mui esquecíveis anos de 2007 e 2008, FC perdeu um pouco a embocadura (o caso do vídeo contra os paulistas é emblemático): assim mesmo, não é razoável supor que ninguém tenha conseguido botar o Inter pra jogar sério em três longos anos – ou seja, alguém (além dos jogadores, é claro) não deve estar performando como deveria (apenas a título de curiosidade, vi lances da preleção antes da finalíssima da Sulamericana no DVD do “Nada Vai nos Separar” e, para dizer o mínimo, acho que aquilo dignifica ainda mais a conquista do Inter – como conseguiram, meu Deus...?).

Fim de verdade

Os mais ligados(as) já devem então ter se dado conta de que o nome da coluna hoje foi inspirado no hino do Inter: depois de tudo o que vimos após 2006, e mesmo com o primeiro semestre de 2009 – que, sim, enganou inclusive a mim -, a dúvida parece ser mesmo onde surgirá o amanhã, aquele “radioso de luz, varonil”. Parece mesmo que para esse nosso futebolzinho míope que vimos presenciando hoje, nada mais apropriado que um técnico a que chamam de...“vesgo” (como dizia o meu realista, infortunado, desiludido e tristonho avô, S.Assis P.Ererê, “não dá pra fazer churrasco se a vaca foi pro brejo...”).

Tópicas: curiosidade

Em tempo: como não sou dirigente e posso, sim, ter as minhas questões freudianas com o “Timão” (argh!), não sei se chegou ao Sul um número recente da revista “Poder”, da jornalista Joyce Pascowitch - em perfil com o presidente daquele clube, surge a declaração do próprio na capa: “somos uma nação de 30 milhões de torcedores. Podemos eleger um Presidente da República...”. Pois é, pra bom entendedor...

Bem, caros leitores, por enquanto é só isso – e ponto final.

Fui (e não a pé).

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O que realmente mudou?

Por Daniel Ricci Araújo


A matemática afirma: os resultados de Mário Sérgio são piores que os de Tite. Claro, a comparação é injusta, mas injusto também foi debitar tanto da nossa decepção na conta do ex-treinador.

Tite até tinha que sair pela questão do vestiário, mas não era e nem nunca foi o grande problema do Inter. Os mesmos jogadores que estavam desmotivados em campo com Tite, parece que também estão com MS. D'Ale é o maior exemplo disso: sua atuação de domingo foi somente um terrível "mais do mesmo". Quase todos os mesmos jogadores que rendiam pouco com Tite, rendem pouco com MS. A mesma oscilação de rendimento que tínhamos com Tite, temos com o MS. Tite, ainda por cima, não teve o Giuliano no fim de seu "mandato", e MS vai ter. Fora isso, somando aqui e diminuindo acolá, não há diferenças significativas entre um ou outro, na minha opinião.

Mas a despeito disso, temos de parar com o treinadorismo. O que está acontecendo perante nossos olhos não é o reflexo de uma questão Tite x MS, pastor x malandro. Pelo contrário. É mais abrangente e conclusivo do que isso. Pra mim, a torcida descontou um pouco em Tite o fato de que o grupo não é isso tudo que ela pensa.

Falemos primeiramente dos defensores, que até são bons, mas superestimados. Com MS, houve claras falhas individuais nos gols do Atlético-PR, Fluminense, no gol do SPFC e no de anteontem, do Botafogo. De novo, a questão não é Tite ou MS, a questão é os nossos jogadores de defesa. Eles são tudo isso? Índio e Eller eram fantásticos... em 2006. Eles até podem dar boa resposta ainda, não há nada que impeça, mas estamos quase em 2010, e o tempo passa. O Inter do último domingo marcou mal de novo, desorganizado, e a deficiência do lado direito persiste, seja com Tite ou MS, porque só há um lateral-direito, Daniel, que modéstia à parte não honra o nome de craque que tem. O grupo continua com carências que atrapalham toda a mecânica de jogo. Isso não é culpa de treinador nenhum. Não era do antigo, nem é do atual.

Mas ainda não terminamos. Sorondo é um jogador bom pelo alto. Por baixo, digamos que é modesto. Fabiano Eller está bem, mas falhou domingo, e feio, para um atleta da classe dele. Índio é o que mais oscila e Bolívar, bom, Bolívar é um caso diferente. Uma usina de fazer faltas. Tem momentos de Gamarra e momentos irreconhecíveis, e fora o fato de que faz no mínimo um penal a cada dois jogos, marcado ou não. Impressionante como puxa e dá carrinhos malucos, o Bolívar.

Fora isso, nossos meias são muito bons, talvez aqui sim possamos dizer termos o melhor grupo do Brasil. Mas o auto-elogio deveria parar por aí. Mesmo comparado ao Palmeiras, que talvez tenha o grupo mais modesto entre os disputantes ao título (onde até poderíamos estar, é verdade, com o time que temos), o elenco do Inter mostra suas inconsistências. Diego Souza, hoje, decide num lance, coisa que o Inter deixou de ter sem Nilmar e faz uma grande diferença, decisiva. O ataque do Palmeiras, com Obina e Vágner Love, não é nenhuma maravilha, mas sem sombra de dúvida melhor que o nosso atual. Taison e Alecsandro estão compondo uma das piores duplas de ataque do Brasileirão. Isso para mim está mais claro que o céu de brigadeiro desse calor insuportável que vem da rua. Outro exemplo evidente: comparar nossa dupla de ataque com a atual do Galo chega a ser covardia, quem diria!

Eu não digo que discutir as tais das mazelas causadas por Tite seja perda de tempo. Perda de tempo é essa tremenda e absurda importância que se dá a treinador, como se quase tudo tivesse a ingerência deles, positiva ou não. Acho que precisamos reconhecer que nosso elenco nos possibilitaria vencer o campeonato SE tivesse mais vontade, SE o vestiário fosse menos frouxo, SE não fosse necessária quase um alinhamento de astros pro D'Ale ser o D'Ale que se espera e SE alguns desses caras, quem sabe, fossem menos pra noite. E também se nosso centroavante não fosse o insuportavelmente firuleiro e auto-suficiente Alecsandro.

E é por muitos desses fatores - os quais vão bem além do treinador reinante - que estamos com essa folha de quase 4 milhões por mês e se apertando pra chegar, quem sabe, na PRÉ Libertadores.